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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Abel Gomes

No seguimento do "post" anterior, com excertos da "Caderneta de Lembranças", em que se mencionava o nome de Abel Gomes, o nosso Amigo e colaborador Vasdoal, enviou-me estas fotos que tirou no murete do alpendre da capela de N. Senhora dos Prazeres, ou da Teixeira (junto a Sequeiros, Açoreira), já que a dita capela foi comprada por aquele africanista, nos inícios do séc. XX. Um seu descendente (talvez o filho), gravou na pedra a inscrição: AGJ, que quer dizer "Abel Gomes Júnior":
De mais difícil interpretação é a outra inscrição: "CP" (serão as iniciais da esposa?):

Mas quem foi Abel Adriano de Almeida Gomes? - a esta pergunta responde-nos o seu amigo de infância Abade J. A. Tavares (1868-1935), numa monografia que escreveu sobre o ermitério de N. Senhora da Teixeira, oferecida precisamente a Abel Gomes. Aí se diz que foi "um espírito liberal e culto", tendo sido "o primeiro da vila de Moncorvo que estreou o registo civil no baptismo de seu filho [este registo foi instituído aquando da instauração da República]". E acrescenta: "este último facto foi simplesmente um capricho que muito arreliou o digníssimo e austero Abade de Moncorvo, Pe. Francisco Tavares".
Conferindo com o que se disse na Caderneta de Lembranças, Abel Gomes residiu na África Oriental, na Companhia de Pesca de Pérolas do Bazaruto, devendo ter amealhado aí algum pecúlio que lhe permitiria comprar a capela da Teixeira e o terreno em redor, e, nessa ocasião, parece ter constado que a iria demolir. Esta suposição popular talvez se relacionasse com o suposto "jacobinismo" do comprador, comprovado com a pirraça da estreia do republicano Registo Civil. Defende-o, porém o Abade Tavares: "Nada mais injusto!" - concluindo que o seu amigo, agora mais maduro e reflectido na sua orientação - " hoje, sem abdicar totalmente dos seus princípios, é um espírito reflectido e conservador e além disso, um devotado amante das nossas velhas e preciosas antiguidades". Como que a testemunhá-lo diz J. A. Tavares que, em recente visita ao seu amigo (a monografia deve ter sido escrita nos anos 20 do séc. XX), reparou que tinha um quadro religioso de muito valor pendurado à cabeceira e, nesse mesmo ano [que ano seria?], mandara "celebrar missa na sua capela, no dia de Nossa Senhora dos Prazeres" sendo ele próprio, Abade Tavares, o celebrante.
Refere algumas obras de conservação que Abel Gomes fez então na capela, talvez nos anos 20, nomeadamente no adro. Todavia, deve ter sido nesta altura que se demoliu a cela do ermitão, que ficava pegada à capela.
Da nossa parte, aproveitamos para, uma vez mais, lançar o alerta para a necessidade imperiosa de se recuperarem as valiosas pinturas murais deste pequeno santuário. Sabemos que da parte do actual proprietário, Dr. César Abel Gomes (residente no Porto), há toda a abertura, mas, dada a complexidade e elevado custo do restauro, terá de haver, necessariamente, apoio do Estado e/ou de fundos comunitários, até porque o imóvel está declarado "de interesse público", desde 1977.
Bibliografia:
Tavares, J. A., Monografia de N. S. da Teixeira (com introdução e notas do Pe. Rebelo), ed. da Associação de Santo Cristo, 1985.
Cavalheiro, Eugénio, Os frescos da Srª. da Teixeira. Ed. João Azevedo, Mirandela, 2000.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Aconteceu em Moncorvo, há mais de um século...

«1890 Dezembro, 9 - foiçe daqui o snr. Doutor Trigo.

1899 Dezembro, 9 - saiu desta villa para o Luabo, África Oriental, o Abel Adriano Gomes.

1900, Dia 9 de Dezembro, o filho Raule [Raúl] do Viçente Sugão deu sem querer um tiro de revolve na irman.»

In: Caderneta de Lembranças, de Francisco Justiniano de Castro (transcrição de Águedo de Oliveira, edição dos Amigos de Bragança, 1975).

Nota 1: foi respeitada a ortografia do autor, F.Justiniano de Castro, tal como foi transcrita por Águedo de Oliveira.

Nota 2: o Abel Gomes aqui mencionado, trabalhou (ou dirigiu?) em Moçambique, uma companhia de extração de pérolas. Regressou posteriormente a Moncorvo, onde comprou o terreno e capela de N. Srª. da Teixeira, que ainda hoje se mantém na posse da família.

Nota 3: quanto à alcunha (ou apelido?) de Sugões, note-se que aparece também um Sugão nos Ares da Minha Serra, de Campos Monteiro. Trata-se de uma família antiga de Moncorvo, de extracto popular, de que ainda há descendentes.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

licor de inverno

Realização de João Costa

Sessão de Apresentação do livro "A parábola dos três anéis", de Júlia Guarda Ribeiro

Momento da apresentação do livro, no auditório da Biblioteca Municipal (foto gentilmente cedida pela Biblioteca)


Conforme foi anunciado aqui no blogue, realizou-se no passado sábado, dia 5 de Dezembro, a cerimónia de apresentação do mais recente livro da nossa conterrânea e colaboradora, Drª. Júlia Barros Ribeiro, intitulado "A parábola dos três anéis". Ilustrado com preciosas aguarelas de Guilherme Correia e um excelente acabamento gráfico da Folheto Edições & Design, este livrinho, pequeno no tamanho, é grande na mensagem que incorpora.
Depois da intervenção do Dr. Adélio Amaro, responsável pela edição, coube a apresentação ao nosso também colaborador Rogério Rodrigues, que salientou a actualidade da temática versada na obra, apesar de se basear numa peça do séc. XVIII, de autoria do iluminista alemão Gotthold Ephraim Lessing, que, por sua vez, a recuperou de um trecho anterior do "Deccameron" de Boccacio, censurada pela Inquisição. Os três anéis, são, afinal, os três pilares religiosos fundados no Médio Oriente - o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo - cujo diálogo tem sido particularmente difícil ao longo dos séculos, e, particularmente, nos nossos dias, nessa mesma região, como se sabe e se vê diariamente nos telejornais. Daí a actualidade da mensagem, que é um apelo à tolerância, concluíu Rogério Rodrigues.
Abertura da sessão, com o Sr. Editor no uso da palavra. À direita: Drª. Helena Pontes, Chefe de Divisão de Cultura e Turismo, Drª. Júlia Ribeiro e Dr. Rogério Rodrigues

