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terça-feira, 5 de maio de 2009

Parabéns, 1 Ano À Descoberta

O Blogue À Descoberta de Torre de Moncorvo está de parabéns, completa hoje um ano de existência. Não sei bem qual é a escala para medir a idade de um Blogue, nem mesmo como medir a popularidade ou o sucesso. Os blogues são muito recentes e há quem diga que já estão em desuso, na Internet é tudo muito efémero.
Este Blogue nasceu da "provocação" do Nelson e é o quinto de um grupo de irmãos, dedicados a concelhos vizinhos. O mais bem sucedido até ao momento, por diversas razões, é o À Descoberta de Vila Flor, mas o quinto, estava, desde o início, destinado a ser diferente. Diferente desde logo pelo facto de ser dinamizado por um grupo alargado de colaboradores, com diferentes formações, diversificados interesses e a viverem em distintos locais. A essência manteve-se: descobrir o concelho através de textos e fotografias; pequenos retalhos que se vão unindo transmitindo múltiplas formas de conhecer, e, sobretudo, despertando a vontade de cada um partir fazendo as suas descobertas.
Parece-me que o Blogue preencheu um espaço, que se tornou uma ponte na vida de muitas pessoas. Despertou memórias, provocou reencontros, alimentou saudades, matou outras. Assim se explica o crescente sucesso que é ilustrado pelos números e pelos gráficos.
Durante um ano (5 de Maio de 2008 a 5 de Maio de 2009) foram publicadas 352 mensagens que mereceram 1431 comentários.
Foram feitas 73 160 visualizações do Blogue, por 28 261 visitantes, o que dá uma média de perto de 80 visitantes por dia. A evolução foi sempre crescente, até ao mês de Março, verificando-se a 12 de Abril a maior afluência, mais de 200. Os visitantes vieram de mais de 70 países diferentes, mas principalmente de Portugal, Espanha e Brasil.A existência deste Blogue foi muito positiva para mim. Em primeiro lugar porque me permitiu conhecer pessoas, umas ao vivo, outras só virtualmente, mas que possivelmente nunca conheceria. Em segundo, porque me levou a descobrir (ou redescobrir) além de Moncorvo, a Adeganha, Cardanha, Estevais, Castedo, Lousa, Junqueira, Foz do Sabor, Urros, Peredo dos Castelhanos, Felgueiras, Açoreira, Maçores, Mós, Carviçais, Felgar, Carvalhal, Larinho e Maçores. Esta descoberta foi bem real e em algumas destas freguesias estive duas e três vezes. Em quarto lugar porque me despertou a vontade de ler autores do concelho ou sobre o concelho, contribuindo também para o meu enriquecimento pessoal.
Embora tenhamos já discutido, entre os colaboradores, algumas linhas orientadoras para o blogue, para mim terá que ser sempre um incentivo À Descoberta, um local de partilha com/de prazer.
E ainda há tanto para descobrir...
Agradecemos a todos os colaboradores e visitantes do Blogue pelo sucesso alcançado.

domingo, 3 de maio de 2009

Luz de Mãe


Deste tudo o que tinhas:
Amor a quem amaste,
Vida aos que geraste,
Leite e pão aos que criaste,
Educação a quem formaste.

Tudo tendo o que tinhas dado,
Mais ainda deste!

Deste o que não tinhas:
A Luz das letras e dos números,
Que deste com suor suado
Em lágrimas lavado!


J. Rodrigues Dias
2009-03-07

Staline e a igreja

Peço desculpa por esta insistência, mas os últimos acontecimentos, do Primeiro de Maio e outros, levaram-me a uma reflexão cuja publicação ponho à consideração do administrador do blogue. Qualquer que seja a decisão que ele tome, aceitá-la-ei de bom grado, ainda que pense esta reflexão pode ser útil nos tempos que correm. Aqui vai:

Sem me querer envolver na polémica sobre o stalinismo - pensando eu que a existência e defesa do dogma não são boas conselheiras - sempre me apetece dizer que o estalinismo e - porque não?- o leninismo, têm na sua prática similitudes com o catolicismo. Têm os seus mártires, seja do nazismo e fascismo, seja dos imperadores romanos, têm as suas certezas como absolutas e que hão-de vencer no futuro, mesmo que o presente seja de derrotas. Staline estudou para pope (padre), a Passionaria (santa maria das Astúrias que deu o nome de guerra a Dolores Ibarruri) era uma devota até à sua reconversão já próximo da idade adulta; Cunhal teve, por parte da sua mãe, uma esmerada educação católica. Ambas as crenças ou dogmas admitem que a principal razão lhes pertence. Mataram em nome da razão e da fé (fosse ela 'revolucionária' ou apenas religiosa), na Inquisição e no Goulag, acreditaram-se sempre como vanguardas, seja na luta contra os infiéis, seja no combate a todos aqueles que acreditam e acreditaram que as "liberdades colectivas", "amplas liberdades" no eufemismo, não podem de modo algum esmagar, como esmagaram, as liberdades individuais. Milhões de mortos seja nas fogueiras dos torquemadas ou nos nos campos de concentração estalinistas, retiram a qualquer um deles (Igreja ou comunismo que nunca chegou a haver) qualquer superioridade moral, qualquer dimensão ética, enquanto colectivos e instituições. Não ponho eu em causa que na Igreja Católica, quer nos partidos comunistas, não haja excelentes pessoas, de irrepreensível conduta. O que está em causa não é qualidade do indivíduo, o que está em causa é uma ideologia que, em seu nome, pode levar um homem bom a matar outro homem bom. Um carrasco pode ser um pai exemplar, que não significa que deixe de ser carrasco; um homem livre, vítima do carrasco, pode não ser um pai exemplar, o que não significa que deixe de ser um homem capaz de ser livre. Ao nazismo e ao fascismo, na sua barbárie, devemos acrescentar o "comunismo" de Staline, na sua necessidade de matar os outros, em nome de uma utopia em que ele próprio não acreditava. Podemos acrescentar Pol Pot, a Coreia de Norte, a China e tantos e tantos atentados à dignidade humana. Penso que os pedidos de perdão sobre um passado não são suficientes se não forem claramente condenados por uma prática presente. Que me interessa que se condene Staline se se continuam a utilizar métodos stalinistas (não obviamente com o terror e a morte, que os tempos são outros e o poder é outro); que me importa que o Papa peça desculpa por Galileu, pelos queimados na Inquisição, pelas guerras que fomentou, se, nos seus métodos, já sem Inquisição nem poder temporal, continua, porém, a tentar impor valores morais (tão dogmáticos que não permitem a dúvida), a sociedades profanas, seja ela qual for a sua ideologia, e a condicionamentos e restrições das liberdades individuais? Vivemos um tempo de inquietação e dúvida, sem certezas, apenas com algumas convicções, com a necessidade de um aprofundamento ideológico em que o religioso não esmague o laico, ainda que a espiritualidade aprofunde o conhecimento do homem. As religiões inquietam, sejam elas quais forem, no Médio Oriente, nos USA ou, mesmo na Europa, porque querem condicionar a política e servir de freio e constrangimento à liberdade do homem, ao seu pensamento e ao seu protesto.

