torredemoncorvoinblog@gmail.com

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mote e Glosa

Mote e glosa


Esta amêndoa, vida dura de casca
e um miolo - coração terno
mas tantas vezes partido


no teu rosto vejo e sinto
tanta mágoa tanto pranto
que no teu gesto desminto
por me parecer peso tanto
o feliz e breve encanto
do momento e da ternura
da mão que nesta amêndoa
descobre a vida dura de casca

dos teus sonhos já desfeitos
na tua vida revolta
revejo um imperfeito mundo
cruas dores mortes e mágoas
rios de antigas águas
terras mares tempos sem nome
mas no teu peito duro e simples
um miolo coração terno

olhando o teu rosto penso e sei
mais que silêncios mais que a bruma
que da serra desce e avoluma
mistérios segredos uivos cantos
ritos antigos de esquecidas forjas
danças de roda misteriosos prantos
que renasce uma vez mais o teu querer
e amigo irmão refazemos aqui o nosso sonho
tantas vezes partido


7 de Setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tipografia Globo

Recentemente, alguns elementos do PARM, em colaboração com a Local Visão, efectuaram um registo sobre a histórica Tipografia Globo, situada na R. Visconde de Vila Maior, em Torre de Moncorvo. Já no ano passado (02/2008), tinha sido efectuada uma primeira abordagem, em colaboração com o Jornal "Mensageiro Notícias" (ver post no Blog do PARM).

Aqui fica um pequeno excerto do presente registo/reportagem, com uma das máquinas de impressão em funcionamento.

(video de N. Campos/PARM)

domingo, 6 de setembro de 2009

Epígrafe de Setembro

Nos últimos olmos,
os que a tristeza não secou,
ainda chilreiam pássaros
ao entardecer.

sábado, 5 de setembro de 2009

Moncorvo em 1972

Folhear jornais antigos é um bom exercício para compreender como o País mudou nestes últimos 30 anos. Maior justiça social, outros cuidados de saúde e sobretudo liberdade. Para alguma memória, muita amnésia.
Vejamos pois, tendo como fonte, exclusiva neste caso, o “Notícias de Trás-os-Montes”, como a nossa região mudou, ainda que muitos dos temas e necessidades se mantenham.

Grupo Desportivo de Moncorvo -- O “Notícias de Trás-os-Montes” publica a um de Julho de 1972, em grande destaque, a subida do Grupo Desportivo de Moncorvo à III Divisão. Ganhara o último jogo da distrital contra o Macedo de Cavaleiros. A subida do GDM foi abrilhantada no jardim de Moncorvo com um grupo musical que fazia a sua estreia, “Teorema”. Tempos depois tomaram posse os novos corpos gerentes. Vale a pena referi-los: Almiro Sota, presidente; Fausto Catalão, vice-presidente; secretário, Eduardo Leite; segundo secretário, José Cavalheiro Paiva; vogais, António Teixeira, Manuel Tristão e Arnaldo Gonçalves.
Vale a pena lembrar a equipa inicial: Eurico; Sílvio (actual treinador do GDM), Amadeu, Custódio e Morais; Favorino e Paçô; Miranda, Vaz, José Manuel e Mateus.
Mas a equipa não funcionava bem. À quarta jornada levou 8-0 do Lourosa e ainda não tinha ganho um jogo, nem sequer marcado um golo. À sexta jornada o GDM conseguiu marcar um golo, ainda que tenha perdido com o Leça por 4-1.O golo do Moncorvo foi marcado pelo Zé Manuel. O Lourosa liderava a classificação.
Na jornada seguinte o GDM perdeu com o Limianos por 4-2. Os golos foram marcados pelo Miranda e pelo Santos. Sílvio já não jogava no GDM.
Na 11ª jornada o GDM continuava com um ponto apenas. Já não havia nada a fazer.

Saúde-- No segundo semestre de 72 entrou em funcionamento, na dependência do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Moncorvo, o Centro de Saúde do concelho, constituído por dois médicos e respectivo pessoal de enfermagem, pelo que deixou de funcionar a subdelegação de Saúde que estava instalada no edifício do Tribunal. Registe-se que, na altura, a população era superior e os médicos eram apenas dois. Vale a pena lembrar que então o acesso à saúde tinha muito pouco a ver com as exigências de hoje.

