torredemoncorvoinblog@gmail.com

Mostrar mensagens com a etiqueta Lousa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lousa. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ainda as festas de Verão

Igreja Matriz do Larinho (foto dos anos 30, arquivo Dr. João Leonardo)


Na senda das festas de verão, é importante referir que no último fim-de-semana de Agosto, ocorrem no concelho de Moncorvo várias festas e romarias. No Larinho, com a romagem à capela de Santa Luzia, que não é a padroeira, mas uma bela suplente, e que tinha uma bela capela com pinturas murais que foi quase totalmente demolida, já na segunda metade do séc. XX. Como curiosidade, na actual capela existem duas representações de Santa Luzia, mas a mais recente não pode sair na festa porque faz, segundo o povo, com que haja sempre trovoada.
Na zona "de trás da Serra" havia neste fim de semana a importante peregrinação ao Santo Apolinário de Urros, que este ano retrocedeu um fim de semana. Como sabem, no santuário existe o túmulo do Santo que, segundo a tradição, foi bispo de Ravena, e veio morrer àquele local. Esta festa foi das mais importantes do Sul do distrito, tendo ainda alguma participação.
Também neste fim-de-semana se comemora a festa a Santa Bárbara, na mui antiga vila de Mós, padroeira dos mineiros e das trovoadas. Recorde-se que no limite desta freguesia existiram alguns locais de fundição, sendo o último caso de fundição na Chapa Cunha, junto à ribeira de Mós. Daí a grande devoção por esta mártir da Igreja.
Na zona do vale existe outra romagem, à Nossa Senhora do Castelo (Adeganha), no local onde existiu povoamento antigo (pré-histórico, castrejo e romano), e cuja peregrinação, outrora, teria alguma importância. Recomenda-se a visita a este local, particularmente ao topo na capela de S. João, donde se pode desfrutar uma vista magnífica sobre o vale da Vilariça.
Faltou referir também, festa da Lousa que ocorre no terceiro fim de semana do mês, dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, que teve algum relevo, já que esta já foi uma povoação com alguma importância. É de recordar que possuiu um convento de Trinitários, e é a única freguesia do concelho que é parcialmente classificada como Património da Humanidade pela UNESCO.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tuna Popular da Lousa brilhou em Sendim (terras de Miranda)

Foi um verdadeiro sucesso a actuação do grupo de cordas conhecido por "tuna popular da Lousa", no passado sábado, ao fim da tarde, em Sendim (terras de Miranda), no contexto do programa do 10º festival intercéltico.
O concerto, inicialmente previsto para o largo da igreja matriz de Sendim, acabaria por se realizar no pavilhão conhecido por "Taberna dos Celtas", por receio de aguaceiros.

Os compenetrados músicos das terras moncorvenses estiveram no seu melhor, executando com mestria o seu repertório e trazendo a este festival um tipo do sonoridades aqui pouco habituais - é que enquanto o mundo do Alto Trás-os-Montes se manteve arreigado às flautas pastoris e gaitas de foles, as tunas rurais ou populares, se bem que disseminadas um pouco por toda a parte nos finais do século XIX-inícios de XX, parecem ter-se fixado mais na orla duriense, pelo menos em termos de sobrevivência, num arco que abrange os contrafortes do Marão (Baião, Amarante, Vila Real), tombando depois para o Douro, nomeadamente Régua, Santa Marta de Penaguião (Carvalhais), etc., como se sabe pelo magistral estudo de José Alberto Sardinha ("Tunas do Marão", 2005) e outros trabalhos de investigação, tais como o "Grande Cancioneiro do Alto Douro" (vol. 2) de Altino M. Cardoso e J.Pierre Silva.
Como já se disse, a música das tunas rurais ou populares (também por vezes denominados orquestras populares, orquestras típicas, conjuntos típicos), situa-se num território cultural em que o tradicional ("popular") e o erudito se cruzam, com alguns músicos que sabem escrever/ler pautas e outros que, em outros tempos, compunham alguns temas ("música de autor").
No caso dos músicos oriundos da Lousa e das suas vizinhanças o seu repertório é integralmente herdado, num esforço de recuperação notável e louvável, depois de anos em que as circunstâncias das suas vidas os mantiveram longe deste tipo de música e sem possibilidades de tocarem em conjunto.

