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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O NATAL DA MINHA TERRA - por Isabel Mateus

Neve no Roborêdo, 2008 - ao fundo desta cumeada, embora não se vendo, ficam as Quintas da Granja ou de Felgueiras; em segundo plano o cume do Citoque (foto do Engº. Afonso Calheiros) > Clicar sobre a Foto, para a Ampliar
Sem Tempo,

Muito de mansinho,

Outro Natal chega,

E o Menino (re)nasce

Na perfeita harmonia

Da minha Terra:

O luar,

Quase de Janeiro,

A fria aragem

Do vento cieiro,

A fogueira do galo

E os cânticos ao Bendito,

Na eira,

A família à volta do brasido,

Onde o melhor cavaco é consumido,

As tronchudas, as batatas, o bacalhau e o polvo

À conversa

Na panela de ferro à espera dos milhos…

Porém, é do chão térreo

Da minha casa,

na manjedoira intacta

e sem o bafejo eterno do vivo,

que a minha ausência recebe

O grito frio do salvador Menino

E a plangente alegria de Maria.

_______

P.S. Devo uma explicação. Ou melhor, um esclarecimento. O que aqui vedes são apenas os meus sentimentos atribulados de emigrante que vê aproximar a quadra natalícia a passo largo e sente o desejo irrefreável de se meter à estrada, de pôr as cavacas na fogueira, de aninhar o Menino Jesus ao colo… E mais ainda vos digo: mesmo que a decisão da partida há muito já esteja adiada, este peregrino tem sempre a mala pronta para o destino da (sua) Viagem!...

Isabel Maria Fidalgo Mateus

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"O relógio mentiroso" - um conto de Isabel Mateus