Memórias do Peredo

Como, por motivos vários, certamente respeitáveis, a colaboração no blogue tem escasseado e porque eu, pela primeira vez, nos últimos tempos, tive um fim de semana prolongado, mais ou menos descansado, envio alguns textos que, porventura, não têm interesse, mas são reflexões à beira ou no interior de duas crises: uma, a visível (economia, trabalho, desemprego, etc); outra, a invísível, a interior, as alterações no relacionamento individual e nas mutações sociais, à beira da explosão, não estivéssemos nós na Europa e no euro. Portanto, que a memória nos sustente, não como nostalgia, a que sou avesso, mas como ferramenta para não desistirmos. Assim, um texto pot pourri, aqui vai:

Faltava só mais um monte para chegar a casa. O meu avô trazia-me bolachas Maria e uma bola listrada de borracha de Ceilão. Outras vezes tomávamos a barca do Douro para a outra margem do rio. "Ó da barca" era o grito vicentino para a barca chegar puxada por uma corda que unia as duas margens e era manejada pelo barqueiro. Cabiam vacas e homens, todos junto na barca. Agora em Maio oferecia-se, como uma bênção, um gesto de apaziguamento e boa vontade, um ramo enfeitado de cerejas, as primícias. As mulheres já mondavam as ervas daninhas no esplendor das papoilas vermelhas, com o trigo já alto e grado. E as jovens solteiras, por honra e vergonha, quando falhava o açafrão abortivo, apareciam a flutuar num poço, com os longos cabelos espalhados como se foram nenúfares negros (histórias que ouvia à minha avó, natural de Ligares).

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Pode haver liberdade sem justiça, mas não pode haver justiça sem liberdade. Às vezes, apenas instantes de felicidade, tamanha a intensidade e a incandescência, que mais parece um momento de eternidade.
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25 de Abril outro ------A minha experiência como professor. A tomada da Câmara pelos meus alunos. Iminência de ser preso. Amargos eram os dias que antecederam ABRIL. A cobardia colectiva. Mas é no estrume que nasce, por vezes, o crisântemo mais belo. O ARNALDO, um homem conservador, generoso nunca deixou de se sentar à minha mesa , não pensando sequer nos prejuízos que daí lhe podiam advir. E hoje estou farto de tantos democratas. É aqui que regresso. Tão sofrido que as cicatrizes reabrem em ferida que ainda não consegui curar. E vem-me à memória um episódio de nojo. Um aluno, informou, como se tivesse feito um acto heróico: "O R. é filho de um pide". Não consegui responder. Dei um grito que se ouviu em toda a escola. E pela primeira e única vez expulsei um aluno da sala da aulas. O episódio perturbou-me durante muito tempo. A denúncia, a bufaria, estão no nosso ADN político e social há séculos. Não há nada a fazer.
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O sábio não é o que já muito sabe. É o que continua a aprender.
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Palavras-------por vezes pedras pintadas de ternura.

Queixas de D. Quixote

Este texto é exclusivamente dedicado ao Ángel e a todos aqueles que ainda acreditam que o Sancho não ganhou a Quixote. Lembrei-me de Abril e de tudo o resto.


