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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Entrudo no Felgar - a dança satírica

Dança do Entrudo (ou dança satírica) do Felgar, talvez nos inícios dos anos 70 (foto gentilmente cedida por Agripino Paredes, a quem agradecemos) 
Realizou-se na passada terça-feira de Carnaval, a famosa Dança Satírica, ou dança do Entrudo do Felgar.
O Padre Joaquim Manuel Rebelo chama-lhe a "Marcha Cantada Entrançada" (cf. A Terra trasmontano-duriense, ed. CMTM/ACTM, 1995, pág. 16), embora também utilize a palavra "Dança" para descrever o cortejo que se organiza depois em roda, a que se segue uma representação com diálogos entre as personagens, que integram um "velho" e uma "velha", quatro moços e quatro "moças" (rapazes fazendo o papel de raparigas).
O Prof. Santos Júnior, por seu lado, no estudo que dedicou a esta dança/representação entende que a mesma não se enquadra muito na designação de "marcha", preferindo a designação de "dança satírica" (Santos Júnior e A.M. Mourinho, Coreografia popular trasmontana, ed. SPAE, 1980).Todavia, é ainda este autor quem regista que os felgarenses também conheciam esta tradição como a "dança do amor à terra", devido ao facto de o cortejo, noutros tempos, levar uma tabuleta com esse escrito.
Em artigo publicado em 22.02.2002 no Mensageiro de Bragança, Mendes Corvo chama-lhe apenas "Dança do Entrudo" do Felgar. No entanto, convenhamos que (pelo menos nas representações mais recentes) também há pouco de "dança", tratando-se mais uma dramatização. No cartaz que este ano anunciava o evento, diz-se apenas: "Carnaval [porque não Entrudo?] do Felgar" e em subtítulo: "Teatro de rua". 
A origem desta representação, como a de tantas tradições, perde-se na bruma do tempo. Esteve meia perdida, mas, graças ao empenho e bairrismo da juventude do Felgar, a mesma tem vindo a ser felizmente retomada desde há uns anos a esta parte.

A "marcha" encaminha-se para mais uma representação, neste caso no largo por detrás da Junta de Freguesia.
Mas demos a palavra aos Mestres:
"Nesta 'Dança' entravam o Velho e a Velha, o Garoto e quatro ou cinco pares, todos rapazes, mas alguns vestidos de raparigas. Só podiam entrar na 'Dança' rapazes. / O texto da 'Dança' (...) era extremamente crítico, grosseiro, sobretudo em relação às raparigas que durante o ano tinham tido deslizes de ordem moral. Mas a Junta de Freguesia e o Pároco também não escapavam a estas críticas, ou então louvores" - digamos que, neste aspecto, a tradição se mantém, tendo principiado a dança de 2010 com as habituais farpas às raparigas, através dos seus referentes em presença (rapazes vestidos de raparigas, com trajos já mais em consonância com os da actualidade: mini-saias, adereços garridos e cabeleiras de madeixas coloridas).
E ele foi um "fartar-vilanagem" de "bocas" que só os felgarenses entenderão, os que estão dentro dos assuntos, e em que não faltaram os reparos aos namoros com o pessoal barrageiro que anda lá para o Sabor. Diga-se que, noutros tempos, ainda segundo o Padre Rebelo, as "bocas" iam para as que preferiam os mineiros da Ferrominas e Minacorvo, com quadras como esta: "Raparigas do Felgar, / casai com nós cá da terra, / não queirais malta de fora / que nós temos melhor tempéra".
Ah, mas o Padre, o Presidente da Junta, a Câmara, a Comissão de Festas, agora como no Passado, também não escaparam!
Tanto Santos Júnior como o Padre Rebelo se referem aos ensaios, sempre feitos no maior segredo, cerca de um mês antes do Entrudo. Iam por isso para lugares esconsos, fora do povo, "às vezes num velho e arredio palheiro" (Santos Jr., obra citada), tal como especifica o Pe. Rebelo: "fazia-se em lugares escuros - Ribeiro dos Moinhos, Abrolhal, Eirinha, etc.". Este ano sabemos que foi lá para as bandas do Sabor, julgamos que em Silhades.