Seguidamente foi lido um trecho do livro apresentado, pela voz da Drª Conceição Barros, irmã da autora. A narrativa começa com uma avó que conta às netas (Catarina e Inês), uma história (ficcionada) que se teria passado em Jerusalém, no tempo das Cruzadas, tendo por intevenientes um judeu, o Sábio Nathan, um sultão muçulmano (Saladino), um guerreiro cristão que salva a filha de Nathan, e sobre o qual se descobre, no final da história, que era seu irmão, afinal sobrinhos de Saladino. De onde se conclui que eram todos de uma mesma família, como na verdade são as três grandes religiões monoteístas, com o seu tronco comum.
Na sua intervenção, Júlia Ribeiro explicou que esta bela história, na versão de Lessing, é um grande obra escrita para teatro, em 5 actos, sob o título: "Nathan, Der Wiesel" (Nathan, o Sábio). Foi uma obra censurada ao longo dos tempos pela cultura cristã dominante na Europa, tendo sido expurgada durante o nazismo, na Alemanha. Em Portugal só teve uma edição em Português, em 1915, e nunca mais foi reeditada. Já em Espanha, entre 2006 e 2009, fizeram-se três reedições, por ser tema muito actual. Disse ainda Júlia Ribeiro que, na Alemanha, Natahn, der Wiesel, foi a segunda peça mais vista nos últimos anos, logo a seguir ao Fausto (de Goethe).
A autora durante a sessão de autógrafos
O encerramento da sessão coube ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Engº Aires Ferreira, que felicitou a autora por mais este livro, destacando que a mensagem de tolerância remete para uma verdade que, disse, é a única verdade que conhece: "Não há uma só verdade". Daqui extrapolou para um outro tema que lhe é muito caro, e que assumirá um particular relevo no ano que se aproxima, no contexto do centenário da implantação da República. Assim, lançou um repto aos investigadores do concelho, no sentido de fazerem pesquisas sobre este período (final do séc. XIX e inícios do séc. XX), não só sobre eventuais acontecimentos em torno da República na vila de Torre de Moncorvo, mas também relativamente ao resto do concelho. Contou, a propósito, um episódio ocorrido no Felgar, durante a Monarquia do Norte, envolvendo seus familiares directos. Espera-se, assim, que no próximo ano se possam apoiar outras edições, no âmbito da história do período republicano.
Depois da habitual sessão de autógrafos, foi oferecido um beberete, noutra sala da Biblioteca Municipal, onde o numeroso público presente pôde confraternizar e trocar impressões com a autora.
Fica o convite a lerem esta bela síntese (só aparentemente para crianças) da grande obra de Lessing, numa versão própria e original, a qual é excelente presente natalício. Por todas as razões.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Grande reportagem sobre a linha do Sabor no "Público"/P.2, de ontem

Saíu ontem, dia 5.12.2009, num suplemento do jornal "Público", uma extensa reportagem sobre a extinta Linha do Sabor (do Pocinho a Duas Igrejas), e que nos atravessava o concelho, hoje parcialmente reconvertida em Ecopista.
Este trabalho tem a assinatura do jornalista Pedro Garcias, com fotos (a preto e Branco) de Paulo Pimenta. Numa dessas fotos figura o já nosso conhecido Sr. Abílio Carvalho, o último maquinista da linha do Sabor e que também conduziu a última locomotiva entre o troço da Linha do Douro entre Pocinho e Barca d'Alva. O mesmo foi já evocado neste blogue (lembram-se da expressão "Apita Abílio!"?), sendo o pai do nosso colega das blogosferas Rui Carvalho, carviçaleiro, e grande animador do Fórum de Carviçais .
Aliás, segundo declara o jornalista Pedro Garcias, foi o nosso Blogue que o conduziu até ao Sr. Abílio, tendo sido através do Torre de Moncorvo in blogue (citado na notícia) e do Fórum de Carviçais, que se obteve alguma informação para este trabalho. Vale a pena ler!

O maquinista Sr. Abílio Carvalho (foto de Paulo Pimenta, in P2-Público, 2009.12.05)
«SAUDADES DO COMBÓIO NA LINHA DO SABOR
O combóio deixou de apitar na Linha do Sabor a 1 de Agosto de 1988, mas as memórias e as ruínas parecem ser muito mais antigas. O P2 foi ver o que resta daquela via estreita que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, junto de Miranda do Douro, e encontrou estações lindíssimas ao abandono, uma região isolada e um povo cheio de saudades. Por Pedro Garcias (texto) e Paulo Pimenta (fotos)».
in suplemento P2/Público, 2009.12.05

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sábado, na Biblioteca



História inspirada na peça Nathan, der Weise ,do dramaturgo alemão Gotthold Ephraim Lessing ,que ,por sua vez ,se inspirou no Decameron de Boccaccio ,nas Mil e uma Noites e num texto de Solomon Ibne Verga ,um judeu sefardita do seculo XV ,que referencia esta parábola nos inícios do século XII.



A Júlia transforma ,para crianças , um hino à paz e à tolerãncia, proibido pela Igreja aquando da sua publicação em 1779 e, mais tarde ,também proibido pelo regime nazi.Numa região profundamente marcada pela Santa Inquisição, como nos lembram os textos de Antonio Júlio de Andrade e Maria Fernanda Guimarães ,ler,hoje ,este continho e pensar que será incluido na leitura para crianças da nossa biblioteca ,torna-nos pessoas mais felizes.Este é o mérito da autora.