Combóios-- As linhas do Corgo, Tua e Sabor acabaram por fechar. Mas o problema não é novo. Há 30 anos, pelo menos, que os poderes se manifestavam contra o encerramento das linhas. Titula o “Notícias de Trás-os-Montes” (29.7.72): “Trás-os-Montes opõe-se à supressão dos combóios”. Já um colunista deste semanário, informa, meses depois, que para vencer os primeiros 12 quilómetros do Pocinho a Moncorvo, são necessários 49 minutos, sendo 40 para o percurso e 9 para o serviço e toma de água, o que dá 15 quilómetros à hora como velocidade.
Nos 22 quilómetros de percurso -- do Carvalhal ao Pocinho -- havia 124 curvas. É obra. Mas as linhas acabaram. Quem as frequentou, sente nostalgia.

Emigração-- Se não fosse a emigração, a população portuguesa teria sido em 1981 de 9660.000 habitantes, segundo o INE. Diga-se que só em 1971 (já com a emigração em baixa) são registados mais de 151 mil emigrantes, dos quais 100.797 clandestinos.

Emprego -- Na sua edição de 21.10.72, alicerçado em fontes oficiais, o “Notícias de Trás-os-Montes” informa que o Serviço Nacional de Emprego, através do seu Centro de Castelo Branco, oferecia trabalho para homens (mais de 14 anos) a sete escudos à hora e para mulheres (mais de 14 anos) a quatro escudos, podendo fazer, homens e mulheres, mais de 10 a 12 horas diárias. O trabalho era garantido apenas por três meses. Ou seja, para usufruir 70 escudos por dia, e apenas durante três meses, um homem tinha que trabalhar 10 horas diárias. Desconheciam-se as horas extraordinárias. Como hoje se quer desconhecer o que foi este país e como neste país eram tratados os seus filhos.

Cultura -- Hoje seria um acontecimento nacional, com direito a televisões. Mas hoje seria difícil reunir em Mirandela, como foi reunida em Julho de 1972, uma mostra dos grandes nomes da pintura portuguesa. Sigamos o despacho do “Notícias de Trás-os-Montes” que nos dá conta de uma exposição em Mirandela com o patrocínio da Câmara e a colaboração da Galeria Alvarez do Porto.
Antes da exposição, houve uma palestra sobre o “Romance Moderno e a sua evolução”, pelo escritor António Rebordão Navarro, cujo romance “Um Infinito Silêncio”, é o retrato de uma comarca de Trás-os-Montes (Vimioso) onde esteve colocado.
Na exposição podiam ver-se, entre outros, quadros de Almada Negreiros, Ângelo de Sousa, Armando Alves, Arpad Szenes, Artur Bual, Dórdio Gomes, Espiga Pinto, João Hogan, José Rodrigues, Jorge Pinheiro, Júlio Pomar, Júlio Resende, Manuel Cargaleiro, Nadir Afonso, Nikias Skapinakis, Noronha da Costa, Francisco Relógio, Vespeira e Vieira da Silva.
Seria hoje possível uma exposição desta grandeza? E quem seria a grande mente de Mirandela que na altura foi capaz de organizar ua exposição única, não só a nível do Nordeste Transmontano, mas a nível nacional? Gostaria de saber quem foi só para profundamente lhe agradecer.

Arte sacra ­­--- A reportagem é escrita por Afonso Praça na edição de quatro de Novembro de 1972 no “Notícias de Trás-os-Montes”, semanário de que o repórter era director-adjunto. Trata-se da história do retábulo flamengo de Moncorvo. Escreve o nosso conterrâneo: “Cerca de sete dezenas de naturais de Moncorvo ou ali residentes, deslocaram-se a Lisboa e visitaram o Instituto Dr. José de Figueiredo, anexo ao Museu.
A excursão foi feita a convite do director do Instituto, dr. Abel Moura, foi organizada pelo delegado local da Junta Nacional de Educação, dr.Horácio Brilhante Simões. Para muitos, foi uma revelação; para outros, apenas um passeio a Lisboa; para todos uma certeza: o retábulo está efectivamente no Instituto Dr. José de Figueiredo, entregue aos cuidados da pintora Ana Paula Abrantes, diplomada pelo Instituto Real do Património Artístico de Bruxelas. Pelo sim, pelo não, os moncorvenses acharam que era melhor vir a Lisboa: é que o retábulo já foi roubado uma vez e encontrado, meses depois, num antiquário de Guimarães. História que os jornais contaram e os moncorvenses não esquecem...”
Apó este super lead, Afonso Praça desenvolve a notícia: “Seja como for, a referida obra de arte recebeu, na altura, tratos de polé: dizia-se que os ladrões pretendiam enviá-la para os E.U.A. De certeza sabe-se que foi pintada no intuito de a disfarçar. É desde então que muita gente pensou em mandar restaurar o retábulo, mas havia um problema: o povo não queria que o “quadro” saísse de Moncorvo. Há três anos o dr. Horácio Simões, na sua qualidade de delegado da Junta Nacional de Educação, fez um pedido formal ao Instituto Dr. José de Figueiredo, e no ano passado apareceram na vila funcionários desta instituição para procederem ao transporte da obra. Qual quê! O retábulo lá ficou, como acontecera uma vez, perante a reacção dos moncorvenses que se reuniram junto da igreja, dispostos a tudo. Recentemente, um carro foi a Moncorvo, carregou o tríptico e trouxe-o para Lisboa, sem ninguém dar conta. Mas logo a notícia se espalhou pela vila, como uma bomba. E foi então que surgiu a excursão, cuja finalidade principal foi de esclarecimento: moncorvenses de várias profissões e categorias sociais (professores do ensino secundário, comerciantes, trabalhadores rurais, funcionários públicos) entraram esta manhã no Instituto Dr.José de Figueiredo com um peso no peito. E o repórter ouviu várias vezes: “Afinal o quadro volta ou não volta para Moncorvo?” Todos os moncorvenses sabem hoje que o quadro voltou a Moncorvo e pode ser visto na sua igreja matriz.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Provérbio chinês

