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domingo, 25 de outubro de 2009

A Tuna do Peredo

A Tuna do Peredo

Recorri de novo ao meu baú informático e fui encontrar alguns elementos dispersos sobre a Tuna do Peredo que tocou e encantou ( excepto em Felgueiras onde foi corrida a nabos) as várias aldeias do concelho ( sobretudo Açoreira e Maçores) Era seu maestro Zé Martins que também organizava sessões de teatro no Peredo num antigo palheiro decorado com colchas. Muitos dos músicos da Tuna iam trabalhar para o Zé Martins, na Azenha, no Rio Douro e regressavam ao Peredo a tocar. Todos tocavam por música. Aqui ficam alguns nomes ( com alcunhas) que fui recolhendo: Artur Rodrigues (Carriço) tocava guitarra e cantava; Fernando Gil, guitarra; Manuel Quitério, bandolim; Mário Ferreira ( Panato), meio irmão do professor Ferreira, irmão da Ti Isolina, violão; Ângelo Campos (Chocalho); professor Ferreira, violino; António Gil( da Constância); António Rodrigues (Carró), bandolim; José Pestana ( Grilo), guitarra; António Dias (Russo).
Estes alguns dos nomes. Doutros, desconheço o instrumento que tocavam. Gente mais velha do Peredo pode completar esta memória.
Recolhi também alguns versos, ainda que incompletos, que a Tuna cantava. Aí vai um exemplo:

“Eu tenho um chapéu novo
Que me custou um cruzado
Não tem copa nem tem aba
Está todo roto de um lado.

Tenho uma camisa nova
Coisa assim nunca se viu
Nem tem mangas nem colar
A fralda já lhe caiu.


Tenho um casaco novo
Do mais fininho cotim
Remendo sobre remendo
O fato é todo assim.”

Havia ainda mais versos sobre meias, calças e sapatos mas que não consegui recolher.
Por último uma despedida que me é muito cara. O Fernando Gil, que era gago mas cantava muito bem, pai do nosso estimado Gil T., um dia partiu para o Brasil, onde esteve muito pouco tempo. E fez uma serenata à sua namorada, depois mulher, ainda viva, a Grata, com estes versos que não sei se são da sua autoria:
“Um adeus de despedida
É a coisa mais sentida
Que comove o coração.
Dizer adeus é tristeza
Pois nunca se tem a certeza
Se voltarei cá ou não.”

domingo, 3 de maio de 2009

Memórias do Peredo

Como, por motivos vários, certamente respeitáveis, a colaboração no blogue tem escasseado e porque eu, pela primeira vez, nos últimos tempos, tive um fim de semana prolongado, mais ou menos descansado, envio alguns textos que, porventura, não têm interesse, mas são reflexões à beira ou no interior de duas crises: uma, a visível (economia, trabalho, desemprego, etc); outra, a invísível, a interior, as alterações no relacionamento individual e nas mutações sociais, à beira da explosão, não estivéssemos nós na Europa e no euro. Portanto, que a memória nos sustente, não como nostalgia, a que sou avesso, mas como ferramenta para não desistirmos. Assim, um texto pot pourri, aqui vai:

Faltava só mais um monte para chegar a casa. O meu avô trazia-me bolachas Maria e uma bola listrada de borracha de Ceilão. Outras vezes tomávamos a barca do Douro para a outra margem do rio. "Ó da barca" era o grito vicentino para a barca chegar puxada por uma corda que unia as duas margens e era manejada pelo barqueiro. Cabiam vacas e homens, todos junto na barca. Agora em Maio oferecia-se, como uma bênção, um gesto de apaziguamento e boa vontade, um ramo enfeitado de cerejas, as primícias. As mulheres já mondavam as ervas daninhas no esplendor das papoilas vermelhas, com o trigo já alto e grado. E as jovens solteiras, por honra e vergonha, quando falhava o açafrão abortivo, apareciam a flutuar num poço, com os longos cabelos espalhados como se foram nenúfares negros (histórias que ouvia à minha avó, natural de Ligares).

