terça-feira, 30 de junho de 2009
Epidemias
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 9

Só já nos falta um pequeno troço por trás da capela de S.Sebastião, em direcção ao Terreiro e à casa dos Mirandas: numa moradia bonita de rés-do-chão ( para arrumações e adega) e 1º andar, viviam o Sr. Todú e a esposa , a D. Alcina. Tinham duas filhas, mais ou menos da minha idade, a estudar fora de Moncorvo, num colégio interno, À esquerda havia um portão que abria para um pátio com uma casinha pequena onde morou a Tia Marquinhas Gata e depois a filha Teresa Gata com o marido e filhos. Pegada a esta, noutra casita também muito pequena viveu outra filha da Tia Marquinhas: a Adélia Gata e a família. À direita da casa do Sr. Todú e com ela pegada ficava a casa do Tio Cordoeiro, pai da Beatriz Cordoeira, da Cecília e do Alberto. Seguia-se a casa da Tia Filomena Vilela, marido e filhos. Mais recuada, ficava a casa da professora D. Graciete Gregório que, dizia-se, era má como as cobras. Vinham então mais duas casas, uma de rés-de-chão, só com porta e sem janelas, em que moravam a Sra. Amélia e o Sr. Fidalgo, guarda republicano, e depois outra casa com rés-de-chão e 1º andar e com varanda para o Largo da Corredoura, para Os Olmos e para a Vila. Um luxo ! Aí moraram a Menina Idalina e o marido Sr. Alexandre Morais, mais conhecido por Alexandre Verde e aí nasceram os seus cinco filhos. Esta casa fazia esquina e, mais recuado, no canto, ficava um forno que ainda trabalhava em pleno. A forneira era a Tia Alexandrina Tótó.
Vamos agora ao começo do caminho para S. Paulo: à esquerda ficava a casa do Sr. Manuel dos Carros e da mulher, a Sra. Rosinha. Esta casa também tinha um cabanal onde o Sr Manuel trabalhava e onde ficava uma casita em que viveu a Tia Maria Escalda com os filhos Leopoldo e Germano. A seguir a esta, mas no caminho para a Nória, vivia a Tia Aida, mãe do Xico Alfaiate (casado com a Menina Judite Gregório). Por cima, a Palmira do Álvaro. Pegada à casa da Tia Aida ficava uma cortinha da Sra. Guilhermina Galo e lá no fundo era a Nória. Já quase na Fonte Carvalho, numa casinha dentro de um quintal, vivia o guarda republicano Sr. Redondo, com a mulher , a Sra. Marquinhas do Redondo e os filhos.
Creio que dei a volta completa. Mas a memória é muito traiçoeira. Deve haver inúmeras falhas... Peço, por isso, a quem se lembrar de mais moradores da Corredoura ou que ache que a sequência não é bem assim, o grande favor de chamar a atenção, para que os erros possam ser corrigidos.
a) Não deveremos esquecer que este ROTEIRO diz respeito àquela dezena e meia de anos, mais ou menos entre 1944/45 e 1959/60.
b) Sugiro que alguém parta desta data (1960) e continue até 1975 – 1980;
c) ... e de 1980 até 2000 ; etc.
Com um grande abraço a todos os Amigos e Conterrâneos e um abraço muito especial aos Corredourenses.
Por: Júlia Barros Ribeiro (BILÓ)
Nota: A foto de baixo mostra a zona do bairro do S. Paulo, a caminho da Fonte Carvalho, com o antigo campo de futebol ao fundo, à direita. Em primeiro plano, o olival do Santo Cristo (que deu lugar ao bairro do mesmo nome) e a esquina de um dos edifícios da Cooperativa. - Foto de Leonel Brito, anos 70.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 8


Ladeando esta casa, entrava-se num pequeno largo onde ficava a casa da Tia Alcina Guino, mãe da Miss, do Rei, da Princesa, do LoboMano e ainda a casa dos Amadores, já de razoável construção. Seguindo por uma abertura ia dar-se ao Carrascal e aos inúmeros palheiros que então aí existiam.

Voltando para trás e subindo agora a Rua de Baixo, ficavam à nossa esquerda as casas da Cacilda Marialva e da Carminda Marialva, irmã e filha da Tia Marquinhas Marialva. Havia depois uma cortinha, a “Feitoria”, tratada pelo Tio Caetano e pela mulher. Tinha um poço de água para regas, um grande tanque e a maior laranjeira que já vi, com laranjas enormes e sumarentas, mas muito azedas. A Tia Lucinda Gamboa dizia que era do sabão com que se lavava a roupa no tanque e que ia para as raízes da laranjeira.
Depois da Feitoria era a casa da Tia Maria Carmacha, casada com o César Caçador que criava cães perdigueiros portugueses lindíssimos. Vinham caçadores de todo o lado comprar-lhe perdigueiros. E eu ficava perdida, horas seguidas a ver os cachorrinhos. O Tio César só me deixava fazer-lhes uma festinha, senão ficavam “morrinhentos”.
domingo, 28 de junho de 2009
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 7

Antes de passarmos à Rua de Baixo, vamos seguir as casas de “O Alto” pelo nosso lado esquerdo até à casa da Menina Gininha Galo: na da esquina morava a Tia Teresa Costa, o marido, o Tio Miguel e os filhos, o Alexandre, o António e a Maria. Logo a seguir , fazendo um recanto que era um óptimo soalheiro abrigado do vento, morava a Sra. Delmina Terceira, o marido que era guarda-fios e três filhas: a Maria, a Conceição e a Julieta (minha comadre) e dois filhos, o António e o Zé. Depois era a casa de um arrematante de trabalhos nas estradas, que veio de Valdujo com a mulher e duas filhas. A mais nova, Floripes, era da minha idade. Acabados os trabalhos contratados, iam embora para outras paragens. Pegada a esta, ficava uma casita muito

