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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Coração da vila - III

Praça Francisco Meireles em 2009 (foto de Leonel Brito, in Torre de Moncorvo, Março de 1974 a 2009, pág.121)

Voltamos ainda à praça, a propósito da jornada cultural de Sábado passado. Ficou-nos do filme Gente do Norte a imagem da animação social que este espaço conhecia, em 1977, com o típico passeote cortês (em que a "regra do jogo" era nunca se virar as costas aos parceiros de conversa), e em que aparecem os Drs. Teixeira e Leite Velho, para além dos comerciantes do burgo e outros funcionários, enquanto os jovens esperam as carreiras.

Entretanto, folheando o livro recém-editado Torre de Moncorvo, Março de 1974 a 2009, lá aparecem bastas referências à praça, nomeadamente a questão das novas centralidades: «Se, durante séculos, a Praça foi o centro da vida política e social da vila, nos últimos 25 anos, nasceu e cresceu uma nova centralidade, na Corredoura, em ruptura quase total com a sua antiga geografia», escreve Rogério Rodrigues em Junho de 2009.

Por seu lado, diz Assis Pacheco na sua reportagem de Fevereiro de 1974: «Foi num domingo que o repórter da "República" parou o automóvel na "praça" e, puxado pelo companheiro de viagem, começou a dar voltas em círculo, ao acaso dos encontros. A "praça" - praça Francisco Meireles - é realmente para dar voltas: juntam-se as pessoas (os homens, raras mulheres) em pequenos grupos, conversam, andam por ali, como num picadeiro. Na "praça" há o café Moreira e entra-se, está-se um bocado, sai-se (para a "praça"). As ruas principais vão dar à "praça": foram talhadas em raios por gente que sabia dar valor a um "coração" duma vila. Na "praça" vêem-se carros de aluguer, camionetas de carreira ao pé da paragem, "são estudantes da escola secundária", explicaram-me». O subconsciente tem destas coisas: quando intitulámos o nosso post de há dias como "o coração da vila", não nos ocorreu que já podíamos ter lido a expressão em algum lugar. Aqui volta ela, na verdade de tão óbvia, para quem conhece o burgo e a sua "praça".

Voltamos a Rogério Rodrigues e à página 134 do mesmo livro, dedicada à praça: «O espaço privilegiado, entre o simbólico e o real, do poder político e do poder judicial. Os carros de praça frente ao tribunal. Taxistas que já faleceram, verdadeiros repórteres da vila: sabiam dos boatos, das notícias, das infidelidades, dos crimes e das malfeitorias. Nada lhes escapava. Ao lado dos taxistas pode-se ver um símbolo do Portugal velho, erecto e de negro vestido, o Dr. Leite [o texto alude a uma fotografia dos anos 70, publicada na mesma página]. Hoje, com o chafariz filipino a ocupar o centro da Praça, já não se passeia com o ritual de quem vai-ao-meio-passa-na-volta-para um dos extremos, num protocolo digno do mais exímio mestre de cerimónias. Aqui, entre a Praça e o Tribunal funcionava o colectivo da maledicência, sem direito a recurso nem contraditório. Desfaziam-se honras e escondiam-se ignomínias. Era a pequena e maldita ágora da Vila».

Belos excertos para uma uma Antologia da Praça, a nossa "plaza mayor" da Torre de Moncorvo.

sábado, 19 de setembro de 2009

O coração da vila- II

Este “post” vem no seguimento de dois comentários feitos ao “post” anterior, sobre a praça Francisco António Meireles, pelo que aqui tentaremos fazer um breve historial e algumas reflexões sobre este espaço da vila.

Fotografia da Praça Central de Torre de Moncorvo nos anos 80 do séc. XIX (foto de aut. desconhecido, impressa em postal comemorativo edit. pela Assoc. Cultural de T. de Moncorvo, nos anos 80 do séc. XX)