Referências :

1. Lessing, o grande maçon iluminista do século XVIII .


2. Uma das lojas maçónicas mais antigas do Rio Grande do Sul, com 128 anos: a Loja Lessing 61, de Santa Cruz do Sul.

3. LESSING, GOTTHOLD EPHRAIM (1729-1781) - Dramaturgo e crítico alemão. Iniciado em 1771 na Loja "Zu Den Drei Goldenen Rosen", Hamburgo. Obras maçónicas: Nathan, o Sábio; Ernest e Falk (um diálogo para maçons); A educação da Raça Humana.


Nota:O sentimento é meu ,a erudição é do google.

Lelo Brito

Matança do porco

Matança do porco, em Mós (foto Artimagem, autor: António Basaloco, 2004?)
«... enxotou o porco para fora e os homens pegaram-no, estenderam-no de lado sobre o banco, apertaram as cordas de carro em volta do corpo e do focinho, para que grunhe menos.
O Zé ajoelha-se a meter a faca e o sangue espicha, aparam-no num alguidar até às últimas golfadas. Tiram as cordas. Com molhos de palha começam a chamuscar-lhe os pêlos, a pele estala aqui e ali, acastanhada, e de repente, com um urro formidável, o porco abala rua abaixo, cego, esbarrando contra as paredes».

Rentes de Carvalho, O Rebate, ed. Círculo de Leitores, 1973

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Coisas de Moncorvo! II

HISTÓRIAS POLÍTICAS

Por: António Júlio Andrade

Duarte Areosa e Ferreira Pontes

Da “rapaziada alegre” transmontana da universidade de Coimbra “in illo tempore”, um dos mais castiços era o António Joaquim Ferreira Pontes, natural de Urros, concelho de Torre de Moncorvo, e que ali foi baptizado com o nome de “cara estanhada”.

Ficou célebre uma aventura que, em tempo de aulas, o levou a passear de Coimbra para o Porto. Na cidade invicta, passeando com os amigos, saiu-lhe pela frente, em plena rua, próprio pai, que ali fora comerciar. Apanhado em flagrante, quando o pai vinha direito a ele, não se desmanchou e, virando-se para os amigos, comentou:

- Querem ver que aquele homenzinho me está a confundir com o filho dele!

O pai avançava para o filho e este, sem pestanejar, desarmou-o logo e tão lindamente que deixou embatucado, atirando-lhe:

- Oh! Bom homem! Está-me a confundir com alguém, algum filho seu, é?! Ele é parecido comigo?!

De volta a Coimbra, no dia seguinte, escrevia ao pai, para Urros, uma linda carta em que lhe dizia que, no dia anterior, estivera a fazer exames, que lhe correram muito bem, e que lhe mandasse o dinheirinho da mesada, que estava necessitado.

Do seu perfil como político liberal, falou-se já em crónica anterior. Hoje vou relatar um episódio da administração de uma câmara municipal de Torre de Moncorvo presidida por Ferreira Pontes. O outro protagonista é o dr. Duarte Augusto Areosa, igualmente um “alegre rapaz” da coimbrã república de transmontanos.

Estava-se em 1878. Ferreira Pontes era presidente da câmara que integrava ainda os vereadores António Augusto Sampaio e Melo, António Augusto Carvalho e Castro, Bernardino Cândido Gomes e Manuel António Pires de Gouveia.

Duarte Areosa era então professor da Escola Municipal de Latim e Francês e um dos vultos do partido regenerador de Moncorvo, chefiado pelo dr. Ferreira Margarido e por Caetano de Oliveira.

Fixemo-nos então em Dezembro de 1869, altura em que o jovem advogado Augusto Areosa foi nomeado pela câmara professor daquela escola. Como a câmara não dispunha de uma casa própria para as aulas, deliberou que a escola funcionasse na casa alugada pelo professor para residência sua e de sua família, pagando o município metade da renda.

Assim funcionaria a escola quando, em Janeiro de 1878, Ferreira Pontes tomou posse do cargo de presidente da câmara, sucedendo a António Caetano de Oliveira. E logo na primeira ou segunda reunião do executivo, foi deliberado:

- Pôr à disposição do professor uma sala no edifício dos Paços do Concelho, para funcionar como escola.

O professor não gostou, continuou a dar as aulas em sua casa, queixou-se ao Comissário dos Estudos e recorreu para o Conselho de Distrito, argumentando que a sala não servia porque no edifício da câmara se amontoavam já muitos serviços e a entrada e saída de munícipes fazia os alunos distraírem-se. Ouvida a câmara sobre o assunto, esta respondeu:

- Exactamente para que os alunos não sejam distraídos é que se transfere a aula para os Paços do Concelho, uma vez que, na casa do dr. Areosa, os alunos são perturbados não apenas pelas pessoas da casa, mas também pelos clientes do advogado Areosa, pois que, a sala de aulas é também escritório de advogado.

O Conselho de Distrito acabou por julgar o caso e dar razão ao professor Areosa e, no seu acórdão, proferido em Fevereiro de 1879, obrigava a câmara ao pagamento das rendas da casa que a câmara tinha, entretanto, deixado de pagar, ou seja, 8$240 réis.

Ferreira Pontes e câmara a que presidia não se deixaram convencer e recorreram para o Supremo Tribunal Administrativo, acrescentando um novo argumento:

- Em cada um dos 8 anos de câmaras amigas do professor Areosa, o município pagou 17$240 réis (a casa estava arrendada por 18$000 réis) e ele $760 réis! Não era a câmara que lhe devia 8$240 réis, mas ele é que devia à câmara qualquer coisa como 65$920 réis, ou seja a metade da renda da casa durante aqueles 8 anos.

O resultado de tudo isto foi que, em 1880, o governo mandou encerrar a Escola.

Na mesma reunião de 20 de Fevereiro de 1879, em que recorreu para o Supremo, o executivo de Ferreira Pontes aproveitou para fazer o lançamento das contribuições municipais para o ano económico de Julho de 1878 a Julho de 1879. Nos termos de uma lei promulgada em Dezembro de 1878 aconteceu que as contribuições dos funcionários públicos e das “partes de fora” (ou seja as pessoas que residiam fora do concelho mas nele tinham propriedades) subia para o dobro, enquanto as dos proprietários e industriais baixavam muito.