Sancho, Sancho, vendeste o burro e compraste um Mercedes. Disseram-me que casaste com a Dulcineia*. Como eu, o burro é um animal em vias de extinção. Eu injectei-me nas veias, no Casal Ventoso, enquanto tu passavas férias em Palma de Maiorca. Eu suicidei-me, exausto de tanta utopia, enquanto tu prosperavas na Bolsa. Eu fui sem-abrigo no Martim Moniz, enquanto tu passavas por mim sem nunca me teres reconhecido. Eu fui operário na Expo, enquanto tu especulavas nos terrenos da construção. Eu, atropelado na Avenida, esperei longa e sofridamente nos corredores do S. José, enquanto tu tinhas médicos e flores e enfermeiras e sorrisos para uma operação plástica. Eu escolhi o fundo do bar, o mais fundo do bar, a lança perdida no autocarro, com as feridas do sonho por cicatrizar. Tu sulcavas ondas e compravas tudo em volta: políticos de amanho e gente de passagem. Tu que nunca pensaste, eras o único pensador. E a tua mão trocava afagos por anéis. Enquanto eu protestava contra a Nato, tu vendias armas nas ruínas de Kosovo. Enquanto eu resistia na montanha, tu praticavas o indonésio em Jacarta. Eu fui preso enquanto tu jantavas com os que me prenderam. E quando a utopia estava no auge, num tempo breve em que os moinhos de vento eram o nosso maior património cultural, também tu, até tu, desceste à rua a defender a utopia, com o Mercedes escondido na garagem. E então deste-me um abraço, Sancho.Iríamos ter a nossa ilha que tu já tinhas comprado. Comprado só para ti. Eu abandonei os moinhos de vento para combater o betão, o betão com que tu enriquecias. O betão cresceu, matou a paisagem e a minha lança de tantas batalhas vãs, mal cabe em duas assoalhadas. Quis oferecer às crianças o sonho, mas as crianças preferiram os teus jogos de computador. Enquanto eu tinha o senso do amanhã, tu tinhas o bom senso de hoje. Olhámo-nos tantas vezes nos campos de La Mancha e eu sem nunca ter entendido que o teu burro era mais veloz do que o meu cavalo. Ai! Sancho, Sancho, Deus gosta mais de ti do que de mim.

*(Nota de Pedro Castelhano: Relatos apócrifos informam que Sancho matou Dulcineia por ciúmes dos moinhos de vento)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Medo(s)


Vivi numa casa, com outros Colegas Estudantes,
Onde teve que se esconder alguém que,
Apenas por querer ser livre
Num país amordaçado pelo regime,
Estava a ser perseguido pela polícia política.

É verdade que havia
Prisões políticas, tortura e mortes.
Era assim que a morte saía à rua.
Como o sabias tu, Zeca Afonso!

Sem medo,
Muitos estudantes e professores ousaram lutar
E, naturalmente, vencer.
Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer...

Passados trinta e tal anos,
Vivo numa sociedade formalmente livre,
Mas terrivelmente amordaçada
Por cada um de nós, dentro de nós.
Sociedade amordaçada por todos nós,
Mesmo por quem antes,
Na convicção do vencer,
Ousou lutar e, naturalmente, vencer.

Pobre de ti, Universidade,
E pobre de ti, País,
Que vives, que nos fazes viver,
Neste mundo diluído,
Difuso,
Politicamente correcto,
Que te convém, que nos convém,
Onde tudo é nada, onde nada é tudo.

Onde estão, Universidade,
Os Princípios e os Valores que te geraram,
Que tu geraste,
Que são a semente, a flor, o fruto
E, de novo, a semente?
Já reparaste, Universidade,
Que os Princípios são o que está
Necessariamente no princípio?
Cito de cor S. João Evangelista:
"No início era o Verbo.".
E já reparaste que os Valores
São o que perenemente vale,
Mantendo-se,
Sem princípio nem fim,
Fazendo do homem o Homem?
E já reparaste também que as coisas
Verdadeiramente sábias, fortes e belas
São sempre simples?

Lembras-te,
Por exemplo tu, Albert,
Da tua incrivelmente simples
Fórmula da energia e da massa?
Não, Albert,
Não me refiro à "massa" de hoje,
Que essa não cria energia,
Apenas dependência, dependências...
Que, por inércia, nos matam.

Te matam, Universidade,
No teu próprio princípio,
Criando ao mesmo tempo
Pequenos saberes e grandes ignorâncias.
E uma grande riqueza e uma imensa fome...

Estás, estamos, no meio da ponte.
Aquando de Bolonha,
Fugiste para a frente.
Agora parece que te queixas...

Que agora não fujas para trás,
Renegando no teu próprio Ser
Os Princípios e os Valores,
Amordaçando-nos dentro de nós.

Sê tu
E sê livre!

Seremos livres
E seremos Universidade!


J. Rodrigues Dias
2008-02-15

Moncorvo é notícia - Abr09

Outras Notícias sobre Moncorvo

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Exposição - Moncorvo e o Colégio Campos Monteiro, 1936 - 1949

Exposição - Moncorvo e o Colégio Campos Monteiro, 1936 - 1949
Está a ser organizada uma exposição por antigos alunos e conterrâneos de Moncorvo subordinada ao tema Moncorvo e o Colégio Campos Monteiro, 1936 - 1949. Vai ser inaugurada no dia 6 de Junho, no Encontro anual, em Moncorvo. Documentação sobre esse período (cadernos diários, exercícios escritos, cadernetas, fotos...) que possam dispensar para ser exposta, agradecemos que nos contactem através dos seguintes endereços:
Ester Lopes: 939528002
Conceição Salgado: 223798766 ou 932884505
colegio.campos.monteiro@gmail.com
Agradecemos a divulgação desta iniciativa junto de ex-alunos de que, eventualmente, tenham a morada ou telefone, e nos comunique esse contacto. No dia da inauguração serão homenageados os alunos que frequentaram o colégio nesse período.



quarta-feira, 22 de abril de 2009

Descobrir


Mestre,
Ideias novas não surgem,
Apesar de tanto pensar!

Apesar de tanto pensar,
Ideias não emergem,
Mestre!

Olho de um e de outro lado,
Como me tens tanto ensinado,
Olho o caminho já caminhado,
E nada, nada de novo vislumbrado!

Que problema, mestre!

Estou cansado, olhos sem ver, enraivecido,
Quase tudo me parecendo ter esquecido;
Mas lembro-me de ti a dizer
Que solução há-de haver!

Dizes-me que talvez este ainda não seja
O tempo para o meu fruto colher,
Por tempo ainda o fruto não ter
Para, naturalmente, amadurecer.
Dizes-me ainda que tranquilo esteja
E a reflexão ao sol deixe a aquecer.