Voltemos então à boca da Rua de Baixo que, como já disse atrás, começa precisamente entre a casa dos Mirandas e a dos Mesquitas. Quem desce a rua, à esquerda, vê os baixos da casa da Gininha Galo: aí, num pequeno cubículo, vivia e trabalhava o Deodato, sapateiro. Pegada a esta vinha a casa onde morou o Batateiro. Mais tarde viveram aí o João Falapão com a mulher a Beatriz Gata, pais da Emília e do Beto. Seguia-se a casa da Tia Perpétua dos Requeijões, onde íamos com a caneca ao soro.
Por: Por: Júlia de Barros G. Ribeiro (Júlia Biló)
Nota do postador: a foto de baixo mostra o início da Rua de Baixo; a esquina à esquerda é da casa dos Mirandas; junto às escadas que se vêm ao fundo, do lado esquerdo, era a casa do ti João Araújo "Falapão" e srª Beatriz, de que se fala neste fascículo do Roteiro de Júlia Biló; as escadas davam acesso à casa onde, nos anos 70, viviam os Vilelas.
Caça furtiva e triunfo dos porcos

sábado, 27 de junho de 2009
Convite - Teatro
O Grupo de Teatro Alma de Ferro de Torre de Moncorvo tem o prazer de o convidar para assistir à repetição da peça "O Velho Ciumento" de Miguel Cervantes, que se realiza no dia 3 de Julho de 2009 pelas 21:30 em Moncorvo. O Grupo agradece a divulgação deste novo espectáculo através dos seus contactos. Já agora não se esqueça de comparecer e trazer um amigo também.
GTAF (Grupo de Teatro Alma de Ferro) de Torre de Moncorvo
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 6