Organiza-se a "roda", ora girando num sentido, ora noutro.
O texto, normalmente em verso, era da lavra de um mais inspirado criador, com acrescentos de outros membros do grupo. Há uma Entrada, mais ou menos estereotipada, tal como o Encerramento, e, de permeio os diálogos alusivos às situações que se procuram "denunciar", criticar, satirizar, ou, mais raramente louvar. O objectivo é suscitar a hilaridade da assistência (acabando por se rir, por vezes, até os próprios "actores"). O personagem do "Velho" (de chapéu, capote coçado, algo mal vestido, com uma bota de vinho a tiracolo, um pau ferrado na mão com um chocalho na ponta), com um apito comanda as operações: conduz o cortejo, organiza a roda e convoca os "visados(as)" por interpostas pessoas para o meio da roda, onde se dá uma espécie de "tribunal popular" (no fundo a "vox populi").
Entretanto há uma personagem castiça que é a "Velha", vestida de preto como manda a regra, agarrada a uma bengala, com um lenço e xaile e de tal forma curvada que não se lhe vê a cara (é a personagem-enigma). Pega normalmente nas deixas do "velho" e lança mais achas para a fogueira, com comentários acintosos. Ao contrário do que afirma Santos Júnior e em concordância com o nosso amigo Dr. Carlos Seixas (ilustre felgarense que também já escreveu sobre esta Dança), a "velha" não é uma figura apagada no contexto da representação. Talvez Santos Júnior assim o entendesse porque a Velha não toma propriamente a iniciativa e espera pelas acusações para depois "botar mais lenha" para a fogueira, como se costuma dizer.  Tal foi o caso, nesta última Dança, em que se mencionou a rotunda com uma fonte, que está em construção à entrada do Felgar: "- Deve ser pra lá buberem os buuurros!" - dizia a Velha. Muitas das vezes não se percebe bem o que que Velha diz, surgindo as suas falas mais como remoques relativamente ao que se disse.
O "Velho" toma posição no centro da roda, enquanto a "Velha" deambula pela periferia - às bocas, claro!
Refere Santos Júnior que se escolhiam para esta iniciativa "rapazes desembaraçados no falar e destemidos, isto é, capazes de aguentar qualquer reacção às críticas que vão fazer (...). A reacção de temperamentos assomadiços tem originado zaragatas, que os oito dançantes têm de aguentar e de levar a melhor", embora conclua: "a cordura, no entanto tem sido a norma" - tal como agora. O "escudo de protecção" era o tal "amor à terra", pelo que se entendiam estas críticas como construtivas, ou destinadas a "corrigir" desvios, comportamentos, ou então as iniciativas em relação às quais havia/há (alguma) discordância popular. E, em jeito de defesa, lá vinham (como continuam a vir) as desculpas finais, no momento do encerramento, como registou o Padre Rebelo: "Pois nós vamos terminar / Mas antes de acabar, / pedimos perdão de tudo. / E pedimos pelas Almas / que nos deiam muitas palmas / E passem bem o Entrudo".
Logo ao início as "raparigas" vão sendo convocadas ao centro da roda, para a descompustura, tipo "julgamento", por parte dos moços e do Velho.
Sobre o significado desta "dança", como escrevemos algures, ela insere-se no período do Carnaval (o Carnis Valerium = adeus à carne), tempo em que, como se sabe, desde a Antiguidade, tudo era permitido durante três dias de excessos, em que os prazeres da carne não eram só gastronómicos (o Santo Entrudo da carne gorda - a "tchicha do reco") e se alargavam ao mundano, à licenciosidade, à permissão social, tempo de inversão social (em que as mulheres se vestiam de homens e os homens de mulheres), numa espécie de mundo às avessas, em que as críticas e as partidas são mais ou menos toleradas ("é Carnaval, ninguém leva a mal"). No caso do Felgar, noutros tempos, não era só a Dança do Entrudo (ou dança satírica) que se fazia. Como anotou o Padre Rebelo, nas semanas próximas do Carnaval havia o costume das "cacadas": "pequenos grupos, quase sempre de jovens (rapazes e raparigas), disfarçados, pela calada da noite, quando as pessoas ceavam, abriam os postigos das portas daquelas casas cujos moradores não lhes eram simpáticos, ou ferviam em pouca água, e despejavam no átrio 'restos de louças partidas, pedras, cascos de bois, latas, pedaços de cântaros de barro e, por vezes, outras coisas menos delicadas. / O barulho provocado pelo lançamento destas 'coisas' era grande e os moradores revoltados vinham à porta, mas a escuridão da noite quase nunca lhes permitia conhecer e menos apanhar os prevaricadores". 