Olhos semi-cerrados,
Abertos e fechados,
Vendo sem ter de ver,
Por profundo saber,
Em sábio gesto de mundo abarcar
Dizes-me ainda para descansar e olhar!


Olha!

Olha a borboleta lá fora,
A chamar-te,
A voar na primavera,
Voando de flor em flor,
Em hino ao amor.

Olha,
Faz isso, vai com ela,
Procura a luz,
Olha o céu,
Voa, voa, voa,...
E volta,
Tranquilo!

Volta então à tua reflexão.
Fixa bem os pressupostos,
Define bem os objectivos
E parte, decidido, a caminhar,
À procura da certa solução
Que decerto vais encontrar.

Minimiza o duro caminho,
Que é duro o caminho
E, quantas vezes, difuso,
Em nevoeiro escondido.

Chora quando tiveres que chorar!

Vê os desvios do caminho,
Assinala-os com raminhos de acácia
Mas não te desvies do traçado primordial.

Talvez a eles possas voltar mais tarde,
Quem sabe se para muita sede
Poderes então saciar em inesperadas fontes
Que neles poderás então encontrar,
Para novas lágrimas poderes chorar!

Mas não te deixes agora inebriar.
Olha os pressupostos e os objectivos;
Olha apenas o caminho principal,
O caminho principal!

Ao caminhar,
Faz como o vedor,
Mesmo que nele não acredites;
Sente os sinais,
Mesmo que sinais
Não te pareça encontrar.

Há sempre sinais!

Vai caminhando,
Pára de vez em quando,
Refresca a mente,
De lágrimas eventualmente,
E sente!

Há sempre sinais!

Sente o pulsar do coração
E o pular do pensamento!

Caminha e sente,
Que há sempre sinais!

Há sempre sinais!

....

Sim, mestre,
Estou a sentir,
A ver afloramentos,
A fazer acontecimentos,
A descobrir!

Obrigado,
Mestre!

2009-02-20
J. Rodrigues Dias

1.ª Fotografia - Pormenor lateral da Igreja Matriz de Torre de Moncorvo.
2.ª Fotografia- Pormenor numa Capela de Felgueiras.

domingo, 19 de abril de 2009

Apresentação de livros - 25 de Abril

No dia 25 de Abril serão lançados em Torre de Moncorvo três novos livros. Entre eles está "Fantasmas de uma revolução" de António Sá Gué.

Não resisto a transcrever alguns parágrafos do livro "Contos dos Montes Ermos", que ando a ler:
"Nas levadas, as meruges e rabaças, ensopadas em água, como se matassem uma sede mirífica, dificultavam a defluxão, construindo pequenos, açudes, onde o passaredo se espojava. O richa-cavalinhos, nas manhãs frias de geada, quando a terra codilhada range debaixo dos botins, e se arreganha a mostrar dentes de velha, vinha relinchar enquanto voava, anunciando mudança de tempo. Um melro de bico amarelo repotreava-se na figueira do Toino Varal, que tinha os melhores figos pingo-de-mel que aqueles vergéis aluviais davam.
Um casal de vaidosos pintassilgos vinha construir o ninho entre as frondes de uma rescendente malapeira, que os ganapos já haviam descoberto, pelo que o desvelo posto na vigilância do ninho fora tanto ou tão pouco que a pintassilgo acabara por enjeitá-lo. Os láparos desciam das lorgas que tinham lá no alto e vinham derriçar os talos carnudos das tronchas galegas que orlavam as hortas e haviam de ser ceia na noite de consoada. Os tourões fedorentos, pela calada da noite, esgadanhavam as abóboras porqueiras, acabando por estragar mais do que comiam. Os javalis, no tempo da castanha, desciam do moitedo e não havia ouriço que não fosse esventrado, quando embicavam pelas hortas, levando tudo a eito: a rodriga do feijão era tombada, o cebolo arrancado, os tomateiros pisados - parecia que o diabo se havia espojado ali."

sábado, 18 de abril de 2009

Passeio da Pascoela para "desfazer o folar", na Senhora da Esperança

A tradição continua!

Aqui fica o cartaz-convite para todos participarem amanhã, Domingo (dia 19 de Abril), no Passeio da Pascoela para se “desfazer o folar” no adro da capela da Senhora da Esperança.

Para quem pretenda fazer o percurso a pé, como noutros tempos, pelo caminho antigo, a concentração é defronte da Junta de Freguesia (Avenida Engº Duarte Pacheco), com saída pelas 14;30h.
No adro da capela haverá jogos tradicionais, música, animação, convívio, enquanto se reconstitui a prática ancestral de “desfazer o folar”, neste caso antecipada para Domingo, pois o dia de preceito era a segunda-feira da Pascoela.
Depois de algumas tentativas episódicas para a sua recuperação, nos anos 80, a Junta de Freguesia de Torre de Moncorvo, com apoio da associação do PARM, procurou reatar este convívio, tendo-o organizado no ano passado, com bastante adesão. Este facto levou à repetição do evento no presente ano, esperando-se que haja cada vez mais participantes e este costume se mantenha em anos futuros.