Permite que a ave da tristeza pouse na tua cabeça, mas nunca aceites que faça ninho nos teus cabelos.

O gesto do tempo


Esta amêndoa
Vida dura de casca
e um miolo - coração terno
mas tantas vezes
partido

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ainda as festas de Verão

Igreja Matriz do Larinho (foto dos anos 30, arquivo Dr. João Leonardo)


Na senda das festas de verão, é importante referir que no último fim-de-semana de Agosto, ocorrem no concelho de Moncorvo várias festas e romarias. No Larinho, com a romagem à capela de Santa Luzia, que não é a padroeira, mas uma bela suplente, e que tinha uma bela capela com pinturas murais que foi quase totalmente demolida, já na segunda metade do séc. XX. Como curiosidade, na actual capela existem duas representações de Santa Luzia, mas a mais recente não pode sair na festa porque faz, segundo o povo, com que haja sempre trovoada.
Na zona "de trás da Serra" havia neste fim de semana a importante peregrinação ao Santo Apolinário de Urros, que este ano retrocedeu um fim de semana. Como sabem, no santuário existe o túmulo do Santo que, segundo a tradição, foi bispo de Ravena, e veio morrer àquele local. Esta festa foi das mais importantes do Sul do distrito, tendo ainda alguma participação.
Também neste fim-de-semana se comemora a festa a Santa Bárbara, na mui antiga vila de Mós, padroeira dos mineiros e das trovoadas. Recorde-se que no limite desta freguesia existiram alguns locais de fundição, sendo o último caso de fundição na Chapa Cunha, junto à ribeira de Mós. Daí a grande devoção por esta mártir da Igreja.
Na zona do vale existe outra romagem, à Nossa Senhora do Castelo (Adeganha), no local onde existiu povoamento antigo (pré-histórico, castrejo e romano), e cuja peregrinação, outrora, teria alguma importância. Recomenda-se a visita a este local, particularmente ao topo na capela de S. João, donde se pode desfrutar uma vista magnífica sobre o vale da Vilariça.
Faltou referir também, festa da Lousa que ocorre no terceiro fim de semana do mês, dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, que teve algum relevo, já que esta já foi uma povoação com alguma importância. É de recordar que possuiu um convento de Trinitários, e é a única freguesia do concelho que é parcialmente classificada como Património da Humanidade pela UNESCO.

Torre de Moncorvo - Agenda Cultural - Setembro- Outubro

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Recordando a Póvoa

Há cinco/seis anos escrevi esta crónica para o Jornal de Notícias, numa rubrica semanal que tive durante mais de dois anos na edição de Lisboa deste jornal. Porque penso que tem alguma actualidade, contextualizando-a no tempo, penso que ainda tem alguma actualidade. Por isso e também por preito ao Nélson, achei que a devo republicar, depois de a retirar da minha arca informática. Aqui vai, tal como foi escrita há cinco/ seis anos.