Foram executados temas como a "Evarista" (assim chamado por ser uma marcha trazida, noutros tempos, por um certo Evaristo), os Marinheiros, Machucho, Valsa da meia-noite, a Despedida, etc..
Os organizadores do Festival ficaram altamente agradados com a prestação dos músicos da nossa terra, assim como o público que não lhes regateou aplausos. - Na plateia encontravam-se alguns moncorvenses, entre os quais familiares e amigos dos músicos, além de amigos de Moncorvo (permitam-me que destaque o maior moncorvófilo de sempre, o Engº. José Sequeira!), pelo que a "claque" não faltou!
O concelho de Torre de Moncorvo foi muito dignamente representado, pelo que aqui lhes damos os nossos Parabéns!

E para que conste, aqui ficam os nomes dos músicos presentes em Sendim, com indicação dos respectivos instrumentos:
- Sr. Armando Cesário Moutinho > bandolim baixo
- Sr. José Joaquim Pestana > viola portuguesa
- Sr. Modesto Augusto Moutinho > violino
- Sr. Orlando Espírito Santo Félix > bandolim requinta
- Sr. Reinaldo Reto Queijo > Ferrinhos
- Sr. Samuel Santos Barbosa de Sousa > bandola
- Sr. Serafim Sebastião Sousa > viola portuguesa.
Aguardamos agora ainda mais ansiosamente a edição do CD entretanto já gravado pela equipa de Mário Correia/editora Sons da Terra, tendo-se deslocado expressamente a Torre de Moncorvo, no final do passado mês de Maio, para esse efeito.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Tuna Popular Lousense

(continuação do “post” sobre o Intercéltico de Sendim)


