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domingo, 1 de março de 2009

À Descoberta das amendoeiras em Flor


O tema das Amendoeiras em Flor é transversal a uma série de concelhos. Guardo com carinho a 1.ª edição do Guia Turístico “Rota da Amendoeira” editado em 2001, referente a Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Vila Nova de Foz Côa. Conhecedor mais ou menos profundo destes concelhos, não necessito de um Guia Turístico, mas mostra a vontade que estes concelhos têm em venderem uma imagem, a Amendoeira em Flor. Vivi em Torre de Moncorvo nos anos áureos das excursões. Eram dezenas, senão centenas de autocarros que se amontoavam na Corredoura (antes do arranjo urbanístico).
Este ano decidi “criar” um Rota da Amendoeira em Flor, para um passeio de família. Visitar locais onde não passávamos há mais de 10 anos, outros onde nunca tínhamos ido, apreciar a paisagem, o artesanato, a gastronomia, mas, sobretudo, ir ao encontro da beleza das amendoeiras em flor, foi o objectivo. Decidi publicar o percurso porque pode dar ideias a outras pessoas que querem beneficiar do privilégio de passar um dia de puro prazer nas pequenas estradas de Trás-os-Montes.
Saímos de Vila Flor ao início da manhã. O dia não estava nada daquilo que eu desejaria (para a fotografia) com o céu repleto de nuvens. Uma atmosfera muito, muito cinzenta, mas com uma temperatura muito agradável.
As amendoeiras em flor apareceram logo dentro da vila. Ao longo da estrada que conduz a Sampaio (N608) há algumas flores que já perderam as pétalas, mas o espectáculo ainda é digno de se ver. Ao longo da N102 (E802) entre Sampaio e a barragem do Pocinho, encontram-se vários locais com muitas amendoeiras em flor. Um bom exemplo são as encostas na Quinta da Portela, mas há amendoeiras por todo o lado.
De junto das comportas da barragem do Pocinho, na margem direita, parte uma estreita estrada que faz a ligação às aldeias de Urros e Peredos dos Castelhanos. Conheci essa estrada há quase duas décadas, quando ainda nem sequer estava asfaltada! Desde essa altura, pouco mudou. Durante algum tempo as curvas acompanham o rio, serpenteando nas entranhas da terra. A foz da Ribeira do Arroio veio separar-nos definitivamente do rio. Depois de a atravessarmos, numa estreita ponte (que assustadora era!), começámos a subir até perto dos 600 metros de altitude. Nesta zona há muitas amendoeiras em flor, mas a maior parte dos delas estão abandonadas. É uma das estradas panorâmicas mais bonitas que conheço no concelho de Torre de Moncorvo. Encontrámos no seu final a N603. Pode ser uma boa oportunidade para virar à direita e fazer uma rápida visita a Peredo dos Castelhanos. À esquerda é a direcção de Urros. Foi nesta zona que encontrei as mais bonitas amendoeiras em flor! Quase todas as flores são de um rosa acentuado, dão uma tonalidade forte e uniforme ao amendoal.
Para saborear toda a paz que nos invade, depois de algumas horas por locais tão pouco frequentados, alguns minutos junto à igreja de S. Apolinário dão também alguma mística ao passeio. Nesta espécie de santuário a algumas centenas de metros do povoado, fomos encontrar uma fonte. A água desta fonte era apontada como sendo milagrosa (1726), mas, actualmente, apenas é vista como digestiva. Foi o próprio S. Apolinário que fez brotar a água da rocha, para saciar a sede com que vinha, depois de atravessar o Douro. Muito havia para ver em Urros, mas partimos em direcção à Barragem das Olgas, ainda em construção, local onde se confrontam o concelho de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta. Deixámos a N630 e seguimos à direita para Ligares. Atravessámos a aldeia pela Rua do Cimo do Povo, contornámos a igreja e seguimos para o Largo de S. Cruz.
Retomámos a estrada N325 que desce a encosta até à Ribeira do Mosteiro. Neste trajecto ainda há muitas amendoeiras que não floriram, o que significa que este percurso se vai manter bonito por mais alguns dias. Mais uma vez se vislumbram largas encostas onde a amendoeira já foi rainha. O abandono é a nota predominante, mas, onde as amendoeiras estão cuidadas, as flores são mais fartas e mais coloridas.
Depois das Quintas da Ribeira e de S. Tiago, a estrada divide-se: em frente desce-se pela N325 até Barca de Alva; à esquerda sobe-se pela N325-1 até Freixo de Espada à Cinta. O meu desejo era seguir em frente, pois adoro percorrer esta estrada onde nos sentimos muito pequenos face à agressividade das massas rochosas que nos rodeiam. Da foz da Ribeira do Mosteiro até Freixo, é bem possível que ainda haja muitas amendoeiras em flor (ao longo da N221).
A opção foi virar à esquerda em direcção a Freixo. O “relógio” solar (e não só), já nos indicava que estava na hora de almoço.
Nesta zona também há muitas amendoeiras em flor. Até uma pequena raposa se passeava entre elas, indiferente aos potenciais flashes dos turistas.
Em Freixo, estacionámos o carro junto da Câmara Municipal. O recinto da feira era um pouco distante, mas havia um autocarro a transportar gratuitamente os que o desejassem. Estávamos dispostos a almoçar na feira (Feira Transfronteiriça/Feira dos Gostos e Saberes), até porque se tratava de uma feira de sabores. Procurámos o pavilhão de restauração, onde havia poucos lugares vazios. O primeiro contacto foi decepcionante e a refeição tornou-se um fiasco.
Procurávamos comer alguma coisa regional, mas as opções eram poucas: leitão e picanha. O vinho tinha que ser obrigatoriamente do Alentejo! O leitão não se conseguia comer, estava cru; as batatas fritas eram de pacote e o pão só chegou depois de muita insistência. “Matei” a fome com alguns feijões pretos gentilmente cedidos e partilhados com a mesa ao lado. Manifestei o meu descontentamento e pedi uma factura (que obviamente não me foi passada). A organização da feira devia estar atenta ao péssimo serviço que esta empresa (La Brasa) estava ali a prestar. Além de que deviam apostar em servir os produtos regionais tais como as azeitonas, o fumeiro e o vinho. Esta lacuna também se nota na feita TerraFlor, em Vila Flor.
Não ficámos muito bem dispostos e demorámos pouco na feira. Apesar de tudo, é interessante a aposta no lado de lá da fronteira (ou eles no lado de cá?). O espaço envolvente está muito bem estruturado e o pavilhão da feira mostra coisas interessantes. Afinal ali estavam os verdadeiros sabores, só que já era demasiado tarde!
A viagem continuou em direcção a norte (pela N221); o objectivo era visitar Mazouco. Neste troço quase não existem amendoeiras, a não ser à saída de Freixo até à Zona Industrial.
As gravuras rupestres de Mazouco nunca tinham sido visitadas por qualquer um de nós e, pela sua importância na arte do Paleolítico Superior, em Portugal e na Europa, merecem bem uma visita. As amendoeiras partilham com as oliveiras e laranjeiras, os socalcos entre Mazouco e o rio Douro. Para além da discussão carvalo-carneiro, a beleza da paisagem e a admiração de arte milenar, são um bom convite para uma outra rota À Descoberta das amendoeiras em Foz Côa e da arte do Vale do Côa.
No caminho de regresso, nas últimas casas de Mazouco virámos à direita, seguindo uma estrada (620) que nos coloca num belo miradouro sobre o Douro. Infelizmente as condições atmosféricas já não eram as melhores.
Seguimos à direita (de novo na N221) até à Estação de Freixo e depois à esquerda em direcção a Torre de Moncorvo. Neste troço da estrada até ao Carvalhal ainda há poucas amendoeiras em flor. Entrámos em Carviçais à procura de mais alguns Detalhes em Ferro.
Como não havia muitas amendoeiras com flor, fizemos uma visita ao bar na estação, no Larinho. É um bom espaço para tomar um refresco, ao fim da tarde.
Regressámos à estrada em direcção a Moncorvo. A XXIII Feira de Artesanato está prestes a encerrar. São já 23 feiras e eu visitei grande parte delas. Algumas das presenças são sempre interessantes de observar e saborear como os quadros feitos com escamas de peixe ou casca de alho e as tradicionais amêndoas de Torre de Moncorvo, outras já pouco dizem.
A viagem de regresso a Vila Flor é feita pela N325 até à ponte sobre o Sabor. Depois de se entrar no concelho de Vila Flor, depois da Junqueira, utiliza-se a N215, cheia de curvas mas com boas vistas panorâmicas. Estas são estradas a evitar no dia-a-dia, mas são as ideais para um calmo passeio, em busca de belas Amendoeiras em Flor.