Por: Júlia de Barros G. Ribeiro (Júlia Biló)
Foto intermádia: vista geral do largo do "Terreiro", do bairro da Corredoura. Foto do fundo: é a zona do "Canto", de que se fala neste "post" - ao fundo do Canto existe a canelha que liga à rua de Baixo (fotos tiradas no dia 27.06.2009).
Daniel de Sousa
Há muito tempo que leio um blogue notabilíssimo e por vezes doloroso, das experiências que relata como médico, do nosso colaborador Daniel de Sousa. Envio-lhes o endereço: http://headandneckdanieldesousa.blogspot.com
Acho que seria muito interessante colocá-lo nos nossos favoritos. Recomendo a leitura de um texto memorialista e emotivo de Daniel de Sousa, "Retrato em Sépia" que pode ser lido nas mensagens antigas e que, com a sua permissão, poderia perfeitamente ser editado no nosso blogue.
I Festival das Migas e do Peixe do Rio - Nota de Imprensa
Os principais objectivos do festival foram assim atingidos, que eram a divulgação dos pratos confeccionados com migas e peixes do rio e a criação de uma dinâmica que envolvesse não só o local do festival, mas também os restaurantes tradicionais da Foz do Sabor.
O I Festival das Migas e do Peixe do Rio contou com a animação de alguns grupos da região como a Escola
Durante o Festival, os visitantes tiveram ainda a oportunidade de fazer um cruzeiro do Pocinho à Foz do Sabor e de fazer alguns passeios de barco.
Os visitantes, agradados com a ideia, aderiram em massa ao certame, superando as expectativas da organização. Sendo este o I Festival, algumas das falhas verificadas servirão para melhorar uma próxima edição.
Torre de Moncorvo, 24 de Junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Foi há 113 anos: anexação do concelho de Freixo por Torre de Moncorvo
O moncorvense F. Justiniano de Castro (falecido em 16.07.1901), era um amanuense reformado da Administração do concelho de Torre de Moncorvo, que nos últimos anos de vida se entreteve a anotar episódios interessantes do quotidiano da vila e redondezas, num caderninho que intitulou de "Caderneta de Lembranças", o qual viria a ser publicado pelo Dr. Águedo de Oliveira (antigo ministro das finanças do Estado Novo, natural da Horta da Vilariça), no jornal “A Torre”, sendo depois republicado em separata pela associação Amigos de Bragança (1975).
O episódio que o referido cronista aqui nos relata tem a ver com a extinção do concelho de Freixo de Espada à Cinta e sua anexação a Moncorvo, em consequência de mais uma de muitas reformas administrativas ocorridas no séc. XIX, sendo esta decretada por um governo do Partido Regenerador, ainda nos tempos da Monarquia. Tudo isto tinha a ver com questões políticas da época, tendo motivado, meses mais tarde, aquando de um período eleitoral, uma forte reacção do Partido Progressista, que encenou, inclusive, um enterro do concelho de Freixo (com urna e tudo, coberta com a bandeira do concelho), dando-se morras! aos “traidores” que tinham compactuado com esta extinção e anexação. Com a vitória dos Progressistas (a que chamavam então os “Penicheiros”) o concelho de Freixo voltou a ser restaurado logo no ano seguinte (1897) e, naturalmente, devolvida a documentação oficial que tinha sido confiscada neste acto de força. Note-se que o trajecto foi feito por caminho-de-ferro (entre Pocinho e Barca d’Alva) e o resto do percurso nos dorsos de animais e em carros, também de tracção animal, claro! (ver mapa em cima).
Receita para fazer sabão
Lembro-me bem de, em pequeno, ver a minha avó fazer esta receita, que tinha herdado de um caderno da sua mãe, datado de 1924. Achei pertinente transcreve-la aqui, e com a grafia dessa altura, e com as expressões de uma transmontana. Aqui fica:
“Um kilo de soda caustica deita-se numa bacia que deve estar bem lavada, lançam-se-lhe 6 quartilhos dagua e ali se deixa estar até que a soda se derreta e guarda-se onde se lhe não caia sujidade, de quando em quando é bom mexê-la com um pau limpo para que se derreta mais depressa, logo que esta esteja desfeita lança-se essa agua numa caldeira ou vasilha que seja própria e deita-se-lhe uma remeia de borras de azeite as quaes devem estar bem apuradas deste e 5 ou 6 chávenas de cinza que deve ser peneirada e conforme se vai deitando, isto tudo ir mexendo sempre com uma colher grande de pau, mas ter o cuidado de mexer sempre para o mesmo lado até engrossar, pois quer ser muito bem batido e em estando bem grosso lança-se para as formas que devem ser de madeira e devem molhar-se com agua antes de se lhe lançar a massa e deixa-se estar a secar só até ao dia seguinte e com uma faca despega-se a toda a volta das paredes da forma e vira-se com cuidado e em caindo parte-se aos bocados e põe-se a secar.
Este sabão não serve para lavar roupa de lã, nem preta; de resto serve para tudo.
A soda deve-se empregar logo que se compre porque em casa derrete-se.
A cinza para o sabão dizem que é melhor de lenha de oliveira ou de vides, mas como seja branca toda serve em sendo peneirada.
As quantidades que leva:
- 1 litro de soda caustica
- Uma remeia de borras
- 5 ou 6 chávenas de cinza (chávenas das do chá)
- E mexer sempre para o mesmo lado.
- A soda deita-se de molho em 6 quartilhos de água.”
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 5
Para a esquerda destes palheiros, num caminho estreito para o Carrascal, ficava a casa dos Majores: no rés-do-chão dormia o rebanho das ovelhas e no 1º andar viviam as pessoas. Para a direita dos mesmos palheiros, no largo já referido, ficava a casa dos Noventas. Ao canto, também à direita, era a casa onde morava a Sra. Aninhas dos Cerejais que, se bem me lembro, só bebia chás e comia sopinhas de leite e morreu de cancro do estômago. Para esse mesmo largo davam as costas do forno da Sra. Camila Miranda, que foi o que “andou” até mais tarde. A forneira era a Tia Maria Panda.
Vamos até à esquina e temos a bica do povo. (Que eu me lembre, só 4 ou 5 casas tinham água canalizada: os Mirandas, os Mesquitas, o Sr. Todú, a Menina Gininha Galo e a D. Aida). A seguir à bica era a porta do forno. Pegada ao forno ficava a casa em que vivi com a minha mãe e a minha avó desde os meus dois anos até aos oito. A casa pertencia aos Mirandas: na loja ficavam os seus bois e no 1º andar vivíamos nós. Depois, paredes meias com a nossa casa, morava a tia Cândida Patuleia com o marido e os filhos. A seguir era a casa do Tio Alberto Manco, padrasto do Nésio. Pegada a esta ficava a casa da Tia Beatriz Vilela, mãe da Virgínia, que foi minha colega no Colégio. Seguia-se a da Tia Maria Fusa que tinha uma família numerosa. A virar já para o Carrascal, morava a Tia Emília Mascarenhas, que tinha uma mão com os dedos encolhidos, por se “ter picado numa silva-macha, quando era pequena”. Nos baixos viviam a Tia Maria Casca Grossa e os porcos.
