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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Francisco Carneiro de Magalhães e o clima de Moncorvo II

(continuação do texto anterior)

“Finalmente o gêlo é já tanta porção que olhando para os campos no espaço que a nevoa deixa descobrir suscita-se immediatamente a idéa de que os da Syberia não poderiam apresentar a nossos olhos outra prespectiva. Fazendo-se a experiencia hontem de a presentar o thermometro em contacto com a atmosphera exterior da caza em uma varanda descuberta, desceu logo a meio gráu abaixo do gêlo, e haverá dois ou três dias me disse um sugeito que fazendo a mesma observação em outra caza na extremidade da villa para a parte da serra do Monte Roboredo a dois graus abaixo de gêlo !!! Separando outro indivíduo o gêlo que continha uma folha que produz a flôr chamada violeta, me asseverou havia de pesar bem cinco oitavas. As hotaliças de que abunda esta villa são presentemente inúteis, pois as folhas das couves estão dentro d’uma especie de luvas ou bolças de gêlo da grossura d’um pataco, e muitas estão já recosidas por elle de forma que se perderam. E no meio de tudo isto há d’aqui uma pequena legoa no cimo da serra uma aldeola chamada Felgueiras (pátria do grande chymico Thomé Rodrigues Sobral) cujos habitantes se teem gosado sempre do belo sol com excepção de dois dias sómente, em que levantoualgum tanto o nevoeiro, o que tem sido para os habitantes d’esta villa uma ventura, por ser d’aquella aldêa que vem moídas as farinhas para aqui: e do contrario talvez resultasse bastante prejuízo e até fome.

Basta: que já saiu mais extensa esta carta do que eu queria. Se a julgar digna de occupar logar no seu estimável periódico pela raridade do acontecimento fará muito obsequio ao que é de V. etc.

Moncorvo, 28 de dezembro de 1843

F. A. Carneiro de Magalhães e Vasconcellos”

Logo no dia 4 Janeiro, o autor dá conta do final da “terrível praga egípcia”.

Lago da Quinta das Aveleiras, 1902 (Reprodução de Arquivo Particular. Direitos Reservados)

“Terminação de uma praga egípcia (carta)

2582 Tendo-lhe participado em data de 28 do próximo passado o estado, a que por aqui tinha chegado o gêlo, e seus funestos effeitos, motivados pela pertinácia do nevoeiro; agora cumpre-me dizer a V. , que o primeiro dia d’este anno foi para nós o de maior satisfação; quando logo de manhã vimos o horizonte desafrontado, correndo um brando vento sul, e o gêlo caindo das arvores com toda a força. Com a maior alegria se davam os habitantes d’esta villa reciprocamente as boas festas, acompanhadas de gostosos parabéns pelo bom desenlace do drama, que não obstante haver apresentado scenas bem tristes, podia ter um desfecho muito mais trágico; e com effeito, se aquelle estado durasse mais quatro quatro (sic) ou cinco dias, ou se em logar de uma branda chuva , que sobreveio no dia um do corrente, viesse neve, ou um vento forte, então ficávamos sem oliveiras, e outras arvores, pois que assim mesmo houve uma grande perda; porque o pêso do gêlo era já tal, que chegou a abrir, pelo meio até juncto da terra, o tronco de um sovereiro da grossura de dois homens, caindo para o lado as duas ametades.

Os olivaes, que ficavam mais para a serra padeceram muito, e em algumas povoações circumvisinhas consta, que ficaram (com poucas excepções) sómente os troncos das oliveiras. As amendoeiras, pinheiros, castanhos, e geralmente todas as arvores, padeceram mais ou menos conforme o sitio em que se achavam. É porem de notar, que as hortas e nabaes, que estiveram por tanto tempo submersos no gêlo, e que se esperava encontrar perdidos, appareceram sãos; e em vista de tudo isto devemos bemdizer a Providencia, pois qwue podiam ser os prejuizos muitos maiores.