- Ó avó, não se esqueça da minha encomenda!
- Não me esqueço, não te aflijas! Só se não os houver… – respondia-lhe a avó pela milésima vez.
O dia de Feira requeria aos habitantes das Quintas uma jornada pensada de véspera e, mormente, muitas horas de preparação para o bom sucesso de tal evento. A Serra apenas olhava para o Vale, tentava-o e espreguiçava-se na sua inércia. Ela só convidava com as suas curvas proeminentes, depois quem quisesse que se esforçasse para descobrir os mistérios que vedava. Do outro lado, demasiado ao fundo para as patas das bestas e dos homens, só bem no seu cume se antevia a azáfama dos camponeses e do seu gado.
A subida pelos lados da olga do Paralta, por entre os soberbos castanheiros a ladearem o carreiro, tinha-lhes tirado o fôlego a eles e às animálias, ou a ambos. Não seria certamente apenas pelo ar puro da alva, mas pelo esforço de uma boa hora de caminhada. A partir do alto do Reboredo tudo era muito mais simples! “Pra baixo águas correm e todos os santos ajudam”, expressão que saía amiudadamente da boca da avó, não sei se para se animar, se para insinuar que ir à Feira a pé ainda custava muito mais do que aos homens escarranchados na cavalgadura e às mulheres sentadas de lado, num equilíbrio periclitante de saias. De pulmões cheios do bafejo da Serra e olhos postos na torre da igreja, o pensamento desviava-se para o apregoar da Corredoura. O caminho de terra batida da floresta, com manchas de cores variegadas na folhagem do arvoredo, refreava-lhes a descida e quase embatia no imponente Asilo, onde se resguardavam da aragem e dos lobos as freiras, o capelão e as meninas. Quando aqui se apeavam dos burros, machos, éguas, mulas ou cavalos e os deixavam com o rabeiro comprido, dependurado de ramo forte ou tronco rijo, e a regozijarem-se no fenasco, os iminentes negociantes largavam definitivamente as arreatas. Depois, matavam a sede nas grichas do fontanário de Santo António e refrescavam as frontes, se o calor já apertasse, como faziam lá na fonte lajeada ou poço bravio da sua terra. Levavam ao lado deles, pelo seu pé, os leitõezinhos que haviam transportado no aconchego dos cestos vindimeiros, à moda de cangalhas, e bem travados no seu baloiçar pela meia-lua do arrocho. Cada um fazia a sua entrada triunfal e ocupava o lugar que lhe estava destinado. Afinal era um fórum comercial com regras e demarcações: porcos e bestas de carga arrumados de costas voltadas para a escola primária, mesmo em frente da capela do Mártir São Sebastião e a toda a extensão do lado oposto do largo espraiavam-se ovelhas e cabras e também alguns tendeiros e jogadores de caricas, que fariam agora companhia ao busto do Embaixador A. M. Janeira. Mas havia, inclusivamente, quem não largasse os transportadores dos fardos, de quinteiros e do vivo, entenda-se, e se atrevesse, por ruas mais esconsas, como as do actual Museu do Ferro, a penetrar acompanhado aquele espaço comunal. Junto à feira dos porcos, o Porteiro camarário recebia as cavalgaduras, alguns tostões pelo zelo que punha na sua guarda e na manutenção da ordem entre a bicharada quadrúpede de grande porte, quantas vezes só conseguida à custas dum potente e nodoso varapau. Ao gado ovino e caprino estava-lhe inteiramente destinado o estrelato, deslocando-se sempre a pé pela imensa passadeira áspera desde que de manhãzinha os donos lhes tinham descerrado as cortes . Sem outro aparato que não fosse o balido manso e o suave tilintar dos chocalhos, as ovelhas caminhavam pachorrentamente por entre aquela mansidão harmoniosa, que se misturava na massa dos feirantes, em ondas lanudas, no Inverno, ou desnudadas e singelas, por alturas da Primavera e do Verão. Destacava-se tão somente daquela amálgama o berreiro esquivo das cabras ou a correria desesperada das crias à procura do leite das progenitoras. A Tasca das Trevonas alojava-se sobranceira às paredes da casa da aula e distribuía, ao longo do dia, peixes fritos ou sardinhas assadas em moletes e pataniscas de bacalhau, tudo regado a bom vinho para afrouxar a rouquidão que o pregão contínuo e o pó do grande afã avivavam. Para refrescar não faltava ainda o pucarinho aguadeiro da Cachopa, de cântaro ao quadril a bambolear gotas por chamariz entre a multidão.