"De novo, as gravuras
ou
Ao Sabor das gravuras

Encontramo-nos no quiosque da Praça a comprar jornais. O Público anunciava, em chamada de primeira página, a descoberta de novas gravuras rupestres no Sabor, com 20 mil anos de idade.
Encontrámo-nos eu e o Nélson Rebanda, o arqueólogo que descobriu as primeiras gravuras do Côa e que tão injustiçado foi nos anos seguintes. Foi uma espécie de Cristóvão Colombo das gravuras.Viriam mais tarde os conquistadores. A notícia, assinada por Pedro Garcias, um homem cá de cima, dava ao Sabor da minha infância um sabor novo.
No dia anterior tinha ido comer peixes à Foz ( do Sabor), num ritual que se repete sempre que rumo a limpezas de olhar interior. Também nesse dia me embrenhara nas fragas da Póvoa onde, já lá vão perto de 25 anos, levei o Assis Pacheco que, perante uma professora primária vestida para nos receber como se se preparasse para uma ida ao S. Carlos, numa casa sem luz nem água, com o caldeiro dos grelos à lareira, escreveu um belíssimo poema, posteriormente publicado na Vértice.
Hoje na Póvoa vivem 22 pessoas, bem contadinhas, quase todas com idade superior a 60 anos. As casas, com se o tempo não passasse por ali, mantêm-se de pedra, em construção tosca mas robusta de granito. E desabitadas, na maioria.
E fomos tomar café. O Nélson Rebanda estava excitado pela descoberta e era referido no texto como o criador da expressão do Côa, Santuário Sagrado.
Mas que importância tem descobrir que há 20 mil anos já se sonhava por aqui, nos desfiladeiros inóspitos, quando o sonho é considerado hoje, pelo pragmatismo crescente, um dos sintomas do desfazamento da realidade e um obstáculo ao nacional-situacionismo, mediático e político, para quem o efémero e o supérfluo são os grandes promotores de energias e desenvolvimento?
Vejo o Nélson desencantado, por vezes excessivamente auto-crucificado, num jogo de incompreensão que o isolamento potencia.
Mas como é que não se sentirá alguém que, durante infindáveis dias, foi desbastando de roçadoura na mão, os arbustos que escondiam as pedras, o xisto sólido do chão sagrado?
E leio também que, após 23 anos de serviço à causa pública, Diana Andringa se despede da RTP. Como não se há-de sentir ao ver o estado a que a televisão (pública e privada) chegou.
E leio A Bola. Um jogador atinge os 20 milhões de contos. Outros menos milhões, mas ainda milhões.
A Igreja em vez de abençoar Deus, preocupa-se mais em criticar César. Esquece o sagrado e sacia-se no profano.
A remodelação e os seus rumores inventam analistas e suportam ajustes de contas. Resultados de sondagens, sempre relativos, são absolutizados.
Ouvem-se pelo interior as sirenes. Começaram os incêndios. A seu tempo virá a remodelação.
E os jornais em vez de picotarem na rocha um auroque (boi selvagem), preferem pintar em papel um cenário de um país dissolvente, em que tanto governo como oposição servem de arbusto e ocultação ao grande auroque gravado na pedra do tempo.

Rogério Rodrigues

Apresentação de Outros Contos da Montanha, por Isabel Mateus

Ainda no passado dia 29 de Agosto, depois de inaugurada a Exposição sobre o felgueirense Armando Martins Janeira, teve a palavra uma outra felgueirense: Isabel Maria Fidalgo Mateus, natural das Quintas do Corisco, presentemente professora de Português na Universidade de Liverpool, após a conclusão do seu doutoramento pela University of Birmingham (Reino Unido).

Após a apresentação deste mesmo livro – Outros contos da Montanha – ocorrida há meses na Biblioteca da Escola Secundária de Torre de Moncorvo e no Grémio Literário de Vila Real (onde teve o patrocínio do escritor A.M. Pires Cabral e da presidente do Círculo Miguel Torga, Doutora Assunção Anes), chegou a vez de também a Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo dar a conhecer a obra desta nossa conterrânea.
Após as palavras do Sr. Presidente da Câmara, a apresentação da autora esteve a cargo de uma sua antiga colega do Secundário, que frequentaram em Torre de Moncorvo, a jornalista Glória Lopes, que enalteceu as suas qualidades, bem como do livro em causa.
Por fim, Isabel Mateus falou da temática dos diversos contos que compõem o livro. Por aqui perpassam a emigração, a desertificação humana, a dureza do trabalho no campo, hoje como no Passado, mas também muito da Cultura popular, tudo caldeado num grande telurismo, bem digno do conterrâneo Armando Martins Janeira (o homem que andava sempre com três pedras de minério do Roborêdo), ou ainda de Miguel Torga, de quem a autora colheu inspiração para o título desta obra. “Eu afirmo as quintas, as quintas são a minha raiz” – disse Isabel Mateus, a dado passo da sua intervenção. Congratulou-se pelo facto de os seus contos serem lidos em lares de idosos, além da sua apresentação em diversas escolas, como no Agrupamento Vertical de Torre de Moncorvo. Mas não só: em Inglaterra, na University of Liverpool, onde existe um grupo de Português, já se organizou uma semana de cultura lusófona (Lusophone Culture Week), tendo um dos seus contos sido traduzido para inglês.

