A Tuna do Peredo
Recorri de novo ao meu baú informático e fui encontrar alguns elementos dispersos sobre a Tuna do Peredo que tocou e encantou ( excepto em Felgueiras onde foi corrida a nabos) as várias aldeias do concelho ( sobretudo Açoreira e Maçores) Era seu maestro Zé Martins que também organizava sessões de teatro no Peredo num antigo palheiro decorado com colchas. Muitos dos músicos da Tuna iam trabalhar para o Zé Martins, na Azenha, no Rio Douro e regressavam ao Peredo a tocar. Todos tocavam por música. Aqui ficam alguns nomes ( com alcunhas) que fui recolhendo: Artur Rodrigues (Carriço) tocava guitarra e cantava; Fernando Gil, guitarra; Manuel Quitério, bandolim; Mário Ferreira ( Panato), meio irmão do professor Ferreira, irmão da Ti Isolina, violão; Ângelo Campos (Chocalho); professor Ferreira, violino; António Gil( da Constância); António Rodrigues (Carró), bandolim; José Pestana ( Grilo), guitarra; António Dias (Russo).
Estes alguns dos nomes. Doutros, desconheço o instrumento que tocavam. Gente mais velha do Peredo pode completar esta memória.
Recolhi também alguns versos, ainda que incompletos, que a Tuna cantava. Aí vai um exemplo:
“Eu tenho um chapéu novo
Que me custou um cruzado
Não tem copa nem tem aba
Está todo roto de um lado.
Tenho uma camisa nova
Coisa assim nunca se viu
Nem tem mangas nem colar
A fralda já lhe caiu.
Tenho um casaco novo
Do mais fininho cotim
Remendo sobre remendo
O fato é todo assim.”
Havia ainda mais versos sobre meias, calças e sapatos mas que não consegui recolher.
Por último uma despedida que me é muito cara. O Fernando Gil, que era gago mas cantava muito bem, pai do nosso estimado Gil T., um dia partiu para o Brasil, onde esteve muito pouco tempo. E fez uma serenata à sua namorada, depois mulher, ainda viva, a Grata, com estes versos que não sei se são da sua autoria:
“Um adeus de despedida
É a coisa mais sentida
Que comove o coração.
Dizer adeus é tristeza
Pois nunca se tem a certeza
Se voltarei cá ou não.”
domingo, 25 de outubro de 2009
A Tuna do Peredo
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Tuna Popular da Lousa brilhou em Sendim (terras de Miranda)
Foi um verdadeiro sucesso a actuação do grupo de cordas conhecido por "tuna popular da Lousa", no passado sábado, ao fim da tarde, em Sendim (terras de Miranda), no contexto do programa do 10º festival intercéltico.
O concerto, inicialmente previsto para o largo da igreja matriz de Sendim, acabaria por se realizar no pavilhão conhecido por "Taberna dos Celtas", por receio de aguaceiros.



sexta-feira, 24 de julho de 2009
Tuna Popular Lousense
(continuação do “post” sobre o Intercéltico de Sendim)
Mas quem são estes músicos e como surgiram?
Como eles próprios se apresentam, são um grupo de amigos da freguesia da Lousa, residindo alguns no concelho de Torre de Moncorvo e outros bem longe daqui (como por ex. em Sintra), o que os faz percorrer longas distâncias para ensaiarem e tocarem. Tendo alguns já tocado juntos na sua juventude (é preciso que se note que são “jovens” hoje com idades superiores a 60 anos), resolveram, em dado momento, rememorar os seus bons velhos tempos, e, por volta de 1988-89, três elementos do grupo começaram de novo a tocar em conjunto. A estes associaram-se outros três elementos de outros grupo (entretanto dissolvido) e passaram a seis membros, aos quais se juntou um sétimo, tocador de viola. É preciso dizer que todos os instrumentos eram cordofones a que se juntou um tocador de ferrinhos, entretanto falecido e substituído por outro. Tocavam em ambientes familiares, como festas de aniversários. A sua primeira actuação pública parece ter ocorrido em 2001. E, a partir daqui, começaram a actuar em festas de Lares de Idosos, por todo o concelho de Torre de Moncorvo. Em 2007 estiveram na inauguração dos jardins da biblioteca municipal de Torre de Moncorvo, a convite da Câmara, e assim sucessivamente.

