torredemoncorvoinblog@gmail.com

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cartas de Amor de outros tempos

Quando ainda não havia Dia de S. Valentim, as declarações eram assim:


Carta de um soldado, natural de Mós (concelho de Torre de Moncorvo), dirigida à sua amada - cópia efectuada pelo próprio, escrita num caderninho, onde se lê, em título: "Carta a pedir namoro", sendo datada do Porto, em 31 de Janeiro de 1949: «Menina F... / Em primeiro lugar faço votos para que estas minhas duas letrinhas / a possam encontrara a gozar uma perfeita saúde, que eu / ao descrever-lhe o meu amôr que sinto pela / menina, fico bom felizmente. / Menina, desde o primeiro dia em que tive a suprema felicidade de a poder apreciar, fiquei um pouco emprecionado / e não pude dirigir-lhe uma pequena frase, / para que meu coração ficasse mais um pouco calmo / Mas enfim como hoje acorda-se com um coração / em sobre-saltos, fui obrigado a declarar-lhe o meu amor / que pela sua pessoa sinto. A menina para mim foi a mulher mais bela, que / desde o meu nascimento pude apreciar com a minha visão. Linda todo o seu corpo me pareceu um fenómeno. Esses seus olhos lindos pareceram-me duas pedras / preciosas imaginárias, seus cabêlos como o ouro e a sua face rosada, enfim não posso / descrever-lhe como você seja bela e formosas. Bem sei que a minha dignidade / como homem não se compara com a da menina, mas enfim desculpe-me de eu lhe dirigir esta simples carta, pois foi só simplesmente para lhe declarar o amôr que por / si sinto. Pois de si espero uma pequena resposta à minha declaração, e espero que ela me venha a agradar; e para isto basta dizerme que me declara amôr. / Sem mais passo a pedir-lhe desculpa pela ousadia que tive em lha escrever. Estimo que tenha / saúde e felicidade, sou este que me assino, [...]


O caderno contém ainda os poemas que vão acima e outros escritos, tudo supostamente dos anos 40 ou inícios de 50, pertencente a um mózeiro, hoje octogenário.
Os nossos agradecimentos ao Autor, pela cedência e autorização de publicação, e ao nosso amigo Luís Lopes, também mózeiro, pela sua recolha e cedência para o Blogue.

5 comentários:

Augusto Martins disse...

Grande mozeiro!
Muitos anos mais tarde,anos 70,também escrevi cartas de amor a uma mozeira que ainda continuo a amar.

Augusto Martins

Anónimo disse...

Dizia o poeta Fernando Pessoa que todas as cartas de amor são ridículas... embora acrescentasse: "mas quem nunca escreveu cartas de amor ainda é mais ridículo...". Sempre certeiro, este Poeta!
E a carta do (então) jovem de Mós é um excelente documento de época. De um tempo em que estas coisas obedeciam a certos rituais. Hoje as coisas parece que se combinam por "sms" e se concretizam em "redes sociais" via internetes... Oh tempora, oh mores!...

Anónimo disse...

Foi na década de 50. Um tio meu foi para o Brasil. Outro tio mais novo foi com ele até Lisboa.Ele não sabia ler. Mas trouxe de lá um livrinho com este título:- "As Cem Mais Lindas Cartas de Amor". Naqueles tempos o livrinho serviu para que dezenas de rapazes da aldeia nele ganhassem inspiração (quando não eram cópias integrais)para escrever às suas adoradas.Sim, que o pedido de namoro fazia-se por carta. Eu era garoto mas já sabia ler e, às escondidas, também li algumas dessas misteriosas cartas. Claro que o meu tio nunca soube, pois escondia de mim o livrinho, tal como o escondia de seus pais.
Aquele meu tio era também o guardião de uma fantástica relíquia que, infelizmente se perdeu. Sim: havia uma carta velhinha, com muitos anos e que servia sempre para se dar a ler aos rapazes de fora que vinham namorar na aldeia. Nessa carta teciam-se elogios à rapariga e "condenava-se" o pretendente a pagar o vinho. Se o não pagasse... ia tomar banho no tanque do largo e nunca mais seria bem aceite na terra. Foi na minha geração, de gente que já todos sabiam ler e nos tornamos mais desavergonhados, que a carta se perdeu. Não sei quem a rasgou mas ainda me lembro de a ter na mão, se bem que não fosse usada quando fomos "multar no vinho" o amigo José Gil.

Anónimo disse...

Realmente esse costume de se ter de "pagar o vinho" à rapaziada da terra da rapariga com quem se ia casar, estava generalizado por todo o Trás-os-Montes. No concelho de Torre de Moncorvo sabemos que se manteve até há bem pouco tempo na aldeia do Felgar - e também lá estava o tanque das bestas para onde se atirava o renitente (é que naqueles tempos a mocidade era mais que muita, e pagar o vinho a todos era cá um rombo orçamental... mas tinha de ser!) - só a partir desse momento se era aceite na nova comunidade de adopção (a da noiva).
Vestígios de exogamia e de práticas muito remotas (ainda patente em tribos africanas até tempos bem recentes) em que se "comprava" a mulher, ou à família ou à tribo (que mais não era do que a família alargada).
N.

Augusto Martins disse...

Belos comentários estes.Como complemento ao que anteriormente escrevi,devo dizer que paguei o vinho á rapaziada de Mós,na noite de Natal de 1978.Foi uma noite memorável,pois fui presenteado por um moseiro que"arrolou" o Menino Jesus,junto da fogueira do Galo na Praça de Mós.
Sou um citadino nato,mas estou plenamente de acordo que estas tradições deviam manter-se.O problema é que não há rapazes e raparigas casadoiras nas Aldeias.Emigraram,verdade?

Augusto Martins

Add to Google Reader or Homepage Subscribe in NewsGator Online Add to My AOL Add to netvibes Subscribe in Bloglines Add to Excite MIX Add to netomat Hub Add to Pageflakes

eXTReMe Tracker