A finalizar, Isabel Mateus levantou ainda um bocadinho a ponta do véu do seu novo livro, que terá por título: O trigo dos pardais e versará sobre a relação das crianças com a natureza, nomeadamente com brinquedos e brincadeiras a partir de elementos naturais, um tema bem do agrado do nosso colega blogueiro Vasdoal.
No auditório da biblioteca, aquando da apresentação do livro, esteve patente ainda uma exposição de desenhos aguarelados, de autoria de Cristina Borges, que serviram de base às belas ilustrações incluídas no livro.
Aqui deixamos as nossas felicitações à nossa colega de blogue, Isabel Mateus, e também à autora das ilustrações, por este belo livro, que tanto pode ser adquirido na Biblioteca Municipal ou no balcão do Museu do Ferro e da Região de Moncorvo.
Texto e Fotos de N.Campos

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dia 29 de Agosto, inauguração da Exposição sobre Armando Martins Janeira

Conforme anunciado oportunamente, foi inaugurada no passado dia 29.08.2009, a exposição: sob o título “Armando Martins Janeira ou a busca do Homem Universal”.

Momento inaugural da Exposição, após os discursos do Sr. Presidente da Câmara e da Embaixatriz D. Ingrid Bloser Martins (foto da Biblioteca Municipal de T. de Moncorvo)
Esta mostra apresenta uma série de objectos pessoais, livros e documentos que pertenceram ao Sr. Embaixador Armando Martins Janeira, integrando alguns o espólio do Centro de Memória e outros a colecção particular da família, embora se perspective que alguns destes venham a ser doados também ao Centro de Memória.
A visita guiada à Exposição esteve a cargo da Srª. Embaixatriz, D. Ingrid Bloser Martins, que salientou os principais passos da vida e obra do Sr. Embaixador Armando Martins (1914-1988), natural de Felgueiras (concelho de Torre de Moncorvo). Tendo principiado a sua carreira diplomática no antigo Congo belga (mostra-se na exposição o uniforme que usava, à época), desta fase se apresentam alguns objectos de Arte Africana, que o nosso conterrâneo recolheu nessas paragens. Todavia, o que viria a cativar verdadeiramente o seu interesse foi a Cultura Japonesa, de que se tornou um estudioso emérito. Esse interesse vinha fermentando desde muito jovem, ao tomar contacto com a obra de Wenceslau de Moraes (n. Lisboa, 1854; m. Tokushima,1929), o português que se “japonizou” por completo entre o séc. XIX-XX. Numa das vitrinas ilustra-se esse contacto, com livros e imagens de e sobre Wenceslau de Moraes, alguns de autoria de Armando M. Janeira, como o “Peregrino” (recentemente reeditado pela editora Pássaro de Fogo).

O numeroso público seguiu atentamente as explicações sobre o significado dos objectos patentes, no contexto da vida e obra do embaixador Armando M. Janeira (foto da Biblioteca Municipal de T. de Moncorvo)

Fotografias da família imperial do Japão, estampas, kimonos e outras peças têxteis, colecções de bonecas japonesas, objectos do ritual do chá, alguns “kompeitos” (palavra japonesa de origem portuguesa para designar “confeitos”) similares às nossas amêndoas cobertas de Moncorvo (só que sem o grão de amêndoa no interior do açúcar, outros livros de Armando M. Janeira, como as Figuras de Silêncio, O impacto português sobre a civilização japonesa, Japão, a Construção de Um País Moderno ou, simplesmente, peças de teatro, como Linda Inês, tudo associado a objectos coleccionados com muita dedicação e carinho, como faianças e porcelanas, nesta mostra se encontra sintetizada uma vida que foi uma busca e um Encontro com o Outro, todavia sem nunca perder o sentido das suas raízes, como bem sintetizou a sua viúva, Srª. D. Ingrid.