Continuam os "julgamentos", com muito povo ao redor e alguns fotógrafos e etnógrafos atentos.
Mas não era só: o Professor Adriano Vasco Rodrigues (que, como se sabe, casou no Felgar com a Srª. Drª. Maria da Assunção Carqueja), na monografia do Felgar publicada em parceria com sua esposa (em 2006), fala ainda do correr o Entrudo nesta aldeia, em que se punham dois rapazes nos extremos da povoação, proclamando, com auxílio de dois grandes búzios (para ampliarem a voz), o que se tinha passado ao longo do ano. Faziam ainda o Enterro do Entrudo, queimando um boneco de palha que previamente deitavam numa padiola, sendo levado numa espécie de funeral (tal como se fazia noutras aldeias trasmontanas). Quando o boneco de Entrudo era queimado, acabava o Carnaval e dava-se início ao período da Quaresma (Maria da Assunção Carqueja Rodrigues e Adriano Vasco Rodrigues, Felgar, 2006, pág. 172.).
Ui!, este é o momento em que os homens do povo atacam as instituições - nem Junta, nem Câmara, nem padre escapam!
Citando Mendes Corvo: "tal como nas antigas Festas dos Loucos medievais, cujas raízes se situam no período romano e, quiçá antes, o corpo social comprazia-se (ou avespinhava-se) nesta subversão, que seria como que uma manifestação do seu lado negro. O Carnaval corresponde, assim, a um momento de catarse colectiva, na transição do Inverno para a regeneração da Primavera que se aproxima. Um parto que não se faz sem a dor da Quaresma. / Função análoga à sátira carnavalesca do Felgar tinham as loas, colóquios, comédias, e, de certa forma, as serrações da Velha [sempre a Velha!...]. Para além do escapismo social, há nisto, por outro lado, uma associação cosmogónica decorrente dos ciclos do ano (expulsão do Inverno = Velho/Velha) e reordenação das forças do mundo [em que pontua a Juventude, não sendo por acaso que a Dança do Felgar é também um rito de iniciação da Juventude, com os seus desvarios, que os Velhos procuram corrigir e orientar, pela Crítica - o velho mundo e o mundo novo]. - São tudo velhas tradições que estiveram associadas a um modo de vida ancestral, hoje em vias de extinção. / Independentemente do fim de ciclo que deu sentido a estas manifestações, num tempo em que a televisão apareceu para exercer esse papel laudatório ou de pelourinho de uma sociedade mais alargada, urge preservar estas tradições como pergaminhos e penhor dos valores 'identitários' da 'aldeia real'."
Por isso faço minhas as palavras de M. Corvo, dando os meus parabéns à Juventude do Felgar, fazendo votos para que continuem e não deixem nunca morrer estas coisas - pelo Amor à Terra!
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Em tempo: para além dos textos citados, acrescente-se o excelente artigo de Carlos Seixas, intitulado "Felgar - As folias do Entrudo", in Terra Quente, 15.02.1998, que entretanto o autor nos entregou e a quem muito agradecemos. A par do trabalho de Santos Júnior é o registo mais completo que conhecemos sobre este costume felgarense. Porque não compilar estes estudos numa brochura? - fica o repto.
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Nota: pedimos as devidas desculpas pela extensão deste "post", mas julgamos que se impunha uma análise e uma interpretação um pouco mais alargada desta tradição, se bem que pessoal (fica aberta a discussão).

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Felgar - Carnaval 2010




Na próxima terça-feira cumpre-se a tradição.

Venha assistir.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Felgar - Silhades e o Sabor

Vai encorpado o Sabor. Galgou as margens e Silhades ficou mais perto. Coisas de velhos amigos que não podem estar um sem o outro. Farão uma passagem de ano juntos, como sempre fizeram.

Para memória futura.




Entretanto no tanque do Valdusso ( habitualmente seco no Verão)a água corre livre e abundante.

Sinal de ano bom no que toca a chuva, dizem os que já viram muitos Invernos.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Felgar - "Fogueira do Galo" II

Complementando a reportagem anterior do "pucareiro" Tó Manel, aqui ficam mais algumas imagens (nocturnas), de uma das "fogueiras do galo" do Felgar. Nas fotos, trata-se da fogueira do largo Santa Cruz; a outra é feita no largo da igreja. O normal era fazer-se uma só fogueira, por cada povo, mas talvez o Felgar pretenda agora compensar as terras onde já não se fazem estas fogueiras natalícias, como acontece na vila de Moncorvo, onde antigamente se acendiam na Corredoura.