Sobre esta tradição, aqui ficam alguns apontamentos de autoria do Padre Joaquim Manuel Rebelo, no seu livro A Terra Trasmontana e Alto Duriense. Notas Etnográficas (ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 1995):

Depois da Páscoa era a festa dos folares, em lugares geralmente junto de velhas capelinhas, que a fé dos nossos avoengos espalhou por vales e montes.
Na segunda-feira da Pascoela muitos habitantes de Torre de Moncorvo deslocavam-se, a pé, até à Senhora da Esperança, mas sobretudo, à Senhora da Teixeira, carregados com os seus farnéis.
Na Senhora da Teixeira (…) havia missa cantada e depois no adro dançava-se animadamente ao som dos acordes da filarmónica de Torre de Moncorvo ou do realejo e concertina e saboreavam-se, à sombra das amendoeiras, as merendas, onde as empadas recheadas do apetitoso presunto e do saboroso salpicão eram o principal manjar.
As azeitonas, o queijo e o vinho faziam o acompanhamento.
Ao entardecer, depois de um dia bem passado, a nível espiritual, físico e lúdico, mais um bailarico, uns beijinhos dos namorados, às escondidas, e regresso a casa com um voto de ‘qu’eu pr’ò ano lá hei-de-ir’.”


Se quiser saber como foi a festa da Pascoela /2009, clique sobre o seguinte endereço electrónico:
http://parm-moncorvo.blogspot.com/2009/04/pascoela-na-senhora-da-esperanca.html

Sobre a Festa da Pascoela /2008, pode ver em:
http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008/03/passeio-da-pascoela-dia-29-de-maro.html
http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008/04/passeio-da-pascoela.html

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"Outros Contos da Montanha", de Isabel Maria Fidalgo Mateus


No seguimento da notícia "postada" pelo nosso colega e amigo Vasdoal (directamente de Vila Real), sobre o lançamento da obra "Outros Contos da Montanha" de Isabel Fidalgo Mateus, ontem, numa iniciativa do Grémio Literário Vilarealense, aqui apresentamos a capa do livro, em cuja dobra se inclui um apontamento biográfico da autora.
Isabel Maria Fidalgo Mateus é mais uma nova escritora nossa conterrânea, curiosamente também nascida nas terras agrestes de Trás-da-Serra (designação moncorvense para os povos da outra banda do Roborêdo), tal como Vítor da Rocha e A. Sá Gué. Sabemos que estudou na Escola Secundária de Torre de Moncorvo e daqui enfunou as velas e partiu para o Mundo, tendo ancorado, ao presente, na Universidade de Liverpool (Inglaterra), onde é professora de Língua e Literatura Portuguesa.
Tendo por base contos e memórias do povo de uma zona específica do nosso concelho, o livro é a prova de uma grande vitalidade literária moncorvense, por parte de intelectuais que, embora fora da terra por razões profissionais, jamais esquecem o seu rincão sagrado!
Aqui fica um pequeno excerto dos "Outros Contos da Montanha", que, seguramente, Torga não deixaria de apreciar (aliás, a obra do nosso grande escritor transmontano foi objecto da tese de doutoramento de Isabel Fidalgo Mateus):

“Já a conheci de cabelos muito finos e brancos. Os mais de sessenta anos denunciavam-se pelas fundas rugas do seu rosto, que mais pareciam socalcos, e apenas o brilho negro dos seus olhos exibia ainda triunfante a eterna lutadora. Com aquele fitar educara os filhos, sem nunca precisar de vender os terrenos que granjeara ainda em vida do marido. Pelo contrário, pagou os que ainda não tinha saldado na totalidade e comprou outros. O seu lema de ‘quem não trabalha não come’, que tentara desde cedo inculcar no lar, regulou-lhe para sempre os passos na vida.
“Sentada no vão da sua porta ou à soalheira da casa da filha mais nova, no Verão, passava amiudadamente em revista a sua longa via-sacra. Primeiro, as dificuldades e os entraves do seu pai postos à concretização do casamento, sem esquecer toda a sua mocidade a amanhar a terra, a semear, a mondar. Depois, a viuvez precoce, o encargo dos filhos e, mais tarde, o dos netos, que a emigração lhe legara. Tudo suportara com valentia, num esforço desmedido!
“Mas e a solidão?! (…)” - In: Outros Contos da Montanha

Nota: sabemos que está prevista a apresentação deste livro também em Torre de Moncorvo, na Biblioteca Municipal, durante o mês de Agosto (em data a anunciar). Entretanto o mesmo pode ser adquirido no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo.

Foz do Sabor - Paisagens do Douro e Sabor

"Novos Contos da Montanha" em Vila Real


Realizou-se o lançamento da obra "Outros Contos da Montanha", de Isabel Maria Fidalgo Mateus, no dia 15 de Abril, às 21 30 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira, Vila Real.
A obra foi apresentada pela Professora Maria da Assunção Anes Morais.
No final, foi servido um Porto de Honra acompanhado pelos típicos e saborosos doces de amêndoa de Torre de Moncorvo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Linha do Sabor - 7


"A 1ª Máquina que chega a Duas Igrejas 22-05-1938.
Momento único para a família Ferraz, pois a máquina era conduzida por os irmãos (maquinista e fogueiro) com o Inspector da CP ao meio.!! "
Rui Carvalho, Carviçais.

Fotografias actuais da estação de Carviçais, na Linha do Sabor.

