Alto da serra, na zona das minas, onde a vegetação recuperou os seus direitos. Ao fundo, o Alto de Felgueiras.
O itinerário da próxima visita guiada empurrou-nos desta vez serra acima, em direcção à Ferrominas. Galgámos o estreito carreiro, que conduzia ao cume do monte, e aí iniciámos a exploração na nossa aula de Ciência Viva. Era evidente aos olhos de todos que o matagal começava a abondar por entre o esquecimento da exploração mineira. Por isso, as feridas abertas no ventre da montanha estacavam e iam cicatrizando em circunscrição mais apertada. Talvez por essa razão o som cavernoso que soou do subsolo nos tivesse atingido os tímpanos e a alma num clamoroso sofrimento.
- Donde vem este gemido?
- Será o latido de um cão ou o uivo de um lobo?
- A mim parece-me um cão!

O Professor, conhecedor daqueles domínios, meteu-nos encosta abaixo e abriu-nos a cavidade de uma grande caverna. O terreiro ao seu redor permanecia um queixo limpo e de lisura irrepreensível de fêmea. Enfiámo-nos por ela adentro com os ossos enregelados da frescura íntima das entranhas de fraguedo e terra. Sem atavios que nos iluminassem e protegessem de alguma iminente derrocada, o Professor ordenou-nos que não avançássemos. Seguindo as pisadas dos velhos carris abandonados, sem vagões que os transportassem a eles ao fundo longínquo do túnel ou a nós de volta até à saída como dantes acontecia com o minério, ficámos ali especados e completamente imbuídos na semi-escuridão. Num repente, o brado do pobre animal chegou-nos novamente tal e qual o refluxo instantâneo e veloz de uma combustão explosiva de gases. Escutado de dentro da caverna, o bramido tornava-se lancinante.
- Vamos seguir o eco e procurar o pobrezinho! – implorou a Josefina.
- Impossível! Nunca o encontraríamos…
- Mas porquê?
- Olha além mais para a frente! Temos já ali duas narinas que nos conduziriam a sítios muito distintos e distantes…
- Vamos tentar! Vamos…
Sem perder a paciência, mas com visível consternação, diz-lhe para tomar atenção ao respiradouro; uma espécie de chaminé esguia, que ligava o interior da galeria à impoluta

- Pode ter sido empurrado por qualquer um destes respiradouros, não percebes?
Avizinhava-se a tarde e quando o pôr-do-sol descaía no horizonte banhado de montanhas escuras, passou um morcego que fustigou, com as suas asas abertas, o rosto de Josefina. Aquele roçar inesperado das membranas das mãos volantes petrificou-a. Felizmente, o Mestre exclamou a tempo:
- Quando eles regressarem, pela manhã, do seu esconderijo diurno, lá para os lados da barragem de Vale de Ferreiros, serão o melhor guia para chegar até ao covil!
Ia Josefina perguntar se havia mais, mas ficou queda e muda: uma revoada de microquirópteros deslumbrou-nos a vista, ao mesmo tempo que nos fez baixar instintivamente as cabeças.
- Mas temos de ir andando, que se faz muito tarde! – avisou o Professor mais assustado pelo adiantado da hora do que pelos morcegos.
(continua)
Por: Maria Isabel Fidalgo Mateus
Fotos: N.Campos
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