Augusto Areosa e 10 outros funcionários públicos municipais logo reclamaram contra este abuso, apresentando duas ordens de argumentos. Por um lado, havia ilegalidade, porque, começando o ano económico em Julho de 78, não podia a contribuição correspondente ser regulada por uma lei promulgada em Dezembro seguinte, a meio do ano económico. Em segundo lugar, tratava-se de uma injustiça porque as contribuições eram lançadas aos proprietários e industriais com base nas matrizes que estavam subavaliadas, enquanto aos funcionários eram lançadas com base nos salários auferidos e que não podiam ser escondidos.

Mais uma vez o recurso não foi atendido pela Câmara de ferreira Pontes. Mais uma vez o Duarte Areosa e outros 10 empregados recorreram para o Conselho de Distrito, que lhes deu razão. Mais uma vez Ferreira Pontes recorreu para o Supremo…

Entretanto… aproximava-se o fim do mandato daquela câmara e nova luta política ia estalar antes dessas eleições, em Dezembro de 1879, a propósito das mesas eleitorais.

Ferreira Pontes e a câmara fixaram 4 mesas de voto, assim distribuídas: Moncorvo, Carviçais, Urros e Horta da Vilariça. O administrador do concelho e o partido do dr. Areosa, Margarido e Oliveira não concordavam com esta distribuição e queriam apenas duas mesas de voto: uma em Moncorvo e outra em Felgueiras. Argumentaram que assim se fizera nas últimas eleições para deputados. Recorreram naturalmente para o Conselho de Distrito e Ferreira Pontes contestou, dizendo que os eleitores aumentaram de 1600 para 3000 e que o único interesse dos adversários na mesa de Felgueiras era “contarem ali com todos os seus arruaceiros e homens de mão”. E dava o exemplo:

- Na penúltima eleição camarária, não contentes com chapelada que deram na sua aldeia, os de Felgueiras, à uma hora da madrugada, ainda se dirigiram à Horta da Vilariça a fim de roubarem a urna eleitoral!

Mas… esta é uma história para outra crónica. Por hoje, diga-se que Ferreira Pontes permaneceu mais dois anos à frente da câmara e Duarte Areosa seria eleito para o quadriénio seguinte, de 1882 1 1885, Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.

Pocinho II

«Quando vem o Inverno, por estes sítios, o frio é uma emanação das águas do rio, o vento vem de todos os lados e aqui se junta na baía formada em redor da ponte de ferro, ao bater nas águas, é frio apenas, entre as árvores cresce o vento. Como hei-de eu dizer isto de outro modo?, apenas frio, frio apenas vindo do fundo do rio, do fundo da água, um estranho silêncio de árvores assustadas e sombras, pequenas sombras, agitam-se no litoral do rio, essas sombras, ondulam como a água, como os socalcos, sei que é frio e escuro, e o silêncio até, mas algo mais existe nisso de ser frio e silêncio, e o fio do rio ser límpido, alguma coisa me escapa e eu não vejo, nem aqui o trago definido ou não. Um universo inteiro de silêncio apenas rompido pela madrugada, os tons da alva, rosa e azul, violeta, uma cor intensa, imensa, nenhum tédio, o cheiro do bagaço da fábrica. Ver amanhecer o rio é assistir ao nascer do mundo, o ar clareia, e a água, desaparecem os ventos que a descem desde Espanha, e quando o Sol, fogo, ilumina o quarto elemento, que é a Terra, é como se uma angústia grande como o mundo começasse a desaparecer lentamente, espantosamente, parece um ciclo completo, os anjos vindos do infinito, ou da claridade apenas anunciando o dia, o calor vegetal, em toda a aldeia, em todas as janelas que se abrem para a luz do mundo, as sardinheiras nos seus vasos, sei que tudo está no lugar certo, no sítio perfeito, as laranjeiras quietas à espera da vingança do sol, alguém que caminha nas ruas da aldeia.»

Francisco José Viegas, Regresso por um rio. Ed. Europa-América, 1987, p. 78-79.

Foto de A. Botelho, 2009.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Coisas de Moncorvo!

HISTÓRIAS POLÍTICAS

Coisas de Moncorvo!

Na segunda metade do século XIX e, durante cerca de 20 anos, o dr. António Joaquim Ferreira Pontes e António Caetano de Oliveira foram dois grandes vultos políticos da região de Torre de Moncorvo. Eram duas personagens completamente diferentes, com uma formação cultural, cívica e política diametralmente opostas.

Ferreira Pontes era filho de um homem público, um liberal das primeiras horas, que esteve preso nas cadeias Miguelistas. Caetano de Oliveira era filho de um mestre oficial de Foz Côa que veio para Moncorvo como capataz de uma fábrica de sabão.

Ferreira Pontes pertencia a uma família de tradições aristocráticas e na política gastava a legítima paterna. Caetano de Oliveira “veio do nada” e construiu um imenso império comercial e financeiro espreitando oportunidades políticas.

Ferreira Pontes tinha formação universitária e, como deputado, sentava-se no parlamento ao lado do grande tribuno, seu amigo e companheiro nas lutas e no exílio, José Estêvão de Magalhães. Caetano de Oliveira aprendera apenas escrituração comercial, mostrara grande jeito para contas e um incrível “faro” para os negócios.

Ferreira Pontes estava na política por convicção, servindo os cargos de administrador, presidente da câmara, deputado, e vestiu a farda de soldado para tomar posse do cargo de governador civil do distrito. Caetano de Oliveira começou a fazer fortuna comprando os bens de famílias da nobreza derrotadas nas lutas liberais e que abandonaram a região, vendendo ao desbarato.