As "fogueiras do galo" seriam assim denominadas porque se acendiam após a "missa do galo" (pela meia-noite do dia de nascimento de Jesus). O canto do galo teria o significado de anúncio desse Nascimento, para os cristãos o acontecimento fundador de uma nova era, prenunciada pelos Profetas. Todavia, sabemos hoje que o Cristianismo ajustou o seu calendário religioso a uma religiosidade de fundo muito mais antiga, a que chamou de pagã. Assim, no tempo do paganismo já se acenderiam fogueiras por alturas do solstício de Inverno - pretendem alguns que para "chamar o sol" em agonia, no dia da noite mais longa do ano - tal como se faziam no solstício do Verão: as fogueiras do S. João.
Estamos perante reminiscências de fogos rituais, sagrados, que tinham por função reunir as tribos num contexto de celebração, organizando o Tempo e honrando as potestades intimamente associadas à Natureza, da qual dependia o calendário agrícola. Ou seja, em última instância, estamos perante ritos que mergulham as suas raízes na noite dos tempos, quiçá no Neolítico Final/início da Idade dos Metais, quando se erigiram os primeiros monumentos neolíticos que teriam o seu expoente máximo no grande "cromelech" de Stonehenge (Inglaterra).
Por todo o Trás-os-Montes se faziam estas "fogueiras do galo", na noite de Natal, e, mandava a tradição que fossem os rapazes da aldeia (tal como os jovens guerreiros da tribo) a carregar a lenha pelos diversos cantos da freguesia, utilizando para isso carros de bois, que pediam por empréstimo, mas sem utilizarem os bois, ou seja, eram puxados pela rapaziada, num misto de sacrifício, mas também de força comunitária, aplicando-se o princípio de que "a união faz a força". No fundo estava em jogo a solidariedade e a unidade da comunidade; depois era o garbo, o treino da robustez física que se expressava noutras terras através da luta da "galhofa" (agora só pelas terras de Bragança), o alarde da capacidade de fazer uma fogueira maior do que a do povo vizinho. Os carros de bois chegavam a galgar paredes, carregados com possantes troncos de castanheiros, tal era a força bruta dos "jovens guerreiros" que para ali canalizavam as suas energias, forma de combater também o frio!
Depois era o momento da confraternização, noite dentro, tendo como mágico elixir anti-frio, além do calor da fogueira (exterior), o garrafão do vinho, para aquecer as almas (o interior). Claro que tudo isto só terá resistido à ortodoxia católica, sob o argumento de que a fogueira era para aquecer o Deus-Menino.
Sobre o Menino-Deus poderíamos associá-lo ao novo ano que nasce com o solstício do Inverno, num arco de transição que vai de 22-25 até ao dia de Reis (6 de Janeiro). Por isso, também mandava a tradição que a fogueira se aguentasse acesa até aos Reis.
Analisando as fotografias, vê-se bem que a tradição, no Felgar, ainda é o que era, se bem que os gigantescos troncos de castanheiro e outras lenhas, venham agora de atrelado puxado por tractores, e que certos desencontros de opinião tenham desembocado em duas fogueiras. Afora isso há que felicitar os felgarenses por manterem acesa a chama das nossas tradições ancestrais.
Texto e Fotos: N.Campos
(Nota: clicar sobre as fotos para as ampliar)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Felgar - Fogueira do Galo

No dia 24 de Dezembro cumpriu-se a tradição: acenderam a fogueira, aqueceram o Menino.

No dia 25 encontram-se em torno da fogueira os residentes e aqueles que "fazem pela vida" noutras paragens. Confraternizam, matam saudades.

Mas a cada ano que passa nota-se e sente-se que são cada vez menos os que regressam nas quadras festivas.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Uma nota de etnografia

Enquanto me encontrava a arquivar uns papéis em casa, reencontrei este artigo que me parece oportuno partilhar convosco. O seu autor é o eminente investigador, etnógrafo, historiador e arqueólogo Vergílio Correia, tendo sido publicado em 1937, numa colectânea de artigos de sua autoria denominada "Etnografia Artística Portuguesa", em Barcelos. É particularmente conhecido pelo seu trabalho desenvolvido na mais conhecida estação arqueológica do período romano em Portugal, Conímbriga. A grafia do texto é a original salvo o uso dos tremas que não consegui colocar.

Para Dra. Casimira Machado Leonardo, que do alto dos seus mais de 90 anos, muito me continua a ensinar sobre a históra, costumes e tradições da sua terra mater, o Larinho.


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"Arrôchos" de Larinho e Felgar (Moncorvo)

"Larinho e Felgar são duas boas aldeias do concelho de Moncorvo, cuja visita a nova, inacabada, linha ferroviária do Pocinho a Miranda já tornou fácil e, relativamente rápida.