Outras fotografias deste percurso:

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sugestões outoniças em tempo de "sanchas"

Realizou-se no passado fim de semana, em Torre de Moncorvo, uma jornada micológica, com recolha de cogumelos na zona da serra do Roborêdo e sua posterior observação, identificação e comparação no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, como se pode ver no seguinte link: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008/11/1-passeio-micolgico-organizado-pelo.html

Uma das principais conclusões retiradas deste encontro foi sobre os cuidados a ter na identificação das espécies comestíveis, pois algumas delas podem ser susceptíveis de se confundir com variedades tóxicas e até mortais.

Por outro lado pôs-se a tónica na necessidade de se preservarem as espécies autóctones (não só as comestíveis como as outras), pelo que deve haver uma consciencialização das populações nesse sentido, mantendo os padrões de auto-consumo tradicionais, mas sem uma mercantilização desenfreada, o pode levar ao extermínio de certas variedades. Há ainda alguns cuidados a ter, no sentido da continuidade da reprodução dos cogumelos.

Por exemplo, se "fôr às sanchas" (foto acima), não arranque o cogumelo, mas leve uma faca apropriada para cortar o caule, de forma a que a sua raíz continue na terra; raspe um pouco o caule ou sacuda o cogumelo, para que os esporos caiam à terra e garantam a reprodução futura; é preferível levar uma cesta, pois há sempre a possibilidade de alguns esporos caírem à terra através das fasquias do vime. E, acima de tudo, se tiver dúvidas na identificação de algum espécime, é melhor não o apanhar! Se, por acaso, algum espécime venenoso fôr parar à cesta, é melhor não arriscar e deitar a recolha toda fora, no próprio pinhal, ou onde se tenha realizado a recolha.