Principiára a nevoa no dia 16 de Dezembro, abrangendo por fim todo o espaço, que vae desde os estevaes do Mogadoiro (sic) até Macedo dos cavalleiros, chegando muito para baixo de Mirandella, e para a Beira dizem que à Meda, estendendo-se também pelo Doiro acima até lá para a Hispanha, ficando izemptos somente n’esta extensão os cumes das montanhas mais elevadas, onde se gozava de um bello sol.

Na noite de 29 de Dezembro tinha o mercúrio descido 3 gráus para baixo de gelo, e no dia 30 logo fez a differença de 2 gráus somente para baixo de gelo, o que nos deu esperança de melhoria de tempo. Chegou-se a congelar o leite nas vasilhas, em que era trazido das aldeias próximas para consumo d’esta villa; e em uma varanda envidraçada, onde estava uma gaiola com um pintasilgo, a quem naturalmente seu instinto ensinou que no poleiro, onde ordinariamente dormem, não estava tão abrigado como em baixo mas não tendo o tolinho a descripção de se desviar do bebedoiro, apareceo de manhã prezo pelas penninhas do rabo, que n’elle tinha metidas, e econgelando-se a agua, alli ficou até que o foram libertar; e felizmente não morreu.

Por estes dias tem-se conservado o thermómetro em 5 a graus acima de gelo

Moncorvo 4 de Janeiro de 1844

Francisco António Carneiro Magalhães.”

FONTE: "Revista Universal Lisbonense - Jornal dos Interesses Physicos, Moraes e Litterários collaborado por muitos sabios e litteratos e redigigo por Antonio Feliciano de Castilho", Imprensa da Gazeta dos Tribunaes, Lisboa, 1844, pp. 258, 270 e 271

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Francisco Carneiro de Magalhães e o clima de Moncorvo I

Na sequência de um post anterior, sobre o nevão que surpreendeu Moncorvo (10 de Janeiro), ena sequência dos ventos fortes que por cá deixaram marcas, trago aqui uma sequência de textos de um ilustre e ilustrado moncorvense do séc. XIX, Francisco António Carneiro de Magalhães e Vasconcellos, sobre um “prestígio natural”, seguido da “praga egípcia” aqui ocorrida no inverno de 1843-1844, publicada na Revista Universal Lisbonense, dirigida por António Feliciano de Castilho. Poderão alguns pensar que esta notícia poderia corresponder perfeitamente ao inverno de 2008-2009, que me fez lembrar deste texto. Aqui vai!

“Terrível prestígio natural (carta.)

(2552) Hoje [28 de Dezembro de 1843] se completa o decimo terceiro dia em que aos habitantes d’esta villa e povoações immediatas tem sido vedado ver brilhar em seu horisonte os beneficos raios d’esse astro vivificador, e alma do Universo; quando sabem egualmente que seus patrícios teem gosado geralmente de uma estação alegre e benigna; mas aqui uma tenacíssima e mui densa névoa, originada sem duvida pela próxima confluência dos rios – Doiro e Sabor – tem produzido o portentoso phenomeno de tornar em realidade essas maravilhosas e phantasticas descripções das mil e uma noites, e outras novellas produzidas por imaginações exaltadas , a que somente apraz o maravilhoso, ou impossível, descrevendo e pintando jardins, e arvoredos cujos arbustos, e arvores são nada menos que de prata, cristal, e diamantes; o que effectivamente por nossos olhos estamos observando realisado, pois que cercados por uma athmosphera frigidíssima que o calor do sol não pode penetrar, e aglomerando-se continuamente em pequenas gotas que a nevoa deposita sobre as arvores , plantas, e mais objectos em contacto com a atmosphera, immediatamente se congelam, apresentando aos olhos o mais insignificante destes objectos uma prespectiva magica; por exemplo, n’uma varanda onde por descuido, ou por serem quasi invisíveis antes d’este prazo se tinham deixado alguns fios de téas de aranha, gosa-se agora de uma vista que arrebata, imitando perfeitamente os fios e téas de aranha, festões, laços, e flores de finíssimas perolas ou fiadas de brilhantes.