E interessante, embora um tanto enigmática, a paisagem desta região de terras esbranquiçadas, onde os vales, largamente desdobrados, entestam com cabeços escuros e pedregosos, salpicados de arvoredo miúdo. Região de centeios e trigos onde raro se alteia uma bandeira verde ou amarelecida de milhão, aqui, peor que no Alentejo - onde os montes alegram de manchas brancas a solidão das charnecas e dos montados -, raramente o largo espaço que medeia de povo para povo é habitado. A população concentra-se quási exclusivamente nas aldeias.


Ora nestas duas terras de Larinho e Felgar encontra-se localizado um costume etnográfico digno de referência. Por ocasião das ceifas, não são os homens que atam, em fachas, os molhos de palha, como sucede em tôda a parte; é a mulher a encarregada dêsse serviço. Mas como, por menos forte, ela não pode, à simples fôrça de braço, apertá-los conveniente, serve-se do arrôcho para êsse fim.

Atando duas ou três hastes de centeio, trigo ou cevada - conforme o cereal ceifado -, pelas espigas, com um nó de tecedeira, passa a cinta assim preparada sob o molho, reune as extremidades que ficaram com nova laçada com a varinha levemente recurva do arrôcho, consegue o desejado apêrto.

Como êste utensílio é, portanto, de uso exclusivamente feminino - um homem teria vergonha de empregá-lo, menosprezando a fôrça do seu braço -, aparece adornado de rústicos entalhes que os pegureiros e os namorados nas horas vagas se entreteem a gravar, à navalha, sôbre troncos afeiçoados de freixo ou buxo.

Os exemplares reproduzidos na figura junta, a um têrço do seu tamanho, dão bem a impressão da rudeza decorativa dos arrôchos que, algumas vezes, aparecem também pintados de verde, vermelho e azul. O seu comprimento regula entre 0,25 e 0,30 [metros].

Outubro de 1916.

(desenhos de A. Correia)"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Verão prolongado por Outono adentro...


Não sei por que cargas d'água (ou falta dela), ocorreu-me ontem que já estávamos no Outono, se bem que continue a parecer Verão, com o caloraço que se continua a fazer sentir. E veio-me à cabeça aquilo do "verão dos marmelos", que costumava ser sempre antes do "verão do S. Martinho", só que já não me lembrava se era no final de Setembro, ou em Outubro. Nas dúvidas, veio-me à lembradura uma publicação que costumava esclarecer este tipo de "mistérios" e que já aqui foi falada uma vez, num comentário do nosso amigo "Felgar", se não estou em erro. Pois é, o velho "Seringador" que se comprava pelo início do ano, nas feiras (outros preferiam o Borda d'Água). Agora arranjo-o numa das livrarias cá do sítio e mantenho a velha tradição familiar de fazer esta aquisição. Não encontrei a referência que pretendia ao dito "verão dos marmelos", nem sequer soube quando é que se colhem os marmelos (embora saiba que é por agora). Mas dei conta que o dito Seringador conjuga elementos de actualidade com informação verdadeiramente "archeológica": por exemplo, soube que no dia 16 de Setembro foi o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono, que no dia 21 foi o Dia da Doença de Alzheimer, que a 22 foi o Dia Europeu Sem Carros e que a 27 vamos ter o Dia Mundial do Turismo (tudo assuntos muito actuais); em contrapartida, o Seringador inclui uma curiosa nota histórica sobre a consideração que se tinha pelos forasteiros em Bragança, no tempo de D. Sancho I, além de dar os costumeiros conselhos para as sementeiras do fim de Setembro. Nestas ainda inclui o linho, o trigo, o centeio, etc., culturas mediévicas ou vindas de tempos neolíticos, e que hoje podemos considerar praticamente extintas, ao menos nas nossas terras...
O resto, para estes dias, podem ler no recorte que aqui postamos (em cima), a combinar com as galinhas do Vasdoal e para fazer concorrência ao noticiário de Curral de Moinas. Ah, aproveita-se uma informação: dia 29 de Setembro é dia de S. Miguel, o verdadeiro padroeiro do Felgar. Pergunto aos "Pucareiros": continua a fazer-se a festa? no dia próprio, ou em fim de semana? - aguardamos o convite!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Emigração e "pulsão de evasão"

Emigrantes do Felgar em Espanha - foto de autor desconhecido - Arquivo Particular/direitos reservados.