Um cogumelo altamente tóxico (e com propriedades alucinogénicas) que pode ser mortal é o célebre "regalgar" (ou "resgalgar"), também conhecido noutras regiões como "incha-bois" ou "rebenta-bois". O seu nome científico é "amanita muscaria", sendo particularmente atraente, pelo chapéu vermelho pintalgado de branco.

Mas se você é mesmo adepto de cogumelos (tem ainda uma outra opção, mais segura porque não comestível) do outro lado do nosso concelho: deixe a serra do Roborêdo, saia da vila, e tome a estrada para Bragança pela ponte do Sabor. Passada a ponte, desvie ao lado da Qtª. da Portela para os Estevais da Vilariça. Passada esta povoação, procure descobrir nesta zona planáltica um belo cogumelo em pedra, esculpido pela natureza, mais precisamente pela erosão eólica. É um curioso monumento natural que deveria ser classificado como tal. Ei-lo:

Fotografia de Paulo Silva

E já que está por estas bandas, aproveite para descobrir ainda esta velha fonte arcada, talvez do século XVII, que em determinado momento foi entaipada:


Fotografia de Paulo Silva

Depois é consigo: tanto pode seguir até à Cardanha ver o relógio de sol que já foi mostrado aqui neste blog (ver etiqueta: "Cardanha"), ou ir até à Adeganha (ver etiqueta "Adeganha"), ou ainda continuar em maré de descoberta e ir até à Póvoa, ou um pouco mais adiante, a pé, espreitar o local da barragem em início de construção. Em breve tudo isto ficará alterado, pelo que é uma última oportunidade para registar o momento presente.

No regresso, se passar pelos Estevais, recomenda-se uma peregrinação à tasca do Vilela, para provar um verdadeiro tinto da região e petiscar qualquer coisa.

É a nossa proposta para o próximo fim de semana.

Texto e fotos de N. Campos (excepto as que vão com identificação do autor, Sr. Paulo Silva, a quem muito agradecemos as fotos enviadas).

quarta-feira, 23 de julho de 2008

À Descoberta de Estevais


No dia 7 de Junho de 2007 fiz uma curta passagem por Estevais. Eram sete da tarde e o sol que pairava sobre Vila Flor, trespassava a verdura da beira da estrada com os seus "sabres" de luz. Alguns pardais, atrevidos e alegres, penduravam-se nas espigas de um campo de aveia perto de cemitério. Os zimbros, abundantes por aqui, ganhavam tamanho, formas dignas de Cervantes, recortadas conta o azul difuso do Vale da Vilariça.
No povoado, tudo era calma. Uma velhinha, com um lenço ainda mais negro do que as suas roupas colocado desleixadamente sobre a cabeça, gozava a paz do entardecer, sentada numa cadeira de madeira.

Do meio de algumas ruínas e casas velhas saiu um jardim! Um jardim repleto de rosas, com cores vivas, daquelas que nem a câmara do Xo_oX regista. Havia tufos de mil e uma flores, de mil e uma cores, do azul carregado, ao branco puro da açucena. Estavam combinados os factores para um quadro de encantamento: luz, cor, silêncio e isolamento.
Captei rapidamente o momento com medo que a pouca luz se deixasse vencer pelo batalhão das cores, tornando-se estas mais saturadas, mas impossíveis de diferenciar no reino das sombras. Vaguei pelo centro da aldeia, qual mariposa tonta, em busca do néctar da vida.
Entrei na pequena capela, cheirava a limpeza recente. O chão granítico favorecia a frescura e as açucenas e malmequeres enchiam o pequeno espaço de perfume e as flores dos vasos cimeiros, artificiais, de inveja. Apesar do ar deteriorado das paredes a capela tem um altar muito bonito. Depois do vermelho e dourado da igreja da Cardanha, venho encontrar aqui o azul e o dourado, que não é uma pior combinação.

Ao centro está Nossa Senhora. Parece-me Nossa Senhora do Rosário que me lança um olhar de surpresa e de agradecimento. Surpresa pela minha presença neste local singelo e distante, agradecimento pelo meu respeito e veneração.
Segui em direcção à igreja, onde se venera S. Ciríaco. Admirei o seu campanário com pináculos e uma cruz ao centro. Admirei as suas linhas singelas de igreja do século XVIII, com alterações recentes, com o sol a iluminar o frontispício, que se elevava acima do mundano circundante. Continuei em frente. Entre algumas casas novas e palheiros com cheiro a estrume, cresciam mais algumas açucenas. Sentei-me num muro semi-destruido admirando a Criação. Só um grupo de privilegiados podem viver com tanta paz. Só um grupo de mais pequeno de eleitos podem parar para admirar e reflectir sobre isso.

