Pelo começo do ano era habitual os lavradores comprarem o "reportório" - havia (e há!) dois: o "Seringador" e o "Borda d'agua". Vendiam-se nas feiras por módica quantia (agora podem-se adquirir nas livrarias da vila, onde só chega o Seringador). Este "reportório crítico-jocoso e prognóstico diário" leva já 145 anos de edição e continua a imprimir-se sob a chacela da Lello Editores, sedeada em Baguim do Monte (arredores do Porto). Conserva o típico grafismo arcaico, com uns bonecos ao estilo popularucho de séc. XIX, com recorte de tipo xilogravura.
Abre com um "Juízo do ano" e depois é um sem fim de informações úteis (ou inúteis), como os Eclipses previstos, fases da Lua, começo das estações, visibilidade dos planetas, eras cronológicas, feiras e mercados, e a diversa informação para cada dia do ano (santo do dia, hora do amanhecer e anoitecer, efemérides, indicações para a agricultura, como seja o amanho da terra, o que se deve semear, podas das árvores ou cepas, etc., etc.).
Por aqui ficamos a saber que estamos no ano 2010 da era cristã, que é o ano 4354 do Dilúvio bíblico, mas também o ano 2048 da era de César (esta foi seguida em Portugal como no resto da Cristandade até ao séc. XV), sendo o ano 1430 da era muçulmana, ou ainda o ano 133 após a invenção do telefone, ou seja, o ano 113 da aviação, ou o 112 da invenção da telefonia sem fios, ou o 75 da televisão, etc., etc...
Quanto às feiras e mercados, estende-se uma longa lista, com alguns desses eventos seguramente já passados à história, como sejam as feiras de Carviçais (que se realizava a 24 de cada mês), da Lousa (a 6 de cada mês) ou de Urros (7 de cada mês). Mantém-se Torre de Moncorvo, aos 8 e 23 de cada mês, como se sabe. Dão-se ainda os dias de feira de territórios além-fronteiras, como sejam da província de Ourense e Pontevedra (Galiza), Zamora e Salamanca (Castilla-León).
Quanto ao dia de hoje, 7 de Janeiro, ficamos a saber que é dia de S. Raimundo de Penhaforte, presbítero, e que vamos ter o quarto minguante lunar às 10h e 39m a 16 graus em Balança [constelação]. Anuncia-se tempo "revolto" (será o estado do mar?) e no que toca a trabalhos campestres recomenda-se: "o corte de talhadio de castanheiros, carvalhos, salgueiros, etc. e das árvores destinadas a fornecer madeiras de construção e mobiliário. Continua-se com as podas, a plantação de barbados americanos nas terras quentes, o esladroamento e desbaratamento das enxertias e as adubações nas vinhas. Uma boa poda sanitária durante o inverno é conveniente para evitar o aparecimento de certas doenças e parasitas mais tarde. O podador deve cortar toda a madeira que não lhe parecer sã." E remata com o provérbio: "Minguante de Janeiro, corta madeiro".
Fica a recomendação.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
E atão já comprou o "Cheringador"?
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Dia de Reis
Afinal ainda há quem mantenha a tradição de andar a "cantar os Reis" cá pela terra. Diversos alunos das escolas e de meninos dos jardins-escola, juntamente com professores e educadoras de infância, percorreram os comércios e algumas repartições, cantando e tocando. Esperemos que o peditório tenha sido compensador, apesar da tão propalada "crije".
Nas fotos em baixo, grupo de crianças e respectivas educadoras, do jardim de infância nº. 2, de Torre de Moncorvo:
"Dança dos Pretos" de Moncorvo
Hoje é dia de Reis. Desde os inícios de Janeiro que, noutros tempos, se cantavam e pediam "os Reis", de porta em porta. Nessa ocasião, pediam-se chouriças, alheiras, ou outras coisas que as pessoas quisessem dar. Em tempos mais recentes, os géneros passaram a traduzir-se em dinheiro. Se, por acaso, a porta de quem se batia não se abria, cantavam-se cantigas jocosas ao "barbas de farelo" (unhas de fome).