No seguimento dos "post's" anteriores, achámos oportuno apresentar aqui esta foto de dois emigrantes do Felgar, por terras de Espanha (Oviedo), por volta de 1967 ou 1968, onde trabalhavam na construção de estradas.
Ao mesmo tempo que compatriotas seus trabalhavam nas "rutes", em França, António Barreiros e Cândido Alberto Paredes (pai de Agripino Paredes, que gentilmente nos cedeu esta foto), andavam nas "carreteras". Outros ainda, do Felgar e Moncorvo, por essas mesmas terras asturianas e leonesas, trabalhavam nas minas de carvão. Tudo para conseguirem o seu sustento e respectivas famílias, e uma melhoria das condições de vida que o rincão natal não lhes propiciava. Este é um tema amplamente referido na reportagem de Assis Pacheco e Leonel Brito, publicada no República (Março de 1974) e agora reeditada no livro Torre de Moncorvo, Março de 1974 a 2009, mencionado em "post" anterior.
Se, por um lado, temos uma "viagem" ou uma "peregrinação" de personagens de excepção (diplomatas de carreira ou outros mais ilustrados), com uma certa motivação espiritual, fome de descoberta ou de encontro com o Outro, numa espécie de "pulsão de evasão" que os fez buscar o Desconhecido (o mundo exterior), temos, também, estes "soldados da fortuna" que partiam, movidos por uma fome bem mais real, em direcção a um outro tipo de desconhecido: a incerteza do que iam encontrar, mas com a certeza de que nada poderia ser pior do que aquilo que conheciam. E, baseados no diz-que-disse e no exemplo do vizinho do lado, partiam em busca de uma espécie de el-dorado feito de muito trabalho, canseiras, decerto humilhações. O Outro destes Peregrinos tanto poderia ser um patrão bom, como um explorador de circunstância, depois de alguns passadores salafrários de permeio.
Em todo o caso, como já por aqui dissémos, a montanha e as terras inóspitas parece que são propiciadoras às Partidas (com ou sem regresso, temporário ou definitivo). Seja por motivos de fome, de melhoria de condições, de valorização pessoal e profissional, ou apenas "porque sim", como se assinalou na reportagem de 1984 de Rogério Rodrigues (in O Jornal, vencedora do prémio da Associação 25 de Abril) editada no livro referido, sub-título "O importante é partir". Aqui se conta a estória de uma jovem de 21 anos, a frequentar o 12º ano, leitora da Crónica Feminina e da revista Maria, àvida de sair do apertado meio em que vivia - da aldeia para a vila, onde estava a estudar, aspirando depois daqui sair para o mundo exterior, com o qual sonhava: "adorava sair daqui, para outro sítio que não conhecesse. Gostava de ir para o Porto (...). Sair. Apenas sair. (...) Sonho? sair para a cidade".
Mais adiante, agora no mesmo livro, outro subtítulo: "Ei-los que partem". Texto ilustrado com as antigas camionetas da carreira para Paris, na Praça de Moncorvo, com alguém a carregar as malas de cartão no tejadilho. "Levam as malas, pedaços de terra, seja em géneros, seja em saudade. São dos que nunca saem, mesmo quando regressam. Pacientes, esperam pelo autocarro na Praça, o centro do Poder, que os ridiculariza, mas que tanto necessita deles" (referência ao tempo das remessas dos emigrantes, e ao tratamento pouco simpático de "avéques" com que se mimoseavam os emigrantes de França).

E de partida em partida, assim se explica a desertificação destas nossas terras...

sábado, 29 de agosto de 2009

Felgar - Festa NSA 2009

Felgar - Festa de Nª Sª do Amparo.
Domingo, 23 de Agosto de 2009, cerca das 9h30.
Como de costume a Banda do Felgar recebe a Banda de Música convidada, este ano a Banda de Mirandela. No Largo da Santa Cruz trocam cumprimentos.

Chamo a atenção para a evolução que a nossa banda teve desde Janeiro até hoje. Veja-se a mesma música tocada na Festa de S. Sebastião, também aqui colocada, e compare-se com a execução de hoje. Sente-se que tem sido realizado um trabalho de aperfeiçoamento notável. Estão de parabéns o regente, os músicos e a direcção da SFF.






Nota: Os mais atentos ouvem um som de fundo contínuo. Eu mostro já o que é...

Trata-se do agradável som da água a correr no chafariz.

Só não coloco aqui o cheiro matinal dos jardins do Cimo do Lugar porque é muita mão de obra...