Como é de esperar em áreas habitadas, os espaços evoluem, transformam-se (mais, ou menos) e conhecem dinâmicas diferentes consoante os tempos. Assim, podemos considerar que a antiga praça central de Moncorvo (que foi depois Praça da República e finalmente Praça F. Meireles) teve três grandes momentos, quer em termos urbanísticos, quer de função. O primeiro, da Idade Média até ao final do séc. XIX, foi basicamente um terreiro diante do castelo, onde temporariamente se fazia a feira e em que, em dado momento, se colocou um chafariz (séc. XVII) e uma espécie de larga passadeira de granito (em momento indeterminado). Inclusive era espaço de tourada, em momentos festivos, à maneira do que ainda acontece em algumas povoações espanholas. No final do séc. XIX, de acordo com a política dos melhoramentos, foi removido o chafariz, por se encontrar algo excêntrico em relação ao conjunto do largo, e apostou-se num empedrado de contorno oval, com desenho geométrico, raiado e com uns anéis concêntricos, construído com seixos (quartzo) e pedra ferrenha (hematite). Foi autor deste projecto o Engº José Ferro de Madureira Beça, nos anos 80 do séc. XIX. Era clara a intenção de se definir uma área de circulação, tipo placa giratória, distribuindo o trânsito (ao tempo de diligências, carroças, carros de bois, e animais de transporte) preservando o centro para o passeio recreativo da burguesia "fin de siècle", na continuidade de uma tradição decerto há muito arreigada.
Praça Francisco Meireles nos anos 30, em pleno Estado Novo (arquivo particular, cedida ao PARM)
Manteve-se ainda e por muito tempo, a utilização da função-feira, além de se reforçar a sua componente comercial, com a implantação de importantes casas comerciais em redor. Com o aparecimento do trânsito automóvel foi ligeiramente reduzida a placa central, a fim de se dar mais espaço à área de circulação dos novos transportes. Isto deve ter ocorrido já nos anos 30 do séc. XX, não alterando sobremaneira o fácies da praça e suas funções.
Com a sobrecarga do trânsito automóvel ao longo do séc. XX e sobretudo a partir da 2ª metade dos anos 70, num tempo em que ainda não havia o troço do IP-2 de Pocinho à ponte do Sabor, nem as variantes urbanas, todo o trânsito era "despejado" na praça, a partir de ruelas estreitas como a Rua das Flores (de que ainda me lembro ser de dois sentidos!), para aqui convergindo os autocarros, ao início e ao fim do dia, quando vinham trazer e buscar os estudantes para as aldeias e até vilas das redondezas. Quem tivesse estudado em Moncorvo pelos finais dos anos 70 e inícios de 80 (antes da estação de camionagem na variante), lembrar-se-á bem do ritual de ir ver partir as carreiras, ao fim do dia, sobretudo para verem ou despedirem-se das moças das aldeias.
Praça em dia de feira, nos anos 60? (foto enviada por Drª. Júlia Biló)
O que aconteceu entretanto? - 3º. momento: construção das variantes urbanas, sobretudo a avenida João Paulo II, onde está a estação de camionagem, e a variante do Prado; o troço do IP-2, que fez desviar de Moncorvo o trânsito que vinha do Sul do Douro (Lisboa, Coimbra, Foz-Côa) com destino a Bragança e que outrora era obrigado a subir, pela estrada do Pocinho, e passar por Moncorvo com destino a Bragança, passando obrigatoriamente pela praça; mais recentemente, desenvolveu-se a zona do largo da Corredoura e, já nos finais dos anos 90, arranjou-se o largo General Claudino, embora este tardasse a conhecer alguma animação, que só agora se verifica, sobretudo no Verão, em período de festas. Este facto talvez tenha tirado algum protagonismo à praça Francisco Meireles, mas a verdade é que esta nunca foi propriamente um lugar de estar, afora uma esplanada de um café que lá continua, na zona dos táxis. A praça F. Meireles foi sempre, ao longo da sua história, um ponto de convergência de pessoas que vinham tratar de assuntos à vila, ou simplesmente comprar/vender mercadorias, sobretudo em dias de feira. Era inevitável que daqui se retirasse a feira, embora concorde com a ideia de se poder organizar aqui, em certas ocasiões (ou em dias de feira de ano), algum tipo de certame, talvez de produtos regionais (embora para este efeito me pareça mais acolhedora a praça da igreja - a General Claudino). Era também inevitável que se retirasse daqui o trânsito pesado. Não me parece mal que se tivessem criado outras centralidades, como a Corredoura e a praça da igreja, ou a zona do Jardim Horácio de Sousa. Neste quadro, e até para compensar a relativa "desertificação" da praça F. Meireles, creio que a recolocação de um elemento monumental (que já lá havia estado) como é o caso do chafariz filipino (utilizando peças originais e outras reconstituídas), foi uma boa ideia. Para quem se aproxime da praça F.Meireles por qualquer das vias que lhe dão acesso (note-se que é uma praça quási rádioconcêntrica) aquele elemento arquitectónico faz-se notar, atraindo a atenção e o olhar e, como tal, reforçando no subconsciente de quem nos visita, a ideia de uma vila com bastante património.