(Continua)
Por: Júlia de Barros G. Ribeiro (Júlia Biló)
PROSEMA
As palavras são correntes de lava e lágrimas e no lodo purificam-se em percursos matinais. Trocam de dores como trocamos de deuses. E no primeiro rosto da noite desaparecem guardiãs e vigilantes das Trevas.
Ainda não cheguei donde parti sem partir. A terra é feita de pedras das neblinas da memória desta cinza que amolece de um tempo de fogo e fúria.
Os rostos perdem-se na miopia dos anos mal vistos, na soturna passagem de testemunho de nada testemunhar do cavalo sangrando à beira do abismo como força e peso que promete asas para o voo de encontro à Luz.
Dirão os vindouros que esta não foi a minha terra, o lamento, o canto, o muro onde mijávamos em nome da saudade do futuro a faia que não secámos os vidros das janelas que não partimos e a tristeza de partir quando o redemoinho das feiticeiras nos convidava para a viagem mais longa que nos era dado sonhar.
(Noite, seca-me os olhos para que as lágrimas não inventem regatos nas rugas da face.
Noite, gota a gota ensina o orvalho a seduzir a manhã. Escondidas nas grutas do tempo permite que as flores tenham cheiro e no sussurro consentido aos deuses que as sílabas sibilem, balas à procura de um corpo livre que as aceite).
Regresso à terra de onde nunca cheguei a partir. De bornal vazio bato à porta e ninguém responde. A casa deserta e na varanda agridem cardos mal tratados.
A Vila é vilã de visita à culpa e ao seu punir.
Mas que violino se ouve ao longe que me abraço ridículo e jovem e áspero ao Manquinho de Açoreira?
Que deuses e lobos me consomem e devoram no respirar silêncios da serra muda?
Ai Manquinho! Ai Manquinho! Pego-te ao colo antes da chegada dos lobos, a ti, o violino da minha infância, a melodia sem fim para o meu ouvido surdo.
Apostila: Dizem que é de rabeca o teu tocar. Mas para mim continua a ser violino. E branco.
Meninos da Corredoura
Meninos da Corredoura
o tempo era então só nosso e escoava-se nas manhãs
com luz e grandes espaços
ouviam-se vozes na sombra sob os plátanos
de verdes e generosas folhas que anunciavam o verão em cada ano
e tombavam depois na agonia outonal sem
cessar redizendo o eterno
o tempo era imaculado gritante limpo infinito
corríamos de sandálias e calções rotos na poeira
num mundo só nosso
inexplicado e simples sem mistérios sem mágoas sem mentiras
também temível como a serra dos medos que ao fundo ocultava um segredo
sorvíamos o ar no peito
os nossos olhos brilhavam com fulgor e diziam do sol a redonda luz
depois o tempo guardou os sonhos depois o silêncio depois o frio
por fim sobreveio um inquieto torpor
e alguns dos meninos cujas vozes eu ainda lembro já não vejo
ou talvez sejam apenas vozes já muito distantes
como estrelas
Junho de 2009
quinta-feira, 25 de junho de 2009
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 4
Num cubículo da casa atrás referida vivia a Maria Manquinha, com o marido e 3 filhos. Por baixo, o porquinho. A seguir, sempre à esquerda, ao fundo de uma estreitíssima quelha, ficava um forno tratado pela Tia Marquinhas Marialva. Vinha então uma casa com rés-de-chão e 1º andar (pertencente à Sra. Adelina Chavé), com varanda e janelas, pintada de cor de rosa, onde morava a Dona Aida, irmã do Dr. Ramiro Salgado, casada com o Sr. Antoninho, portanto cunhado do Dr. Ramiro e secretário do Colégio. Pegada a esta ficava a casa da Tia Maria Trovões onde vivia com filhas e netos. Por baixo , os burros e porcos. Na casa seguinte morava a irmã, a Tia Cacilda Trovões, mãe do Abel carteiro. Depois era o cabanal, um espaço com um telheiro onde se albergavam ora ciganos, ora os amoladores de tesouras e os caldeireiros que, de tempos a tempos, vinham até à vila. Pegada ao cabanal, mas ao nível do 1º andar, morava a Tia Lucília Florista. Mais tarde, após a morte da Tia Lucília Florista, morou lá um guarda republicano com a mulher e um filho da minha idade e que malhava em todos nós. Se, por um acaso, estava a perder a refrega, vinha a mãe ao balcão e gritava-lhe: “Arreia, Zeca, que o teu pai é guarda” .
Estávamos no coração da Corredoura.
A seguir à casa do dito guarda, vinha uma outra, de pedra, com rés.de-chão e 1º andar, bem construída e de dimensões razoáveis, onde vivia a Sra. Lucinda, uma das famílias dos Vitelas, lavradores já razoavelmente abastados. Depois seguia-se uma casa de 1º andar (na loja estavam os bois dos Vitelas), normalmente alugada a estudantes do Colégio. (Mais tarde, esta casa foi habitada pela Tia Idalina do Campo). Pegada a esta ficava a casa do Tio Caetano e da Tia Lucinda Gamboa, que gostava muito de mim porque, quando ia ajudar a minha mãe a fazer as alheiras, eu lhe dava um golinho de vinho às escondidas de toda a gente. Em frente destas três casas ficava um pequeno largo , onde existiam dois palheiros que, no tempo da apanha da azeitona serviam para albergar os ranchos das mulheres e homens que vinham das aldeias, a maior parte dos quais vinha (pela pronúncia que ainda guardo no ouvido) de Felgueiras. Apesar do cansaço, aí havia música – realejo e bombo - e bailarico até às tantas.
Por: Júlia de Barros Ribeiro ("Biló")
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Em Moncorvo
Ó montes que cercais a vila de Moncorvo,
Ó pinhos cujo odor continuamente eu sorvo,
Ó águas que a cantar passais a nossa vida,
Ó pobres camponeses sempre a trabalhar,
E vós carros de bois pela estrada a chiar,
E tu ó negra fome em todos os lares erguida,
Entoai-me uma canção que me faça chorar,
Que à vida nem eu sei que rumo hei-de já dar …
Gemei eternos montes, sempre adormecidos,
Ó pinhos abaixai vossos ramos erguidos
E vós águas das fontes chorai eternamente …
Camponeses, parai, de trabalhar, parai….
Chiai, carros de bois; Gemei, chiai, chiai …
E tu ó negra fome extermina-os sempre!...
Revolvei-vos montanha! Meu fim não tardará
Que o que me vai na alma não tem remédio já…
Vejo tulipas brancas estremecer de dor
Nesta terra maldita onde não há amor
Onde os homens se batem sabe-se lá porquê?
E onde os animais se comem uns aos outros,
E onde há tolos tantos e espertos tão poucos …
Onde do que era bom nem átomo se vê!
Eu que sou diferente de todos, que fazer?
O vácuo, o nada, o nada! Morrer, morrer, morrer!
30/VIII/1945
Poema: J. Lopes
Foto: Tomás Menezes
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 3