Outro momento da visita guiada à Exposição (foto da Biblioteca Municipal de T. de Moncorvo)
Para melhor se ilustrarem alguns aspectos da obra e do pensamento de Armando Martins Janeira, foram lidos alguns textos de sua autoria, encenando-se alguns diálogos, por elementos do grupo de teatro Alma de Ferro, de Torre de Moncorvo (Américo Monteiro, Marilú Brito e Esperança Moreno).
A concepção da exposição teve o apoio do Sr. Arquitecto Carlo Maria Bloser, tendo a montagem sido apoiada pela equipa da Biblioteca/Centro de Memória. A decoração floral, integrando formosos arranjos de Ikebana, esteve a cargo da Srª. Embaixatriz D. Ingrid Bloser, assim como alguns conteúdos do Catálogo, que contou com a colaboração da Drª. Paula Mateus, especialista da obra de Armando M. Janeira, e da equipa da Biblioteca Municipal.
Esta Exposição fica patente no Centro de Memória de Torre de Moncorvo até ao mês de Outubro, podendo ser visitada durante o horário da Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo.
Para saber mais sobre o Embaixador Armando Martins Janeira, ver neste blogue:

E ainda o "site" próprio: http://www.armandomartinsjaneira.net/

NOTA: A título de mera curiosidade, informamos que foi no decurso de uma outra exposição sobre a Vida e Obra do Embaixador Armando Martins Janeira, realizada em 1997 no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, que surgiu a ideia de se constituir um Centro de Memória destinado a conservar e a divulgar os espólios dos mais ilustres concidadãos naturais ou identificados com Torre de Moncorvo. Isto porque a Srª. Embaixatriz D. Ingrid Bloser Martins, logo nessa ocasião manifestou a intenção de oferecer uma série de documentos, livros e objectos pessoais ao Museu. Como o espólio em causa não se enquadrava bem no âmbito temático do Museu, para além da manifesta falta de espaço para se incorporarem outros espólios que eventualmente viessem a ser propostos (como era o caso do do Professor Santos Júnior, de que então também já se falava), o responsável do Museu do Ferro e da Região de Moncorvo propôs então à autarquia a criação de um Centro de Memória, o que viria a ser aceite e se concretizou no espaço actual anexo à Biblioteca.

domingo, 30 de agosto de 2009

Rostos Transmontanos

Fui na passada sexta-feira ver de novo ( já a vira em Moncorvo) a exposição fotográfica "Rostos Transmontanos" de Paulo Patoleia. Eu e o Lelo e bemmequero ( o filho do "apita abílio" ,que tem na net o "forum de Carviçais") e gostamos. A Júlia Ribeiro é que veio de propósito de Leiria a Lisboa e se perdeu. Penso que deve ter ido parar às antigas instalações do Museu da República e Resistência na Estrada de Benfica, no que se chama o Casal do Grandele. A exposição está patente até 10 de Setembro e qualquer transmontano que se preze e tenha algum tempo não a pode perder. Daqui envio os meus parabéns ao Paulo Patoleia. Foi pena que não estivesse ninguém da Câmara, já que era uma das patrocinadoras. Sei que havia outras actividades naquele dia, mas de qualquer modo... Enfim

sábado, 29 de agosto de 2009

Felgar - Festa NSA 2009

Felgar - Festa de Nª Sª do Amparo.
Domingo, 23 de Agosto de 2009, cerca das 9h30.
Como de costume a Banda do Felgar recebe a Banda de Música convidada, este ano a Banda de Mirandela. No Largo da Santa Cruz trocam cumprimentos.

Chamo a atenção para a evolução que a nossa banda teve desde Janeiro até hoje. Veja-se a mesma música tocada na Festa de S. Sebastião, também aqui colocada, e compare-se com a execução de hoje. Sente-se que tem sido realizado um trabalho de aperfeiçoamento notável. Estão de parabéns o regente, os músicos e a direcção da SFF.






Nota: Os mais atentos ouvem um som de fundo contínuo. Eu mostro já o que é...

Trata-se do agradável som da água a correr no chafariz.

Só não coloco aqui o cheiro matinal dos jardins do Cimo do Lugar porque é muita mão de obra...


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mais um conto de Júlia Biló: O ZÉ LEITINHO

Não sei se alguém em Moncorvo se lembrará ainda do Zé Leitinho, José Leite de seu nome oficial.
Magrinho, de altura mediana, pele macilenta, cabelo preto liso, risco ao meio e empastado de brilhantina para se manter fixo no seu devido lugar. Sempre vestido de fato preto, lustroso de tão coçado, pastinha preta debaixo do braço.
Creio que era funcionário menor da Câmara, talvez cobrador.
Também lhe calhava ir à Corredoura. Então aí, à roda do Zé Leitinho, juntavam-se as meninas da Corredoura que, ao tempo, eram as filhas da Sra. Camila Miranda, da Sra. Rosalina Mesquita, a Menina Alcina, jovem esposa do Sr.Todu, a Menina Gininha Galo (já não muito jovem) , as filhas da Sra. Delmina Terceira, a Menina Natalina, a Menina Idalina e ... não sei se me esqueci de mais alguma. Depois a roda alargava-se com mais algumas mulheres e , obviamente, a canalhada não podia faltar.
Nesta última faixa encontrava-me eu. Furávamos entre as pernas das pessoas (já uma pequena multidão) para chegarmos à frente e não perder pitada.

