"De longe era mais nítida a claridade do céu e o recorte da serra. Os grandes rochedos semeados ao lado dos caminhos, pareciam guardar antigos tesouros, invocar esquecidos deuses. Aproximava-se a hora do encontro e todos os fantasmas que me habitam vinham assustar-me e profetizar.
De tão longe! Cada vez mais perto!
Ali, após uma curva poeirenta, surgia a aldeia. Pousada no alto do monte, cor de pedra e de terra, a aldeia envolveu-me e magoou-me no seu abandono e beleza. Tinha-a sonhado tantas vezes e ei-la desafiando os sonhos e as esperanças. Intacta, acolhia-me e serenava-me todas as questões. Chegara, ao fim de tanto tempo!"
in: Jacinto de Magalhães, 1985.
Foto: N.Campos
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Torre de Moncorvo in blog deseja aos conterrâneos da Diáspora uma boa viagem de regresso e um feliz reencontro com seus familiares e amigos em suas terras de origem, durante este período de merecidas férias!
6 comentários:
Associo-me muito sinceramente aos votos do Nelson, pela sua oportunidade nesta época estival e por entender muito bem o que as suas palavras significam.
Para mim é um rol de memórias que desfilam. Para muitos conterrâneos nossos é um reencontro com o torrão - a origem, a identidade e a fonte. Hoje depara-se-nos uma realidade diferente, inevitável porque o tempo não para.Mas sempre a mesma emoção e, porque não dizê-lo, a mesma paixão.
Moncorvo é feito de gente, de velhos, novos, crianças, dos que já partiram para sempre e recordamos hoje, dos que a habitam e dos que a guardam no seu peito, intocada e sempre bela terra.
Para todos também a minha saudação.
Daniel
Caríssimo Daniel,
Mais do que os meus votos de boas férias, quis salientar o belíssimo texto poético de Jacinto de Magalhães. A foto é que é minha e foi escolhida a pensar em si e nos nossos amigos urrenses: é a terra dos seus maiores (como dizem os espanhóis), a antiga vila de Orrios vista do lado daquela serrania por onde se vai para a Gafaria, salvo erro. Ao longe, do lado direito, vê-se parte da serra do Roboredo.
Boas férias, com uns diazitos por aqui, assim o esperamos.
Abraço,
N.
Belissimo texto e bela foto!
Eu nunca morei fora do lugar onde nasci e cresci, mas imagino como é a emoção das pessoas quando voltam ao seu lugar de origem.
Deve ser muito bom retornar, sentir a mesma brisa, o mesmo cheiro,rever pessoas,pisar novamente o mesmo chão.
Não valorizamos enquanto o temos ao nosso alcance , mas eu bem sei,pelo que vi na saudades dos meus sogros, o que é estar longe!
Desejo muita saúde a todos que estão aproveitando as férias e que renovem sua energias sorvendo os de ares da terra .
Abraços
Wanda
P.S.Ampliando a foto, vi que aparece uma aldeia no cume da serra, qual povoado é aquele?
São Paulo, 29 de julho de 2009
Olá Wanda! sim, o texto é de facto muito nostálgico e toca fundo naqueles que estão a trabalhar longe e que nesta ocasião vêm às terras das origens, cada vez mais desertas e vazias... Até quando virão? (será que os filhos e netos desses serão capazes de valorizar estes rincões sagrados, desolados, no cimo dos montes). A aldeia que se vê em primeiro plano é Urros (uma antiga vila que deteve foral no fim do reinado de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal). Daí terá saído alguma emigração para o Brasil creio que ainda no final do séc. XIX, em consequência da filoxera (doença das vinhas) e também do desejo de melhoria de condições de vida. Na linha do horizonte, à esquerda, parece ser Vila Nova de Foz Côa. Mais ao longe, muito atrás de Urros, parece-me ser Sequeiros ou Açoreira. A serrania do lado direito é o Roborêdo. Moncorvo fica do lado oposto da serra, pelo que estas eram as aldeias de "atrás da serra", longínquas e esquecidas.
n.
Tenho a certeza que os filhos e os netos são (serão)capazes de valorizar o nosso património paisagístico e o outro. De férias em Itália, onde os meus filhos por sangue também pertencem, de cada vez que eu valorizo a beleza por exemplo de Urbino, San Leo, situados no alto dos montes e com uma imensidão deles à volta, solta o meu Alberto uma frase galhofeira:"- Mas os de Trás-os-Montes são mais bonitos, não é mãe?"
"- São, mas..."
O "mas" quer dizer tudo, quer salientar que para comparar temos que conhecer o Mesmo e o Outro. Mas significa que o nosso é muito importante e que se nós amarmos as nossas raízes os nossos filhos farão o mesmo mais tarde ou mais cedo e descobrirão para os seus descendentes Vales da Vilariça por esse Trás-os-Montes fora.
Em Agosto levarei os meus dois filhos pela mão e mais uma vez lhes mostrarei os Montes. Aliás, Outros Contos da Montanha já andam por Santiago de Compostela a fazer de pequeno guia às fragas...
Obrigada ao N. por sermos tão bem recebidos na nossa terra.
Abraços
Isabel Mateus
olá Isabel! certeiro comentário, na certeza da razão que tinha o nosso bem-amado Torga: "O Local é o Universal sem paredes..." > Pensando "local" poderemos agir "global" e pensado "global" poderemos agir localmente! - Cá está o ensinamento do nosso embaixador "tchoqueiro": com três pedras do Roboredo (de ferro) viajando pelo mundo inteiro. Um pela longínqua Nippon, e por outras paragens; "outra" (digo "outra" quase felgueirense), pelas Itálias, Inglaterras, míticas europas, quiçá com outras tantas pedras da mesma serra, cumprindo a sua peregrinação, obedecendo à tal pulsão de evasão que deve ter acontecido seguramente um certo dia olhando o mundo a partir do alto do Roborêdo... E o mar que se avista(va) do talegre do alto de Felgueiras... "Mar Talegre" bem o sabia, sonhou, e foi... mas voltava sempre, amiúde, atraído por este gigantesco magneto que desnorteia todas as bússolas...
Aquele abraço, até breve! (A vossa Ítaca sempre vos espera, e aqui haverá sempre um Argus que vos reconhecerá)...
N.
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