Na altura em que se deu o acontecimento de que aqui falamos, os tempos já eram outros. Naquela manhã, a avó sumiu-se no cordão estreito de terra castanho-avermelhada que conduzia Valente acima. Alcançou o topo das Minas, desceu o desfiladeiro e prendeu o Ruço ao tronco do castanheiro, a uns bons metros da estrada nacional do Carvalhal. Sacudiu o pó dos sapatos com uma giesta e apanhou a camioneta da carreira. Os anos já não lhe permitiam as duas horas de ida e as duas horas de volta da expedição, quando não vendia a mercadoria que outrora levava. E isso não raras vezes acontecera! Com os porquinhos assim a grunhir dentro dos cabazes pela exposição ao frio do longo do dia, limitava-se a seguir a andadura do burro, também mais lenta pelo cansaço acumulado. Refastelada no seu assento, a sua preocupação era, presentemente, outra. Tudo aquilo lhe vinha como se fossem meros “Farrapos de Memória”. Tinha prometido à netinha que lhe levaria o relógio. Antes que tivesse tempo de congeminar o plano para mercar o que desejava, já o veículo penetrava um dos estreitíssimos acessos que conduziam à praça. Apeou-se ao cheiro das buganvílias, muito enroscadas ao sol e aos muros do Castelo, e dirigiu-se ao local da feira. Ali não havia empedrado e a proximidade do chão de terra ganhava-lhe a sua confiança telúrica. Afoita e bem decidida, quis saber se o dono da primeira tenda tinha a mercadoria que ela procurava.
- Ó senhor homem, tem relógios mentirosos?
- Relógios mentirosos?! – inquiriu ele muito espantado. Os meus relógios não mentem, dão sempre horas certas, desde que não lhe falte a corda. Ó mulher, eu não vendo gato por lebre!...
- Não se zangue! É para a minha neta, para brincar! – respondeu de cara alegre e de riso escancarado nos lábios.
- Ah!, desses!
E o feirante, sorrateiro, foi entrando na conversa da velhota.
- Tinha. Até tinha muitos, mas veio aí o senhor da farmácia e levou-os por junto.
Num repente, tudo se iluminara. Mal agradeceu e se despediu, subiu de novo a rua íngreme, infiltrou-se por uma das artérias da praça, rumou em frente e cortou à direita. Estava às portas do velho edifício da botica. Entrou e, como acontece normalmente em dias como este, o estabelecimento estava à pinha. Teve que esperar pacientemente, até que a sua vez de ser aviada também chegou.
- Diga lá o que precisa de nós!
Muitas pessoas já tinham sido atendidas, mas o vaivém era contínuo.
- Disseram-me que têm relógios mentirosos. Quero um!
A empregada, pasmada, não acertava no que havia de dizer, até que por fim lá balbuciou:
- Ó Srª Candinha, quem lhe disse tal coisa não foi a sério!
Na sua inocência, a aproximá-la de novo da infância, deu uma risada e atirou num tom de caçoada íntima:
- Bem me admirei que vendessem relógios na farmácia, mas saiba que é para a minha netinha. Bem vê, não lhe posso aparecer de mãos abanar…
A empregada limitou-se a finalizar com um “tenho muita pena” e continuou na senda da sua avultada clientela. Por sua vez, em forma de desforra, a velhota saiu decidida na perseguição da sua busca, resmungando para os seus botões, aliviada, que ela não precisava para nada daquelas mixórdias medicinais.
Com este intuito, volveu à confusão do mercado. Passou de novo pelo mesmo vendedor ambulante e, sem dar a mão à palmatória, foi percorrendo com o olhar quantas barracas a abarrotar de mercadorias encontrou montadas e parou naquela que mais lhe pareceu, ao primeiro impacto, interessar – uma pequena bancada de brinquedos. Por entre ferrinhos de engomar de latão reluzente, com tampos de plástico colorido e aferrolhados por galinhos de cristas romanas, utensílios de cozinha e de regadores de crivos perfilados, o seu olhar negro, brilhante e inquiridor fixou-se em sete ou oito daqueles relogiozinhos multicolores, onde balançavam dois grandes ponteiros no mostrador redondo, igualmente garridos, e no qual se percebiam os desenhos indistintos de uns bonecos. Também tinha o tal roquete para dar corda e acertar as agulhas de que a neta lhe falara. A bracelete azul cintilante seria o contraste perfeito com a alvura do pequeno bracito, onde esta permaneceria noite e dia. Maravilhada e sem se questionar acerca do preço, coisa invulgar para a sua natureza de negociante de talho, de fruta, de feijões e tudo o que pudesse dar lucro, pagou e abalou. Ainda deu uma olhadela à procura de merino preto para fazer um avental novo, mas nem para isso teve paciência! Sem hesitações, regressou outra vez à praça, foi à Repartição pagar a contribuição dos prédios e voltou a montar na camioneta. O Ruço esperava-a coberto de poeira, por se ter espojado depois que escarvou a terra. Fora esta a maneira mais eficaz que encontrara para enxotar as moscas e os moscardos que lhe sugavam o sangue. Àquela hora adiantada do dia o préstimo do rabo e as abanadelas das orelhas teriam sido insuficientes e, como tal, recorreu ao instinto, rebolando-se no solo arado. Mais protegido do mosquedo, melhor consentiu o peso da proprietária que o conduziu, carreiro acima e monte abaixo, ao descanso e ao punhado de trigo da manjedoura.
- Traz-me o que lhe encomendei, avó?
- Não. Afinal, não encontrei o que tu querias…
- Está a brincar comigo!? Eu sei muito bem que mo trouxe!Os montes cobriam-se de sombras, a penumbra começava a habituar-se ao vento fresco da noite, que já soprava forte, e as duas sentaram-se ao lar na companhia dos estalidos das cascas dos pinhos. A avó mostrou-lhe o relógio mentiroso quando o último rebentamento do revestimento húmido da lenha se soltou no ar e originou um estrondo magnífico.