As filhas da Sra. Rosalina e da Sra. Camila pediam, suplicavam ao Zé Leitinho que lhes cantasse o “Passarinho da Ribeira”. E insistiam : “A sua voz é maravilhosa” , “Canta que nem um rouxinol” . “ Não , não canto. Por favor, não peçam mais” . “Se for preciso, peço-lhe de joelhos” . E uma mais atrevida pôs logo os joelhos em terra e, de mãos postas : “ Por favor, cante. Não nos faça sofrer mais “ .
E o Zé Leitinho atrapalhado - até o cabelo começava a fugir do seu arrumadinho lugar - queria sair dali, mas a roda apertava-se à sua volta.
Finalmente cedia em cantar “Só uma. Só uma e mais nada”. Fazia-se silêncio e o Zé Leitinho esticava o pescoço, pigarreava, olhava para o céu, fechava então os olhos e soltava a sua voz : “Passaaaarinho da Ribeira / Não seeeejas meu inimiiiiigo ... “ Aqui começava uma das Meninas a ficar sem forças, encostando-se a outra e mais outra que começava a desmaiar... e o Zé Leitinho, embebido na canção que existia na sua cabeça e não sabendo que a desafinação era completa, continuava “...Empreeeeesta-me as tuas aaaasas / Deixaaaaa-me ir voaaaaar contiiiigo...” Por esta altura, tinha de abrir os olhos , porque os “ais” das Meninas eram já muitos e os desmaios tantos que algumas iam a correr buscar água para deitar na testa das que haviam desmaiado e estavam nos braços de outras que fingiam chorar .
A aflição estampava-se na cara do Zé Leitinho que, em lágrimas verdadeiras, dizia confuso: “ Eu não queria cantar. Eu sei que a minha voz provoca este efeito nas jovens. Oh, Deus me valha! “ Lá conseguia que lhe abrissem o cerco e, tirando o lencinho branco que espreitava do pequeno bolso do casaco, fugia limpando a testa e a cara.
As Meninas em desmaio recuperavam de imediato e as lágrimas que agora lhes assomavam aos olhos eram das gargalhadas que o Zé Leitinho já não ouvia.
Eu era muito pequenita e até sentia pena do Zé Leitinho . Mas tenho de confessar que nunca ouvi voz tão desafinada. E mais, em alguém que não tinha a mais leve ideia da sua desafinação.

NOTA – Penso que o Lelo sabe outras estórias do Zé Leitinho.

Por: Júlia de Barros Guarda Ribeiro (Júlia Biló)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Exposição sobre Armando M. Janeira e livro de Isabel Mateus

"O local é o universal sem paredes", disse um dia o grande escritor transmontano Miguel Torga.
Pois se conjugarmos os temas da Exposição sobre o Embaixador Armando Martins Janeira que será inaugurada no próximo dia 29 de Agosto, pelas 11;00h, no Centro de Memória, com a temática do livro de Isabel Fidalgo Mateus, sobre a nossa Montanha (o Roboredo), ou, mais propriamente sobre o mundo de trás-da-serra, de onde partiram tanto o Embaixador como esta sua prima afastada, natural das Quintas de Felgueiras, temos a frase de Torga consumada na sua plenitude.
É que tanto a busca do Homem Universal intentada por Janeira, como esta demanda do local procurada por Isabel Mateus, têm como referência sempre o "locus" de onde partiram.
Ambos embaixadores, cada qual à sua maneira, pois a Doutora Isabel Mateus é, presentemente, professora na Universidade de Liverpool, onde muito bem representa a nossa terra (e de onde nos envia as suas crónicas para o blogue), ambos tiveram percursos similares embora em contextos cronológicos distintos: o jovem Armando frequenta aqui aprende as primeiras letras nos anos 20 do séc. XX, enquanto a pequena Isabel por aqui andou à escola nos anos 70 e 80.
Todavia, ambos devem ter subido um dia ao alto da Serra e imaginado que havia mais mundo, e partiram. Também Armando Martins Janeira passou por Inglaterra, antes de se fixar por mais tempo no Japão e na cultura japonesa. A Isabel deambulou por Portugal e Europas (o marido é italiano, passo a inconfidência), antes de se fixar (ao presente) no Reino Unido.
Em suma, dois felgueirenses (do concelho de Moncorvo), que sentiram a tal pulsão de evasão e se projectaram no mundo exterior, buscando a universalidade, mas que nunca esqueceram as suas raízes. Um cumpriu já o seu destino e é a personalidade de excepção que se conhece. A nossa contemporânea está a concretizar também o seu percurso, e daqui lhe desejamos um futuro à medida dos seus desejos - mas tendo sempre presente o magneto do Roboredo a orientar a sua bússola.
Sábado, a partir das 11;00 h no Centro de Memória.