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Pode haver liberdade sem justiça, mas não pode haver justiça sem liberdade. Às vezes, apenas instantes de felicidade, tamanha a intensidade e a incandescência, que mais parece um momento de eternidade.
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25 de Abril outro ------A minha experiência como professor. A tomada da Câmara pelos meus alunos. Iminência de ser preso. Amargos eram os dias que antecederam ABRIL. A cobardia colectiva. Mas é no estrume que nasce, por vezes, o crisântemo mais belo. O ARNALDO, um homem conservador, generoso nunca deixou de se sentar à minha mesa , não pensando sequer nos prejuízos que daí lhe podiam advir. E hoje estou farto de tantos democratas. É aqui que regresso. Tão sofrido que as cicatrizes reabrem em ferida que ainda não consegui curar. E vem-me à memória um episódio de nojo. Um aluno, informou, como se tivesse feito um acto heróico: "O R. é filho de um pide". Não consegui responder. Dei um grito que se ouviu em toda a escola. E pela primeira e única vez expulsei um aluno da sala da aulas. O episódio perturbou-me durante muito tempo. A denúncia, a bufaria, estão no nosso ADN político e social há séculos. Não há nada a fazer.
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O sábio não é o que já muito sabe. É o que continua a aprender.
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Palavras-------por vezes pedras pintadas de ternura.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Peredo: segundo olhar

Agora que consegui "desviar os olhares" para Peredo dos Castelhanos, mostro outra característica da aldeia (não difere muito de outras do concelho): as casas são muito humildes, feitas de xisto. Nalgumas pedras encontramos sinais enigmáticos, marcas de gerações. Na porta lateral da igreja há uma mensagem escrita já bastante deteriorada. Alguém a decifrou? Porque está ali?

terça-feira, 24 de março de 2009

Olhares (Peredo dos Castelhanos)

Num momento em todos parecem tão inspirados (será da Primavera?) apeteceu-me tentar "trocadilhos" com esta fotografia tirada em Peredo dos Castelhanos. É que também há poesia no olhar, de quem fotografa, e de quem vê.

Trata-se do Alberto Mandelo, ex-emigrante, com casa logo ao cimo da aldeia, com pequena piscina e grandes horizontes vistos do seu quintal, de regresso a casa em hora crepuscular, a hora do Peredo, um inexorável entardecer da gente.
Tudo é difuso, até as duas presenças ao longe, como que desfocadas na névoa do tempo em que vai mergulhando o Peredo.
Conheci-o de novo, ao Alberto Mandelo, um mouro de trabalho numa servidão quotidiana de que se libertou, como tantos outros, rumando em direcção à França.
Mas nesta serenidade de tempo morto em que só a camisola é cor e os alforjes claridade, observe-se a coexistência da besta com o tractor, o xisto com o poste de electricidade, a janela de persianas brancas, o automóvel e a beleza crua da árvore despida à espera da Primavera (a única que se renova naquela geografia temporal).
É todo o universo da aldeia numa fotografia a que só falta o cão. O rosto olha mais para dentro do que para a parede escura. Como se não tivesse outro horizonte além dele mesmo.
Só o humano tem vida e cor nesta usura do tempo. Um tempo parado. Um tempo à espera que o tempo acabe.
É um olhar melancólico sobre a minha aldeia. Um olhar de que comungo.
Rogério Rodrigues

domingo, 8 de março de 2009

Peredo dos Castelhanos, 20 de Fevereiro de 74 (cont.)


Quando postei a foto da escola do Peredo, com texto do Rogério, era minha intenção, depois de alguns comentários, postar outra foto e o texto (reportagem) do Assis. (Além dos comentários, foi postado um poema de Carlos Santos e duas fotos a cores do Aníbal) Ambas fotos são inéditas, não saíram no “República”. A reportagem “Moncorvo, Zona Quente em Terra Fria”, com o subtítulo “Os Vizinhos Ajudam os Vizinhos a partir a Amêndoa no Inverno”, está no blogue, na pasta do Peredo. Os comentários ao primeiro post reflectem as várias visões que nós temos de uma situação. Isso é um dos objectivos do blogue.“Não pretendemos impor as nossas opiniões, mas simplesmente expô-las: não pedimos a adesão das pessoas que nos escutam; pedimos só a discussão: a discussão longe de nos assustar, é o que mais desejamos”, já dizia Antero nos finais do século XIX.
Têm a palavra alunos e ex-alunos, professores e ex-professores da nossa região.