Autora: Isabel Fidalgo Mateus
Imagem: postal ilustrado dos anos 70 do séc. XX (edição da Livraria Clássica, Torre de Moncorvo)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Jornada micológica - breve foto-reportagem

Conforme anunciado, realizou-se no passado dia 7 uma jornada micológica pela serra do Roboredo, em redor do caminho velho que vai da capela de Senhora de Fátima (antiga capela de S. João) em direcção ao Calhoal. A actividade, organizada pelo PARM em conjugação com o Museu do Ferro e da Região de Moncorvo, teve como monitor o Engº. Afonso Calheiros.
Apesar de se terem encontrado poucos cogumelos, devido sobretudo à escassez de precipitação, foram observadas algumas espécies representativas, com recolha selectiva, para posterior classificação em gabinete. Este foi o momento final da jornada, após uma apresentação efectuada pelo engº. Afonso, no auditório do Museu.
O tempo bastante fresco e ameaçando chuva, não favoreceu um número maior de participantes, mas os que compareceram revelaram-se "alunos" atentos e não se arrependeram de ter vindo.
Aqui ficam algumas fotos deste evento:

O engº. Afonso dando uma explicação prévia aos participantes.

Momento da procura - o Capuchinho Vermelho não veio, mas mandou alguém...


Ainda se conseguiram avistar algumas "sanchas" (nome científico: "Lactarius deliciosus"). E estes são mesmo deliciosos, podendo ser preparados de diferentes maneiras.

À falta de cogumelos, provaram-se medronhos - aqui um grande medronheiro testemunha a flora autóctone e ancestral.
O passeio micológico também foi pretexto para se conhecer a flora local - aqui um belo pilriteiro.
Entre blocos de hematite (minério de ferro de Moncorvo), dois "roques" (Macrolepiota procera), comestíveis. Serão o "roque e amiga"?

Outro dos objectivos do passeio era o convívio com a Natureza e a sensibilização ambiental para a importância da floresta.Observação e classificação dos cogumelos recolhidos, no auditório do Museu.
Um Boletus edulis, cogumelo comestível que em algumas zonas é conhecido por míscaro.

Cogumelos alucinogénicos: os perigosos Amanita muscaria (os dois à direita), conhecidos por "regalgar" ou "resgalgar".
Um belo ramo de cogumelos, de nome impronunciável: Kuehneromyces mutabilis, que já foi Pholiota mutabilis.
Estes são conhecidos por "pufes" ou "peido de lobo", na linguagem popular. Uma vez secos largam um pó esverdeado, se forem tocados.

Os perigosos Agaricus - classificação genérica.

Para ver algo mais sobre esta actividade: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/11/ii-passeio-micologico-e-workshop-em.html

(fotos de N.Campos/PARM/MFRM)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Jornada micológica em Torre de Moncorvo

Realiza-se no próximo dia 7 de Novembro (sábado), uma jornada micológica (de colecta e estudo de cogumelos), organizada pelo PARM, no âmbito das actividades do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo. A actividade principia pelas 10;00h, com a concentração dos participantes no largo do Museu, de onde se seguirá a caminhada em direcção à serra do Roborêdo, pelo caminho da casa florestal (antigo caminho medieval que ia de Torre de Moncorvo para Mós, Freixo de Espada à Cinta, etc.). No terreno (pinhais à beira do caminho) será feita uma colecta selectiva de alguns cogumelos para se classificarem e analisarem na sessão que terá lugar da parte da tarde. A colecta a realizar deverá ser feita de acordo com o Código de Conduta do Apanhador de Cogumelos, que será distribuído aos participantes.
Da parte da tarde terá lugar uma palestra sobre o vasto mundo dos cogumelos, pelo Engº. Afonso Calheiros e Menezes (engenheiro florestal, técnico superior do PNDI e presidente da Direcção do PARM). Nesta sessão será feita a seriação e classificação das espécies recolhidas na acção de campo, com orientação do Engº. Afonso e recurso a bibliografia especializada.

Nota: Para melhor coordenação, os organizadores pedem a todos os interessados que se inscrevam até às 17;00horas do dia 6 de Novembro, através do nº. 279252724.
A inscrição é gratuita.
Ver mais: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/11/ii-jornada-micologica-em-torre-de.html

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Incêndio na Serra do Roboredo


Dia 28 de Julho, por volta das 17.00h, deflagrou um incêndio junto à serra do Reboredo. Em pouco minutos ficou com uma frente de meter medo ao mais terrível dos adamastores. No entanto, a rapidez, a boa coordenação e a coragem dos valentes bombeiros voluntários de Torre de Moncorvo com a ajuda de um meio aéreo e algumas corporações vizinhas extinguiram em pouco mais de uma hora, um incêndio que poderia trazer graves prejuízos para a fauna e flora da serra do Reboredo.
Texto e fotos de L. M. Lopes.



quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ainda a Fraga do Facho e o memorial a Constâncio de Carvalho


Pedimos as devidas desculpas por voltarmos ao tema, mas recebemos duas fotos que nos foram enviadas pelo nosso conterrâneo e aficcionado do Blogue, António Cristino, que têm o maior interesse pela sua já relativa antiguidade (são de 1973 ou 1974).
E por elas se nota que, nesse tempo, apenas existiam as duas pedras com a cartela em bronze, tal como hoje. O que falta são os pinhos, que entretanto arderam, dando lugar à presente plantação de carvalhos, como já referimos.

sábado, 9 de maio de 2009

Fraga do Facho e Mata Nacional do Roboredo

Há dias, numa tarde soalheira, fomos uns quantos ao alto da serra do Roboredo, acompanhando o nosso colega de Blogue Leonel Brito, que andou em captura de imagens para um trabalho que tem em mãos (e que a seu tempo poderão apreciar).
Do alto das Antenas (ponto assim conhecido por aí se encontrarem há anos várias antenas de telecomunicações, nomeadamente da RTM – Rádio Torre de Moncorvo), até à Fraga do Facho, é um pequeno salto, pois fica logo abaixo.

O maciço xistento e quatzítico da Fraga do Facho, destaca-se quase no topo da serra.

Como alguém nos perguntava, há tempos, pela famosa Fraga do Facho (creio que foi o nosso conterrâneo Daniel de Sousa), pois resolvemos ir lá fotografar este afloramento rochoso que é um ponto de referência da serra. Aqui ficam algumas imagens, nomeadamente do tosco obelisco, composto por duas pedras de granito, onde ainda se conserva uma memória em bronze, referindo o nome do Dr. Constâncio de Carvalho, apesar de ter já desaparecido o medalhão com a sua efígie, também em bronze, que aí terá igualmente existido (temos ideia de ter visto uma foto algures, talvez um postal, pelo que aqui fica o apelo a quem tenha algum exemplar fotográfico, para o enviar aqui para o blog).

O padrão em memória do Dr. Constâncio, vendo-se atrás as novas plantações feitas recentemente.
Sobre o porquê de se ter colocado este memorial, com os dizeres: “À memória do / Dr. Constâncio de Carvalho / os moncorvenses agradecidos / Novembro de 1947”, aqui fica a explicação: foi o Dr Constâncio Arnaldo de Carvalho (1876-1928), natural de Torre de Moncorvo, onde chegou a ser Presidente da Câmara, e, posteriormente governador civil do distrito de Bragança, que pugnou pela criação da Mata Nacional do Roborêdo, tendo promovido o processo de reflorestação da serra. Muitas das espécies que ainda hoje aqui se encontram, para além da mancha de carvalhos autóctones, resultam desta plantação.
Pormenor da cartela em bronze, em memória de Constâncio de Carvalho (1876-1928)
A mata natural e espontânea vinha da noite dos tempos. Todavia, durante o século XIX deve ter-se verificado um progressivo desbaste, acabando a serra quase pelada, especialmente na vertente sobranceira à vila, o que levou o governo da 1ª. República a preocupar-se com a reflorestação da serra, política que continuou depois com o Estado Novo (é desta época o belo exemplar da Casa do Guarda Florestal, em estilo chamado “português suave”, obedecendo aos modelos teóricos do arquitecto Raul Lino).

A vila de Torre de Moncorvo, vista da Fraga do Facho

Assim, num momento em que se está a promover a reflorestação da Serra (sendo justo mencionar o empenhamento da actual câmara neste processo, em articulação com o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas), é bom lembrar o moncorvense ilustre que mais se empenhou no projecto de reflorestação da serra, no primeiro quartel do séc. XX.

sábado, 7 de março de 2009

Ainda “O Roboredo” de Campos Monteiro…

Completam-se hoje 133 anos sobre o nascimento de Campos Monteiro.