Esta tradição de se pedir/dar algo no dia de Reis, tem a ver com as oferendas que os Reis Magos ofereceram ao Menino Jesus, no dia da sua chegada ao Presépio. Todavia, em termos antropológicos, enquadra-se no esquema mais geral da dádiva (o dar/receber) que coincidia com o início do ano, para se propiciar e reforçar os laços de vicinidade.
Por estes motivos, a data dos Reis (ou véspera), foi também a escolhida, não se sabe quando, para se realizar uma dança, composta por vários indivíduos de cara pintada de preto, e que andavam pelas ruas da vila, tocando e dançando, pedindo para o Deus Menino. Era a "dança dos pretos", que teve lugar pela última vez, em Moncorvo, no ano de 1935, conforme regista o Professor Santos Júnior, que a estudou e que, inclusivamente, a promoveu, em 1930. Por esta altura (anos 30), a dança já estava algo decadente, ou seja, não se realizava todos os anos.
É nossa convicção que originalmente devia ter sido executada mesmo por negros e que, depois, à falta destes, fossem sendo substituídos por brancos com a cara enfarruscada. Ora sabemos que, antes da independência do Brasil, houve bastantes negros que foram trazidos para Portugal, mesmo para terras tão remotas como Moncorvo, por funcionários da administração colonial, nobres ou ricos mercadores. Seria comum as casas ricas possuírem escravos ou criados africanos, que normalmente viriam por via do Brasil, tal como se mostrou num excelente documentário produzido pela RTP, com realização de Anabela de Saint-Maurice, em que se foca bem o caso de Moncorvo e da sua Dança dos Pretos. Esta dança era aqui promovida pela confraria de Senhora do Rosário, que, à semelhança do que se passava em Lisboa, Porto, Brasil ou Cabo Verde, e eventualmente em outras partes do império português, tinha por missão o enquadramento religioso dos "homens pretos".
Ainda quanto à "Dança dos Pretos" no nosso concelho, diz Santos Júnior (in "Coreografia Popular Trasmontana", obra publicada em parceria com o Padre Mourinho e editada pela Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, em 1980, págs. 18 e seguintes) que também se realizava em Carviçais, onde apurou que se tinha efectuado nos anos de 1881, 1896, 1909 e 1935. É de supor que a dança de Carviçais fosse já uma imitação da de Moncorvo, vila onde poderia radicar no séc. XVIII, época em tal dança (em geral) teria sido criada, pois como afirma Santos Júnior, a sua "coreografia enquadra-se nas danças de composição paralela ou de coluna, muito do gosto dos séculos XVII e XVIII, que proliferaram por toda a parte, principalmente nas confrarias de mesteirais..."
O facto de se realizar em Torre de Moncorvo, salienta o precoce carácter urbano da nossa vila, pois só uma estrutura económica e social diversificada (não exclusivamente rural), justificaria esta multietnicidade, a que não é alheia a forte ligação que desde o séc. XVIII haveria com o Brasil e, certamente, com Àfrica, uma vez passado o ciclo do Oriente.
Interrogando-nos ainda sobre o porquê da realização da referida dança nesta data, julgamos poder encontrar justificação no facto de um dos reis magos ser negro - o S. Baltazar - além de os restantes serem cada qual de sua nação. Ou seja, não há data mais apropriada para salientar o ecumenismo da religião católica, em que todos os povos da Terra deveriam vir adorar o Menino-Deus nascido em Belém.
Aqui ficam algumas quadras da Dança dos Pretos de Moncorvo (recolhidas por Santos Júnior):
Boas novas moncorvenses
Dar a vós os preta (sic) vem;
Que nasceu o redentor
que nasceu o Redentor.
Belém terra de Judá
Onde o Redentor nasceu
Sua Mãe imaculada
Que tormentos padeceu.
Eu não posso compreender
Que Jesus , tão santo e nobre,
Tivesse o seu nascimento
Num lugar tão pobre!
......................................