Lembrando a mãe do Praça

Um dia, o Praça, Afonso Emílio para os amigos, perguntou-me: "Queres vir comigo buscar a minha mãe a Poiares?" E assim partimos os dois até Poiares para buscar a senhora Elisa. Ainda a viagem era muito longa e cansativa e tanto eu como o Afonso sabíamos que para a sra. Elisa era a despedida definitiva do Trás-os-Montes, de Poiares e do Felgar onde vivera quase sempre e muito cedo ficara viúva.
O Afonso abandonara a casa do Campo Grande, nº 9 (muitas das crónicas de Um Momento de Ternura e Nada Mais, ainda são um olhar nostálgico a partir do Campo Grande) e comprara um apartamento espaçoso perto do Hospital de Santa Maria, ao lado do Gemini, por preço convidativo, pois com os ares ainda quentes do PREC, a venda de casas entrara em queda. Tinha lugar para a sua mãe. A sra Elisa vivia os últimos dias transmontanos em Poiares, em casa de uns primos. Carregámos o carro, um Renault 12, com muita tralha, tarecos e muitas colchas, da bagageira ao tejadilho. A sra Elisa, de olho azul (que o Afonso não tinha, mas os netos herdaram) já sofria de alguma falta de vista, no tecer do tempo que ia longo. E demorámos muitas e muitas horas até chegarmos a Lisboa onde viveu até ao fim dos seus dias e foi sepultada no cemitério do Lumiar.
Um dia, o Afonso foi passear com a mãe pela Avenida da Liberdade. E ela olhou para uma estátua. E o Afonso perguntou-lhe se sabia quem era. "Não sei---respondeu-- mas parece-me cego". A estátua era a do António Feliciano de Casdtilho, um poeta cego. O melhor elogio que poderia ter feito ao escultor.
Um dia, recebemos um telefonema do Afonso. A mãe estava de cama. A minha mulher (que é médica) observou-a. "Afonso, a tua mãe tem a respiração de um passarinho".
E morreu, serenamente, na cama, no silêncio da noite.
Durante uns tempos, viveu também na casa do Afonso, a sua sogra, natural de Múrias. Foi a mulher mais bisbilhoteira que conheci na minha vida. O seu perguntar faria corar de vergonha qualquer profissional de interrogatórios, por muito experiente que fosse. Mas houve um dia em que lhe achei muita piada. Dizia ela, em voz de tons muito agudos: "Veja lá com quem as minhas filhas casaram: a Olga com um Tropa (Alfredo, realizador de cinema) e Natália com um Praça (o nosso Afonso)".
Durante anos e anos eu e o Afonso convivemos todos os dias. Partilhámos segredos, histórias e noites que aqui e em qualquer outro lugar não devem ser relatados.
Um dia, estava muito gordo, a sua pele de tão esticada parecia a pele de um tambor. E a minha mulher obrigou-o a fazer dieta. Chama-me e diz-me: "Antes de começar a dieta vamos almoçar ao Mirandela". O Mirandela era o restaurante de um transmontano na Feira Popular. Comemos bem e o Afonso na sua filosofia de bonacheirão, com a tolerância que nunca o abandonou até ao fim dos seus dias, não resistiu a dizer: "Não achas que se eu emagrecer, perco a graça toda?"
Estive com ele até aos últimos dias. A minha mulher detectou-lhe um cancro. Ainda conseguiu que os drs. Hélder Coelho e Joshua Ruah o operassem. Mas já era muito tarde. Apesar de algumas indignidades (raríssimas, é certo) de que foi alvo, houve um comovente momento de solidariedade: o Duarte Lima ofereceu-lhe o dinheiro de que precisasse para ser tratado no estrangeiro. Não era necessário. Mas ficou o gesto. Nobre.
E no início de Maio despedi-me definitivamente dele (não, estou a mentir, ainda não me despedi).
A Assembleia da República aprovou, por unanimidade, um voto de pesar pela sua morte. Para que conste, nesta dor de anos.

Linha do Sabor - 6

Regresso à Linha do Sabor, com trecho de um conto do pucareiro Afonso Praça e fotografias, cedidas da sua colecção, de Abílio Dengucho.
Aguardamos, com muito interesse, mais fotos do Abílio. E textos!
E, como se diz em Carviçais, apita, Abilio!









Flores amarelas para o comboio

Do Pocinho a Duas Igrejas é um longo estirão (105 qui­lómetros, segundo contas oficiais) que o pobre comboio ofe­gante da linha do Sabor parecia estender ainda mais, nos seus solavancos de velho cansado que teimava em resistir contra o tempo impiedoso.
Até Moncorvo — menos de uma dezena de quilómetros, sempre a subir — dava a sensação de que lhe saíam das entra­nhas os últimos restos dos pulmões gastos, embrulhados em fumo negro, sufocante. Mas o comboio avançava imponente apesar de tudo, trôpego e pesadão, sempre muito pouca-terra, pouca-terra, atravessando as terras que se estendem do vale do Douro ao planalto mirandês.
Muita gente achava graça, pensava que comboios assim só antigamente ou nos museus e nos filmes americanos, sobre­tudo aqueles que já tinham corrido mundo e davam prosápia de viajantes achavam que aquilo era o máximo, digno de ser preservado como uma anta ou uma pintura rupestre. Pois bem: aquele comboio era mesmo de antigamente, contavam por lá que foi recebido à pedrada como se fosse obra do diabo, há quem diga que a linha ficou quilómetros afastada de algumas povoações em consequência das hostilidades feitas aos engenheiros que a traçaram, recebidos com manifestações de varapau e foices roçadoiras, talvez com a ameaça de uma escopeta de carregar pela boca mais asada para caçar lebres ou perdizes no Reboredo ou em Vale de Ladrões. Mas isto são vozes do povo, transmitidas de pais a filhos, vá lá agora saber-se até que ponto correspondem à verdade.

In “Um Momento de Ternura e Nada Mais”, de Afonso Praça.



terça-feira, 14 de abril de 2009

Detalhes em Ferro 5


Portão da casa do do comendador Francisco António Pires, no Felgar. A casa tem dois imponentes portões, iguais, cuidados de forma exemplar. São à base de ferro fundido com bonitos elementos florais. Ao centro têm as iniciais "AP". Estão pintados a vermelho com alguns elementos a branco. Um felgarense já adiantou no Blogue que datam de 1886! Devem ser exemplares únicos no concelho.

domingo, 12 de abril de 2009

Felgar, Março de 74

Como vários Felgarenses se têm mostrado interessados em ver / saber coisas de outros tempos sobre a sua terra, aqui vão o texto do Assis Pacheco e fotos minhas, em homenagem às tecedeiras, oleiros, fogueteiros e a todos que passaram pela Banda.