Dobrando a esquina da casa dos Mirandas, à direita era a casa da Sra. Guilhermina Galo, mãe da Menina Gininha Galo, empregada nos Correios, depois chefe. Casou já ia quase nos 50 com o sapateiro Álvaro Chalaça. (A velha Guilhermina Galo, que nunca aceitou tal casamento, repetia a cantilena “Sapateiro remendão, onde os outros põem os pés, põe ele a mão”). Em frente da esquina das casas da Sra. Camila Miranda e da Menina Gininha Galo, ficava a casa (pertença de Aníbal Miranda, sogro do Sr. Todu) em que morava a Menina Judite Gregório, casada com o Xico da Aida, alfaiate.

A escada que lhe dava acesso tinha uma data de degraus. Aí ouvi, em criança, as histórias que as velhas contavam. (Havia uma hierarquia determinada na ocupação desses degraus. Nos de baixo sentavam-se as mulheres mais velhas; algumas acocoravam-se encostadas à parede. Pelos outros degraus acima sentavam-se as mulheres com filhos de colo, outras mulheres e alguns homens). O Tio Diogo Parrico ficava sempre de pé, arrimado ao seu velho cajado. As moças novas namoravam ali por perto, à vista de toda a gente. A canalhada andava em correrias pelo terreiro, sim era aí o Terreiro, um largo bem delimitado. Quando se cansavam da brincadeira, vinham deitar-se na manta de trapo e, os mais resistentes ouviam histórias, os mais ensonados, dormiam.
Lamento profundamente que esta casa esteja praticamente em ruínas. Merecia ser reconstruída, pois parece-me que é a única que ainda conserva a traça das casas da Corredoura. (Continua)
Por: Júlia de Barros Ribeiro ("Biló")
terça-feira, 23 de junho de 2009
S. João em Torre de Moncorvo - partidas de outros tempos

Noutros tempos o S. João era comemorado em Torre de Moncorvo (vila), com a realização de várias cascatas em certos pontos da vila: Prado de Baixo, Largo do Poço (no bairro do Castelo), no Castelo... além das cascatas faziam-se fogueiras, onde se queimavam ervas aromáticas (bela-luz, arçãs, alecrim), sobre as quais se saltava. Assavam-se sardinhas, corria o vinho e havia bailarico, a rimar com manjerico, que era colocado atrás da orelha pelos galãs, novos ou velhos.
Mas, para além destes festejos comuns, análogos aos que se realizavam um pouco por todo o lado, havia outras costumeiras, como esta que nos contou a nossa conterrânea, a escritora Júlia Ribeiro (Biló):
"Os rapazes novos, comandados pelo Adrianinho Fernandes e pelo Tio Zé Sangra, passavam largas horas da noite de 23 para 24 de Junho a roubar vasos dos balcões e varandas e a colocá-los "artisticamente" na Praça. Aí ficavam durante os dias 24 e 25 . As pessoas iam regá-los, mas não os retiravam.
No dia 26 de Junho, as donas dos vasos, entre os risos de uns e os "rás parta a garotada" das próprias, lá levavam os vasos, sempre ajudadas por essa mesma garotada que agora se mostrava muito colaborante".
A foto que se mostra neste "post" documenta esta tradição, talvez nos idos da década de 50 ou 60 do séc. XX. Tudo isto se perdeu, assim como a das cascatas. No final dos anos 70 e anos 80 era ainda forte o baile popular do S. João no Castelo, tendo depois "descido" para a praça, onde se mantém. Hoje é noite de ir até lá comer uma sardinha e beber um copito.
Mas, porque não, em anos próximos, recuperarem-se as outras tradições S. Joaninas cá do burgo? - se agora é mais complicado roubar os vasos, pelo menos solicitar a sua exposição voluntária em redor de uma cascata no muro do castelo, creio que era exequível. Fica a ideia e bom S. João para todos!
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 2

Ao fundo das outras duas ruas (Canelha da Fonte e Rua dos Palheiros) ficavam “Os Olmos”. Aí começava realmente a Corredoura. À sombra dos olmos se fazia a feira dos porcos: varas e varas de porcos que eram trazidos do Alentejo e vendidos nas feiras do gado (dias 8 e 23 de cada mês).
A primeira casa para quem subia a canelha da Fonte, à esquerda, era uma casita térrea, pobre, onde morava a Tia Maria Segura, casada com o Zé da Régua e que tinham uma data de filhos.
Ao fundo da Rua dos Palheiros, à esquerda, ficava o Lagar da Azeite dos Barreiros, situado já na Corredoura.

À nossa direita, a seguir ao lagar de azeite dos Barreiros, ficavam duas casinhas térreas, muito pobres, sem janela nenhuma, onde viviam, numa a Tia Amélia Abrunhosa e o marido, o Tio Zé Dengucho, um bêbado muito castiço, na outra a Tia Palmira Borrega.
Seguia-se um quintal dos Barreiros, que já vinha detrás do lagar de azeite e que era tratado pelo Tio Zé Sangra. Pegado a este quintal começava a casa e a cerca do Sr. Miguel Mesquita e da Sra. Rosalina.
E temos os topos e os dois lados mais compridos que formam o rectângulo que é o Largo da Corredoura. Foi, durante anos, o campo de futebol, antes de haver o campo da S. Paulo.
Neste Largo e no Canafechal continuava-se a feira do gado - ovelhas, cabras, burros, bezerros - que ia até ao chafariz onde bebiam as bestas. Para lá deste chafariz começava o caminho que ia dar à capela de S. Paulo. Mas antes disso, ainda há muito para desbravar.
(continua)
Texto: Júlia Guarda Ribeiro ("Biló")
APELO: a fim de ilustrar as próximas "postas" deste Roteiro da Drª. Júlia Ribeiro, agradecíamos que nos enviassem fotografias antigas da zona da Corredoura (de preferência dos anos 40 a 60 do séc. XX). Se tiverem as fotografias sem ser digitalizadas, em papel fotográfico, podem levá-las ao Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, onde serão digitalizadas e devolvidas logo na hora. Também serão mencionadas as pessoas que possuam essas fotografias e nos facilitem a sua reprodução neste blogue. Em nome da autora, o nosso Muito Obrigado!
os céus do roboredo

