torredemoncorvoinblog@gmail.com

Mostrar mensagens com a etiqueta Pocinho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pocinho. Mostrar todas as mensagens

domingo, 6 de dezembro de 2009

Grande reportagem sobre a linha do Sabor no "Público"/P.2, de ontem

Saíu ontem, dia 5.12.2009, num suplemento do jornal "Público", uma extensa reportagem sobre a extinta Linha do Sabor (do Pocinho a Duas Igrejas), e que nos atravessava o concelho, hoje parcialmente reconvertida em Ecopista.
Este trabalho tem a assinatura do jornalista Pedro Garcias, com fotos (a preto e Branco) de Paulo Pimenta. Numa dessas fotos figura o já nosso conhecido Sr. Abílio Carvalho, o último maquinista da linha do Sabor e que também conduziu a última locomotiva entre o troço da Linha do Douro entre Pocinho e Barca d'Alva. O mesmo foi já evocado neste blogue (lembram-se da expressão "Apita Abílio!"?), sendo o pai do nosso colega das blogosferas Rui Carvalho, carviçaleiro, e grande animador do Fórum de Carviçais .
Aliás, segundo declara o jornalista Pedro Garcias, foi o nosso Blogue que o conduziu até ao Sr. Abílio, tendo sido através do Torre de Moncorvo in blogue (citado na notícia) e do Fórum de Carviçais, que se obteve alguma informação para este trabalho. Vale a pena ler!

O maquinista Sr. Abílio Carvalho (foto de Paulo Pimenta, in P2-Público, 2009.12.05)
«SAUDADES DO COMBÓIO NA LINHA DO SABOR
O combóio deixou de apitar na Linha do Sabor a 1 de Agosto de 1988, mas as memórias e as ruínas parecem ser muito mais antigas. O P2 foi ver o que resta daquela via estreita que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, junto de Miranda do Douro, e encontrou estações lindíssimas ao abandono, uma região isolada e um povo cheio de saudades. Por Pedro Garcias (texto) e Paulo Pimenta (fotos)».
in suplemento P2/Público, 2009.12.05

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pocinho II

«Quando vem o Inverno, por estes sítios, o frio é uma emanação das águas do rio, o vento vem de todos os lados e aqui se junta na baía formada em redor da ponte de ferro, ao bater nas águas, é frio apenas, entre as árvores cresce o vento. Como hei-de eu dizer isto de outro modo?, apenas frio, frio apenas vindo do fundo do rio, do fundo da água, um estranho silêncio de árvores assustadas e sombras, pequenas sombras, agitam-se no litoral do rio, essas sombras, ondulam como a água, como os socalcos, sei que é frio e escuro, e o silêncio até, mas algo mais existe nisso de ser frio e silêncio, e o fio do rio ser límpido, alguma coisa me escapa e eu não vejo, nem aqui o trago definido ou não. Um universo inteiro de silêncio apenas rompido pela madrugada, os tons da alva, rosa e azul, violeta, uma cor intensa, imensa, nenhum tédio, o cheiro do bagaço da fábrica. Ver amanhecer o rio é assistir ao nascer do mundo, o ar clareia, e a água, desaparecem os ventos que a descem desde Espanha, e quando o Sol, fogo, ilumina o quarto elemento, que é a Terra, é como se uma angústia grande como o mundo começasse a desaparecer lentamente, espantosamente, parece um ciclo completo, os anjos vindos do infinito, ou da claridade apenas anunciando o dia, o calor vegetal, em toda a aldeia, em todas as janelas que se abrem para a luz do mundo, as sardinheiras nos seus vasos, sei que tudo está no lugar certo, no sítio perfeito, as laranjeiras quietas à espera da vingança do sol, alguém que caminha nas ruas da aldeia.»

Francisco José Viegas, Regresso por um rio. Ed. Europa-América, 1987, p. 78-79.