Para saber mais, ver os seguintes post's, no nosso blogue:

  • sobre Armando M. Janeira:
http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/02/biblioteca-iii-peregrino-de-armando.html
http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/02/biblioteca-iv-ainda-armando-martins.html
  • Sobre Isabel Mateus:

http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/04/outros-contos-da-montanha-de-isabel.html

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ponto final


-Avô, a Terra tem ponto final?
Esta a pergunta que o meu neto António me fez ao olhar para o céu onde eu lhe mostrava o quarto crescente lunar.
Pergunta que me deixou boquiaberto de espanto e também eu próprio cheio de perguntas.
Não tanto pela certa finitude do espaço físico terreno, mas pela forma sob a qual a conhecemos na sua biodiversidade, o clima, os oceanos, as próprias civilizações. Mas por tudo o que o homem tem transgredido, violando a suprema regra do equilíbrio da natureza. Sem olhar aos seus custos. Sem pensar nos que, como o meu neto, virão depois de nós e depois da sua geração.
Ponto final, talvez prolongado terá se assim tudo continuar.
Mas será apenas um fim de frase?
Ou, pior do que isso, um ponto final de parágrafo? Ou até um fim de texto?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Festa de Senhora do Amparo (Felgar)

Aconteceu este fim de semana a festa de Nª. Senhora do Amparo do Felgar.
A história do culto da Senhora do Amparo e da respectiva festa, começou com um barco em risco de naufrágio, no alto mar, num certo dia do século XIX, entre Portugal e o Brasil. O barco era de pavilhão inglês e chamava-se Iteamer.


Réplica do barco Iteamer, evocando a atribulada viagem do Comendador Pires (foto N.Campos)

Ia a bordo um felgarense, que viria a ser comendador, chamado Francisco António Pires (nascido em 29.06.1837; falecido em 7.03.1901), que, no meio da aflição geral, fez uma promessa de edificar uma capela e celebrar uma festa em honra da Senhora do Amparo, se se salvassem, o que veio a acontecer. E a promessa foi cumprida.


Imagem da Senhora do Amparo, no interior do Santuário (foto N.Campos)

Esta história, com uma réplica antiga do barco, e muitas fotografias de beneméritos, e todo o tipo de “souvenirs” e “ex-votos” podem apreciar-se na Casa dos Milagres do santuário.
A festa do Felgar enraizou-se ao longo de todo o século XX, sendo das romarias mais concorridas de todo o Leste do distrito de Bragança.

A devoção popular acende velas à Senhora, talvez uma reminiscência dos fogos sagrados, dos templos de Roma (foto N.Campos)
A devoção dos felgarenses pela sua Senhora do Amparo aumentou durante o período da guerra do ultramar (1961-1974), em que os soldados desta freguesia levavam consigo um pequeno retalho do manto da Senhora. Dizem que nenhum morreu durante essa guerra, apesar de alguns terem sido atingidos.

Procissão da Senhora do Amparo, em 1972 - o militar fardado, segurando o pendão, em promessa pelo seu regresso são e salvo, é César Rebouta (arquivo particular de Agripino Paredes, a quem agradecemos)
Mas, para mais detalhes e fotos, aqui fica a deixa para os colaboradores e amigos felgarenses.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Alpendre cultural II

Este curto filme( versão revista e aumentada) é um registo de alguns momentos deste "Alpendre Cultural"que me alberga o espírito e até a alma ( não fosse estar resguardado pela Catedral), nas minhas investidas a Moncorvo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Arte Sano

A plenitude também se busca no "nada" da Natureza. Talvez aí nos reencontraremos. Estas curtas imagens serão prova disso e possibilitam, de alguma forma, uma breve panorâmica da Exposição "Flora de Brincadiras" acolhida há tempos no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.

As Fontes

Add to Google Reader or Homepage Subscribe in NewsGator Online Add to My AOL Add to netvibes Subscribe in Bloglines Add to Excite MIX Add to netomat Hub Add to Pageflakes

eXTReMe Tracker