sexta-feira, 6 de março de 2009

Detalhes em Ferro 3

Nem só o que é velho e ferrugento chama a atenção do fotógrafo (embora isso aconteça com muita frequência). Os Detalhes em Ferro da fotografia (ferro fundido e ferro forjado), foram captados em Peredo dos Castelhanos num portão muito, muito recente.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Peredo dos Castelhanos, 28 de Fevereiro de 2009

A minha escola era bonita.
Foi nela que descobri as palavras
Os números, os jogos, as cores,
Amigos, amigas ... amores.
Nela não havia tempo,
Porque o tempo era infinito.
Nela não havia espaço
Porque era todo o espaço
Necessário para ser feliz.
Havia flores todo o ano!
No Inverno, de amendoeira,
Mas também de lírios, lilases,
E mil pétalas de roseiras.
Hoje a minha escola está bonita
Brilha de tão caiada
Mas o silêncio é grande...
Ninguém fala, ninguém corre,
Falta-lhe a garotada.
Fecho os olhos...
Lá estão eles, muitas faces a sorrir!
Há muita vida na escola,
Sempre que eu quiser cá vir.
A minha escola é a mais bonita do mundo.

Carlos Santos

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Amendoeiras em flor, no Peredo dos Castelhanos

Amendoeiras em flor no termo do Peredo dos Castelhanos, com o rio Douro ao fundo, vendo-se no horizonte o monte Meão e a fragada da Lousa:


Foto de Luís Lopes (direitos reservados) - clicar sobre a foto para a aumentar

Castelo Melhor e Almendra (que em castelhano quer dizer "amêndoa") na margem esquerda do Douro (concelho de Vila Nova de Foz Côa) e o Peredo dos Castelhanos na margem direita (concelho de Torre de Moncorvo), podem ser considerados o "solar da amendoeira" no vale do Douro. Não se sabe se é uma árvore endémica ou se foi aí introduzida (pelos árabes?), sendo certo que o topónimo Amíndula ou Almendra (=amêndoa), já existe desde, pelo menos, o século XI. A partir daqui esta cultura terá irradiado por todo o vale do Douro e seus afluentes, sobretudo no século XIX, depois da crise da filoxera ter atingido os vinhedos.

Pormenor de flor de amendoeira. Foto de Luís Lopes (direitos reservados)


Desde os inícios do séc. XX tornou-se uma cultura altamente rentável, até ao final da década de 70, período em que entrou em decadência devido à queda dos preços da amêndoa, motivada pela concorrência estrangeira, sobretudo da Califórnia.
A partir dos anos 90 os velhos amendoais tradicionais foram sendo substituídos pelas vinhas (esta é uma zona "de benefício" da Região Demarcada do Douro), como a foto de cima documenta, embora algumas amendoeiras tenham sido poupadas pelos lavradores, enchendo de encanto e beleza os nossos campos, nesta época do ano.
Esperemos que nunca as amendoeiras desapareçam do Peredo, pois esta foi a freguesia com maior produção de amêndoa do concelho de Torre de Moncorvo, facto que muito contribuíu para um certo desafogo dos lavradores, que, desse modo, puderam "pôr os filhos a estudar", nos anos 60 e 70. Este facto, a par das remessas dos emigrantes, muito contribuíu para que desde cedo se notasse uma maior escolarização e um certo número de licenciados, numa aldeia (e freguesia) relativamente pequena e aparentemente pobre.
Nota: as fotos que ilustram este "post" foram tiradas pelo Dr. Luís Lopes, no passado dia 21.02.2009, durante uma montaria ao javali no termo do Peredo dos Castelhanos - aqui fica o nosso agradecimento pela sua cedência.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Peredo dos Castelhanos, 20 de Fevereiro de 1974