Como já era bastante tarde e o sol e o céu estavam em sintonia deitei mãos à obra. E corri os montes, saltei os muros, desci ladeiras, as silvas e as giestas nem me deixavam andar, mas consegui uma bela galeria.
O problema é que tinha o carro estacionado junto às ventoínhas e tive que andar todo aquele percurso a pé, já era noite.
Mas valeu a pena.
Veja "os céus de moncorvo" em
segunda-feira, 22 de junho de 2009
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60 - 1

A pedido da nossa colaboradora Drª Júlia Ribeiro (para a gente da Corredoura a Julinha Biló), e devido a problemas informáticos no seu computador, aqui vamos “postar” um grande roteiro que fez do bairro da Corredoura. E “postar” é a palavra certa, porque, dada a sua extensão, será publicado às “postas”, durante dias diferentes, como os fascículos ou folhetins de antigamente. Por isso os nossos visitantes terão de copiar estes textos, espécie de visitas guiadas pela nossa cicerone, durante dias diferentes, colando-os num ficheiro “Word”, para no final ficarem com uma visão de conjunto da Corredoura de outros tempos.
Este roteiro vem na sequência de outros roteiros da ruas de Moncorvo já feitos por outros(as) cicerones, como Maria da Misericórdia, Horácio Espalha Júnior, Julieta Brito, além de Júlia Biló, e que ficaram lá atrás, em caixas de comentários, neste mesmo blogue. São roteiros que dão testemunho dos lugares da vila e dos seus habitantes, desde os anos 40 até cerca dos 60. Fazemos votos que toda esta informação possa ser reunida e publicada num livro colectivo. Seria muito interessante.
A Corredoura era uma espécie de aldeia satélite da vila, do seu lado poente, território de lavradores e de muitos jornaleiros. Noutros tempos, os da vila, sobretudo em consequência de renhidas partidas de futebol e talvez por influência dos primeiros “westerns” que passavam no cine-teatro vilóide, passaram a apodar de “índios” a rapaziada deste bairro. Um apodo pejorativo, claro, mas que fazia jus à braveza da malta da Corredoura.
Mas, a partir de agora tem a palavra a Drª Júlia Biló, uma corredourense nata (e até à medula):
ROTEIRO DA CORREDOURA ENTRE 1944/45 ATÉ 1959/60
De acordo com a minha memória mais recuada – e com algumas preciosas ajudas das Amigas D. Idalina Martins, da Júlia Trovões, da Maria José, e de moradoras da Corredoura no período acima mencionado - vou tentar traçar o que terá sido o Roteiro deste bairro vai para 6 décadas.
Da Corredoura subia-se (sim, porque a Corredoura ficava em baixo e a Vila em cima) até à Vila por 4 ruas à escolha:
a) Quem ia ao Hospital, à Igreja, à Praça das Regateiras ou à Guarda Republicana, tomava a Rua das Teixeiras, também chamada Rua do Hospital;
b) Quem ia ao Tribunal, à maior parte das lojas ou à Praça Francisco Meireles (o Picadeiro de então) tomava a Rua das Amoreiras ou ,
c) em alternativa, a Canelha da Fonte . (Penso que se lhe chamava Canelha por ser a mais torta de todas);
d) Quem ia ao ferrador, à Foto-Peixe e à Capela da Misericórdia, tomava a Rua dos Palheiros, também chamada Rua do Ferrador.
Ao fundo da Rua das Teixeiras e da Rua das Amoreiras corria um caminho que ladeava a Nória e ia dar aos Pocecos, à Fonte de Santiago e ao Cemitério. Os Pocecos eram duas correntezas de tanques de cimento individuais, cada um com sua torneira, (num total de umas duas dúzias) com cobertura de telha e onde as lavadeiras iam lavar a roupa das senhoras da Vila. As mulheres da Corredoura lavavam a roupa na Fonte Carvalho onde os dois tanques grandes eram comuns e não tinham telhado. (As mulheres da Corredoura não eram benvindas pelas lavadeiras encartadas dos Pocecos).
Ainda ao fundo da Rua dasTeixeiras havia uma lixeira a céu aberto, onde era vazado o lixo da vila e o do hospital. As nossas mães davam-nos uma sova valente se fôssemos à lixeira, pois se dizia que alguém já tinha visto lá um pé ou uma perna. Era só uma forma de nos meterem medo com a lixeira. Este espaço servia de terra-de-ninguém entre a Corredoura e a Vila.
(Continua)
_______
APELO: a fim de ilustrar as próximas "postas" deste Roteiro da Drª. Júlia Ribeiro, agradecíamos que nos enviassem fotografias antigas da zona da Corredoura (de preferência dos anos 40 a 60 do séc. XX). Se tiverem as fotografias sem ser digitalizadas, em papel fotográfico, podem levá-las ao Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, onde serão digitalizadas e devolvidas logo na hora. Também serão mencionadas as pessoas que possuam essas fotografias e nos facilitem a sua reprodução neste blogue. Em nome da autora, o nosso Muito Obrigado!
Um hipopótamo à descoberta da Vila
Um noctívago, acabado de regressar a casa, estranhou o ruído, assomou-se à janela e berrou: “ó Maria, ó Maria, anda um elefante na rua”
E a mulher respondeu: “Deita-te mas é que ainda te não passou a bebedeira”.
A história do hipopótamo serviu de gáudio e conversa durante dias às gentes de Moncorvo, imaginando cenários, acrescentando situações à situação.
E o caso é certo que foi notícia de jornais.
Uma correcção final: este hipopótamo, à descoberta de Moncorvo, não passava, afinal, de uma hipopótama com o doce nome de Margarida.
Ainda sobre o hipopótamo que aqui deu à costa...
Talvez como recordação do episódio, o atrelado-piscina (com capacidade para 7.000 litros de água) da hipopótama ficou no largo da feira, ao lado do cemitério. E o aviso (mesmo em francês) era explícito: “Attention Danger: Hippopotame”!
Porque não deixar ficar aí o veículo como monumento ao episódio que, durante uns dias, celebrizou Moncorvo, com honras de telejornal?