Mas quem são estes músicos e como surgiram?
Como eles próprios se apresentam, são um grupo de amigos da freguesia da Lousa, residindo alguns no concelho de Torre de Moncorvo e outros bem longe daqui (como por ex. em Sintra), o que os faz percorrer longas distâncias para ensaiarem e tocarem. Tendo alguns já tocado juntos na sua juventude (é preciso que se note que são “jovens” hoje com idades superiores a 60 anos), resolveram, em dado momento, rememorar os seus bons velhos tempos, e, por volta de 1988-89, três elementos do grupo começaram de novo a tocar em conjunto. A estes associaram-se outros três elementos de outros grupo (entretanto dissolvido) e passaram a seis membros, aos quais se juntou um sétimo, tocador de viola. É preciso dizer que todos os instrumentos eram cordofones a que se juntou um tocador de ferrinhos, entretanto falecido e substituído por outro. Tocavam em ambientes familiares, como festas de aniversários. A sua primeira actuação pública parece ter ocorrido em 2001. E, a partir daqui, começaram a actuar em festas de Lares de Idosos, por todo o concelho de Torre de Moncorvo. Em 2007 estiveram na inauguração dos jardins da biblioteca municipal de Torre de Moncorvo, a convite da Câmara, e assim sucessivamente.
No repertório da tuna popular da Lousa (estes músicos tiveram alguma dificuldade em acertar com a sua própria designação porque não se consideram bem uma Tuna, que habitualmente tem mais elementos), constam melodias tradicionais da região Duriense, e há outras que foram inspiradas no repertório das bandas de música, inclusive militares (um dos membros participou na banda militar de Infantaria nº1 e na Banda da Carris, de Lisboa). Todavia, alguns são temas bastante antigos, talvez criados no século XIX. Parece que um padre da Lousa também terá composto alguns temas. Ou seja, quer pela temática, quer pelo instrumental, podemos situar este género musical entre o popular e o erudito, lembrando um pouco a riqueza da música popular da Europa central (Baviera, Àustria) muito influenciada (ou seria o contrário?) pela música de salão. Assim se explica a grande música vienense… Hoje, infelizmente, as tunas populares que tiveram grande sucesso no passado, também se encontram à beira da extinção. Este é o único grupo de que temos conhecimento no Douro Superior (se exceptuarmos os Fiarresgas de Foz-Côa, mais de tipo “rancho”). Por isso merecem todo o nosso carinho e apoio, para que não esmoreçam.
Para que conste, aqui ficam registados os seus nomes e respectivo instrumento:
Armando Cesário Moutinho – Bandolim baixo;
José Joaquim Pestana – Viola portuguesa;
Modesto Augusto Moutinho – Violino;
Orlando Espírito Santo Félix – Bandolim requinta;
Reinaldo Reto Queijo – Ferrinhos;
Samuel Santos Barbosa de Sousa – Bandola;
Serafim Sebastião Sousa – Viola portuguesa;
Vasco Espírito Santo – Guitarra portuguesa.
Alguns temas: À beira do Tejo; A Evarista; Os Marinheiros; Saudade; Machucho; Cancelão; Eterna; Valsa da Meia-noite. Segundo informação constante de um apontamento elaborado pelo Sr. Orlando Félix, “soube-se há pouco tempo que a Marcha dos Marinheiros” faz parte do Hino da Cidade de S. Paulo, Brasil”. O Sr. Samuel Sousa, noutro escrito para a história da tuna escreveu também que “esta era uma marcha brasileira que fazia parte do reportório da 1ª. banda musical da Lousa”. Ou seja, estas melodias são o que verdadeiramente hoje se pode chamar de “worldmusic” – sons que viajam, de cá para lá do mar, regressam, mesclam-se, passam para bandas e de bandas para tunas, do erudito para o popular e talvez vice-versa, criando paisagens sonoras cujas raízes estarão num fundo cultural difuso que é o da Europa rural, a do cheiro ao restolho, aqui com a Festa meridional, a sardinha e o copo de vinho, porque não durante as vindimas?, e noutras latitudes, sem vinho, com o cereal fermentado ou destilado, inspirações libadas em outros mágicos licores de célticas origens, todavia era a mesma Festa, o Som que escorre das diversas culturas, venha ele de concertinas, acordeóns, trikitixas, gaitas de foles, ou todo o género de cordofones, tudo nos une nesta diversidade, perdida que foi a celebração dos ritos das colheitas, ficando, no entanto, a reunião das tribos da Música.
Até Sendim. - Compareça para ouvir e apludir os representantes da nossa terra: os músicos da Tuna Popular Lousense!

Texto e fotos do autor do post - Em cima: grupo musical conhecido por tuna popular da Lousa, no momento das gravações, no auditório do Museu do Ferro em T. de Moncorvo; em baixo, outro momento das gravações, com o etnomusicólogo Mário Correia e sua equipa.

Tuna Popular da Lousa, presente no 10º Intercéltico de Sendim

«Na demanda dos sons da terra, rumámos para onde a paisagem entra nos olhos e não sai mais (Miguel Torga) e as pessoas se tornam amigas e não mais se esquecem. Mirandeses d'las arribas, gente que se confunde com a própria natureza, numa simbiose tão profunda como impenetrável, da qual emerge uma cultura de seculares origens que é seiva intemporal de uma identidade resistente que a memória colectiva oralmente transmitiu ao longo dos tempos». – MÁRIO CORREIA (Raiç e tradiçon)