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Festa de Senhora do Amparo (Felgar)

Aconteceu este fim de semana a festa de Nª. Senhora do Amparo do Felgar.
A história do culto da Senhora do Amparo e da respectiva festa, começou com um barco em risco de naufrágio, no alto mar, num certo dia do século XIX, entre Portugal e o Brasil. O barco era de pavilhão inglês e chamava-se Iteamer.


Réplica do barco Iteamer, evocando a atribulada viagem do Comendador Pires (foto N.Campos)

Ia a bordo um felgarense, que viria a ser comendador, chamado Francisco António Pires (nascido em 29.06.1837; falecido em 7.03.1901), que, no meio da aflição geral, fez uma promessa de edificar uma capela e celebrar uma festa em honra da Senhora do Amparo, se se salvassem, o que veio a acontecer. E a promessa foi cumprida.


Imagem da Senhora do Amparo, no interior do Santuário (foto N.Campos)

Esta história, com uma réplica antiga do barco, e muitas fotografias de beneméritos, e todo o tipo de “souvenirs” e “ex-votos” podem apreciar-se na Casa dos Milagres do santuário.
A festa do Felgar enraizou-se ao longo de todo o século XX, sendo das romarias mais concorridas de todo o Leste do distrito de Bragança.

A devoção popular acende velas à Senhora, talvez uma reminiscência dos fogos sagrados, dos templos de Roma (foto N.Campos)
A devoção dos felgarenses pela sua Senhora do Amparo aumentou durante o período da guerra do ultramar (1961-1974), em que os soldados desta freguesia levavam consigo um pequeno retalho do manto da Senhora. Dizem que nenhum morreu durante essa guerra, apesar de alguns terem sido atingidos.

Procissão da Senhora do Amparo, em 1972 - o militar fardado, segurando o pendão, em promessa pelo seu regresso são e salvo, é César Rebouta (arquivo particular de Agripino Paredes, a quem agradecemos)
Mas, para mais detalhes e fotos, aqui fica a deixa para os colaboradores e amigos felgarenses.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Felgar - Festa NSA 2009

Realiza-se no próximo fim de semana a Festa em Honra de Nª Sª do Amparo.

Aqui fica o programa.

domingo, 19 de julho de 2009

Felgar - Pagadores de Promessas

Festa de Nª Sª do Amparo - Felgar

Domingo, 24 de Agosto de 1958.






Na praça, em frente à igreja matriz, aguarda-se a saída da procissão.

Descalço, com um saco de trigo de quatro ou cinco alqueires aos ombros, o pagador prepara-se para uma longa e lenta caminhada de mais de duas horas que só terminará quando o trigo for entregue na Casa dos Milagres, já no Santuário.

Durante o percurso fará duas breves pousas para descansar e aguentará estoicamente o esforço, movido por algo maior que ele: a crença.


Os mordomos usavam uma braçadeira que os identificava. Reparem no lado esquerdo da imagem.

domingo, 5 de julho de 2009

Felgar - destino perfeito



O Expresso de ontem (04.07.2009) fez-se acompanhar de um "Mapa do Ar Livre - Norte Centro".

Entre várias sugestões, aponta para "Os dez melhores espaços ao ar livre para..." e enumera um conjunto actividades: fazer um piquenique, acampar, levar os miúdos, namorar, andar de bicicleta, nadar, escalar, correr, e outras.

Um dos de destinos perfeitos para se visitar acompanhado e namorar é o Felgar.

É interessante ver a nossa aldeia referenciada como um local aprazível.

E não mentem. Garanto eu!
Bora lá, até ao Felgar!!!





domingo, 21 de junho de 2009

Felgar - Estação da CP




Gostei da exposição aqui anunciada e ontem inaugurada no Centro de Memória.

Gostei de ver, de conversar, de recordar.

O espírito de partilha, mais do que anunciar-se, consubstancia-se fazendo, realizando, mostrando, dando e dando-se.

Foi o que aconteceu.


Por ser felgarense, tocaram-me mais fundo as imagens da minha terra.

Creio que lhes via o "punctum" onde outros viam detalhes interessantes.


Ainda imbuído desse espírito, encontro esta imagem da estação da CP.

Foi demolida. Fica a lembrança.

domingo, 24 de maio de 2009

Felgar ontem e hoje.




Hoje, a meio da tarde, após uma abençoada chuvada!