Ferreira Pontes recusou-se a receber o título de Visconde da Alegria (recebeu-o a mulher após a sua morte) com que o governo o quis agraciar, por razões de natureza política. Caetano de Oliveira casou em grande, conseguiu ser agraciado como Par do Reino e casou a filha com o Marquês de Ponte de Lima. Mas recusou o título de Marquês da Vilariça, no tempo da monarquia e de Comendador, no tempo da República, por suspeitar que em troca do título teria de financiar com dinheiro líquido o poder político. Quando lhe lembravam que fora Par do Reino e tinha um brasão na esquina da casa, mandou-o picar.

Ferreira Pontes era o líder incontestado do partido Progressista e Caetano de Oliveira era chefe local do partido Regenerador.

Não sabemos como eram as relações pessoais entre os dois homens. Conhecemos é histórias incríveis de lutas políticas e chapeladas eleitorais fabricadas por um e outro. E chegou até nós a notícia de uma cena algo cómica, acontecida entre ambos. Vamos contá-la.

Estava-se aí por 1870. Travava-se mais um daqueles renhidíssimos combates eleitorais, como era de norma naquele tempo. E como também era usual, a Mesa de voto, em Moncorvo, era na igreja matriz. Nesse tempo, os boletins de voto já os levavam preenchidos os eleitores. Ferreira Pontes era o presidente da Mesa. Caetano de Oliveira fiscalizava as eleições, como representante do seu partido. Com autoridade, sempre que algum eleitor se apresentava na Mesa, Ferreira Pontes pegava no papel do voto e lia, bem alto, o nome do candidato do seu partido, antes de introduzir na urna o boletim. E fazia isso com todos os eleitores, quer fossem do seu partido ou dos adversários. A certa altura, Caetano de Oliveira não se conteve com esta iniquidade e contestou:

- Senhor doutor! Eu protesto porque esse não é o nome que está na lista!

Ferreira Pontes, olhando com sobranceria o seu adversário político, respondeu-lhe secamente:

- Eu não admito que você saiba ler! Vinte passos atrás, conforme manda a Ordenação!

Uma outra cena, digna do anedotário político, aconteceu nas eleições de 1900. O chefe do partido Regenerador era então o dr. Ferreira Margarido, que sucedeu a António Caetano de Oliveira. E era também ele o candidato a deputado pelo mesmo partido no círculo de Moncorvo. Essas eleições viriam a ser anuladas (por 3 vezes!), tantas foram as provas de falcatrua eleitoral apresentadas.

Uma dessas provas respeitava a um dos homens de mão do dr. Margarido, um daqueles pobres homens que ficam maluquinhos na altura das campanhas e são capazes de tudo para agradar aos chefes. Pois o nosso homem (um matulão – rezam as crónicas) fartou-se de andar de porta em porta a pedir votos, amedrontando e espancando até alguns adversários, mesmo na própria assembleia de voto. Acabou por ser preso e… lá foi a julgamento.

Não sabemos se por artes da política ou da magistratura, a verdade é que o juiz foi o médico do partido municipal e chefe dos Lazarões (assim chamavam aos regeneradores), o dr. Ferreira Margarido, na sua qualidade de substituto do juiz de direito da comarca.

Ignoramos como decorreu o julgamento, as alegações dos advogados e os depoimentos das testemunhas. Conhecemos apenas o texto da sentença que foi mandada lavrar no processo. Ela é bem clara e exemplar:

- Considerando que o réu, comparativamente comigo julgador, é verdadeiramente imaculado, absolvo o mesmo por equidade.

Imaginem agora a reacção do dr. João Galas, sobrinho de Ferreira Pontes e herdeiro de seus bens e da chefia local dos Penicheiros (eram assim chamados os do partido progressista). Com aquela grandeza de alma que sempre o norteava, passeando na praça do Município, comentou simplesmente:

- Coisas do Margarido!

António Júlio Andrade

Pocinho

Ponte do Pocinho em dia inverniço (foto de António Botelho, 2009)
«Volto agora à aldeia e agora me recordo, ao olhar o rio, que antes havia patos no rio, murmúrio de laranjeiras nas margens verdes que se estendiam até às falésias da Lousa, pequenos barcos, conto isto à medida que vejo ou que revejo ou que sonho, já não sei, exactamente, o que vêem os meus olhos, e vejo pouco, vejo as coisas inscritas em tudo, este lugar estendido a todos os lugares do mundo. Trouxeram agora a notícia e eu não estava ainda preparado para ela, embora soubesse que mais cedo ou mais tarde isso viria a acontecer. Estava inscrito nas águas do rio que vejo através da janela. Mas fica para depois a notícia. Agora recordo os patos, os caçadores que vinham às quintas-feiras, metiam-se nos barcos brancos e avançavam pela neblina dentro, as espingardas luzidias, oleadas, limpas por dentro e por fora, coronhas brilhantes ao ombro, quando o sol rompia, se é que chegava a romper, tão bela era a imagem dos caçadores, já ninguém sabia deles, desapareciam nos caminhos de água, tinham ido procurar os patos na altura em que havia patos no meio do rio, no interior do rio, era bonito vê-los, aos patos, e, quando surgia um rasgo de ruído no céu, um caçador apontava a sua arma e ele caía, isolado no seu voo em queda, a dignidade de um pato no meio da baía rodeada de choupos que rebentavam em flor quando chegava a Primavera que aqui mora mais cedo, soava então um tiro, dois tiros mais tarde, o pato caindo com solenidade, a solenidade de um pequeno deus, molhado de sangue e de céu, era bonito vê-los, ao patos, quando ainda havia patos no meio do rio, rompiam o isolamento da aldeia porque vinham de todos os lugares, chegavam de Barca d'Alva carregados de luzes, mistérios e nevoeiro, dependuravam-se nas águas do rio entre limos à flor da corrente, espalhavam-se, mergulhavam a cabeça na água, levantavam voo, erguiam-se mais alto, para o céu, chegavam às nuvens, aos anjos, aos deuses que andavam mais em baixo, soava um tiro, era um pato que descia do céu, um brilho de olhos no meio do rio, na ilha já desaparecida, vinham de longe e de perto, os patos, tão brancos e polidos na sua penugem, hoje vêm de vez em quando, diz-se na aldeia quando vem um pato, agitam-se-me os olhos e viro-me para o rio, uma mancha branca voando e estilhaçando as colinas de amendoeiras e vinhas, poisam nos olivais à beira da água, eram bonitos os pássaros, os patos, todas as aves que invadiam o rio pela Primavera e com os choupos em flor, traziam gotas de nevoeiro dependuradas nas asas, vinham do norte, iam para o sul, mais para o sul, abeiravam-se das aldeias, brancos, brincavam, eram bonitos, os patos.»