Nota : No dia 20 de Junho estará patente ao público, no Centro de Memória de Moncorvo, uma exposição da reportagem “Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria”, de Fernando Assis Pacheco (texto) e Leonel Brito (fotos), publicada no jornal “República”, em Março de 1974 . As 17 páginas da reportagem serão exibidas em painéis .
Também vão ser expostas fotografias dessa época, de Leonel Brito, com textos de Rogério Rodrigues.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Páscoa - Amêndoas amargas por causa da Crise


A azáfama nas pastelarias em busca de amêndoas já conheceu tempos melhores. As grandes superfícies atraem cada vez mais os consumidores. Mas ainda há quem procure especialidades e em Torre de Moncorvo ainda se fabricam de forma totalmente artesanal. E com muita procura.

"Encomendação das Almas", um filme de Leonel Brito, 30 anos depois

Depois do grande sucesso que foi a apresentação, ontem, no auditório municipal de Freixo de Espada à Cinta, do filme sobre a Encomendação das Almas, teremos hoje, no auditório do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, o visionamento do mesmo documentário, pelas 21;30 horas.

Será previamente feita uma introdução a este documentário, pelo próprio autor, o realizador Leonel Brito, e um dos autores dos textos de fundo, Rogério Rodrigues (ambos colaboradores do nosso blogue). O argumento teve também como co-autor o saudoso jornalista Afonso Praça, igualmente nosso conterrâneo, e contou com a colaboração especial, a nível da explicação etnográfica, do Padre Joaquim M. Rebelo, que, como Afonso Praça, infelizmente já não está entre nós.

Este filme é um verdadeiro documento etnográfico e antropológico, rodado há exactamente 30 anos, na vila de Freixo de Espada à Cinta (com o cortejo dos Sete Passos), e em algumas aldeias dos concelhos de Freixo e de Torre de Moncorvo (neste caso, Felgar e Urros). Além dos cânticos das Almas, que se realizavam pela Quaresma, vêm-se outros aspectos da vida rural desse tempo (1979), num momento charneira da nossa história recente, em que, a par de algumas transformações decorrentes da emigração, se vêm ainda aspectos da nossa ancestralidade.

Este é um documento notável que o autor, Leonel Brito, depois de o resgatar aos arquivos da RTP (entidade para quem foi produzido o filme), e de o passar para DVD, ofereceu aos arquivos do Museu do Ferro, da Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, e à Câmara Municipal de Freixo. Impõe-se, agora, a sua edição, repto que deixamos às entidades competentes. Resta-nos enaltecer a generosidade e o empenho do realizador Leonel Brito, nosso conterrâneo e colega de blogue. Obrigado Leonel!

Então aqui fica o convite para logo à noite, às 21;30 horas, no auditório do Museu do Ferro!
Compareçam!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Pombais (Voaram e não voltaram, mas Porquê?!)

No Nordeste Transmontano concentra-se um dos núcleos mais representativos de pombais, embora existam alguns dispersos um pouco por todo o país.
Percorrendo o concelho Torre de Moncorvo, encontra-se um grande número de pombais, pena a maior parte deles estarem em constante abandono e completa degradação.
A maioria dos pombais tem planta circular ou em ferradura, sugerindo formas arquitectónicas castrejas. As paredes são em alvenaria de pedra miúda, terra argilosa como ligante e reboco de argamassa de cal. A cobertura e de madeira apoiadas nas respectivas paredes. O acesso dos donos ao interior dos pombais faz-se por uma pequena porta de madeira. No telhado existem plataformas de entrada e saída dos pombos – saídas de voo.
Eram destinados à produção de pombos para alimentação humana e de estrume denominado por “pombinho” que era usado como fertilizante agrícola.
A partir da década de 60, a população rural emigrou, levando ao abandono de muitas práticas agrícolas tradicionais, nomeadamente o cultivo de cerais. Os agricultores progressivamente modernizaram as suas explorações, mecanizando-as, reduzindo a mão-de-obra recorrendo a agro-químicos inorgânicos importados. Face a essas mudanças drásticas os pombais viram desaparecer quase por completo a sua utilidade no contexto da economia rural. Dada a redução do cultivo cereais e pela introdução de novas práticas e técnicas culturais, tal como o fluxo demográfico humano para os meios urbanos, os pombos, perante a falta de alimento e protecção dos montes e vales, desapareceram.
Outra causa do abandono generalizado dos pombais, foi a expansão verificada na actividade cinegética após os anos 70. O grande número de caçadores, desconhecedores das tradições locais e não cumpridores da legislação da caça, levou ao abate fácil de milhares de pombos.
Assim grande quantidade de pombais tradicionais deixaram de estar povoados, deixaram de ser tratados e houve proprietários que nunca mais voltaram aos pombais. Muitos entraram em degradação pois apesar das paredes rudes e de construção sólida, estes têm no telhado o seu ponto fraco dado que a cobertura em madeira não resiste à intempérie sem os devidos cuidados.
A partir anos 90, algumas entidades responsáveis pela preservação deste tipo de património promoveram medidas de estudo e conservação. O Instituto da Conservação da Natureza, através do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), iniciou um projecto pioneiro de recuperação de pombais. Foram assim recuperados entre 1997 e 1998 os primeiros 25 pombais.