Ontem, que é como quem diz, há quase 30 anos...
Lameiro do Pombal, onde hoje está a urbanização com o mesmo nome.
Não sei a data desta imagem.
Mas, sendo que as eleições onde a AD foi a votos ocorreram em 5 de Outubro de 1980, não andará longe deste ano.
Ali no Chafariz ainda se nota um cartaz.


O início da construção do actual edifício da Sede da Junta de Freguesia do Felgar

terça-feira, 19 de maio de 2009

Bilhete Postal - 1953


Felgar e Urros
17-4-53

Um postal descoberto na caixa dos sapatos - arquivo por excelência das famílias simples - colocou-me "o pensamento em exercício e alma a transpirar" (que belo título !) de tanto imaginar os detalhes e as vidas por detrás de um simples postal...
Se havia telefone, seria caro e reservado a assuntos mais graves.
O Bilhete Postal servia na perfeição para dizer que nos 23 os tapetes não estariam prontos, para desejar saúde, para enviar lembranças e um abraço!
Os 23...
Tanta informação em dois dígitos. Nem era necessário falar em dia de feira. Era implícito.
O resto deixo à imaginação dos descobridores.

A. Manuel

terça-feira, 14 de abril de 2009

Detalhes em Ferro 5


Portão da casa do do comendador Francisco António Pires, no Felgar. A casa tem dois imponentes portões, iguais, cuidados de forma exemplar. São à base de ferro fundido com bonitos elementos florais. Ao centro têm as iniciais "AP". Estão pintados a vermelho com alguns elementos a branco. Um felgarense já adiantou no Blogue que datam de 1886! Devem ser exemplares únicos no concelho.

domingo, 12 de abril de 2009

Felgar, Março de 74

Como vários Felgarenses se têm mostrado interessados em ver / saber coisas de outros tempos sobre a sua terra, aqui vão o texto do Assis Pacheco e fotos minhas, em homenagem às tecedeiras, oleiros, fogueteiros e a todos que passaram pela Banda.




Nota : No dia 20 de Junho estará patente ao público, no Centro de Memória de Moncorvo, uma exposição da reportagem “Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria”, de Fernando Assis Pacheco (texto) e Leonel Brito (fotos), publicada no jornal “República”, em Março de 1974 . As 17 páginas da reportagem serão exibidas em painéis .
Também vão ser expostas fotografias dessa época, de Leonel Brito, com textos de Rogério Rodrigues.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

"Encomendação das Almas", um filme de Leonel Brito, 30 anos depois

Depois do grande sucesso que foi a apresentação, ontem, no auditório municipal de Freixo de Espada à Cinta, do filme sobre a Encomendação das Almas, teremos hoje, no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, o visionamento do mesmo documentário, pelas 21;30 horas.

Será previamente feita uma introdução a este documentário, pelo próprio autor, o realizador Leonel Brito, e um dos autores dos textos de fundo, Rogério Rodrigues (ambos colaboradores do nosso blogue). O argumento teve também como co-autor o saudoso jornalista Afonso Praça, igualmente nosso conterrâneo, e contou com a colaboração especial, a nível da explicação etnográfica, do Padre Joaquim M. Rebelo, que, como Afonso Praça, infelizmente já não está entre nós.

Este filme é um verdadeiro documento etnográfico e antropológico, rodado há exactamente 30 anos, na vila de Freixo de Espada à Cinta (com o cortejo dos Sete Passos), e em algumas aldeias dos concelhos de Freixo e de Torre de Moncorvo (neste caso, Felgar e Urros). Além dos cânticos das Almas, que se realizavam pela Quaresma, vêm-se outros aspectos da vida rural desse tempo (1979), num momento charneira da nossa história recente, em que, a par de algumas transformações decorrentes da emigração, se vêm ainda aspectos da nossa ancestralidade.

Este é um documento notável que o autor, Leonel Brito, depois de o resgatar aos arquivos da RTP (entidade para quem foi produzido o filme), e de o passar para DVD, ofereceu aos arquivos do Museu do Ferro, da Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, e à Câmara Municipal de Freixo. Impõe-se, agora, a sua edição, repto que deixamos às entidades competentes. Resta-nos enaltecer a generosidade e o empenho do realizador Leonel Brito, nosso conterrâneo e colega de blogue. Obrigado Leonel!

Então aqui fica o convite para logo à noite, às 21;30 horas, no auditório do Museu do Ferro!
Compareçam!

domingo, 1 de março de 2009

Felgar


Hoje descobri estas no Felgar.
A meio caminho da descida para o rio.
Sebastião Guerra. Flor cor de rosa.
Despachem-se que a flor dura pouco tempo.

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