O nosso escritor nasceu em 7.03.1876 e faleceu em 4.12.1933. Como forma de assinalar o seu 133º. aniversário, aqui deixamos os restantes versos do capítulo “O Roborêdo” das Cartas da Minha Terra (in “Versos Fora de Moda”). Aqui faz uma evocação do trabalho dos jornaleiros que trabalhavam nas encostas da serra, dos pastores (“pegureiros”) com os seus gados, da paisagem serrana de onde emerge a Fraga do Facho e de cujas vertentes escorriam as águas que iam dar de beber à vila...
Torre de Moncorvo, o trabalho e os dias, nos inícios do século XX:

(…)
“E vejo agora na cortinha em frente
uma brigada de trabalhadores.
Cavam a terra estéril… lançam-lhe a semente…
Crispam-se o húmus, dolorosamente…
Ninguém pode ser mãe sem sofrer as dores!

Nos pedregosos, húmidos carreiros,
passam rebanhos chocalhando. Atrás,
precedidos dos cães, os pobres pegureiros
chamam por eles, para que os rafeiros
deixem as aves e os reptis [sic] em paz.

Pende-lhe’a negra taleiguita ao lado,
por uma fita de bezerro presa:
um pão centeio petrificado,
um pedaço de porco mal curado,
quatro medronhos para a sobremesa…

Se a fome aperta, ou sentem o perigo
dos escorpiões e víboras subtis,
o mesmo naco de toucinho antigo
lhes serve de alimento e de presigo
e sara as mordeduras dos reptis.

Horas de almoço… O chefe da brigada,
fazendo um gesto à gente que moureja,
- “Louvado seja Jesus Cristo!” – brada.
E num momento, abandonando a enxada,
todos respondem – que bendito seja!

Levanto os olhos mais. Vejo a Fraga do Facho,
talhada a pique, como uma parede,
com o seu manto de musgo e heras e escalracho.
Dela dimana e corre serra abaixo
a àgua pura que nos mata a sede.

Emergindo da rocha, a todo o custo e receiosa,
deita a fugir da vila em direcção.
E na carreira louca e temerosa
traz sobre o dorso pétalas de rosa,
raminhos de alecrim e de serpão.

Pelas caleiras de granito é vê-la
cantarolar, correr, cheia de pressa!
E os castanheiros curvam-se sobre ela,
fazem-lhe sombra com a sua umbela
para que o sol do estio a não aqueça.

E as ovelhinhas bebem à vontade…
Voando, as pombas vêm matar a frágoa…

- Minha terra natal! Como há-de
ser cheia de pureza e bondade
a gente que depois bebe esta água!...”~

(continua)

quarta-feira, 4 de março de 2009

“O Roboredo” de Campos Monteiro (continuação)

O poeta evoca aqui, bucolicamente, as paisagens que se divisam da serra do Roboredo, a partir de uma casa onde afirma que passou a sua infância (será que viveu mesmo aí, ou seria uma casa de campo onde a família ia amiúde? - era interessante determinar qual). Decerto não seria muito longe da capela de N. Srª da Conceição, a outra “casa” (que se imagina próxima) onde diz que mora “a Virgem Mãe de Deus”.
Fala ainda de um surto de febre-amarela, ocorrido nos meados do séc. XIX, que vitimou muita gente (sendo muitos enterrados junto da dita capela). Prolongando as pestes medievas, estas epidemias, tais como pneumónicas, tuberculoses, carbúnculos, tifos, febres palúdicas (ou sezões), etc., eram frequentes, de tempos a tempos, provocando grandes mortandades, tendo chegado ainda aos inícios do século XX – só a generalização das vacinas a partir dos anos 40-50 foi debelando esse problema.

"Ouvia-se na vila o toque das trindades..." - ao fundo as "ribas do Sabor" (foto N.Campos)

Mas passemos a palavra ao Dr. Campos Monteiro, então um jovem médico de férias na terra natal:
(…)
São léguas de terreno. E em tal distância,
só duas casas sob o azul dos céus!
- Duas casas banais, pobres, sem importância…
N’uma delas passei a minha infância.
Na outra mora a Virgem Mãe de Deus.

Velha Casa da Serra! Que saudades!
Do teu balcão, que lindo era o sol-pôr!
Ouvia-se na vila o toque das trindades,
e o fumo que subia das herdades
envolvia num véu as ribas do Sabor!