Jornada Cultural no Centro de Memória e Biblioteca Municipal

Rogério Rodrigues e Leonel Brito, autores da Exposição Moncorvo 1974-2009
A importância da primeira reportagem publicada no República (com texto de Assis Pacheco, e fotografia de Leonel Brito), decorre do facto de ter sido feita mesmo nas vésperas do 25 de Abril, em que se faz um retrato social crítico do concelho, com os problemas da emigração, da guerra do ultramar, etc., além dos diversos constrangimentos de que padecia um concelho do interior, à época. Trata-se de um trabalho de grande fôlego (como se disse, saído em vários números), que é fundamental para a história contemporânea de Torre de Moncorvo, num momento charneira da história de Portugal.
A segunda reportagem, com assinatura de Rogério Rodrigues, saiu em O Jornal (periódico também já desaparecido, tal como o República), em 1984, e tinha por título genérico "Torre de Moncorvo, o futuro não tem pressa". Este é o momento em que, após a vinda dos chamados “retornados” do ultramar (1974-1975) se alcança um acréscimo demográfico significativo e a face do concelho se transforma significativamente, também em consequência das remessas dos emigrantes. Ainda sem dinheiros comunitários, era o tempo em que se sentia a premência de certas infra-estruturas (água canalizada, saneamento básico, etc) e das grandes carências de emprego, após a conclusão da barragem do Pocinho, vivendo-se então ainda as expectativas do relançamento da exploração das minas de ferro, projecto que, como se sabe, viria a ser chumbado no ano seguinte.
Um aspecto da exposição Moncorvo 1974-2009, no Centro de Memória
Passados 35 anos após a primeira reportagem e 25 sobre a segunda, impunha-se um olhar sobre a nova realidade do nosso concelho. Assim, a nova reportagem agora realizada (não publicada, a não ser nos últimos painéis desta exposição), com o título "O presente ao menos, 25 anos depois", começa logo por se destacar pelo cromatismo diferente. Em contraste preto e branco de outros tempos, recorre a abundantes fotografias a cores, oferecendo, por comparação, uma imagem actual dos espaços antigos, de onde se salientam as diversas mutações no espaço urbano da vila e aldeias do concelho. De uma forma que consideramos bastante objectiva, salientam-se os aspectos positivos dessas transformações, mas também os contrastes , como o da desertificação humana e o envelhecimento da população. Se as crianças de hoje aqui figuram muito limpinhas e associadas aos telemóveis e computadores, em contraste com as do passado (sinal dos tempos), salienta-se o facto de praticamente não existirem crianças na quase totalidade dessas aldeias. Novas infra-estruturas e equipamentos urbanos, grandes obras, tipo ligação de Moncorvo ao IP-2, barragens e torres eólicas na serra, são destacados. Como ponto final desta reportagem, termina-se com uma pequena local, em caixa, dando conta da peripécia do hipopótamo-fêmea que fugira do camião acidentado de um circo, vindo ter à vila, nove quilómetros andados por seu pé, suscitando o anedotário terra. Um episódio de humor em tempo de crise.
A exposição é complementada pela passagem de filmes como “Artes de ofícios” (olaria, tecelagem, moinho de rodízio e fabrico da cera) e “A Encomendação das Almas”, trabalhos realizados por Leonel Brito respectivamente em 1974 e 1979, e uma apresentação de imagens em Powerpoint, mostrando fotografias actuais e de há 30-35 anos. Este material fotográfico foi oferecido aos presentes em DVD, através de reproduções efectuadas pela Biblioteca Municipal/Centro de Memória. Aliás, na sua alocução final, os autores fizeram questão de sublinhar o trabalho do pessoal desta instituição, nomeadamente da Drª Helena Pontes (chefe de divisão cultural), Drª Maria João Moita, salientando os contributos de Sandra Meireles (na parte gráfica) e Victor Almeida, entre outros.
Dada a sua importância para a compreensão do passado recente do nosso concelho, esta é, de facto, uma exposição a não perder.