Praça Francisco Meireles, nos inícios dos anos 80 (foto de N.Campos)
Conciliar este elemento com a oval do séc. XIX também me parece bem, pois a praça ainda não perdeu de todo (nem deve perder) essa função de redistribuir algum trânsito automóvel (já aliviado da pressão de outrora), para as necessidades do dia-a-dia. Pior seria querer transformar-se esta praça numa vasta zona de peões e de esplanadas (a ideia chegou a constar de um certo plano de salvaguarda do Centro Histórico), que naturalmente redundaria em catástrofe, até pela razão que E.L. apontou: aparecimento de outras centralidades e "falta de gente". Quanto a este aspecto, alguns responderão que é uma falsa questão, pois a vila nunca teve tanta população na sua história como agora! (à custa do despovoamento das aldeias, mas isto é outra estória). No entanto há que ter em conta que houve uma certa alteração ao nível dos costumes. Quem e quantos ainda cumprem aquele ritual de passear na praça (de palito no canto da boca e trocas automáticas de lugares no extremo de cada giro, sem nunca se virar as contas aos parceiros - a tal "arte de bem passear na praça")? Pois...
Torre de Moncorvo sempre foi uma vila de serviços, com muitos funcionários públicos, magistrados e bastante comércio. Hoje, com as políticas de redução do funcionalismo, mas sobretudo, com a alteração dos hábitos sociais (como esse do passeio depois de almoço, a "fazer horas" para entrar ao serviço, ou depois de jantar), é natural que o centro da praça se tenha despovoado, sem que disso o chafariz tenha culpa. A decadência desse hábito já vinha de trás, talvez com a entrada nos anos 90, e, mesmo que se quisesse manter, ainda sobrava espaço dos lados do dito chafariz. Os bancos da mesma praça, em certas horas, ainda se conservam povoados de reformados e se não o estão mais, tal se deve aos novos bancos que se colocaram do lado do tribunal onde as árvores são mais frondosas, no verão, e para onde os idosos se foram transferindo preferencialmente. E aqui se conserva outra das funções tradicionais da praça, a má-língua, naturalmente.
Exposição sobre Ambiente, patente no meio da praça, em Junho de 2008
Outra função essencial desta praça, de desde sempre, continua a ser mantida: a de atravessadouro e cruzamento dos caminhos do dia-a-dia, seja para se ir tratar de assuntos à Câmara, ou ao Tribunal, ou meter o correio (pois, com o correio electrónico já se sobem menos as escadas do castelo), ou para se ir a alguns comércios - este, infelizmente, é outro dos factores do esmorecimento da praça, pois as grandes casas comerciais de outrora foram decaindo.
Concordo que se devem pensar iniciativas de animação da praça (para além dos conjuntos musicais nas festas do verão ou da Flor da Amendoeira). É uma questão de imaginação e boa vontade. E para não me alongar mais, termino com um repto: que ideias para animar a praça Francisco Meireles? Por motivos óbvios, penso que é uma boa altura para que os cidadãos apresentem ideias e sejam construtivos e participativos.
Nota final: só para terminar e a propósito, era na Àgora (praça) que os Atenienses do séc. V a.C. (inventores da Democracia) discutiam as suas ideias sobre o que era melhor para a Cidade. "Cidade" que, em grego, se dizia "Polis". Daqui surgiu a palavra "política", para designar a arte de bem governar a Polis (Cidade), ouvindo-se a opinião de todos os cidadãos. Que este espaço (blogue) seja também uma extensão da Àgora moncorvense, a praça Francisco Meireles, são os nossos votos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O coração da vila

Praça Francisco Meireles, Outono de 2006 (foto N.Campos)

Se a igreja matriz é o ex-libris por excelência, o coração da vila é a praça Francisco Meireles, ou, simplesmente, a Praça.
Nesta vista, captada do miradouro do Castelo, vê-se ao centro o chafariz filipino (datado de 1636) depois da sua reconstituição e reposição na referida praça em 1999, mais de um século depois de ter sido daí removido (foi em 29.07.1890, conforme anotou o autor da "Caderneta de Lembranças").
Pegando no título de "post" anterior e ainda no seguimento do "Cultural Dream" esta foi, seguramente, a cereja no cimo do bolo da intervenção realizada no Centro Histórico da vila, nos finais dos anos 90.

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