Nota: fica um repto aos nossos amigos do Teatro Alma de Ferro - que tal, para o ano, tentar-se uma recriação desta dança, na altura dos Reis? - A música está registada e várias quadras também. Fica a ideia.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
"O trigo dos pardais" - novo livro de Isabel Fidalgo Mateus
Saiu recentemente do prelo e em breve chegará às livrarias, o novo livro da nossa colega de Blogue, Doutora Isabel Maria Fidalgo Mateus, professora da Universidade de Liverpool.
Aqui ficam as imagens da capa e da contracapa, e respectivas badanas, onde se poderá saber mais sobre a autora e a sua obra (clicar sobre as imagens para as ampliar):
sábado, 26 de dezembro de 2009
Felgar - "Fogueira do Galo" II
Complementando a reportagem anterior do "pucareiro" Tó Manel, aqui ficam mais algumas imagens (nocturnas), de uma das "fogueiras do galo" do Felgar. Nas fotos, trata-se da fogueira do largo Santa Cruz; a outra é feita no largo da igreja. O normal era fazer-se uma só fogueira, por cada povo, mas talvez o Felgar pretenda agora compensar as terras onde já não se fazem estas fogueiras natalícias, como acontece na vila de Moncorvo, onde antigamente se acendiam na Corredoura.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Felgar - Fogueira do Galo
No dia 24 de Dezembro cumpriu-se a tradição: acenderam a fogueira, aqueceram o Menino.
No dia 25 encontram-se em torno da fogueira os residentes e aqueles que "fazem pela vida" noutras paragens. Confraternizam, matam saudades.
Mas a cada ano que passa nota-se e sente-se que são cada vez menos os que regressam nas quadras festivas.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Presépios de antigamente...

A palavra "Presépio" vem do latim: "praesepium", que significa "manjedoura dos animais", ou, em sentido lato, o "estábulo" onde se encontra a manjedoura. Tudo isto porque, segundo a tradição, o Menino Jesus nasceu num estábulo, nos arredores de Belém, quando os seus pais, tiveram de deslocar a essa cidade da província romana da Judeia, a fim de se serem recenceados, como todos os judeus, em cumprimento de um édito do imperador Augusto.
Esse nascimento, que muitos séculos depois viria a ser considerado como o ano 1 da Era Cristã, na verdade terá acontecido antes, entre o ano 7 e o ano 4 antes de Cristo!
Quanto à representação desse momento tão especial e transcendente para os Cristãos, utilizando figurinhas esculpidas, de uma forma tridimensional, parece que tal só ocorreu em 1223, quando S. Francisco de Assis, imbuído de grande piedade cristã e fervor missionário, resolveu recriar a situação desse Nascimento, numa gruta dos arredores da cidade de Greccio (Itália), onde pregava. As figuras eram de barro, à escala natural, e a ideia era pedagógica: explicar aos camponeses da região (e atraí-los) as circunstâncias e as personagens do Acontecimento. Dado o sucesso, anualmente, por ocasião do Natal, as igrejas e catedrais, primeiro de Itália e depois do resto da Cristandade, passaram a fazer presépios nesta altura, certamente por iniciativa dos franciscanos, costume que foi seguido por reis e nobres nos seus palácios. Ver: W http://pt.wikipedia.org/wiki/Pres%C3%A9pio
O período áureo dos presépios de barro foi o Barroco (séc. XVIII), havendo barristas notáveis que fizeram presépios.
Passando para Torre de Moncorvo, dada a existência, nesta vila, desde o séc. XVI, de um convento franciscano, é bem provável que este costume se tenha introduzido, pelo menos, desde essa época (não conhecemos registos escritos tão antigos). Contudo, em tempos mais recentes, há quem bem se lembre dos presépios feitos pelo sr. Júlio Dias, mais conhecido pelo Sr. Júlio Sacristão (que era também o guarda da igreja, subvencionado pela Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, depois IPPC), como bem nos recordou há dias o nosso amigo Carlos Ricardo (Camané), dizendo que até vinham pessoas de fora de Moncorvo para ver os famosos presépios do sr. Júlio. Neste "post" divulgamos uma foto que nos foi oferecida pelo Sr. Júlio, há mais de uma dúzia de anos, pelo que, apesar de desconhecermos a data, deverá remontar aos anos 70. Fica aqui o apelo a outras pessoas que possuam fotografias de presépios do S. Júlio, que no-las façam chegar que aqui as divulgaremos.