Depois da inauguração da Exposição, e dos discursos dos autores da mesma e do Presidente da Câmara de Moncorvo, decorreu a cerimónia de entrega do espólio do jornal “Voz do Nordeste” (de Bragança), pelo seu antigo director, César Urbino Rodrigues.
A finalizar esta jornada, decorreu no auditório da biblioteca municipal a apresentação do livro “O poder local democrático em Torre de Moncorvo no último quartel do século XX”, de autoria de Virgílio Tavares, sob patrocínio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.
domingo, 21 de junho de 2009
Felgar - Estação da CP
Gostei da exposição aqui anunciada e ontem inaugurada no Centro de Memória.
Gostei de ver, de conversar, de recordar.
O espírito de partilha, mais do que anunciar-se, consubstancia-se fazendo, realizando, mostrando, dando e dando-se.
Foi o que aconteceu.
Por ser felgarense, tocaram-me mais fundo as imagens da minha terra.
Creio que lhes via o "punctum" onde outros viam detalhes interessantes.
Ainda imbuído desse espírito, encontro esta imagem da estação da CP.
Foi demolida. Fica a lembrança.
sábado, 20 de junho de 2009
Congelar o tempo
Um ouriço congelado no tempo - 25 de Dezembro de 2008 - num souto do Roboredo, para baixar um pouco esta torreira. (foto: J.Costa)
"O Velho Ciumento" pelo Grupo de Teatro Alma de Ferro
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Mais fotos:
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Grupo de Teatro Alma de Ferro GAF - "O Velho ciumento" |
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Linaria ricardoi
aromas e espinhos
Os antepassados do blogue
"Mais um que vem augmentar a lista dos correspondentes do Primeiro de Janeiro. / Causará certamente pasmo que Moncorvo tenha um correspondente, possuindo um semanario que apregoa urbi et orbe os seus feitos! É que o Moncorvense nem tudo diz; e é por isso que Moncorvo necessita de quem o represente lá fora /.../". ( "PJ", 1895.09.21, p. 1, c. 5 )
"Vai suspender definitivamente a publicação o Moncorvense, e espera-se a fundação d' outro semanario, intitulado Jornal de Moncorvo". ("PJ", 1895.09.27, p. 1, c. 5)
"É esperada com anciedade a apparição do Moncorvo /.../".("PJ", 1896. 10. 07, p. 1, c. 4-5 )
Aparecimento do primeiro número do jornal "Moncorvo" ("PJ", 1897. 04. 03, p. 1, c. 5 ) (Moncorvo, Achilles Democrito)
"Julga-se ter acabado a publicação do Jornal de Moncorvo / .../" ("PJ", 1898.07.02, p. 1, c. 5-6)
"Esteve um dia entre nós o laureado poeta Guerra Junqueiro"; "A Lei, um novo jornal, deve apparecer dentro de poucos dias". ( "PJ", 1898.07.29, p. 1, c. 6)
"Saiu na quinta-feira o novo jornal Torre de Moncorvo" ("PJ", 1900. 05. 05, p. 1, c. 3 )
Fonte: Hirondino da Paixão Fernandes, Bibliografia do Distrito de Bragança, in Revista Tellus, nº21,1993.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Das entranhas do Roboredo
Breves linhas do ferro na imprensa do século XIX
* "Um ingenheiro francez /.../ tem andado, desde o dia 9 do corrente, a proceder aos primeiros trabalhos graficos de um traçado para o caminho de ferro, de via reduzida, que deve ligar aquella villa e o monte Roboredo com a linha ferrea do Douro, e que é destinado ao transporte do mine rio d' esse monte e do cabeço da Mua". ("PJ", 1898.03. 05, p. 1, c. 4-5)
* "Traçado da linha férrea para a exploração das mina de ferro."(“PJ",1898.03.20, p.1,c.2)
* "Terminaram os trabalhos do estudo da linha ferrea para a exploração das minas do Roboredo" ("PJ", 1898.04.06, p. 1, c. 4-)
* "Esteve entre nós o sr. Saint-Clair, arrematante das minas de ferro do Roboredo, tendo regressado ao Porto" ("PJ", 1898.06.08, p. 1, c. 5)
* "Partiu o sr. Saint-Clair para o Porto. Volta em Agosto".("PJ", 1898.07.02, p. 1, c. 5-6)
* "Enviados pelo governo, acham-se n' esta villa alguns ingenheiros para proceder á demarcação dos terrenos mineiros do Rovoredo. O sr. de SaintClair, concessionario das minas, chegou hoje /.../”. ( "PJ", 1899.03.09, p. 1, c. 5 )
* "Já aqui estiveram mais alguns ingenheiros em commissão d' uma casa importante de Londres. Visitaram por vezes os jazigos ferriferos de Reboredo, levando algumas amostras de minerio".("PJ", 1899.04.01, p. 1, c. 2)
* “Saint-Clair já arrendou casa nesta vila.” ("PJ", 1899. 04. 02, p. 1, c. 2),
* "Nos trabalhos das minas do Roboredo andam já uns 80 homens e continua a ser admittida gente". (PJ", 1899.04.21, p. 1, c. 3-4)
* "No Roboredo (minas) trabalha actualmente um grande numero de homens". ("PJ", 1899.05.27, p. 1, c. 3)
Stabat Mater...
Mãe, não me lembro dos teus olhos.
Mãe, só me lembro do teu olhar.
Do esquecimento do tempo já não sei
os anos. Exaustos fixamos o futuro
com tantas amarguras do passado
que o sorriso é a última flor
que apertamos de mãos dadas
numa indiscreta ilusão. Somos dois
como “sino dolente na tarde calma”.
Vestimos as palavras com trajes decentes
não vá o futuro pesar-nos na memória.
Mãe, quantos dos ecos não respondem à voz
apenas falsos simulacros do que quisemos
dizer? Não ligues, mãe, ao som do pássaro
desavindo com os seus. Errante ao crepúsculo.
Qualquer dia faz anos que a morte nos
ensombrou. Qualquer dia é sempre
um dia em que não sabemos porque
esse dia foi. Esperei esmagado que
os mortos ressuscitassem. Vem aí
o frio. Mãe, aconchega-me no teu
regaço flácido, como se houvera ainda
esperança que a neve nos tornasse
puros e isentos da morte do futuro.
Mãe, não me olhes como se não olhasses.
Deixo nas tuas mãos a última mágoa
de não ter sido feliz. Fui justo para contigo, Mãe.