Mas apesar de algumas entidades responsáveis promoverem medidas de estudo e conservação, ainda há muitos pombais em ruínas, em constante abandono à espera de serem recuperados.

domingo, 5 de abril de 2009

Haverá uma Literatura Transmontana? (2)

O Rogério, no seu excelente post de 28 de Março, intitulado “Haverá uma Literatura Transmontana?”, entre vários nomes de grande importância para a cultura, referiu três de incontestada relevância: Raul Rego, Paulo Quintela e Abade Baçal, destacando o seu extraordinário labor e, sobre eles, terminou com as seguintes palavras “...estas três figuras honram a cultura portuguesa, como transmontanos”. Palavras justíssimas e mais que merecidas.
Tive a honra e, neste caso, também o proveito de ter sido aluna de Paulo Quintela de finais de 1955 a 1961. Foram mais de 5 anos de convivência diária, se às aulas acrescentarmos o TEUC (Teatro dos Estudantes de Coimbra) de que Paulo Quintela, com um grupo de estudantes, foi fundador em 1938.
A literatura alemã, nos longínquos anos 50 era quase totalmente, senão totalmente, desconhecida em Portugal. Paulo Quintela traz até nós génios, grandes lutadores, grandes solitários, resistentes, perseguidos: Goethe, Hölderlin, Rilke, Nietzsche, Brecht, só para citar os seus preferidos. Mas, para mim, era no teatro medieval inglês que se via o grande Mestre: conduzia-nos ao cenário vivo, víamo-nos no meio dos verdadeiros actores, ouvíamo-los falar... Era algo tão espantoso que não arranjo palavras para o expressar.
Isto é apenas uma nota, em jeito de introdução, ao que quero dizer-vos. Chegou-me às mãos no início da semana um livro “Homenagem a Paulo Quintela no Centenário do seu Nascimento”. Trata-se de um conjunto de comunicações, poemas e depoimentos sobre a personalidade e a obra do eminente professor, tradutor, poeta e lutador que foi Paulo Quintela. O livro é editado e publicado pela FLUC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) e traz a data de 2008, embora a homenagem tivesse tido lugar em Março de 2006. (Na verdade, Paulo Quintela nasceu em Bragança em 24 de Dezembro de 1905. Porém, nestas lides de organizar homenagens, recolher textos e documentos, proceder à edição e publicação, passam, por vezes, largos meses.) Mas o livro aqui está e valeu bem a pena a espera.
De entre as várias comunicações destacarei apenas duas, uma porque nos dá a ideia deste grande vulto da cultura portuguesa, a outra porque foca directamente o homem transmontano.
Dele diz o Presidente do Conselho Directivo da FLUC, Prof. Lúcio Cunha:

“Um dos mais brilhantes vultos da nossa Faculdade, Paulo Quintela, Professor, investigador, poeta, tradutor, homem de teatro, resistente e lutador pela liberdade, foi, porventura, um dos mais completos, produtivos e prestigiados Mestres desta Escola”.(Obra cit. p.20 ).

Por sua vez, António de Sousa Ribeiro diz na sua intervenção:

“Paulo Quintela não detinha apenas a firmeza das convicções, mas também a coragem de as assumir publicamente. [...] e o orgulho com que sempre cultivou a lembrança das suas origens humildes. ‘Não passo de um pobre homem de Bragança, filho de um pedreiro e de uma padeira e neto de um almocreve’“. (Obra cit. p.60).

E termino deixando aqui um poema de Paulo Quintela onde o homem transmontano se revela por inteiro:

Ar não-condicionado

Ar que eu respire há-de ser
-Quente ou frio, não faz mal
–Ar livre. Quero morrer
Respirando ao natural.

Ar do mar ou ar da serra,
Ar de jardim ou de praça,
Ar que nenhum muro encerra
-Livre, que o dá Deus de graça.

Digo:
-Não me condicionem
O ar da respiração!
E mais:
-Não me solucionem
O que não tem solução!

Nem me queiram ajudar
Com oxigénio em balões.
Já disse:
-Quero acabar
Com ar livre nos pulmões.

E em vida não me racionem
Água, vinho, ar livre e pão.
Ar livre! Não condicionem
Minha livre condição.

Abram portas e janelas
Quando estiver pra morrer
Quero ver árvores, estrelas,
E depois apodrecer.

Que quem nasceu como eu
Entre montes de ar lavado
Vai pro Inferno ou pro Céu
-Mas sem ar condicionado.

(Poema inédito de Paulo Quintela)

Leiria, 5 de Abril de 2009-04-05
Júlia Ribeiro

Ponte Rodo-Ferroviária do Pocinho - Linha do Sabor


Estrutura inaugurada em 1909





A Linha do Sabor demorou mais de trinta anos a concluir. Ligação ferroviária de via estreita, Pocinho - Miranda do Douro (Duas Igrejas), a 11 kms de Torre de Moncorvo e a 12 Kms de Vila Nova de Foz Côa, impressionante estrutura rodo-ferroviária, está desde o ano de 1988 encerrada a qualquer tráfego.

Alminhas - Urros

As alminhas têm alguns ponto de contacto com as festividades que vivemos estes dias, a Páscoa. Páscoa também significa passagem, reunião do corpo com o espírito, êxodo ou passagem da morte para a vida. As alminhas representam também um lugar de passagem, o purgatório. Este culto tem raízes há vários séculos atrás e foi tão forte que ainda hoje encontramos em todas as aldeias pelo menos umas alminhas. Também estas representações estão normalmente em locais de passagem, encruzilhadas dos caminhos, ou então à entrada das localidades. Muitas lançam um aviso: "Vós que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando".
Estas alminhas estão num muro, em Urros, a caminho do Santo Apolinário.

Quem estiver interessado neste tema das Alminhas, pode ler um texto que escrevi no Blogue - À Descoberta de Vila Flor.

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