Aproveitamos para informar que os Presépios se continuam a fazer no interior da igreja, entre as escadas da porta do lado do alpendre e o altar do Santíssimo. Havia (e há) a cerimónia de se beijar o Menino, após a Missa do Galo.
Esta é uma boa ocasião para os moncorvenses recordarem e reviverem estas tradições e visitarem a nossa Igreja Matriz.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Matança do porco
O Zé ajoelha-se a meter a faca e o sangue espicha, aparam-no num alguidar até às últimas golfadas. Tiram as cordas. Com molhos de palha começam a chamuscar-lhe os pêlos, a pele estala aqui e ali, acastanhada, e de repente, com um urro formidável, o porco abala rua abaixo, cego, esbarrando contra as paredes».
Rentes de Carvalho, O Rebate, ed. Círculo de Leitores, 1973
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
A partidela de amêndoa
Repórter não sou, mas, porque ontem estive num museu vivo, um museu que tenta preservar não só o espólio arquitectónico e cultural da região, mas também e a solidariedade da alma transmontana, apetece-me escrever sobre ela.
Ontem, foi o melhor dia da partidela, era o último, o dia das filhoses, o dia em que se terminava a safra anual e dava direito a ceia reforçada.
Ontem, fiz “serão” em casa do Ti Chico Sá, estava cheia, toda a vizinhança apareceu. Ontem voltei à minha meninice, aos anos setenta, voltei a ouvir aquele martelar constante: tac… tac… taaac… voltei a escutar as conversas de adulto que nem percebia. Soaram em mim vozes que, num linguarejar de outros tempos, pediam, com insistência, a luz da candeia para catar o grão que saltou e se esconde no meio do cascabulho. Ontem, maldisse a vida quando bati involuntariamente no indicador, ontem, entorpeceram-se-me novamente as pernas pelo longo tempo de imobilidade e voltaram-me a arder os olhos pela fumaça das cascas que tardavam a acender.
Ontem, não sei porquê, voltei aos gambozinos, vi-me de fachoqueiro na mão, afouto, noite dentro, à hora dos lobisomens, a arrepiar-me nas encruzilhadas, percorrer o empedrado irregular e húmido da Rua da Fonte-do-Prado.
Ontem vi os burros, atados pela arreata no cimo do amendoal, a rabejar incessantemente, a escarvar no chão, como que a pedir socorro do ataque continuado do regimento de moscas que, apoiados por uma bataria de moscardos artilheiros, voejavam em seu redor. Ontem vi muitas almas varonis ao longo da riba das Arcas. Iam de amendoeira em amendoeira, atentos às irregularidades do terreno, sempre a ver onde punham os pés e a varejar para o chão o fruto já bem seco. Vi as mãos calejadas do mulherio que apanhava desembaraçadamente amêndoa a amêndoa, no meio dos cardos, e despejava às mancheias nas cestas de vime asadas, mudadas à medida que se avançava encosta acima, com muito cuidado, não fossem esbarrondar-se e obrigar a nova e forçada apanha.
25.10.2009
Por: António Sá Gué
Fotos de: Camané Ricardo e de Rui Leonardo/PARM
Ainda sobre a VI Partidela da Amêndoa realizada no Museu do Ferro, ver: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/10/vi-partidela-tradicional-da-amendoa_26.html
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
"Mandamentos" populares (sobre o Amor)
(Continuação do "post" anterior: o ti' Cara-Linda, a pedido da tia Xica Neiva, ensina às moças os Mandamentos do Amor, durante uma "partidela de Amêndoa", segundo uma recolha do Padre Rebelo, algo ficcionada, talvez dos anos 70):
- Os Mandamentos do Amor,
eu vos vou explicar:
São dez, minhas meninas,
Tratem de os decorar.