Foto de A. Botelho, 2009.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pocinho

Ponte do Pocinho em dia inverniço (foto de António Botelho, 2009)
«Volto agora à aldeia e agora me recordo, ao olhar o rio, que antes havia patos no rio, murmúrio de laranjeiras nas margens verdes que se estendiam até às falésias da Lousa, pequenos barcos, conto isto à medida que vejo ou que revejo ou que sonho, já não sei, exactamente, o que vêem os meus olhos, e vejo pouco, vejo as coisas inscritas em tudo, este lugar estendido a todos os lugares do mundo. Trouxeram agora a notícia e eu não estava ainda preparado para ela, embora soubesse que mais cedo ou mais tarde isso viria a acontecer. Estava inscrito nas águas do rio que vejo através da janela. Mas fica para depois a notícia. Agora recordo os patos, os caçadores que vinham às quintas-feiras, metiam-se nos barcos brancos e avançavam pela neblina dentro, as espingardas luzidias, oleadas, limpas por dentro e por fora, coronhas brilhantes ao ombro, quando o sol rompia, se é que chegava a romper, tão bela era a imagem dos caçadores, já ninguém sabia deles, desapareciam nos caminhos de água, tinham ido procurar os patos na altura em que havia patos no meio do rio, no interior do rio, era bonito vê-los, aos patos, e, quando surgia um rasgo de ruído no céu, um caçador apontava a sua arma e ele caía, isolado no seu voo em queda, a dignidade de um pato no meio da baía rodeada de choupos que rebentavam em flor quando chegava a Primavera que aqui mora mais cedo, soava então um tiro, dois tiros mais tarde, o pato caindo com solenidade, a solenidade de um pequeno deus, molhado de sangue e de céu, era bonito vê-los, ao patos, quando ainda havia patos no meio do rio, rompiam o isolamento da aldeia porque vinham de todos os lugares, chegavam de Barca d'Alva carregados de luzes, mistérios e nevoeiro, dependuravam-se nas águas do rio entre limos à flor da corrente, espalhavam-se, mergulhavam a cabeça na água, levantavam voo, erguiam-se mais alto, para o céu, chegavam às nuvens, aos anjos, aos deuses que andavam mais em baixo, soava um tiro, era um pato que descia do céu, um brilho de olhos no meio do rio, na ilha já desaparecida, vinham de longe e de perto, os patos, tão brancos e polidos na sua penugem, hoje vêm de vez em quando, diz-se na aldeia quando vem um pato, agitam-se-me os olhos e viro-me para o rio, uma mancha branca voando e estilhaçando as colinas de amendoeiras e vinhas, poisam nos olivais à beira da água, eram bonitos os pássaros, os patos, todas as aves que invadiam o rio pela Primavera e com os choupos em flor, traziam gotas de nevoeiro dependuradas nas asas, vinham do norte, iam para o sul, mais para o sul, abeiravam-se das aldeias, brancos, brincavam, eram bonitos, os patos.»

Francisco José Viegas, Regresso por um rio. Ed. Europa-América, 1987.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Protocolo para recuperação da Linha do Douro, do Pocinho a Barca d'Alva

Foi hoje (dia 10 de Setembro) formalmente assinado um protocolo entre várias entidades públicas, a saber, MOPTC (Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações), REFER, CP, IPTM, CCDR-Norte e Estrutura de Missão do Douro, para Reabilitação do troço Ferroviário da Linha do Douro entre o Pocinho e Barca d'Alva, contando com a presença de altos representantes destas entidades, nomeadamente a Srª. Secretária de Estado dos Transportes, Engª. Ana Paula Vitorino. A cerimónia começou pelas 11;00h na presença de autarcas (tanto de Portugal como de Espanha), representantes de várias instituições, empresários (sobretudo do sector turístico) e numeroso público.
" - Hoje está um lindo dia. Hoje é um lindo dia... para o Douro" - assim começou a sua intervenção o Chefe da Estrutura de Missão do Douro, Engº. Ricardo de Magalhães, um dos paladinos por esta causa da reabertura da linha do Douro com fins turísticos, entre o Pocinho e a Barca. Palavras que foram retomadas pela Secretária de Estado dos Transportes, que manifestou a sua confiança no investimento e também nas entidades espanholas, para voltar a levar o combóio até Salamanca. Nesta fase, para se recuperar o troço em causa (Pocinho-Barca), serão investidos 25 milhões de Euros. Foi destacada a importância deste investimento para toda a região, em articulação com outras valências que se estão a afirmar, nomeadamente o turismo fluvial.