Foi envolvido pela melancolia da magia das oito horas da tarde que cheguei ao Miradouro de S. Gregório. O silêncio era tanto que o obturador da máquina parecia um trovão! Era a hora de recolhimento e introspecção. Senti-me ganhar asas e parti por sobre o Sabor de encontro ao do Reboredo. Escorreguei pela cintilação da encosta e molhei os pés na Foz. Nadei no brilho das folhas das vinhas das Cabanas e desmaterializei-me, vale acima, perdendo-me numa brisa que subia a Serra de Bornes.

Entrei no carro, e, lentamente, regressei a casa, com medo de perturbar a harmonia do vale que, pouco a pouco se entregava à sombra, rendido, enfeitiçado pelos últimos raios de sol que douravam as espigas na beira do caminho.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ainda sobre a Vila Velha de Santa Cruz da Vilariça




Poema de Henrique de Campos (1990), sobre fotos de Nelson Campos.

Caminho Antigo e Ponte do Sabor

".........................olhando ao longe a estrada

que vinha de Moncorvo, em íngreme calçada,
entestar com a ponte..."

Ilustrando estes versos de Campos Monteiro, aqui fica uma fotografia dos anos 50, onde se vê ainda a casa dos cantoneiros da J.A.E.. (do lado direito) e uma outra, em xisto, que segundo a tradição foi estalagem dos almocreves. Ambas as construções foram demolidas pouco antes da construção do troço do IP-2 entre o Pocinho e esta ponte, no final dos anos 80. A partir da casa dos cantoneiros e subindo a encosta, vê-se ainda o antigo caminho medieval, em uso até aos anos 30 do séc. XX, e a que fizemos menção no "post" anterior.

Fotografia dos anos 50 do séc.XX. Autor Engº Gabriel Monteiro de Barros (Arquivo PARM/MFRM)

Para melhor se compararem as diferenças, aqui fica outra fotografia (2006), antes das obras actuais (ver fotos de Aníbal Gonçalves, no "post" de 14.06.2008):


Ponte do Sabor, vista do mesmo ângulo da anterior. Foto de Rui Leonardo, 2006

Ainda uma vista do mesmo lado, durante uma cheia. Foto de N.Campos, 25.11.2006

O alardo da Vilariça

"... e este foi o mais formoso alardo
que até ali em Portugal fôra visto.
Fernão Lopes - "Chronica de D. João I"

N'essa primaveril manhã de Pentecoste,
d'el-rei D. João Primeiro a fatigada hoste
acampara no plaino à beira do Sabor.
Temendo uma surpresa, el rei mandara pôr
esculcas na colina, olhando ao longe a estrada
que vinha de Moncorvo, em íngreme calçada,
entestar com a ponte. A rude soldadesca,
dos álamos à sombra apetitosa e fresca,
descansava da marcha abrupta da montanha.
............................................................................ (continua)

- Campos Monteiro, Musa irónica, Porto, 1924 (2ª ed.)


Este excerto de um poema do escritor moncorvense Campos Monteiro (ver "posts" anteriores, de autoria de Rogério Rodrigues) baseia-se num episódio relatado pelo cronista Fernão Lopes, que foi o encontro das hostes de D. João, Mestre de Avis, e de D. Nuno Àlvares Pereira, algures nos campos da Vilariça (em Maio de 1386), já depois da batalha de Aljubarrota, a qual se deu, como é sabido, a 14 de Agosto de 1385. Aqui se realizou, no dizer do cronista, "o mais fermoso alardo" que até então se vira em Portugal.

Um "alardo" era um exercício de tropas em parada, de infantaria e de cavalaria, tendo reunido, neste caso (e segundo Fernão Lopes) cerca 4.500 lanças. Deveria ter sido, de facto, um espectáculo formidável, com as cores dos pendões, das aljubas, os loudéis, e o reluzir das armaduras, dos elmos e das pontas das lanças, brilhando ao sol... Como é óbvio este "espectáculo" tinha também o seu quê de propagandístico, procurando afirmar uma nova realeza e uma nova dinastia (a de Avis).


Vista do vale da Vilariça (à direita) a partir do miradouro de S. Gregório. À esquerda, o morro da Vila Velha/Santa Cruz da Vilariça

Não sabemos o exacto local do alardo, mas não seria de admirar que fosse nas imediações de Santa Cruz da Vilariça, que nessa altura já era uma povoação fantasma. Em todo o caso, imaginamos que se deve ter povoado pelo menos por esse dia, tal como os montes em redor, com as gentes de Torre de Mencorvo e de Vila Frol (que tinham tomado o partido do Mestre de Avis), assim como de todas as aldeias cercanas, para assistirem, do alto, a um tão grande e belo (e bélico) acontecimento!... Além disso, nos pontos altos, certamente que se postaram "esculcas" (sentinelas de atalaia), como imaginou Campos Monteiro. Onde a imaginação do escritor falha é no pormenor da ponte, que não é credível que já existisse, pois é do século XVI.