Francisco José Viegas, Regresso por um rio. Ed. Europa-América, 1987.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

1640

Francisco de São Payo, Fronteiro-Mor e Governador das Armas de Trás-os-Montes, Comendador na Ordem de Cristo, Alcaide-Mor da Torre de Moncorvo, X Senhor de Vila-Flor, de Chacim, de Anciães, de Vilarinho, foi um dos quarenta conjurados de 1640.

TORRE DE MONCORVO

Praça de Torre de Moncorvo, vista da varanda do "Castelo" (foto de N.Campos)

«Espero ainda que o correr de Outono se torne mais lento e que as árvores se dispam devagar. Se os perfumes e silêncios forem prolongados viverei mais, antes do Inverno que já se anuncia por detrás daquelas colinas talhadas em degraus onde pousaram vinhas. A luz era amarela e à tardinha havia uma névoa ligeira que indefinia os contornos e enchia as veredas de mistérios. Um passo lento, de regresso, de saudade, a bater nas calçadas, a ecoar nos portões. As luzes a surgir, a desenhar figuras, a iluminar desejos. Tanto amava aquele viver!
Estendia os braços e cantava velhas canções esquecidas.
Era o tempo de voltar às águas donde parti.»

Jacinto de Magalhães, 1985.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A "SANTA" INQUISIÇÃO EM MONCORVO - II



Continuação do texto NA RUA DOS SAPATEIROS EM 1599, da autoria de António Júlio de Andrade e Maria Fernanda Guimarães.


Por lapso, não foi mencionado o nome da co-autora no primeiro texto .As minhas desculpas.


Leonel Brito



UM TUMULTO EM TORRE DE MONCORVO


NA RUA DOS SAPATEIROS EM 1599



"Não sabemos quem saiu deste episódio a cantar vitória. Mas sabemos que, em simultâneo, Diogo Monteiro apresentou perante o vigário geral, representante do arcebispo de Braga, uma denúncia em forma acusando-o de práticas judaicas, como fossem: guardar o sábado por dia santificado, deixar os candeeiros acesos na noite de sexta-feira, comer carne na Quaresma e em outros dias proibidos pela igreja, jurar “pelas tripas de Deus e dos santos”, mostrar desprezo pelos ritos católicos, etc. E juntamente apresentou uma relação de 15 pessoas que podiam testemunhar tudo isso, escolhidas entre pessoas cristãs-velhas que, em algum tempo e de qualquer modo tivessem entrada na casa dos Isidros, em geral antigas criadas e serviçais.


Algumas das testemunhas foram logo recusadas pelo vigário geral pois se confessaram inimigas declaradas de Manuel Isidro. Outras disseram que não sabiam de nada mas, ainda assim, foram recolhidos depoimentos que lhe pareceram suficientes para incriminar Manuel Isidro por judaizante e pedir a sua prisão, bem como a de sua mulher Alda Cardoso, a sogra Maria Vaz, o irmão Vasco Pires, a meia-irmã Francisca de Sousa e a mãe desta Jerónima Fernandes. Dos autos constava ainda que já os avós e outros parentes de Manuel Isidro tinham sido presos e penitenciados pelo Santo Ofício.


O sumário foi enviado para o arcebispo de Braga e a carta que o acompanhava, assinada pelo vigário Gregório Rebelo de Abreu é, só por si, um documento de enorme interesse para o estudo das relações entre as comunidades cristã-nova e cristã-velha de Torre de Moncorvo naquela época. Com efeito, escrevia o vigário que a gente da nação andava nesta terra tão “favorecida” que todos lhe tinham medo ou eram por eles subornados, tornando-se quase impossível arranjar quem fosse a um tribunal depor contra eles. E, além de ameaçarem e corromperem as testemunhas e impedirem a execução da justiça, os cristãos-novos até traziam subjugados alguns dos cristãos-velhos mais nobres e prestigiados da terra, pois lhe abonavam o dinheiro e deles dependiam em termos financeiros.


Por entender que as culpas respeitavam a matérias da fé, próprias da alçada do Santo Ofício, o arcebispo de Braga remeteu os autos para o tribunal de Coimbra, “serradoa e selados”, em 19 de Agosto de 1600.


Entretanto, Manuel Rodrigues Isidro não ficou à espera, logo apresentando no mesmo tribunal um “dossier” onde mostrava que tudo não passava de uma “conjuração” que tinham montado contra ele, contando nomeadamente os episódios atrás narrados e provando a inimizade dos seus detractores com os despachos obtidos na Corte de Madrid. E indicou mais de duas dezenas de testemunhas, entre elas sobressaindo o homem de mais nobreza e prestígio em Torre de Moncorvo (o dr. António Madureira, que foi o deputado às Cortes que elegeram Filipe II para rei de Portugal) e homens do tribunal da Relação do Porto.

Queixava-se também que o vigário geral recebera a denúncia de Diogo Monteiro e fizera os autos de inquirição das testemunhas, mas a ele o não quis ouvir.

Escrevia, finalmente, que as testemunhas arroladas contra ele não mereciam crédito, apresentando-as assim:

Ana Rodrigues é “mulher miserável, alcoviteira e do mundo e como tal já esteve presa”.

Isabel Rodrigues, sua irmã é “mulher muito pobre, miserável e rota e esfarrapada (…) e é público e notório que, por qualquer coisa que lhe dêem, dirá o que não sabe”

Maria, “mulher que morou com a Rabita” é solteira e “vagabunda de seu corpo” e também já esteve presa e degredada por ser alcoviteira e “depois de testemunhar pediu perdão a ele suplicante diante de algumas pessoas” que ele nomeou, em prova.