- E decorem-nos bem, - berravas tu!
1º. Amar a Deus sobre tudo quanto há.
Eu amo a Deus no Céu,
Mas amo-te a ti cá.
2º. Não jurar o Seu Santo Nome em vão.
Eu cá por mim fiz a jura
de te dar a minha mão.
3º. É guardar domingos e dias santos.
eu deixo de os guardar,
por causa dos teus encantos.
4º. É honrar nosso pai e nossa mãe.
Bastante os tenho honrado,
mas honro-te a ti, também.
5º. É não matar.
Eu nunca matei ninguém,
Só matava, se pudesse,
saudades que meu peito tem.
6º. É guardar castidade.
Bastante tenho guardado.
Só para te guardar respeito,
bastante tenho pecado.
7º. Não furtar o que a outrém pertencer.
Só te furtava a ti,
se acaso pudesse ser.
8º. Não levantar falsos testemunhos a ninguém.
Eu por mim não os levanto.
A ti só te quero bem.
9º. Não desejar a mulher do nosso semelhante.
Só te desejo a ti,
Se tu me fores constante.
10º. Não cobiçar as coisas que alheias são.
Só te desejo a ti,
com todo o meu coração.
- Estes 10 Mandamentos
encerram-se em dois:
Amo a Deus no Céu,
Mas amo-te a ti despois".
in: "A Terra Transmontana e Alto Duriense. Notas etnográficas", por Joaquim Manuel Rebelo (Padre Rebelo), ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e Associação Cultural de Torre de Moncorvo, 1995.
"Partidela" da Amêndoa
"- Ai quanto me custa morrer, ó Xica Neiva!
- Olha que Deus não é de brinquedos senão às vezes dava castigos, não achas?
- O que nós fazíamos quando éramos solteiros!
- Não te recordas daquelas noites de inverno, quando íamos ajudar a partir a amêndoa para a casa da tia Arminda Fanega?
- Primeiro cantávamos a vozes, ao som do martelar, o canto do Cravo Rijado.
- As costas e os pés estavam frios, mas os corações até deitavam fogo.
- Olha que tu tinhas mesmo uma voz de respeito, mas eu, também, não ficava atrás.
- Vamos tentar cantar uns versos desse cântico? Recordar é viver, home. Ora vamos lá ver se ainda acertamos.
E os nossos idosos, numa voz ainda firme, repassada de saudades, lembrando aquelas noites frias e o pum, pum, pum do partir da amêndoa e, as conversas chistosas do grupo das partideiras, começaram a cantar:
Fala-me, ó cravo rijado,
Fala-me fora da rama,
Fala-me sem cobardia, ó ai,
quem é cobardo não ama.
Quem é cobardo não ama,
Quem ama não é cobardo,
Fala-me ó meu amorzinho, ó ai,
Fala-me ó cravo rijado.
Fala-me aonde me vires,
Não te escondas de ninguém,
Eu na fama já sou tua, ó ai,
Por esse mundo além.
Acabada a cantiga, o ti Cara Linda atalhou logo:
- E quando tu dizias: Ó Cara Linda, ensina lá a doutrina a estas moças casadouras, senão o senhor padre não as casa.
- E eu então começava: Raparigas, ouvam lá o catecismo d'hoje" [continua]
in: "A Terra Transmontana e Alto Duriense. Notas etnográficas", por Joaquim Manuel Rebelo (Padre Rebelo), ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo e Associação Cultural de Torre de Moncorvo, 1995.
Foto: Padre Rebelo? Legenda: "Partidela da Amêndoa" no Peredo dos Castelhanos.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
VI Partidela Tradicional da Amêndoa, no Museu do Ferro
Realiza-se no próximo dia 24 de Outubro (sábado), a partir das 15;30h, a 6ª Partidela Tradicional de Amêndoa, organizada pelo Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.