Qualquer ramo d’ arvore ou arbusto finge exactamente um penacho de cisne como os de que se teem usado os militares; mas desgraçadamente se vão já sentido os efeitos lamentáveis d’este singullar phenomeno, pois que o peso do gêlo é já tal que as árvores não podem com elle, e os passageiros ficam aterrados com o súbito e estrondoso fracasso d’ um robusto pinheiro que se baqueia a seus pés arrancado pela raiz, ou estalando pelo tronco com o peso com que já não pode! E nas oliveiras tem já havido também uma grande perda, e tanto que hoje me disse um homem natural de Massores , aldêa distante daqui uma légua, que por lá tinham quebrado já quasi todas,e se este tempo assim continua póde trazer perdas incalculáveis, pois que a colheita do azeite por aqui era mais de mediana, e por isso as oliveiras não podem resistir ao pêso que o gèlo lhes augmenta, maxime para a parte da serra, onde a nevoa é constante, pois que ao puente d’esta villa felizmente ainda a nevoa levanta algum tanto deixando livres do maior gèlo uma grande porção d’olivaes que não estão em tanto perigo.”

(continua)

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Uma nota só para referir que se manteve a grafia original.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Nevão pinta de branco toda a região

A vaga de frio também chegou às terras de Moncorvo. Depois de dois dias/noites de tiritar, com fortes geadas, hoje, pouco depois do meio-dia principiou a nevar fortemente. Pelo meio da tarde o espectáculo era o que se vê na fotos (clicar sobre as mesmas para ampliação):


Torre de Moncorvo - vista do lado Nascente, na tarde deste dia (foto de Camané Ricardo)
Vista a partir das Aveleiras, hoje à tarde (foto de Engº Afonso Calheiros e Menezes)

Praça Francisco Meireles, com chafariz filipino (foto de N.Campos)

Praça F. Meireles, Tribunal (foto N.Campos)

Paços do concelho (foto Afonso Calheiros)

Crianças e jovens, brincando na neve no adro da igreja (foto N.Campos)

Adro da igreja e largo Dr. Balbino Rego, com edifício do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo (foto de Afonso Calheiros)

Solar de Santo António (foto de N.Campos)
E.N. 220 de T. de Moncorvo para Mogadouro, na curva da Quinta d'Água (foto de Afonso Calheiros)

Um trecho de Mós, zona da Travessa, no dia 10 de Janeiro do corrente (foto de Dr. Carlos Sambade, a quem se agradece a sua cedência). Comentário do autor da foto: "desde 1966 que não se via nevão assim [em Mós]"

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Hoje o dia amanheceu com neve...

Torre de Moncorvo amanheceu polvilhada de neve. A fina poalha de "açúcar" sobre os telhados e quintais da vila, um pouco mais espessa na cumeada da serra...
Entretanto o nevoeiro baixou sobre o casario esbranquiçado, recriando o reino mágico de Avalon...
As ruas húmidas, com os beirais pingando o degelo...
Enquanto em Copenhaga se discute o "Aquecimento Global", a tradição ainda é o que era na serra do Roborêdo. Caminho nevado no alto da Portela de Felgueiras, parecendo um glaciar...

Vertente da serra na zona de Lamelas.

Pelos caminhos da serra - descendo para o Calhoal.
Os blocos de hematite (minério de ferro do Roboredo), dormindo sob a coberta de neve, à espera de quem o acorde... (talvez um dia...)

A povoação do "Carvalhal City", nas faldas da serra, terra fria por excelência, aqui tiritando sob um fino véu de neblina...

Fotos de N.Campos

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Verão prolongado por Outono adentro...