Isabel Vaz é outra que “por dar alcouce e alcovitar e ser devassa do seu corpo, está presa”.

O mesmo se diga da filha do Capadinho, “devassa de seu corpo e mundana grande” que era companheira de Ana Rodrigues e por ela foi induzida a dar falso testemunho.

Filipa Álvares, forneira, era manceba de Lucas de Castro, um dos seus inimigos.

A lista vai a meio mas o retrato feito por Manuel Isidro acerca dos que contra ele foram depor continua igual até ao fim e o único homem arrolado como testemunha vivia no Felgar, era alcunhado de “malas carnes” e “não possui nada nem tem bens alguns de seu e foi induzido a testemunhar contra ele” por ser seu inimigo declarado pois já em tempos Manuel Isidro ripara da espada e o mataria se o não tivessem impedido.

O processo não tem qualquer procedimento ou despacho do tribunal de Coimbra, depreendendo nós que os Inquisidores não encontraram nele matéria para prender Manuel Rodrigues Isidro. Contudo, 20 anos depois, mercê de uma única denúncia, por “crime” bem menos grave e com base em um único depoimento, o mesmo viria a ser preso por aquele tribunal que lhe instaurou um outro processo (nº 448) e, de forma igualmente estranha o libertaria sem qualquer pena, ao cabo de 5 anos!"


Nota dos autores – A história de Manuel Rodrigues Isidro e seus familiares na Inquisição, ao longo de mais de 200 anos e várias gerações, foi estudada pelos autores e esperam seja brevemente publicada.


FONTE – IANTT, Inquisição de Coimbra, processo nº 5151.


Maria Fernanda Guimarães e António Júlio Andrade

Ainda há machos em Moncorvo!

Ao ver, há dias, este simpático solípede retrouçando umas ervitas junto ao velho caminho de pé posto que vai do Canafichal para o S. Paulo, ao longo da Nória, não pude deixar de notar: "olha, parece que ainda há matchos em Moncorvo!" Na verdade, estes animais desempenharam um papel importantíssimo desde tempos mediévicos, como transporte e força de tracção. Antes do vapor e dos motores de explosão, durante os últimos milénios, vigorou o que se convencionou chamar a "energia a sangue". Quase extintos, hoje, é motivo de admiração (e cliché) registarmos ainda algum espécime como este, sobretudo nas imediações da vila.
Para quem não sabe, a mula e o macho (chamado gado muar) são animais híbridos de cavalo e burra, ou de burro e égua (neste caso, chamam-se éguariços), sendo estes mais fortes. De uma maneira geral os animais muares são mais fortes que os cavalos e do que os burros, razão pela qual se promovia a sua hibridização, pois não procriam entre si.
A presença de muares na região de Moncorvo está patente na toponímia desde tempos remotos, sendo disso exemplo o célebre cabeço da Mua (onde se encontra o principal jazigo de ferro, no termo do Felgar).

Texto e foto: N.Campos

domingo, 29 de novembro de 2009

Nove Poemas de Novembro

Pedro Castelhano

I

Vens vazio, sem possibilidade de voltar ao futuro,
carregado de bíblias, suspeitas e sangue escorrido
com os amigos em partida e um acre aceno de azedume
no início da onda que ignora onde começa ou acaba.
Vens vazio sem deuses enquanto o vento liberta vozes
na noite aguda que te absorve na penumbra muda.
Vens vazio a ponto de sonhares acender fogueiras na memória
para louvar o que perdeste, a sonoridade do riso,
a mão ligeira e portadora de mel, o aconchego
da rosa no silêncio.Vens vazio de mim, também de ti.
Vens vazio até ao recolhimento.
Vens vazio, mas nesta noite havemos de chorar juntos
com os olhos fustigados pelos mistérios das giestas, semáforos
destes caminhos e terreiros de bruxas e duendes,
que nem o álcool amacia, nem o sacrílego medo da vida.
Já não temos tempo para reencontrar a plenitude, ou inventar
caravelas sem mar. Se não vencermos as bruxas que será da manhã?
Vens vazio, com o olhar recolhido de cão mal afagado. Com leituras
clandestinas, com meio século de cinzas a marcar a página.
Mesmo vazio pensas que a mala ainda trás o que inventar,
a obsessiva presença dos ausentes, a naftalina dos verdes anos
quando ignorávamos que havia idades e na face luminosa da noite
/cantávamos.
Ai! tão vazio que tu vens, como esperma seco na paisagem estéril
que escolhemos para o final. Já não há poemas de amor desesperados
porque já não há poemas de amor. Apenas um vago violoncelo
e um sorriso súbito, sem sentido, de nostalgia ou lenço negro.
Vens vazio, com recomendações das almas para ignorar
a alegria e te libertares dos efeitos da luz. Não toques na carne
e que o teu sorriso seja de cilício. Que punja e amargue
e que te afaste das cidades e das tentações mais baixas
de ser feliz. Para que queres ser feliz se estás vazio e não és idiota?
Há rumores de que sons se aproximam como sereias.
Com acenos verdes e frutos mágicos à beira do olhar.
São suspeitas. São seduções. Também o deserto cansa
os eremitas. E tu és presa fácil, inábil e intranquila.
E tu vens vazio, portador de bagagens sem valor comercial.
Ignora os ritmos, a prosódia, a melodia, ignora-te
e parte para a procura do fim, despede-te da esperança,
não penses mais em construir a casa ou alterar o leito
aos rios. Deixa-os correr que o teu tempo já correu.

Vens vazio, fica vazio. A plenitude é uma maçada.

Boas práticas

Câmara Municipal de Torre de Moncorvo retoma tradição das “Quintas-Feiras do Reboredo”


O Município de Torre de Moncorvo pretende revitalizar a antiga actividade em que os habitantes da vila, às quintas-feiras, se dirigiam à Mata do Reboredo a fim de extraírem uma determinada quantidade de lenha. Para isso, promoveu as “Quintas-Feiras do Reboredo” em que os habitantes locais podem usufruir gratuitamente da lenha de carvalho ardida que se encontra no Perímetro Florestal da Serra do Reboredo.

