Os meninos sabem poucas palavras.
Por exemplo sabem que palavra é mãe
Porque mãe é uma palavra doce.
Sabem amor porque amor é uma palavra redonda.
Talvez saibam também
Que palavra é dor quando esfolam um joelho
E só porque na verdade lhes dói o joelho.
Sabem que palavra é cantiga, corrida, dança,
Que palavra é lágrima. E riso. E boca. E olhos. E mãos.
E barco.
E mar.
E árvore. E monte.
Flor é uma palavra de que os meninos gostam
Porque é bonita.
Os meninos sabem poucas palavras.
E entendem os contos de poucas palavras. Simples.
E também muitos poemas de palavras simples.
Os meninos não sabem porém o que habita certas palavras
Como dúvida, fome, partida, injustiça, revolta, guerra.
Como ignorância.
Como nada.
Não sabem o que uma palavra pode ser para além da palavra.
Não sabem por exemplo que esta noite tem dentro uma palavra de luz.
Natal de 2009
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Poema para uma noite de Natal
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6 comentários:
Lo primero un fuerte deseo de felicidad para todas las gentes trasmontanas desde Salamanca.
Hermosos poemas de navidad ambos, postados por Daniel y Joao P.
Yo les pido disculpa a ustedes por no poder traducir bien al portugués un cuento de natal de Antonio Garcia Barbeito titulado:El dia que Jesús no quería nacer.
Creo que llevamos muchos años que Jesus no quiere nacer.
Feliz Natal a todos de Angel.
Não sendo os "meninos do Huambo", para quem Natal era (ou ainda será) uma palavra vã, infelizmente ainda há muitos meninos por aí assim... Uns não sabem o que é dúvida, fome, partida, injustiça, revolta, guerra, etc., outros não sabem o que é o consumismo de muitas prendinhas, luzinhas, festinhas e paparicos. A todos faltará essa Luz do último verso, mas é bom que nós todos a tenhamos bem presente e que a busquemos no fundo do túnel, porque ela é o Ideal e a Esperança, e no dia em que se não vislumbre cairemos no desespero da mais completa desolação. Por isso o Natal é preciso, e, à sua luz, compreendemos os discursos optimistas de primeiros-ministros, presidentes da república, ministros das finanças: já há luz ao fundo e retoma na esquina a seguir, todavia...
Bem, resta-me felicitar o Daniel pelo belo poema e, para não fugir à praxe, desejar-lhe também um Bom Ano 2010.
N.
Nota: no comentº anterior referia-me aos "discursos de natal" dos altos dignatários, sempre tão optimistas e sempre tão falíveis, como a estória da cenoura à frente do nariz do jerico. Adiante.
Saúdo também o comentário do Angel, e retribuo para as "buenas gentes" de Salamanca (Amigos/as de meu Amigo, sobretudo) as maiores felicidades na medida do possível.
E quanto ao conto de Natal de Antonio Garcia Barbeito (que não conheço) Angel bem poderia ter tentado traduzi-lo, pois é bem capaz, ou então postado no blogue da Bodega de La Solana, que nós faríamos para lá um link.
Abraço também a Angel e a todos os Amigos blogueiros.
N.
Gostei do poema em que a componente social está sempre presente. Pena tenho que o Daniel dê por extinto o seu blogue que eu consultava com muita assiduidade e onde há histórias humanas ( relação médico-doente) que mereciam uma outra dimensão editada. Há histórias comoventes e aí o Daniel consegue manter, em simultâneo, a "frieza" do médico e a profunda carga humana, com uma solidariedade cheia de pudor -- uma manifestação transmontana,penso eu-- na relação com o doente, mesmo com aquele, sobretudo com aquele, que o Daniel sabe estar condenado.
Quanto ao comentário do Nélson quero corrigir um erro que quase diariamente é escrito ou lido na imprensa e na televisão: não são dignatários, mas antes dignitários. O Nélson que me desculpe este perfeccionismo caseiro, mas entre amigos uma correcção é um abraço mais apertado. Bom Ano Novo, passe o exagero, face ao presente, para todos. Não gosto do Natal, mas aprecio o futuro.
Agradeço a correcção do Rogério e não levo nada a mal (antes pelo contrário!) - realmente a palavra "dignitários" vem do latino "dignitas" (=Dignidade). E como ele há por aí tão pouca, sobretudo entre os referentes, é natural que se tenha dado também a corrupção da palavra, ajustando-se o significado ao significante :-)
Ainda a propósito da "luz ao fundo do túnel" a que me referi no comentº. de 27.12.2009 (às 00;56h), nem de propósito li depois na edição do mesmo dia do jornal "Público" que me chegou às mãos da parte da tarde desse dia (ontem):
"Na mensagem de Natal, o primeiro-ministro voltou a insistir que Portugal já terá uma luz ao fundo do extensíssimo e negro túnel onde há muito se embrenhou".
Referiu depois o editorialista as grandes empresas que já faliram ou as multinacionais que já se "deslocalizaram", para concluir:
"o que se avizinha, ao contrário do que sugere o primeiro-ministro é a continuação desse cenário, que as palavras como 'confiança','energia', e 'determinação' (...) apenas tornam mais amargo. Apelar ao empenho de todos para enfrentar dias difíceis é uma obrigação, mas baixar-lhes os braços com a promessa de uma luz que ninguém vê a não ser quem nela fala, é uma ilusão perigosa. Que pagaremos caro." - FIM DE CITAÇÃO.
N.
Daniel, penso que o seu poema se apresenta "simples" para que "as crianças" apreendam o seu sentido. E o seu significante (luz) é tão profundo e luminoso que, mesmo na obscuridade do significado actual da palavra, resplandece e se mostra esperançoso!
Gosto muito de poemas assim!
Isabel
Isabel
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