De Torre de Moncorvo à ponte do Sabor vinha ter, de facto, um caminho antigo, seguramente medieval, utilizado até aos princípios do séc. XX (antiga Estrada Real), que atalhava para o rio depois do "Sobreiro da Meia Légua". Aqui havia ainda um atalho, conhecido por Atalho das P..., o que não deixa de ser curioso como tão longe se postavam no seu "ofício" as mulheres mundanas, pois é local muito afastado, quer de Santa Cruz da Vilariça, quer de Torre de Moncorvo. Ou o topónimo/designativo, terá tido outra origem/sentido?

No início dos anos 80 do séc. XX, na parte terminal do caminho, da margem esquerda antes da ponte, havia ainda um troço de calçada, destruído pelo IP-2. O mesmo IP-2 que se prepara agora para desfigurar o lado Poente do cabeço da Vila Velha e sabe-se lá mais o quê... (esperemos que do mal, o menos).

sábado, 14 de junho de 2008

Entre a ponte do Sabor e as ruinas da Vila Velha


O desafio de partir À Descoberta do concelho de Torre de Moncorvo, não tem nada de difícil, só é necessário partir. Desta vez escolhi dois motivos bastante próximos: a Ponte do Sabor e as ruínas da Vila Velha de Santa Cruz.
A tarde não estava muito convidativa. Quem vive ou já viveu em Moncorvo, sabe o que significa fazer calor, nestas paragens! Talvez por isso, o Rio Sabor já era frequentado por um número considerável de pessoas, a pescar, a brincar na água, ou mesmo a apanhar sol, que apesar de encoberto, cada vez que se mostrava, “queimava” a pele.

Parei o carro mesmo junto à ponte do Sabor, na EN325. Esta foi intervencionada recentemente, ao nível dos pilares, do tabuleiro, da pavimentação e dos passadiços marginais, estando agora com um aspecto impecável. A ponte mostrava já o peso da idade, apresentando mesmo algum risco ao trânsito. O seu futuro é incerto. Não “encaixa” no traçado do IP2, e, com a tão badalada Barragem do Sabor, corre o risco de ficar submersa. Na estrada, entre a ponte e a Quinta da Portela está marcada nas rochas, a cal, a cota 139 metros. Terá essa marcação algum significado? A ter, a água chegaria muito perto das casas da Quinta da Portela!

Desci ao rio a jusante da ponte. Um casal de aves de rapina fazia um gracioso bailado e enormes peixes debatiam-se nas águas pouco profundas sobre um banco de areia ali próximo. Penso que a época da desova já passou!
Disparei algumas fotografias em direcção à ponte. A sapata dos pilares foi reforçada e todas a juntas estão tapadas. Os sete arcos de volta redonda são desiguais. Há olhais rectangulares sobre cada um dos fechos dos arcos. Os passeios apoiam-se numa cachorrada, como a que existe em algumas igrejas! As guardas são de ferro, novas. As antigas foram substituídas na última interverção. A ponte foi construída na idade média, mas foi alterada no Séc. XIX. O seu aspecto a montante e a jusante, é bastante semelhante, à excepção dos contrafortes do arco central que apresentam reforços, a montante.

Na erva verde da margem do rio encontrei as primeiras flores de fel-da-terra (Centaurium umbellatum), com o seu rosa característico, que encontraria em quantidade no alto do cabeço.
A subida até às muralhas da antiga vila de Santa Cruz da Vilariça, Vila Velha de Santa Cruz da Vilariça ou Derruida, foi penosa. Caí na asneira de ir de calções. Além dos danos causados nas pernas, cheguei ao fim do passeio com quase meio quilo de sementes espetadas nas sapatilhas e nas meias, de cada pé! Apesar de a pujança de Maio e Abril já ter passado, ainda há muitas plantas em flor e rapidamente me esqueci das dificuldades, para começar a desfrutar do passeio. Encontrei muitas borboletas, abelhas, aranhas e toda a qualidade de bicharada. Também o cuco fazia ouvir o seu canto lá para os lados das Cabanas. O perdigão procurava parceira num monte próximo. À medida que ia subindo, ia-se alargando o horizonte e compreendi porque razão o homem aqui se fixou, desde o Séc. XII.

Não foi a primeira vez que visitei estas ruínas, já aqui tinha estado em 1992. Sempre gostei de passear nestas montanhas! Tinha prazer em fotografar os lírios em flor, que aqui abundam. Curiosamente encontrei frutos com sementes de lírio (Iris germanica), estava convencido que apenas se reproduziam por caules (rizomas)!
As ruínas da vila, que além das designações que já disse contou ainda com a de Vila Rica, Mesquita, Roncal e São Mamede, estão situadas num cabeço com 245 metros de altitude, entre a Ribeira da Vilariça e o Rio Sabor. Estranhamente poderá ter sido esta proximidade a tanta humidade que ditou a sua morte, contrariamente à lenda do ataque de formigas, que já tantas vezes ouvi contar.
No início do séc XIII Vila de Santa Cruz da Vilariça, recebeu, de D. Sancho II, uma carta foral que lhe concedia importantes isenções a regalias fiscais e penais. A mudança da população para Torre de Moncorvo deve ter-se dado no final desse século, sendo possível que os dois povoados tenham coexistido.