Como já informámos em edições anteriores, a “partição” ou “partida” da amêndoa, consistia na reunião das famílias, vizinhos e amigos, para, ao serão, durante as noites frias de Outono ou Inverno, se “entreterem” a quebrar a casca lenhosa das amêndoas, a fim de venderem o produto em grão, pois assim era mais bem pago pelos negociantes de frutos secos. Era um momento de trabalho, mas também de confraternização e de amena cavaqueira.
Este sistema de entreajuda, um pouco na linha do comunitarismo transmontano, era sobretudo usado pelos pequenos e médios proprietários. Os grandes proprietários, por seu lado, chamavam gente à jeira, normalmente mulheres, para executarem esse trabalho, o qual era pago consoante os alqueires que enchiam, completamente a transbordar.
É preciso recordar que boa parte do concelho de Torre de Moncorvo se situa na chamada Terra Quente Transmontana, com um microclima mediterrânico, onde se dão bem a vinha, a oliveira e a amendoeira. Esta última cultura, que é também responsável pelo cartaz turístico da Amendoeira em Flor, tem conhecido uma certa regressão nas últimas décadas, razão pela qual as “partidas” da amêndoa deixaram de se verificar. Já antes disso, as máquinas britadeiras tinham começado a substituir a mão humana. No entanto, as memórias persistem, e o Museu do Ferro, querendo recuperar estas tradições e, simultaneamente, desenvolver uma certa “museologia de proximidade”, envolvendo pessoas de todas as idades e de diversas proveniências (habitantes locais e visitantes de outras paragens) volta a reeditar esta actividade, que já é um cartaz habitual, nesta época do ano, sempre com assinalável êxito!
Aceitam-se inscrições até ao fim do dia 22 de Outubro, para o tlf. 279252724.
domingo, 5 de abril de 2009
Alminhas - Urros
As alminhas têm alguns ponto de contacto com as festividades que vivemos estes dias, a Páscoa. Páscoa também significa passagem, reunião do corpo com o espírito, êxodo ou passagem da morte para a vida. As alminhas representam também um lugar de passagem, o purgatório. Este culto tem raízes há vários séculos atrás e foi tão forte que ainda hoje encontramos em todas as aldeias pelo menos umas alminhas. Também estas representações estão normalmente em locais de passagem, encruzilhadas dos caminhos, ou então à entrada das localidades. Muitas lançam um aviso: "Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando".
Estas alminhas estão num muro, em Urros, a caminho do Santo Apolinário.
Quem estiver interessado neste tema das Alminhas, pode ler um texto que escrevi no Blogue - À Descoberta de Vila Flor.
segunda-feira, 30 de março de 2009
Felgueiras, lagar da cera
Em Maio de 75, era eu sócio e director da cooperativa de cinema Cinequanon, organizei duas idas a Moncorvo para as filmagens de dois documentários, ambos fazendo parte da série de programas Artes e Ofícios, para a R.T.P.: "Estevais Ano Zero" e “Velhas Profissões”. Neste último estão integrados uma tecedeira e um oleiro do Felgar, o lagar da cera em Felgueiras e um moinho. Este documentário encontra-se no Museu do Ferro e na Biblioteca de Moncorvo à disposição de todos. A equipa de filmagens era a seguinte: Sá Caetano na realização; eu, Leonel Brito, na produção e entrevistas; Elso Roque na imagem; João Diogo no som.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Desfile Carnavalesco das Escolas de Torre de Moncorvo - 2009













sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Desfile Carnavalesco das Escolas de Torre de Moncorvo - 2008
Foi com enorme entusiasmo que as crianças dos Jardins de Infância e 1.º Ciclo, prepararam com alguma antecedência os seus fatos de carnaval, feitos com a ajuda de Educadores, Professores e Auxiliares.
Passando pelas várias ruas da vila, o desfile de carnaval encantou toda a comunidade que observava.
Venham todos ver mais uns deslumbrante desfile carnavalesco por parte das crianças das escolas do concelho de Torre de Moncorvo.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Ilustrando as "Páginas de Caça"...