O festival inter-céltico de Sendim (Terras de Miranda) realiza-se há 10 anos.
Mercê do labor persistente de Mário Correia (um homem do litoral que veio construir uma utopia no interior mais remoto) que resolveu trazer a música dita “céltica” dos grandes palcos do Porto para o lugar onde ela fazia mais sentido: o terriço de um “cú de judas”, onde o pó se levanta à mistura com o cheiro do restolho na comunhão mística com a Mãe-Terra, sob as estrelas coriscantes do planalto da nossa Celtécia mirandesa.
E o trabalho do Mário não se ficou pelo festival. Uma vez aí, como um verdadeiro garimpeiro, foi joeirando e arrancando do esquecimento grupos de cantares (como os das segadas de Caçarelhos), cantadeiras como Clementina Rosa Afonso, inúmeros gaiteiros, muitos deles já falecidos há muitos anos, deles descobrindo registos antigos, como os do alemão naturalizado americano Kurt Schindler (1882-1935), autor das primeiras recolhas fonográficas de música mirandesa (1932),com tudo isto, paulatinamente, M. Correia foi constituindo um acervo colossal que hoje conta com dezenas de CD’s, com a chancela da editora Sons da Terra, por si fundada. Mas há mais: além da revista Trad i Folk (10 números, sendo cada um o catálogo anual do festival de Sendim), tem ainda publicado alguns importantes livros para a história da música tradicional mirandesa, tais como Bi benir la Gaita (contributos para a história dos gaiteiros mirandeses) e Pauliteiros de Miranda (Cércio) – Viagem a Londres (sobre a actuação dos pauliteiros mirandeses no Royal Albert Hall, Janeiro, 1934, com edição de CD), além de vários artigos em revistas e “sites” da especialidade (quanto a “sites”, ver: http://www.attambur.com/OutrosSons/Portugal/SonsdaTerra/sons_da_terra.htm
http://www.attambur.com/Noticias/20022t/centro_de_musica_tradicional_sons_da_terra.htm
Mas a sua obra maior, quanto a nós, foi a criação do Centro de Música Tradicional Sons da Terra (sedeado em Sendim), onde se reúne uma Biblioteca especializada e a Fonoteca (Arquivo sonoro) com um importante acervo de música tradicional sobretudo transmontana. Aí se administram cursos de iniciação de instrumentos tradicionais do Planalto Mirandês" (gaita de foles, flauta pastoril, caixa e bombo), salvando as sonoridades que se estavam em risco absoluto de se perderem com a morte dos velhos gaiteiros das terras mirandesas. Há já alguns anos, a câmara de Miranda, numa tentativa bem intencionada de não deixar perder a música tradicional, chegou a transportar jovens para Espanha (Aliste), para aprenderem gaita de foles, tendo muitos deles entretanto desistido. Agora basta irem a Sendim.
Como sempre acontece, este labor não esteve nem está isento de escolhos, sendo, muitas vezes, as questiúnculas locais também um resultado das dinâmicas e da diversidade e do crescimento entretanto surgidos (só nos charcos e nos desertos não há polémicas). Todavia não se podem esquecer os contributos de associações locais como a Mirai Qu’Alforjas, os exímios Galandum Galundaina, os divertidos Picä Tumilho (inventores do rock mirandês), os SangriSulta, além dos famosos grupos de pauliteiros que continuam a pontuar nestas terras. Todos eles têm ajudado também a construir este Festival Intercéltico, concorrido por milhares e milhares de pessoas, vindas de toda a Península Ibérica, e até do resto da Europa. Aliás, o Intercéltico de Sendim é, desde há anos, uma referência no mapa dos festivais congéneres da Europa e por aí têm passado grandes grupos como os Oyesterband, Dervish, Hedningarna (este ano repetentes), os Musgaña, Hevia, Ultreia, Milladoiro, Gaiteiros de Lisboa, etc.. (para o corrente ano -ver o programa acima).
Entretanto, Mário Correia há já bastante que começou a alargar a sua área da acção e de recolhas para além das terras de Miranda, e além das gaitas de foles e do mundo das sonoridades mais rústicas. Assim, desta feita, abeirou-se do Douro e chegou a Torre de Moncorvo, o que nos encheu de satisfação. Conheci o Mário há cerca de 10 anos, talvez um pouco antes do 1º intercéltico, numa jornada etnomusicológica promovida pela Câmara Municipal de Miranda do Douro. Tornei-me num aficcionado dos festivais de Sendim e não perdi nenhum, chegando a acampar nos restolhos (ainda antes daquele improvisado parque de campismo).
Fomos conversando de longe a longe e, no ano passado, após uma actuação do grupo de músicos da Lousa/planalto a Oeste da Vilariça, aqui no Passeio da Pascoela promovido pela Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo (com colaboração do PARM), convidei o Mário a vir cá. Não deu nessa ocasião, mas ficou para a Partidela da Amêndoa que se fez no Museu do Ferro em Outubro de 2008. O Mário ficou muito bem impressionado, tendo tirado algumas fotografias e feito um registo videográfico preliminar. Era uma “coisa” diferente, outras sonoridades, outros reportórios.
Já em 2009 (30 de Maio), o Mário voltou a Torre de Moncorvo com a sua equipa e com sofisticado equipamento de gravação, tendo feito um registo profissional, com objectivo de edição de um Cd. Ficou entretanto combinada uma actuação na presente edição do Intercéltico de Sendim, que vai acontecer entre os dias 31 de Julho e 1 de Agosto.
A participação da Tuna Popular da Lousa está prevista para o dia 1 de Agosto (sábado), ao final da tarde (a partir das 17;00 horas).