Não sei por que cargas d'água (ou falta dela), ocorreu-me ontem que já estávamos no Outono, se bem que continue a parecer Verão, com o caloraço que se continua a fazer sentir. E veio-me à cabeça aquilo do "verão dos marmelos", que costumava ser sempre antes do "verão do S. Martinho", só que já não me lembrava se era no final de Setembro, ou em Outubro. Nas dúvidas, veio-me à lembradura uma publicação que costumava esclarecer este tipo de "mistérios" e que já aqui foi falada uma vez, num comentário do nosso amigo "Felgar", se não estou em erro. Pois é, o velho "Seringador" que se comprava pelo início do ano, nas feiras (outros preferiam o Borda d'Água). Agora arranjo-o numa das livrarias cá do sítio e mantenho a velha tradição familiar de fazer esta aquisição. Não encontrei a referência que pretendia ao dito "verão dos marmelos", nem sequer soube quando é que se colhem os marmelos (embora saiba que é por agora). Mas dei conta que o dito Seringador conjuga elementos de actualidade com informação verdadeiramente "archeológica": por exemplo, soube que no dia 16 de Setembro foi o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono, que no dia 21 foi o Dia da Doença de Alzheimer, que a 22 foi o Dia Europeu Sem Carros e que a 27 vamos ter o Dia Mundial do Turismo (tudo assuntos muito actuais); em contrapartida, o Seringador inclui uma curiosa nota histórica sobre a consideração que se tinha pelos forasteiros em Bragança, no tempo de D. Sancho I, além de dar os costumeiros conselhos para as sementeiras do fim de Setembro. Nestas ainda inclui o linho, o trigo, o centeio, etc., culturas mediévicas ou vindas de tempos neolíticos, e que hoje podemos considerar praticamente extintas, ao menos nas nossas terras...
O resto, para estes dias, podem ler no recorte que aqui postamos (em cima), a combinar com as galinhas do Vasdoal e para fazer concorrência ao noticiário de Curral de Moinas. Ah, aproveita-se uma informação: dia 29 de Setembro é dia de S. Miguel, o verdadeiro padroeiro do Felgar. Pergunto aos "Pucareiros": continua a fazer-se a festa? no dia próprio, ou em fim de semana? - aguardamos o convite!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ainda sobre a terra dos nevoeiros…


Como se tem registado fotograficamente aqui no blog, há vários dias que o nevoeiro não nos deixa a vila, funcionando como uma tampa de arca frigorífica a conservar a geada, congelando-nos os ossos e os pavimentos, e, com estes deslizantes, aqueles fracturados, o que já aconteceu em várias quedas de que temos notícia (assim também se explica o topónimo da velha rua do Quebra-costas).

Todavia há que lembrar que sempre esta terra foi atreita a este fenómeno meteorológico. Senão vejamos o que nos diz o Abade de Miragaia, continuador da obra de Pinho Leal, o Portugal Antigo e Moderno (vol. V, 1875), no artigo sobre "Moncorvo":

“Em Dezembro de 1843 e Janeiro de 1844, estiveram os povos d’estes sítios 20 dias sem ver o sol, por causa de um densíssimo nevoeiro. Estava tudo coberto de neve, e o frio chegou a 3 graus abaixo de gelo (sic – seria de zero) – Chegou a gelar o leite!
Principiou o nevoeiro a 13 de Dezembro e durou até ao 1º de Janeiro, sobrevindo n’este dia uma chuva branda que o dissipou. A neve causou grandes prejuízos, destruindo com o seu peso, muitas árvores, principalmente oliveiras.
Esta calamidade abrangeu todo o espaço que vai desde os Estevais de Mogadouro até Macedo de Cavaleiros, chegando, em Trás-os-Montes, muito abaixo de Mirandela; e na Beira Alta até à vila da Meda”.


É verdade que os reinos mágicos (como o que evocou o nosso amigo Vasdoal – vd post anterior), são envoltos em brumas… e que estas sempre nos sugerem a esperança da chegada de um qualquer D. Sebastião que nos tire da eterna crise, também é certo. Para além disso, Londres, a capital do nevoeiro, não deixa de ter, por isso, uma certa mística (aliás, em inglês, névoa, diz-se: “mist” – talvez daí a “mística”, apesar de a londrina ser mais para o “fog”). Mas, em todo o caso, temos de convir que os nossos avoengos medievais que deixaram a vila de Santa Cruz da Vilariça “por razão de o dito sítio ser doentio” (assim o diz um documento do séc. XV), acabaram por não encontrar uma alternativa muito melhor…

Foto e txt. (excepto citação): N.

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