A localidade tinha muita importância, era sede de concelho na Idade Média, abrangendo parte dos actuais concelhos de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Torre de Moncorvo.
Percorri toda a plataforma antes de me dirigir ao ponto mais alto, ao centro. A muralha ainda está bastante preservada, tem vários metros de altura nalguns locais, sendo ainda intransponível. Há pontos em que se distingue mais de uma muralha. A poente são bem visíveis os restos de dois torreões, circulares, que deviam ladear a única entrada. Em vários pontos distinguem-se restos de paredes de casas e de caminhos.

Por fim, dirigi-me ao ponto mais elevado das ruínas. Aqui existem sepulturas escavadas nas rochas, junto do local onde se pensa ter sido a igreja. Ainda se distinguem algumas paredes e encontrei blocos de granito rusticamente aparelhados. Todas as muralhas e paredes interiores são construídas em xisto, por isso chama a atenção a existência de granito neste ponto. Também há argamassa presa a algumas pedras, não sei se se trata de cimento. É um sinal mais do que evidente da existência de uma construção até uma data bem recente. Não me admirava que depois da vila ter sido abandonada, aqui se tenha mantido a igreja, ou uma capela, durante vários séculos.

Já por diversas vezes aqui foram feitas escavações. É uma pena não haver um estudo mais aprofundado deste local. Imaginei-me a participar nas escavações, deve ser muito interessante esse tipo de trabalho. O local está em completo abandono. Cresce mato por todo o lado e, mesmo para aqueles que se interessem em o visitar, não é uma tarefa fácil. Pior do que subir ao local, que pode ser feito por um caminho partindo da Quinta da Portela, é a circulação em volta e no interior das muralhas. Nalguns lugares é mesmo impossível circular.
Do alto do cabeço tem-se uma vista ímpar sobre o vale. Procurei um lanço de muralha mais segura e instalei-me para saborear o final de tarde. Não pude deixar de sorrir com a velocidade com que os veículos circulam ao longo do vale! O som do acelerador a fundo perturba a calma do morro. Que feliz me sinto por poder desfrutar destes momentos de paz!
O sol foi-se encolhendo. A luz subiu pelo Reboredo acima com a mesma calma com que as águas do Sabor se diluíam no Douro, lá ao fundo, na Foz. Os insectos pareciam agitados, tentando aproveitar os últimos raios de sol. Também eu queria aproveitar todos os momentos. Liguei o flash e “persegui-os”, até nos momentos mais íntimos.

Quando só já havia silêncio em redor, desci a encosta, de novo em direcção à Ponte do Sabor.
Não me arrependi das escolhas que fiz para este passeio. Dividi-me entre a ponte e a vila, entre a água e a montanha, entre a história e a suposição, entre a beleza das pequenas formas de vida e a imensidão de um vale que nos surpreende e encanta, sempre que paramos para o olhar.

domingo, 8 de junho de 2008

Á descoberta da Adeganha

Hoje (dia 7), a Descoberta levou-me até à Adeganha. Não podia ter feito melhor escolha. A freguesia da Adeganha é muito grande e cheia de história e estórias. Embora tenha passado em várias povoações, é nela que vou centrar hoje a atenção.
Apesar de situada a menos de 500 metros de altitude, quando se parte do Vale da Vilariça, a pouco mais de 150 metros de altitude, parece complicado chegar a Adeganha. Apresentavam-se-me duas alternativas: subir a N215 que passa na Junqueira, Noselos, apanhar a N611 na Eucísia, Gouveia, Cardanha e depois Adeganha; a segunda alternativa era perto da Ponte do Sabor, mais concretamente na Quinta da Portela, apanhar a mesma N215, subindo a Estevais, Cardanha e depois Adeganha. Distâncias à parte, porque de automóvel isso importa pouco, optei pela primeira hipótese. Não me arrependi. A paisagem é fantástica e é das melhores estradas panorâmicas do concelho. É pena que o troço de estrada no concelho de Alfandega da Fé, logo depois de Gouveia, quase nem mereça a denominação de estrada, de tão deteriorada que está.

Não me demorei muito no caminho, mas fiz algumas paragens rápidas, para tirar fotografias.
Quando cheguei a Adeganha fiquei surpreendido por ser um aglomerado habitacional tão pequeno. . Já estive uma vez na Adeganha, foi há mais de 15 anos, pouco me recordo. Parei antes de chegar à aldeia, num alto, junto ao depósito da água, na Rua das Cortinhas. Fiz uma “radiografia” rápida, marcando mentalmente alguns pontos a visitar.
As principais ruas estão muito limpas, calcetadas e a circulação é muito fácil. Parei no Largo da Capela, junto à Capela de Nossa Senhora do Rosário, onde há duas amoreiras carregadinhas de amoras negras.
Só a visão da capela, já justificava a visita. Na frente há um pequeno jardim, com gradeamento. Entre várias espécies de plantas aí existentes, há duas roseiras carregadinhas de flores, que dão um ar de subtil beleza. Mas há também a sineira, em arco de volta perfeita e os bonitos pináculos cilíndricos.