terça-feira, 26 de maio de 2009

A dádiva da vida


Somos, estamos, sentimos
tudo isto a vida nos oferece
até quando com a morte partimos
nossa lembrança em alguém permanece.

É bom saber que estamos vivos
mesmo quando a tristeza aperta,
é verdade, às vezes andamos perdidos
não tendo atitude certa.

Da vida nunca nos devemos fartar
ela é uma dádiva preciosa
devemos sempre acreditar
que connosco é bondosa.

Insaciáveis devemos ser
no que à vida diz respeito
tirar dela todo o prazer
e apreciar todo o seu feito.

Viver é bom é verdade,
mas temos de ter algumas regras
não esquecer a lealdade
quando na vida surgem pedras.

Com tanto imprevisto e desgosto
alguns perdem o rumo
depois partem do pressuposto
Que tudo é como o fumo.

Concordo que na realidade
nem sempre é fácil viver
mas o melhor é ter simplicidade
na nossa maneira de ser.

Bem ou mal nos corra a vida
devemos sempre nos lembrar
que a nós foi concedida
e temos de a respeitar.

Se assim formos positivos
é fácil o que é bom encontrar
seremos mais permissivos
e mais fáceis de amar.

Concluindo meus amigos:
vivam com intensidade
não se iludam com destinos
e sejam felizes de verdade.

Enviado por Séfora R.

domingo, 3 de maio de 2009

Queixas de D. Quixote

Este texto é exclusivamente dedicado ao Ángel e a todos aqueles que ainda acreditam que o Sancho não ganhou a Quixote. Lembrei-me de Abril e de tudo o resto.