Para maior segurança e acesso aos locais, a autarquia procedeu à execução dos caminhos de modo a facilitar as operações de extracção.

A extracção do material faz-se às Quintas-feiras e Sábados acompanhada e supervisionada por um funcionário do município. A quantidade máxima a extrair por munícipe é de 5m3 de lenha e deve ser exclusivamente para consumo próprio.

O primeiro dia das “Quintas-Feiras do Reboredo” decorreu no passado dia 19 de Novembro, quinta-feira, e permitiu a retirada e transporte de aproximadamente 20m3 de lenha.

Os munícipes interessados devem apresentar um pedido, através de formulário disponibilizado na secção administrativa do Gabinete Técnico Florestal.

Enviamos em anexo fotografias do primeiro dia das “ Quintas-feiras do Reboredo”.

Texto e foto de "Notícias do Nordeste", de 28 de Novembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

É lançado hoje novo livro de Vítor da Rocha - "Nina, mina de ouro"

Os escritores moncorvenses estão muito activos!
Como que a prová-lo, além dos lançamentos recentes (ou ainda a realizar, como o de Júlia Guarda Ribeiro no próximo Sábado), é apresentado HOJE um novo livro do nosso conterrâneo (de Carviçais) Vítor da Rocha, no salão nobre do Clube dos Fenianos do Porto (ao lado da Câmara Municipal). Trata-se do romance "Nina mina de ouro", editado pela Mosaico de Palavras, cuja apresentação estará a cargo do Dr. Àlvaro Santos.
É agora, às 17;00h, despache-se!

Aqui fica um resumo do conteúdo do livro:
Em Nina Mina de Ouro seguimos a vida da suburbana Nina, que, graças à mais-valia dos seus dotes físicos, consegue alcançar o éden moderno – carro topo de gama e conta bancária robusta. Ainda que pelo caminho se vá despindo de tudo – ideais, marido, filha, mãe, amigos, simples objectos sem valor que só atrapalham a subida. É todo um modo de vida, ritmado pelos humores das coisas, das terras e das casas e pelas vozes dos vizinhos, que vai ficando para trás das costas da personagem, na sua impávida cavalgada para um objectivado além dourado.
Na verdade, sempre houve destes crentes (in)felizes e afortunados no percurso da Humanidade. Mas eram apenas minúsculos grãos de areia no meio do enorme e amorfo oceano composto de honesta e desventurada arraia-miúda. Hoje, são mais que as mães, a ponto de se terem constituído em ideologia ou religião (não) oficial dos povos – satisfazer o umbigo, ainda que sobre o cadáver do outro. Ou o seu próprio…
Uma violenta condenação da modernidade urbana, onde a condição de ter suplantou irremediavelmente a de ser.

Sobre Vítor da Rocha, já referido neste blogue a propósito de outras obras suas, aqui deixamos este apontamento biográfico:

Professor e escritor, natural da freguesia de Carviçais, no concelho de Torre de Moncorvo, em Trás-os-Montes, e residente na área do Grande Porto. Estreou-se na escrita em 1997, com a publicação da obra Na Andadura do Tempo (contos) (1997, 2ª edição em 2007), pela Editora Campo das Letras, obra que foi seleccionada para apoio pelo IPLB – Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, do Ministério da Cultura, a que se seguiu o romance Postigo Cerrado (2002), pelo Círculo de Leitores. Entretanto, em 2004, faz a primeira incursão no domínio da literatura infanto-juvenil, ao lançar a obra Contos com Bicho (Gailivro), obra actualmente incluída no Plano Nacional de Leitura do Ministério da Educação. Em 2006, é co-autor da obra Cinco Enterros do João (colectânea de cinco contos escritos por cinco autores naturais ou residentes em Rio Tinto, Gondomar), pela Arca das Letras.
Publicou ainda AIMMAP – 50 anos de história (monografia, 2007), João Moura – do Barroso ao Porto (biografia, 2007), pela Artescrita Editora, Jorge Casais – da vontade se fez obra (biografia do Eng. Jorge Casais, vice-presidente da AIMMAP, 2007) e A Arte pela Escrita Dois (co-autor) (colectânea de poesia e prosa, 2009), pela Mosaico de Palavras Editora.
Em 2009, dá à estampa o seu último título, Nina mina de ouro (romance, 2009), pela Mosaico de Palavras Editora. Tem ainda desenvolvido actividades de revisor de imprensa, tradutor e redactor em vários jornais e editoras no Porto.

Nota: Agradecemos a colaboração de Rui Carvalho (do Forum de Carviçais), que nos enviou a informação supra.

Novo livro de Júlia Guarda Ribeiro, no próximo Sábado, dia 5 de Dezembro

Desde já (e atempadamente) aqui fica o convite para o lançamento de mais um livro (só aparentemente para os mais novos), de autoria da nossa colaboradora e Amiga Drª. Júlia Guarda Ribeiro:

(Clicar sobre o convite para o ampliar)

Uma boa prenda de Natal - por isso não falte!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tertúlia com fado no Celeiro - é hoje!

Um xaile, uma guitarra, uma voz e muito sentimento. Tudo isto é Fado. Venha ouvi-lo de perto. De certeza que já ouviu falar do Fado, a canção que representa a alma portuguesa e canta o seu destino. O sentimento, os desgostos de amor, a saudade de alguém que partiu, o quotidiano, as conquistas, os encontros e desencontros da vida são um tema infinito, que continua a inspirar quem canta com emoção.

Por isso, o grupo de teatro "Alma de Ferro"/Associação Cultural de Torre de Moncorvo, com apoio do Município, tem o prazer de convidar todos os interessados a participarem numa pequena tertúlia, que terá lugar hoje, no dia 27 de Novembro pelas 21,00h, no teatro do Celeiro, nesta vila (Rua da Estação).
Com a participação dos guitarristas moncorvenses Manuel Pestana e José Pestana, que acompanharão a fadista Matilde Larguinho.

Aqui fica o recado dos Alma de Ferro: comparece e traz um amigo também!

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