A minha vontade era descer rapidamente em direcção à igreja, mas controlei o impulso e segui pela Rua da Escola. A escola está, como tantas outras, praticamente abandonada, à espera de alguma utilização (a de Gouveia, já afecta ao turismo, não tinha melhor aspecto). Respirei fundo e subi pela Rua do Outeiro, a um cabeço (482 metros) de onde se avista toda a aldeia e muitos quilómetros de paisagem em redor. As condições atmosféricas não eram as que gosto para a fotografia, mas era para isso que eu ali estava.

Desci à aldeia e segui para a igreja, Monumento Nacional. O primeiro contacto trouxe-me à memória a Igreja de S. Salvador, no Castelo de Ansiães e a Igreja de Santa Maria, no Azinhoso, Mogadouro.
Depois de uma vista na fachada principal, procurei enquadrar de perto o baixo-relevo representando três mulheres, conhecido pelas Três Marias. Expostas a milhares de olhos desde o Séc. XII, deram origem a uma das mais curiosas histórias existentes no concelho de Torre de Moncorvo. A ideia de que duas das irmãs meteram a terceira numa fogueira, como vingança por ela fazer batota e ganhar todos os jogos de cartas, gritando “arde e ganha”, não deixa de ser curiosa. Não imagino três irmãs a jogar às cartas, no Séc. XII. Partilho da ideia de muitos outros, de que o que está representado é um parto. As duas “Marias” dos lados seguram a terceira Maria, que está de pé, a dar à luz. São visíveis pormenores da vagina e o criança é representada dentro de uma bolsa. Também a figura da criança no canto superior esquerdo tem uma explicação: tem a água e o pano necessários para o parto. O parto, é um momento doloroso e assustador para muitas mulheres. O medo leva-as a recorrer ao divino. Recordo-me de ver entre Mogadouro e Macedo de Cavaleiros uma capelinha da Senhora do Bom Despacho! Terá esta representação, ido ali parar por uma promessa de alguém que passou por grande aflição?
Gastei horas a registar os pormenores dos trabalhos em granito que existem em redor da igreja! Não sou entendido em história mas parece-me que o grosso da construção é do estilo românico notando-se pontualmente outros estilos. O portal é gótico.

É interessante olhar um a um os cachorros que sustentam a cornija. Representam rostos humanos mas também porcos, aves, ovelhas e touros. Há um total de quatro arcossólios com túmulos, três no alçado Norte e um no alçado Sul. A decoração das duas portas laterais também é muito interessante. Há ainda outros elementos decorativos que despertam a atenção: no alçado norte há um baixo-relevo que me parece representar um monge (há quem diga que é um guerreiro); no alçado Sul há um baixo-relevo com duas formas antropomorfas, uma delas deitada, outra ajoelhada; nos alçados laterais e fachada existem abaixo da cornija blocos de pedra salientes designados mísulas, algumas com feições antropomórficas, outras com motivos vegetais. Nestes blocos apoiariam traves que suportariam uma estrutura, criando uma área coberta, que serviria de protecção aos peregrinos que aqui pernoitariam no seu caminho para Santiago de Compostela.

A exploração do interior carece ainda de mais tempo. Apesar da simplicidade e da talha dourada ser muito posterior ao edifício, não faltam os motivos de interesse. Os dois altares que ladeavam o arco triunfal da capela-mor foram retirados, deixando à vista um conjunto de belos painéis de frescos pintados nas paredes.
No altar-mor existe de cada lado, um painel pintado representando S. Martinho e S. Lourenço.
Surpreendeu-me a forma geométrica de alguns elementos decorativos usados nas pinturas das paredes laterais e por detrás do altar-mor! Também atrás do altar, está escondido um fresco representando Santiago Maior mais conhecido por Santiago de Compostela.
No chão da igreja é bem visível uma sepultura datada de 1660.

Embriagado com esta viagem à história, abandonei a igreja e dei uma última volta pela aldeia: Rua da Lagareta, Rua da Capela, Rua do Eivado, Largo da Barreira, Rua Abílio Mateus, Rua Bernardo Magalhães… e um conjunto de becos e travessas. Gostei das placas identificativas das ruas: rústicas, artesanais, completamente enquadradas no ambiente.
Saí de Adeganha com a intenção de ir ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário. Depois de percorrer um longo caminho, pareceu-me que estava a descer demasiado em direcção à Junqueira. Achei que me tinha perdido e voltei para trás. Percebi depois que estava no caminho certo. Tenho pena de não ter ido ao santuário. Seria uma visita mais completa à Adeganha e também seria uma oportunidade de ver o Vale da Vilariça de um lugar privilegiado. Ficará para outro dia.