A propósito do livro da caça a que o Rogério faz referência, aqui postamos mais uma foto da famosa caçada à raposa (ver o "post" de 25 de Novembro de 2008, neste blog), a qual nos foi gentilmente cedida por Leonel Brito:
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
A tradição Transmontana
Em Trás-os-Montes o Natal é diferente do que no restante pais. Prova disso é a quantidade de migrantes e emigrantes que invadiram as estradas portuguesas rumo ao interior transmontano na quadra natalícia.
Hábitos e tradições transmontanas no dia vinte e quatro à tarde começam a descascar as batatas e a arranjar as couves para o jantar. Na boa mesa transmontana não pode faltar polvo, couve, e bacalhau. No que respeita às sobremesas as filhós, os milhos e as rabanadas continuam a ocupar o topo das preferências e tradições.
Em quase todas as casas transmontanas o jantar começa cedo porque as gentes transmontanas não têm o hábito de jantar tarde como os citadinos, à mesa reúne-se quase a família da habitação e poucos são aqueles que ainda cumprem a tradição de abrir as prendas à meia-noite, perdeu-se na história a tradição que mesmo sendo crianças ainda acreditam na vinda do Pai Natal.
Depois do jantar e das prendas distribuídas e abertas normalmente junto à lareira que pelo menos nessa noite se acende na maioria das casas, por vezes segue-se a saída, para a praça da Aldeia, Vila ou Cidade, este ano com a neve mas apesar disso já não neva como antigamente, o frio continua a marcar presença assídua na noite de Natal e ainda há locais onde se fazem grandes fogueiras onde se aquece a população durante toda a noite.
A tradicional fogueira do Galo, continua a tirar as famílias de casa, que apesar da desertificação ainda são muitos novos e alguns de idade avançada, pois é costume dizer-se que Trás-os-Montes tem uma população envelhecida, as chamas vindas de grandes troncos arranjados nos dias e na noite que antecedem o Natal aquecem dezenas de pessoas que se juntam ao seu redor enquanto a missa do galo não começa, mas é uma forma de juntar a família e os amigos, como os costumes nunca se perdem alguns trazem chouriças, outros pão e outros vinho e às vezes ficam até de manhã, sendo por hábito o café da manhã ser feito e servido ali.
As fogueiras de Natal, ou “murras” [gigantesco canhoto de carvalho, castanho ou negrilho, que arde noite fora no largo principal de algumas das aldeias mais puras do Nordeste, representa a coesão de uma comunidade rural, que festeja na rua o verdadeiro sentido do Natal] em algumas localidades do interior transmontano, e ainda representam para muitos a coesão dos habitantes, crianças, jovens, adultos e idosos convivem pela noite dentro e fazem apenas um intervalo para a Missa do Galo à meia-noite.
Numa região onde a população está cada vez mais envelhecida, já houve mesmo paroquias que resolveram antecipar a missa do Galo e fazê-la no dia 23 durante o dia, como aconteceu em 2008, no 25 há missa de Natal seguida de mais uma reunião da família,o almoço que volta a juntar toda a gente na mesma mesa, é fruto da mistura de costumes em algumas casas que não dispensam o perú na mesa, no entanto, nas famílias mais tradicionais ainda se continua a comer a típica “roupa-velha”, uma espécie de mistura de todas as sobras do jantar do dia 24, o famoso cabrito assado transmontano é também frequentemente servido como refeição neste dia, em algumas casas.
Em resumo mais ou menos frio, mais ou menos tradicional, o facto é que a época natalícia continua a encher as Cidades, Aldeias e Vilas desertificadas do interior transmontano que durante o resto do ano se encontram praticamente desertas, alguns matam e trazem saudades, alegria e cor ao interior de Trás-os-Montes, os que cá ficam vão continuar a preparar tudo para acolher nestas e noutras épocas os que decidiram um dia sair à procurar de melhores condições de vida.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Época Natalícia - 2008