Esta fotografia não fere pela nostalgia. Magoa pela resignação. Vejam o ar da professora ou regente ou mestra. A única luz, e muito diluída e filtrada, é a que vem de fora, quase metáfora do tempo que então se vivia. Ou da bata branca das crianças, um prenúncio de futuro (?). Não há um sorriso sequer. Esta fotografia não podia ter cor.
Foi tirada faz exactamente hoje 35 anos. Ilustra uma reportagem do Assis para o República. Lembro-me que fui com ele e com o Lelo à minha aldeia, Peredo dos Castelhanos. É uma reportagem que deveria ser recuperada. Fica ao cuidado do Lelo.
Reparem no ar triste da senhora, vestida de escuro, com um penteado de quem nunca frequentou a cabeleireira, com uma parede branca quase despida, apenas habitada por uma imagem da Nossa Senhora, também ela de ar sofrido e o crucifixo de um Cristo martirizado. Apenas um ramo de flores na secretária.
Esta fotografia respira uma profunda tristeza. A mestra confundia-se com qualquer mulher de aldeia. A única diferença é que sabia ler e tinha permissão de ensinar.
Ampliando a fotografia, atente-se nas frases escritas no quadro, só possíveis e inteligíveis num meio rural, familiares à cultura daquelas crianças: “O ninho do passarinho”; A mãe da Chica tira a palha do palheiro”; “Ela apanhou o livro que caiu no chão”; “Amanhã vou à horta colher uma couve”; “O coelho foi morto pelo caçador”.
Nas carteiras ainda há tinteiros para molhar o aparo. Contam-se mais de uma dúzia de crianças, na maioria filhas de emigrantes ao cuidado das avós. A escola, esta, fechou. O Peredo já não tem escola nem crianças.
Reparem nas mãos da mestra, tão recolhidas e recatadas, na tristeza que se revela no seu olhar para a câmara. Tão conformada e resignada! Estávamos a poucos meses do 25 de Abril. O que terá sido feito destas crianças, todas elas hoje com mais de 40 anos?


Rogério Rodrigues

sábado, 22 de novembro de 2008

Só se lembra dos caminhos velhos...

Quando estudava em Évora nos inícios dos anos 60, tinha que vir de comboio; Évora , Barreiro (barco), Lisboa, Porto, Pocinho e finalmente o Alto da Ventosa. Em Fevereiro de 74 ainda era uma aventura africana ir da capital do império a Moncorvo. Agora, abro a net e vou à Moncorvo da minha infância e de sempre. Atrás do adro, quando o largo ainda era um terreiro e brincava à d'Artagnan com o sabre do guarda Redondo, depois de o Sr. Moreira passar mais um filme de capa e espada, no cine-teatro, o quartel da guarda era o meu castelo. Hoje é a fortaleza do ferro. E como também a casa onde nasci é hoje o Centro de Memória, tudo são razões para eu dar o meu contributo.

E como só se lembra dos caminhos velhos quem tem saudades da terra , envio uma reportagem do Assis Pacheco, de 20 de Fevereiro de 74, onde fala da partidela da amêndoa no Peredo dos Castelhanos, a terra do Rogério.






Leonel Brito

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Peredo dos Castelhanos (1)

Quando tropeçamos nas pedras do tempo nem sempre nos magoamos. A entrada de Moncorvo, vindo das Aveleiras, com o cavaleiro, em ladrilhos, a anunciar o nitrato do Chile, quase sempre me remete para a minha infância e para a casa dos meus avós na aldeia, casa que hoje não existe, demolida e transformada em mais uma nova e atípica casa de emigrantes. Era térrea e dela via as eiras onde, descalços, jogávamos a bola, entre cardos secos e algumas agudas pedras, enquanto a “trilhadeira” e os “rolheiros” de trigo não ocupavam aquele nosso espaço privilegiado da infância. Perto, havia o tronco, onde o velho Marcelino de Urros, alto, esguio, de preto vestido, mas muito dado aos copos valhó Deus, ferrava as bestas e os homens jogavam ao ferro, com um caldeiro de água fria ao lado. Eram conceituados os de Maçores neste jogo, de força e rigor. Os homens jogam também à raiola com patacos pesados e já cobertos da patina do tempo. E em Setembro ripava-se o olmo para a vianda do porco. O chilrear dos pássaros irritava o silêncio pacato e quente do crepúsculo. Éramos porventura felizes? Porventura sim porque os nossos desejos e necessidades eram muito limitados. A minha avó fazia-me a marrafa em cabelo crespo e rebelde. Tínhamos a mão afoita à pedra e sabíamos onde se escondiam os ovos das perdizes. O Ângelo Chocalho guardava, com desvelo sem fim, o pinheiro manso junto à Nossa Senhora da Glória, não fosse a canalha roubar os pinhões do patrão. O ti Ifigénio, um santo homem, levava-nos com ele a guardar as ovelhas. Mas vistos hoje os dias à distância de meio século, a miséria era muita. Corrijo, não digo miséria. Prefiro antes pobreza.

Pedro Castelhano

(Em breve os próximos capítulos)

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