Sancho, Sancho, vendeste o burro e compraste um Mercedes. Disseram-me que casaste com a Dulcineia*. Como eu, o burro é um animal em vias de extinção. Eu injectei-me nas veias, no Casal Ventoso, enquanto tu passavas férias em Palma de Maiorca. Eu suicidei-me, exausto de tanta utopia, enquanto tu prosperavas na Bolsa. Eu fui sem-abrigo no Martim Moniz, enquanto tu passavas por mim sem nunca me teres reconhecido. Eu fui operário na Expo, enquanto tu especulavas nos terrenos da construção. Eu, atropelado na Avenida, esperei longa e sofridamente nos corredores do S. José, enquanto tu tinhas médicos e flores e enfermeiras e sorrisos para uma operação plástica. Eu escolhi o fundo do bar, o mais fundo do bar, a lança perdida no autocarro, com as feridas do sonho por cicatrizar. Tu sulcavas ondas e compravas tudo em volta: políticos de amanho e gente de passagem. Tu que nunca pensaste, eras o único pensador. E a tua mão trocava afagos por anéis. Enquanto eu protestava contra a Nato, tu vendias armas nas ruínas de Kosovo. Enquanto eu resistia na montanha, tu praticavas o indonésio em Jacarta. Eu fui preso enquanto tu jantavas com os que me prenderam. E quando a utopia estava no auge, num tempo breve em que os moinhos de vento eram o nosso maior património cultural, também tu, até tu, desceste à rua a defender a utopia, com o Mercedes escondido na garagem. E então deste-me um abraço, Sancho.Iríamos ter a nossa ilha que tu já tinhas comprado. Comprado só para ti. Eu abandonei os moinhos de vento para combater o betão, o betão com que tu enriquecias. O betão cresceu, matou a paisagem e a minha lança de tantas batalhas vãs, mal cabe em duas assoalhadas. Quis oferecer às crianças o sonho, mas as crianças preferiram os teus jogos de computador. Enquanto eu tinha o senso do amanhã, tu tinhas o bom senso de hoje. Olhámo-nos tantas vezes nos campos de La Mancha e eu sem nunca ter entendido que o teu burro era mais veloz do que o meu cavalo. Ai! Sancho, Sancho, Deus gosta mais de ti do que de mim.

*(Nota de Pedro Castelhano: Relatos apócrifos informam que Sancho matou Dulcineia por ciúmes dos moinhos de vento)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Detalhes em Ferro 4

Também na Lousa podemos encontrar interessantes trabalhos em ferro forjado em muitos gradeamentos de escadas e varandas. Numa capela no meio da aldeia encontrei a sineta que a fotografia documenta. Este campanário não é em pedra como é mais usual, é em ferro forjado!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

De passeio pela Lousa

A primeira fotografia colocada no Blogue sobre a Lousa despertou sentimentos a muitos dos visitantes. Não foi por acaso que lhe chamei "mais alto ainda". É que a situação geográfica da aldeia, quando olhada de Moncorvo, dá um sentimento de liberdade, qual pássaro pousado no galho mais alto de um carvalho, agitado pelo vento. O que sentirão os habitantes da Lousa quando olham Moncorvo?
A sede de concelho sempre esteve muito longe (a Lousa pertenceu ao extinto concelho de Vilarinho da Castanheira). Com o tempo os acessos melhoraram, mas, a Lousa continua distante, solitária no alto da encosta cravada de ciclópicas rochas graníticas. Os seus habitantes desfrutam das mais belas paisagens do concelho; da Serra da Estrela a terras de Espanha, acompanhando o sol desde que nasce, até que se esconde, talvez mergulhado nas águas do Douro.
Nesta minha primeira vista À Descoberta da Lousa, tive tempo para percorrer grande parte da aldeia, do Largo Fonte da Cruz até ao Cabeço, brindado por um céu azul, que a espaços se cobria de nuvens, ora de branco florescente, ora de negro ameaçador.
Hoje publico mais duas fotografias com um agradecimento à Wanda, que, do Brasil, espevitou o meu desejo de visitar a Lousa. Como pode ver Wanda, mesmo num dia de tempestade em todo o Portugal, não tive frio na Lousa (estamos em pleno Inverno!).

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mais alto ainda

Subir a encosta e chegar à Lousa, já é uma aventura, mas subir ao ponto mais elevado da Lousa é um deslumbramento. Este é um bom lugar para nos deixarmos embriagar de paisagem!

Add to Google Reader or Homepage Subscribe in NewsGator Online Add to My AOL Add to netvibes Subscribe in Bloglines Add to Excite MIX Add to netomat Hub Add to Pageflakes

eXTReMe Tracker