Para que conste, aqui ficam registados os seus nomes e respectivo instrumento:
Armando Cesário Moutinho – Bandolim baixo;
José Joaquim Pestana – Viola portuguesa;
Modesto Augusto Moutinho – Violino;
Orlando Espírito Santo Félix – Bandolim requinta;
Reinaldo Reto Queijo – Ferrinhos;
Samuel Santos Barbosa de Sousa – Bandola;
Serafim Sebastião Sousa – Viola portuguesa;
Vasco Espírito Santo – Guitarra portuguesa.
Até Sendim. - Compareça para ouvir e apludir os representantes da nossa terra: os músicos da Tuna Popular Lousense!
Tuna Popular da Lousa, presente no 10º Intercéltico de Sendim
«Na demanda dos sons da terra, rumámos para onde a paisagem entra nos olhos e não sai mais (Miguel Torga) e as pessoas se tornam amigas e não mais se esquecem. Mirandeses d'las arribas, gente que se confunde com a própria natureza, numa simbiose tão profunda como impenetrável, da qual emerge uma cultura de seculares origens que é seiva intemporal de uma identidade resistente que a memória colectiva oralmente transmitiu ao longo dos tempos». – MÁRIO CORREIA (Raiç e tradiçon)
Mercê do labor persistente de Mário Correia (um homem do litoral que veio construir uma utopia no interior mais remoto) que resolveu trazer a música dita “céltica” dos grandes palcos do Porto para o lugar onde ela fazia mais sentido: o terriço de um “cú de judas”, onde o pó se levanta à mistura com o cheiro do restolho na comunhão mística com a Mãe-Terra, sob as estrelas coriscantes do planalto da nossa Celtécia mirandesa.
E o trabalho do Mário não se ficou pelo festival. Uma vez aí, como um verdadeiro garimpeiro, foi joeirando e arrancando do esquecimento grupos de cantares (como os das segadas de Caçarelhos), cantadeiras como Clementina Rosa Afonso, inúmeros gaiteiros, muitos deles já falecidos há muitos anos, deles descobrindo registos antigos, como os do alemão naturalizado americano Kurt Schindler (1882-1935), autor das primeiras recolhas fonográficas de música mirandesa (1932),com tudo isto, paulatinamente, M. Correia foi constituindo um acervo colossal que hoje conta com dezenas de CD’s, com a chancela da editora Sons da Terra, por si fundada. Mas há mais: além da revista Trad i Folk (10 números, sendo cada um o catálogo anual do festival de Sendim), tem ainda publicado alguns importantes livros para a história da música tradicional mirandesa, tais como Bi benir la Gaita (contributos para a história dos gaiteiros mirandeses) e Pauliteiros de Miranda (Cércio) – Viagem a Londres (sobre a actuação dos pauliteiros mirandeses no Royal Albert Hall, Janeiro, 1934, com edição de CD), além de vários artigos em revistas e “sites” da especialidade (quanto a “sites”, ver: http://www.attambur.com/OutrosSons/Portugal/SonsdaTerra/sons_da_terra.htm
http://www.attambur.com/Noticias/20022t/centro_de_musica_tradicional_sons_da_terra.htm

Mas a sua obra maior, quanto a nós, foi a criação do Centro de Música Tradicional Sons da Terra (sedeado em Sendim), onde se reúne uma Biblioteca especializada e a Fonoteca (Arquivo sonoro) com um importante acervo de música tradicional sobretudo transmontana. Aí se administram cursos de iniciação de instrumentos tradicionais do Planalto Mirandês" (gaita de foles, flauta pastoril, caixa e bombo), salvando as sonoridades que se estavam em risco absoluto de se perderem com a morte dos velhos gaiteiros das terras mirandesas. Há já alguns anos, a câmara de Miranda, numa tentativa bem intencionada de não deixar perder a música tradicional, chegou a transportar jovens para Espanha (Aliste), para aprenderem gaita de foles, tendo muitos deles entretanto desistido. Agora basta irem a Sendim.
Como sempre acontece, este labor não esteve nem está isento de escolhos, sendo, muitas vezes, as questiúnculas locais também um resultado das dinâmicas e da diversidade e do crescimento entretanto surgidos (só nos charcos e nos desertos não há polémicas). Todavia não se podem esquecer os contributos de associações locais como a Mirai Qu’Alforjas, os exímios Galandum Galundaina, os divertidos Picä Tumilho (inventores do rock mirandês), os SangriSulta, além dos famosos grupos de pauliteiros que continuam a pontuar nestas terras. Todos eles têm ajudado também a construir este Festival Intercéltico, concorrido por milhares e milhares de pessoas, vindas de toda a Península Ibérica, e até do resto da Europa. Aliás, o Intercéltico de Sendim é, desde há anos, uma referência no mapa dos festivais congéneres da Europa e por aí têm passado grandes grupos como os Oyesterband, Dervish, Hedningarna (este ano repetentes), os Musgaña, Hevia, Ultreia, Milladoiro, Gaiteiros de Lisboa, etc.. (para o corrente ano -ver o programa acima).
Entretanto, Mário Correia há já bastante que começou a alargar a sua área da acção e de recolhas para além das terras de Miranda, e além das gaitas de foles e do mundo das sonoridades mais rústicas. Assim, desta feita, abeirou-se do Douro e chegou a Torre de Moncorvo, o que nos encheu de satisfação. Conheci o Mário há cerca de 10 anos, talvez um pouco antes do 1º intercéltico, numa jornada etnomusicológica promovida pela Câmara Municipal de Miranda do Douro. Tornei-me num aficcionado dos festivais de Sendim e não perdi nenhum, chegando a acampar nos restolhos (ainda antes daquele improvisado parque de campismo).

Já em 2009 (30 de Maio), o Mário voltou a Torre de Moncorvo com a sua equipa e com sofisticado equipamento de gravação, tendo feito um registo profissional, com objectivo de edição de um Cd. Ficou entretanto combinada uma actuação na presente edição do Intercéltico de Sendim, que vai acontecer entre os dias 31 de Julho e 1 de Agosto.
A participação da Tuna Popular da Lousa está prevista para o dia 1 de Agosto (sábado), ao final da tarde (a partir das 17;00 horas).