É preciso recordar que a linha do Douro foi uma obra arrojada da engenharia do século XIX, pela quantidade de túneis e "obras de arte" (pontes e viadutos) que foi necessário construir. Na sua extensão total, entre o Porto e a Barca d'Alva, eram 200 km, marginando na quase totalidade do seu percurso um rio Douro ainda bravio, que só alguns afoitos barcos rabelos iam vencendo, a muito custo e à custa de muitos naufrágios. O combóio só chegaria à Barca em 1887, depois de 11 anos de intensos trabalhos, do Pocinho para montante - a parte mais bravia do Douro, de calor intenso no verão e grandes geadas no Inverno. Nos anos 80 do século XX, depois do encerramento do troço espanhol de Salamanca a La Frejeneda, acabaria por fechar também, do lado de cá, o troço de Pocinho a Barca d'Alva.

Esta obra foi sobretudo impulsionada pela Associação Comercial do Porto e o consórcio denominado “Sindicato Portuense”, tendo-se também empenhado nisso as entidades de Salamanca, a quem interessava garantir o escoamento das suas mercadorias para um porto de mar. Um dos paladinos da ligação entre a Barca d’Alva e Salamanca foi Ricardo Pinto da Costa (1828-1889), banqueiro e homem de negócios portuense, que presidiu à referida Associação Comercial do Porto aquando da constituição da Compania del Ferrocarril de Salamanca à la Frontera Portuguesa. Viria a receber o título de Conde de Lumbrales, outorgado pelo rei espanhol Alfonso XII (na vila espanhola de Lumbrales localiza-se uma casa apalaçada do séc. XIX, conhecida por casa do Conde deste título).

A história da construção da linha do Douro e, em particular do troço que agora se pretende valorizar, esteve patente num conjunto de painéis, expostos nesta data na estação do Pocinho (ver foto acima), tendo sido igualmente enfatizada ao longo dos discursos.

Foi ainda recordado pelo Presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa que os pilares para o desenvolvimento do Douro, enunciados pelo Primeiro Ministro em 2006, foram, para além da Paisagem, do Vinho, do Turismo, também a Cultura. Esta valorização, a par de uma série de investimentos que o município fozcoense está a realizar no Pocinho (e que longamente enumerou), são também Cultura - disse.
Assim sendo, dizemos nós, não se compreende como é que nesta mesma estação do Pocinho se encontre a apodrecer, às vistas de todos, uma velha locomotiva a vapor da primeira metade do séc. XX, além de outras que se encontram nos armazéns da “Manutenção”. Até estes dias, a referida máquina estava rodeada de uma cortina de vegetação, cortada à pressa nas vésperas do acto solene de hoje. Além disso, tivemos notícia de que recentemente foi levada para a Alemanha mais uma locomotiva que se encontrava arrecadada na dita manutenção!

Mais uma: segundo noticiou o Jornal de Notícias, em coluna esconsa, no dia 21.08.2009, foi outra locomotiva a vapor levada para as Ilhas Baleares (ver o recorte acima), seguramente para servir objectivos de turismo. Tratava-se de uma máquina alemã que sempre trabalhou em Portugal, pelo que a sua historicidade nas referida ilhas é nula! – Ou seja, se fazia sentido ela estar em algum lugar, era aqui, na linha do Douro. Infelizmente não se ouviu um protesto de ninguém! – Pelo que fica a pergunta: depois de recuperada a linha, entre a Régua e a Barca, para fins turísticos, como se pretente, será que se vai voltar a comprar aos estrangeiros o que se lhes vendeu entretanto? E a que preço? E será que quem comprou e recuperou este património para os fins que se sabe, estará algum dia interessado em desfazer-se do que cá veio buscar, certamente a preço da uva-mijona? Responda quem souber.
No entanto, não podemos deixar de nos congratular com a assinatura deste protocolo, pois é um bom princípio para voltarmos a acreditar que o combóio votlará a apitar pelas encostas do Douro até Barca d'Alva. E escusado será dizer da importância e do benefício que este projecto também trará para o nosso concelho, Torre de Moncorvo, a meia dúzia de quilómetros do Pocinho!
Texto e Fotos: N.Campos

Add to Google Reader or Homepage Subscribe in NewsGator Online Add to My AOL Add to netvibes Subscribe in Bloglines Add to Excite MIX Add to netomat Hub Add to Pageflakes

eXTReMe Tracker