Da Adeganha segui para a Cardanha, depois para Estevais, À Descoberta do concelho de Torre de Moncorvo, terminando o dia no Miradouro de S. Gregório. Aprovei os últimos raios de sol, saturados de laranja, para fotografar a Foz, o Vale, o céu até o próprio sol, quando este esmoreceu.
Foi um tarde cheia de “descobertas”.

domingo, 1 de junho de 2008

Vigiando o vale

No Dia da Criança, tentei tirar os meus dois rebentos da frente dos ecrãs que os (nos) escravizam. O passeio foi longo, mas um dos momentos mais entusiasmantes foi quando fizemos uma incursão, monte a dentro, junto a Cabeça de Mouro. A paisagem que se avistava era magnifica e não resisti a tentar captar toda a imensidão numa só fotografia. A tarefa foi árdua, eis o resultado.

domingo, 25 de maio de 2008

1 dia passado em Moncorvo

No dia 24 de Maio foi dia de - À Descoberta - no concelho de Torre de Moncorvo. A desculpa foi a sessão de Birdwatching, organizada pelo Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, mas, o meu passeio, começou antes e prolongou-se até ao final da tarde, quando os últimos raios de sol se infiltraram nas encostas da Vilariça.
Tinha esperança que o dia não trouxesse chuva, a fim de permitir a realização das actividades previstas. Ao início da manhã havia muitas nuvens, mas os raios de sol iluminavam a Junqueira que parece atraí-los. Encostada entre o vale e as fragas, parece atrair a luz que a torna visível mesmo de longas distâncias, como quando vou à aldeia abandonada do Gavião, em Vila Flor.
Não me demorei muito, às 10 horas estava a chegar ao Museu do Ferro onde iria decorrer o encontro ornitológico. Já se montava no pequeno jardim que existe nas costas do museu, uma rede para apanhar aves.

Para ser sincero, e apesar da ornitologia ser uma das minhas paixões desde sempre, não costumo frequentar encontros deste género. Às vezes é por dificuldade em conciliar interesses, outras vezes é porque exige despesas que não estou disposto a suportar. Para quem estiver interessado neste tipo de actividades, a Associação Aldeia, costuma organizar, na região, encontros sobre este tema.
A sessão foi orientada pelo Eng. Afonso Calheiros e Meneses. Com o apoio de uma apresentação electrónica mostrou as principais espécies de aves agrupando-as por habitats. O grupo de pessoas presentes, muito heterogéneo em idades, mostrou grande interesse e interveio sem grandes formalismos.
A localização do sala não podia ser melhor, porque, à medida que os slides iam passando, chegavam até nós os melodiosos cantos de estorninhos (Sturnus vulgaris) e de rouxinóis (Luscinia megarhynchos), que desafiavam em riqueza tónica e melódica todas as espécies de aves que povoam os quintais em redor de Moncorvo.
Seguiu-se depois uma amostra do material usado na anilhagem de aves, feita pelo sr. Joaquim Norberto dos Santos, que foi mesmo levada à prática, com a anilhagem de um chamariz ou milheiro (Serinus serinus), que entretanto ficou preso na rede colocada. Foi grande o entusiasmo nesse momento.
O almoço foi no restaurante O Lagar. Escolhi este restaurante porque é um ambiente familiar para mim, onde sempre gostei de comer e onde sou muito bem atendido. Acompanharam-me no almoço alguns familiares e amigos, de Moncorvo. Eu pedi entrecosto, que como neste restaurante há mais de uma década, e não me arrependi. Acabei por deixar esquecidas as batatas fritas e servi-me de arroz de feijão, da travessa destinada a outra pessoa. Adorei o almoço.
Para facilitar a digestão e enquanto não chegava a hora para o passeio pedestre pela Serra do Reboredo, fiz uma visita à igreja, acompanhando os meus familiares que nunca ali tinham estado.

Caiu uma boa bátega de água, mas não foi suficiente para demover os afoitos observadores de aves, que, sem medo, partiram serra acima. Com o Eng. Afonso na parte da flora e fauna, e o Dr. Nelson Rebanda na geologia e história, cedo se percebeu que não ia ser um simples passeio de observação de aves.
Não vou descrever em pormenor o que se passou, porque, em contacto com a natureza, todos os sentidos são estimulados. É difícil descrever os sons, as cores, os odores, a euforia ou a fadiga.
O percurso seguiu pelo limite inferior da Mata Nacional do Reboredo, passando pela capela da Senhora da Conceição em direcção à Quinta do Mendes. Cortámos à esquerda em direcção à Quinta Diogo Vaz e descemos depois à estrada N220 perto do convento, no Larinho. Apanhámos depois a Ecopista junto à Quinta da Água, de regresso a Torre de Moncorvo. Percorremos aproximadamente 8 quilómetros.

Já em Torre de Moncorvo, e depois do grupo se ter separado, aproveitei ainda para fazer algumas fotografias pela vila. A chuva que nos atormentou quase o dia todo, deu lugar a um céu com boas abertas de uma luz quente num céu azul.
De regresso a casa, ainda me senti tentado a uma rápida passagem na Foz do Sabor a admirar a calma das águas a invadirem o Rio Douro, num cenário magnífico.
Foi um dia em cheio: deslumbrantes paisagens; aves de rara beleza com cantos mais doces que os melões da Vilariça; uma almoço memorável; uma mistura de estações com oscilações constantes entre a Primavera e o Inverno; uma igreja omnipresente, de que de certeza voltaremos a falar. E, para temperar tudo isto, a companhia de amigos que partilham o mesmo gosto e respeito pela natureza quer sejam aves, plantas ou rios.

O mapa do percurso pedestre pode ser visto aqui.
Mais reportagem no Blog do PARM.

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