Nas montanhas da Lousa o sol caía,
'inda toucando de oiro o Cabeço da Mua…
A Vilariça, exangue, adormecia…
Vinha o crepusc’lo… terminava o dia…
- silêncio enorme!... e despontava a lua…

Lá vejo ao lado a mancha verde luzidia
Das figueiras do cimo-do-pomar,
às quais, quando criança, impávido subia,
enquanto em baixo meu avô fingia
que dormitava, pr’a não me ralhar.

Dentro do souto vejo ainda o bardo
Para o rebanho à noite se acolher.
D’aquele sítio que lembranças guardo!
Foi ali mesmo que meu tio Eduardo,
Quási brincando, me ensinou a ler!

Da Conceição, ao fundo, eis a capela,
com ar de mágoa e de desolação.
Há meio séc’lo já que houve a febre amarela.
Enterravam-se os mortos junto dela,
e ficou assim triste desde então…

Quando eu passava no caminho em frente,
a minha mãe mandava-me ajoelhar,
- e de mãos postas, fervorosamente,
rezava ainda pela pobre gente
que a epidemia veio ali matar!

O sol já vai em meio da subida,
e o meu olhar, ansioso, não descansa.
A saudade é uma dúlcida bebida!
Recordar é viver de novo a vida,
e eu sinto-me hoje inda uma vez criança!

(continua)

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Roboredo e a paisagem circundante, pelos olhos de Campos Monteiro

Deixámos, há dias, o escritor Campos Monteiro, sem apetite, à hora do jantar, depois da sua chegada a casa, na Rua da Misericórdia, segundo nos relata na primeira das suas cartas em verso (ver post de 25.02.2009). Estes poemas em forma de carta foram escritos em Torre de Moncorvo, pelos inícios do século XX (não se sabe a data com rigor, pois o próprio autor, na edição original, escreveu em rodapé: “Moncorvo, primavera de 19…”).



Vista da serra do Roborêdo, a partir do "Castelo".


As referidas poesias, sob o título “Cartas da Minha Terra” (dedicadas a Heitor de Figueiredo), estão incluídas na colectânea Versos Fora de Moda, obra datada de 1915. Portanto, dado o esquecimento da data precisa por parte do autor, é natural que se tivesse passado um bom par de anos entre a sua escrita e a compilação no dito livro.
A primeira carta-poema aqui transcrita, tinha por título, como vimos, “Em viagem”, relatando o trajecto entre a estação do Pocinho e a sua morada, no bairro do Castelo.
A segunda, parece relatar o dia seguinte à sua chegada, e intitula-se: “II – O Roboredo”. É uma saudação à serra que o viu nascer e à paisagem envolvente. Dada a sua extensão, tal como fizemos anteriormente, vamos apresentar apenas partes do poema, para não maçar os nossos visitantes.

Aqui fica:

II – O Roboredo.

Levantei-me da cama muito cedo
E, sentindo a alegria de viver,
Fui abrir as janelas em segredo,
Para cumprimentar o Roboredo,
Um velho amigo, que me viu nascer.

Da varanda que dá para a montanha,
Com um gesto amigável, saudei-o.
Que linda serra, de beleza estranha!
Que pena que ela seja assim tamanha
E t’a não possa eu mandar pelo correio!...

Não sei de mais formoso anfiteatro
Nem de mais calmo, doce e cândido vergel.
É o panorama que eu mais idolatro.
Lembra o pano de fundo d’um teatro
No terceiro acto do “Guilherme Tell”.

Calcula: Ao fundo, as vinhas verdejantes,
Vetustos olivais e amendoeiras esguias.
Depois, florestas de árvores gigantes,
E, de onde em onde, as manchas rutilantes
De estevas, urzes, arreçãs, peonias…

Tudo isto tão polícromo e tão vivo,
N’uma tão justa orquestração de côr,
Que a mim mesmo pergunto, Heitor(1), porque motivo
Na linda vila de onde sou nativo
Nunca nasceu um único pintor!

(continua)

Nota 1 – o destinatário desta carta é o seu amigo Heitor de Figueiredo, também poeta, a quem dedica este capítulo das cartas.

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